Perspectiva Interdisciplinar na Gestão dos Arquivos Judiciais no Brasil
Resumo
As fontes e os arquivos judiciais começaram a despertar maiorinteresse de historiadores e gestores ligados à Justiça a partir dosanos 1990 no Brasil. Antes disso, o problema mal se colocava,pois, por um lado, a Justiça e o Judiciário não eram objeto sistemáticoda inquirição historiográfica e, por outro, admitia-se que adinâmica da gestão documental cabia, por princípio, ao PoderExecutivo, mesmo em se tratando de processos e documentos judiciais.Os autos findos, ao perderem seu valor corrente, tendiam acair numa espécie de limbo, sendo a sua preservação permanenteou delegada ao Executivo ou mantida apenas por inércia da tradiçãoem mal ajeitados arquivos de fóruns e tribunais. Mas a explosãode judicialidade que se desdobrou a partir dos anos 1970 e emespecial após a Constituição de 1988, generosa na consolidaçãode direitos e garantias, impactou este cenário de diversas maneiras.A nova centralidade no sistema político que o Judiciário passoua exercitar motivou o despertar de um crescente interesse socialsobre o seu funcionamento. Além disso, um marco institucionale uma sociedade complexificados passaram a suscitar indagaçõesmais diversas sobre múltiplos aspectos das relações culturais e de poder, cuja reverberação não raro se deu em processos judiciais, vez que a Justiça, pela sua própria natureza, tende a funcionar como caixa de ressonância para a dinâmica dos conflitos e aspirações sociais, fato que contribui para curiosidade renovada por essa documentação. Paralelamente, escancarou-se a dramática situação dos acervos judiciais, carentes de estratégias de gestão e mantidos a custos cada vez mais assombrosos. Ao se precipitar o horizonte da gestão dessa massa descomunal, colocaram-se consequentemente questões metodológicas delicadas e não raro polêmicas, tais como a necessidade de eliminação ou não de parte do conjunto a ser preservado bem como, por derivação, os critérios capazes de orientar intervenções seletivas, suscitando um debate, até então inusitado, entre historiadores, magistrados e arquivistas. O presente artigo pretende avaliar alguns dos aspectos desta elaborada questão, concluindo pela necessidade de estabelecimento de uma política interdisciplinar para a gestão dos arquivos judiciais, que contemple exigências técnicas norteadoras da arquivologia, as contingências e necessidades administrativas dos tribunais, sem deixar de respeitar os parâmetros da ciência histórica e do compromisso com a preservação do patrimônio cultural brasileiro.Palavras-chave: Arquivos, processo judiciais, história, memória, patrimônio, justiça, tribunaisDownloads
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