Reflexões sobre (des)locamentos da produção acadêmica: dos modelos (táteis) que representam um patrimônio arquitetônico aos modelos (EPIs) que representam um cenário de pandemia

  • Ramile da Silva Leandro Universidade Federal de Pelotas
  • Samanta Quevedo da Silva Universidade Federal de Pelotas
  • Adriane Borda Almeida da Silva Universidade Federal de Pelotas
  • Janice de Freitas Pires Universidade Federal de Pelotas

Resumo

O presente artigo apresenta reflexões sobre o processo de deslocamento de produção científica e tecnológica, no âmbito de um projeto na área de representação gráfica e digital, ocorrido após o cancelamento das atividades acadêmicas presenciais devido à pandemia COVID-19. Tal produção estava dirigida ao projeto e execução de jogos didáticos relativos ao patrimônio arquitetônico de Pelotas, com o intuito de sua valorização e difusão, utilizando-se de modelos táteis deste Patrimônio. Estas atividades foram sendo permeadas e conduzidas para a produção de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) destinados aos profissionais da saúde, para o enfrentamento da pandemia. Ambas as ações envolvem o uso de tecnologias de representação e fabricação digitais, ainda em processo de apropriação no campo formativo de arquitetura, contexto em que se configura esta reflexão. Para pensar e problematizar tal deslocamento, a reflexão se apoia nas teorias de Ann S. Masten, sobre contextos e processos de resiliência social, na teoria da “sociedade de risco” de Ulrich Beck e em escritos de Eduardo Galeano, os quais, em sintonia com os demais, abordam o medo como inibidor de ações resilientes na sociedade moderna. Tais abordagens auxiliam a compreender este (des)locamento, interpretado como potencializador da formação acadêmica e ativador de novas dinâmicas de produção. A experiência formativa, envolvendo a fabricação digital, desde a produção de modelos táteis a de EPIs, de representações de interesse didático e cultural a representações de interesse social, tem provocado reorganizações e conexões intra e interinstitucionais, exigindo a ampliação da capacidade de resiliência de cada um dos atores envolvidos, para o enfrentamento coletivo de riscos e medos frente à realidade, preparando para a atividade profissional junto à complexidade contemporânea.

Biografia do Autor

Ramile da Silva Leandro, Universidade Federal de Pelotas
Mestre em Progettazione e Cura Degli Allestimenti Artistici (Projeto e curadoria de mostras de arte) pela Accademia di Belle Arti di Firenze (2013); Especialista em História da Arte pelo Instituto Michelangelo (2010) - ambas pós-graduações em Florença, Itália; Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande (2009). Cursou, como aluno especial, a disciplina Acervos Documentais e Preservação do Património Histórico do programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas (2016). Atualmente cursa Arquitetura e Urbanismo, pela Faculdade Federal de Pelotas (UFPEL), na qual atua como bolsista de pesquisa FAPERGS no Grupo de Estudos e Aprendizagem em Grágica Digital - GEGRADI.
Samanta Quevedo da Silva, Universidade Federal de Pelotas
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo - UFPEL e bolsista de iniciação científica-CNPq atuando no Projeto de Pesquisa Modela Pelotas do Grupo de Estudos de Geometria Gráfica e Digital - GEGRADI.
Adriane Borda Almeida da Silva, Universidade Federal de Pelotas
Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas (1983), graduação em Esquema I Complementação Pedagógica pela Universidade Federal de Pelotas (1987), mestrado em Arquitetura Conforto Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993), doutorado em Filosofia e Ciências da Educação - Universidad de Zaragoza (2001), reconhecido no Brasil pela UFRGS (Doutora em Educação) e pós doutorado em Arquitetura na KULeuven/Bélgica. Atualmente é professora titular da Universidade Federal de Pelotas. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Expressão Gráfica Arquitetônica, atuando principalmente nos seguintes temas: representação gráfica digital, geometria, projeto, modelagem geométrica e visual, transposição didática e educação a distância.
Janice de Freitas Pires, Universidade Federal de Pelotas
Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas (1986), Especialização em Gráfica Digital (2007, DTGC/ IFM/ UFPel), Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (2010, PROGRAU / UFPel) e Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É professora adjunta na UFPEL, participando do Grupo de Estudos para o Ensino / Apredizagem de Gráfica Digital - GEGRADI, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/ UFPel. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Expressão Gráfica Arquitetônica, e na área de Educação (Curso Especialização em Gráfica Digital), com ênfase em Educação a Distância, e Representação Gráfica Digital. Atua principalmente nos seguintes temas: representação gráfica digital para Arquitetura, representação do patrimônio arquitetônico, gramática da forma, desenho paramétrico, fabricação digital, geometria complexa da arquitetura contemporânea, educação a distância, aprendizagem significativa e objetos de aprendizagem.

Referências

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PALLASMAA, J. Los Ojos de la Piel: La Arquitectura y Los Sentidos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL, 2ª edición, 2016.

Publicado
2021-01-10
Seção
Artigos