As Cidades e o Desejo
complexidade e dinâmica nos estudos urbanos
Resumo
"No centro de Fedora, metrópole de pedra cinzenta, há um palácio de
metal com uma esfera de vidro em cada cômodo. Dentro de cada esfera,
vê-se uma cidade azul que é o modelo para outra Fedora. São as formas
que a cidade terá podido tomar se, por uma razão ou por outra, não tivesse
se tornado o que é atualmente. Em todas as épocas, alguém vendo Fedora
tal como era, havia imaginado um modo de transformá-la na cidade ideal,
mas, enquanto construía o seu modelo em miniatura, Fedora já não era
mais a mesma de antes e o que até ontem havia sido um possível futuro
hoje não passava de um brinquedo numa esfera de vidro.
Agora Fedora transformou o palácio das esferas em um museu: os
habitantes o visitam, escolhem a cidade que corresponde aos seus
desejos, contemplam-na imaginando-se refletidos no aquário de medusas
que deveria conter as águas do canal (se não tivesse sido dessecado),
percorrendo no alto baldaquino a avenida reservada dos elefantes (agora
banidos da cidade), deslizando pela espiral do minarete em forma de
caracol (que perdeu a base sobre a qual se erguia).
No atlas do seu império, ó Grande Khan, devem constar tanto a grande
Fedora de pedras quanto as pequenas Fedoras das esferas de vidro. Não
porque sejam igualmente reais, mas porque todas supostas. Uma reune o
que é considerado necessário, mas ainda não o é; as outras, o que se
imagina possível e em um minuto mais tarde deixa de sê-lo." (Calvino,
1990:32-33).
Calvino, ao falar de Fedora, descreve as cidades e os desejos dos que trabalham com
elas, o desejo de transformá-las. No texto de Calvino modelos das possíveis formas da
cidade são construídos, em todas as épocas, na busca da cidade ideal.
O dia-a-dia dos estudos urbanos não é distante disso, cientistas e planejadores ainda
buscam a cidade ideal. Para tanto, precisam entender a cidade real e, nesse sentido,
estão em busca de entender a transformação, a dinâmica das cidades. Isso porque
enquanto são construídos os modelos e projetos, a cidade "não é a mesma de antes e o
que até ontem havia sido um possível futuro hoje não passa de um brinquedo numa esfera
de vidro".
Os cientistas e planejadores de hoje parecem não se importar de brincar. As esferas de
vidro que contém nossos modelos são hoje computadores, onde cada pesquisador cria
um novo modelo correspondente aos seus desejos de entender a cidade.
A cidade com toda a sua complexidade e dinâmica, no entanto, ainda é maior que a nossa
compreensão, fazendo com que todos os esforços realmente pareçam apenas
brincadeiras. Por mais que avanços dentro do campo dos estudos sobre a cidade tenham
havido, não foi ainda contruída uma teoria que permitisse o entendimento das surpresas e
mudanças que não são apenas um elemento presente no processo de mudança, mas
caracterizam a dinâmica do sistema urbano.
O presente artigo versa sobre as “brincadeiras” que vêm sendo desenvolvidas em um
esforço de entender a cidade, aceitando o desafio de compreendê-la na sua complexidade
e dinâmica.
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