Projectare: Revista de Arquitetura e Urbanismo

SUMÁRIO

Cíntia Gruppelli — 2024-08-27

Sumário

APRESENTAÇÃO

Helena Napoleon Degreas — 2024-08-27

Texto de apresentação da edição 15 da Revista Projectare

PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO

Antonio Soukef Júnior — 2024-08-27

O texto aborda a relevância do patrimônio cultural brasileiro e os desafios contemporâneos em sua preservação. O país possui uma diversidade patrimonial material, imaterial, natural e geológica que representa a identidade e herança coletiva da nação, promovendo o sentimento de pertencimento e contribuindo economicamente através do turismo.

No entanto, essa riqueza patrimonial enfrenta diversos obstáculos, como a degradação natural, a falta de recursos, ameaças de vandalismo e roubo, o crescimento urbano desordenado e a perda de tradições entre gerações. Ademais, as mudanças climáticas acarretam efeitos devastadores, como comprovado pelas recentes inundações no Rio Grande do Sul, que causaram danos a edificações, acervos museológicos e lugares de memória.

O texto apresenta exemplos de como lidar com alguns desses desafios, como a atuação da sociedade civil na preservação de São Luiz do Paraitinga após enchentes, a gestão de acervos de empresas antigas, a importância dos depoimentos orais na construção da memória e a valorização do patrimônio arquitetônico através do cinema e de publicações.

Por fim, o texto convida à reflexão sobre o passado, presente e futuro do patrimônio cultural brasileiro, enfatizando o dever ético de transmiti-lo às próximas gerações em boas condições, impondo a responsabilidade de agir com urgência diante dos dilemas contemporâneos que o ameaçam.

A CARTA DE VENEZA

Ana Paula Farah — 2024-08-29

Este artigo tem por objetivo legitimar a importância desse documento-base no território brasileiro. Entretanto, é necessário, com certa urgência, que as atenções se voltem à formação desses profissionais para atuação no campo da preservação, levando-os a pensar minuciosamente sobre a deontologia do arquiteto e urbanista, cujo escopo principal é entender o seu papel na sociedade do século XXI, exigindo a verificação de uma formação de excelência, individualizando as carências e críticas perante o contexto contemporâneo, tornando-se um profissional comprometido com a cidade preexistente.

AÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL NA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA APÓS A INUNDAÇÃO

Beatriz Monteiro Ferraz — 2024-08-29

O artigo tece considerações sobre a atuação da sociedade civil na salvaguarda do patrimônio cultural de São Luiz do Paraitinga (SP), a partir da sistematização e análise de iniciativas preservacionistas promovidas entre 2010, data da grande inundação que assolou a cidade, e 2023. Considerando a importância do engajamento da população local nas diversas etapas do processo de patrimonialização, bem como a premência de construirmos estratégias de preservação frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, neste artigo analisamos um conjunto de ações de preservação que partiram e/ou partem de projetos participativos ou da própria sociedade civil, com o objetivo de compreender suas origens, objetivos e formatos. Na sequência, buscamos verificar as narrativas que tais iniciativas ensejam e em que medida dialogam com as ações governamentais voltadas à preservação do patrimônio cultural local, empreendidas pelas instâncias municipal, estadual e federal.

Palavras-Chave: São Luiz do Paraitinga (SP); Centros históricos; Mudanças climáticas; Patrimônio e desastres naturais; Patrimônio e participação social.

MEMÓRIAS DE UM FEIRANTE

José Alberto de Oliveira Grechoniak — 2024-08-29

Tendo como marco teórico reflexões que reconhecem a cultura como um campo de disputas e que buscam construir uma política democrática do patrimônio, o trabalho revisita a história do Mercado Público de Lages, a partir do relato do filho de um ex-feirante. A adoção desse objeto de estudo se justifica pelo fato desse Mercado ter sido alvo de uma recente revitalização que se centrou nos aspectos físicos do edifício e apagou memórias dos que lá trabalharam. Com uma abordagem exploratória-qualitativa, objetiva-se analisar o referido relato e avaliar sua potencialidade para recompor uma memória-outra ou não hegemônica do Mercado, vindo a subsidiar novas pesquisas. Dividido em três partes, o trabalho apresenta o “contador de histórias”; descreve o mercado como “lugar” e “espaço”, revelando personagens, modos de trabalho e de sociabilização e fatos da luta de classe; e aborda traumas vividos na interdição e requalificação do edifício. Conclui-se que o Mercado suporta não uma história, mas histórias, devendo converter-se em um novo campo de investigação. Espera-se, com isso, dar sentidos mais amplos ao restrito espaço edificado, assegurar o direito à cidadania cultural e prospectar futuros mais democráticos na gestão patrimonial de Lages.

PATRIMÔNIO INDUSTRIAL DA ENERGIA

Valter dos Santos Lameirinha — 2024-08-29

A empresa canadense The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited (conhecida como Cia. Light) foi protagonista na produção e fornecimento de energia elétrica para a cidade de São Paulo, entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Nesse processo, a Cia. Ligth edificou uma complexa rede de estruturas industriais voltadas ao abastecimento de residências, conjuntos fabris, transporte e iluminação pública, artefatos que hoje adquirem interesse como patrimônio urbano industrial da capital paulista. Entre os diversos testemunhos documentais que evidenciam a atuação da Cia. Light, bem como a memória da indústria e do trabalho do setor de energia na cidade de São Paulo, focamos no estudo das chamadas subestações: espaços e edifícios de pequeno, médio e grande porte voltados a abrigar equipamentos geradores e distribuidores de energia elétrica. Parte relevante desse conjunto arquitetônico industrial sobreviveu às transformações urbanas, no entanto, exemplares significativos vêm sendo demolidos nos últimos anos, situação que evidencia a necessidade de inventariá-los. Nesse contexto, apresentamos neste artigo os métodos de investigação e inventariação adotados para identificar e analisar as subestações e os edifícios remanescentes da Cia. Light no município de São Paulo, considerando sua importância histórica na configuração do território e na transformação da dinâmica urbana, bem como sua caracterização como patrimônio industrial.

CENTRO ATRAVESSADO

Dominique Crizane Moraes Aires — 2024-08-29

O presente trabalho consiste em realizar um mapeamento das modificações geradas pela construção da ligação Leste-Oeste, que atravessa o centro de São Paulo (abrangendo toda a extensão do Elevado João Goulart, Viaduto Júlio de Mesquita Filho, Viaduto Jaceguai, Viaduto do Glicério, Viaduto Leste-Oeste e Complexo Viário Evaristo Comolatti, até desembocar na Avenida Alcântara Machado). Com base em artigos, matérias de jornais, decretos e leis que remontam o desenvolvimento da cidade, assim como o entendimento de conceitos sobre lugar e memória, o objetivo é abordar os antecedentes das intervenções rodoviaristas na cidade de São Paulo, o processo de consolidação das regiões afetadas e suas transformações a partir da construção da Ligação. Pretende-se dimensionar, por meio de sobreposições cartográficas, o impacto das demolições e desapropriações, refletindo sobre a "memória coletiva" afetada e transformada durante o processo de implantação dessas vias elevadas. Por fim, será apresentado um mapeamento que estima a quantidade de demolições ocorridas, possibilitando visualizar as áreas onde os impactos da construção da Ligação Leste-Oeste foram mais intensos

LIVRO ESPAÇOS PÚBLICOS DE PELOTAS

Fernanda Tomiello — 2024-08-29

Este artigo apresenta e discute o processo de elaboração do livro Espaços Públicos de Pelotas: Desenhos e Histórias, abordando desde sua concepção e desenvolvimento até as reflexões sob a ótica do patrimônio cultural. A obra representa uma experiência que mescla educação para o patrimônio e democratização do conhecimento científico. O projeto envolveu alunos de graduação na produção de textos e desenhos sobre espaços públicos em Pelotas, Rio Grande do Sul, destacando sua importância histórica e cultural. O método incluiu a orientação dos alunos na elaboração do material, análise dos resultados e revisão e complementação do conteúdo. Por meio de ilustrações e narrativas simples, o livro busca envolver a comunidade local no reconhecimento e valorização dos espaços públicos abertos, ao mesmo tempo em que torna o conhecimento científico acessível a um público mais amplo. Assim, amplia-se a conscientização sobre o patrimônio e fortalece-se a conexão das pessoas com sua cidade, promovendo a aproximação entre a academia e a comunidade

ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS E CEMITÉRIOS

João Vitor dos Santos e Santos — 2024-08-29

O presente artigo tem por objetivo analisar as estações ferroviárias e os cemitérios das cidades de Cachoeira e São Félix, buscando compreender as necrópoles, enquanto vestígios remanescentes relacionados com a história ferroviária da região do Recôncavo da Bahia. As ferrovias marcam uma época de crescimento econômico e do auge do trem como principal meio de transporte, conectando a região portuária às áreas produtoras do interior. A implantação da ferrovia mobilizou o deslocamento de pessoas, nacionais e estrangeiras, levando ao crescimento das cidades e vilas ao longo dos caminhos de ferro e das estações, além de introduzir novas mudanças na mentalidade e no modo de viver das comunidades locais. A pesquisa compreende a leitura desses espaços pela perspectiva teórico-metodológica da Arqueologia Industrial e dos Estudos Cemiteriais. A metodologia incluiu pesquisa bibliográfica, análises de fontes imagéticas e mapas, visitas a campo e análise e descrição da estrutura arquitetônica das estações ferroviárias. A partir dos resultados, é possível concluir que os cemitérios fizeram parte da modernização das cidades que passaram pelo processo de industrialização; nota-se também que as estações da Estrada de Ferro Central da Bahia e os cemitérios compartilham entre si a presença marcante de uma materialidade de matriz industrial que traz para as cidades de economia rural marcas e dispositivos da modernidade.

O CINEMA COMO FERRAMENTA DE ANÁLISE DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PELOTAS/RS

Natalia Toralles dos Santos Braga — 2024-08-29

O presente artigo buscou investigar o cinema como ferramenta de análise do patrimônio cultural de Pelotas/RS. Como metodologia de pesquisa, foram analisadas duas obras cinematográficas rodadas na cidade nas quais o patrimônio arquitetônico estava presente nas suas cenografias. O artigo propôs uma revisão bibliográfica a respeito da importância das questões patrimoniais para a cidade, do cinema na história dessa região e da intersecção dessas duas áreas de conhecimento. Sob essa perspectiva, a pesquisa investigou como o cinema pôde auxiliar na análise do patrimônio cultural.

AS DINÂMICAS DO FEMININO NA FUNDAÇÃO DAS CIDADES

Antonio Busnardo Filho — 2024-08-29

A cidade tem o seu espaço dividido e classificado de várias maneiras e formas de apropriação, que nem sempre estão de acordo com os procedimentos legais dos Planos Diretores. Essas formas de apropriação são regidas por forças latentes, que mostram os princípios da fundação do núcleo urbano; mesmo que isso não seja percebido de imediato. É sobre essas forças que se pretende refletir, neste texto – compreender as dinâmicas do feminino que instituíram o patrimônio cultural, por excelência, do sapiens, as cidades. Tomamos para este estudo bases de história do urbanismo, mas, principalmente, os estudos de antropologia do imaginário e as observações e vivências urbanas tiradas dos anos vividos, enquanto um método empírico. Considerando a cidade como uma criação do microuniverso mítico sintético é que descobriremos Atena e Ártemis, Deméter e Afrodite como forças complementares que organizam os agrupamentos humanos, das vilas às grandes metrópoles.

O PAPEL DO INVENTÁRIO ENQUANTO POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO

Daniele Behling Luckow — 2024-08-29

Neste artigo o objetivo é refletir o inventário enquanto política de preservação a partir de três dimensões: o conhecimento, a proteção e a participação. Como referência principal se vale dos documentos oficiais do Brasil, mais especificamente a Constituição Federal e a Política de Patrimônio Cultural Material do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A metodologia consiste em, tendo como referência os documentos citados, abordar as três dimensões de uso e aplicação dos inventários com suas inter-relações e particularidades. A estrutura se organiza a partir dos documentos de referência, da caracterização e trajetória de cada dimensão, e suas possibilidades e lacunas. Como resultado foi possível construir uma trajetória do inventário como instrumento de conhecimento, proteção e participação, a forma como estas se inter-relacionam. Assim, busca contribuir no entendimento da importância do inventário como um instrumento de reconhecimento, interpretação e proteção integrado, sistemático capaz de apreender a diversidade e representatividade do patrimônio cultural brasileiro.

CENTRALIDADE, ESPAÇO PÚBLICO E VISIBILIDADE

Luiza Oliveira Pacheco — 2024-08-29

O objetivo deste artigo é analisar o Calçadão Arthur Bernardes como espaço público de Viçosa (MG), a fim de identificar aspectos que estimulem a discussão de sua relevância para o reordenamento da região central da cidade, entre as décadas de 1970 e 1980. Para isso, empreendeu-se uma investigação, associando a História Oral à análise documental, sobre a formação do centro da cidade de Viçosa, focalizando seus aspectos espaciais, buscando compreender as circunstâncias que levaram à construção do Calçadão. Foi encontrado que esta obra, por abrigar boa parte da atividade comercial municipal e ter em seu entorno parte do patrimônio cultural edificado da cidade, atua como elemento fundamental na organização de sua malha urbana central.

INVENTÁRIOS DE CONHECIMENTO DO RIO GRANDE DO SUL

Vanessa Patzlaff Bosenbecker — 2024-08-29

Luiz Fernando Rhoden é arquiteto e urbanista formado pela UFRGS (1981), especialista em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos pela UFBA (1984), mestre em História pela PUCRS (1996) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA (2005). Nesta entrevista, destacou-se o período em que Rhoden atuou no IPHAN (1983-2017), mais especificamente na época em que foi coordenador dos inventários de conhecimento do RS, na década de 1990.

Inicialmente, a entrevista tinha como objetivo a coleta de dados para as pesquisas acadêmicas das autoras. No entanto, a riqueza das informações obtidas motivou-as a compartilhar a contribuição de Rhoden com outros pesquisadores interessados nos tópicos abordados por ele. Dessa forma, foram selecionados excertos da entrevista para publicação, abrangendo conteúdos que se destacaram como potencialmente pertinentes aos leitores interessados.

BUEIROS

Eduardo Affonso — 2024-08-29

Crônica bem-humorada sobre a atual onde de cancelamento de personalidades do passado com o olhar do presente.

PATRIMÔNIO EM PULSAÇÃO

Wellington Müller Kruchadt — 2024-08-29

Ilustração