ARTIGO DE REVISÃO
Contribuição da musicoterapia no transtorno do espectro autista: revisão integrativa da literatura
Contribution of music therapy to autism spectrum disorder: an integrative literature review
Contribución de la musicoterapia al trastorno del espectro autista: una revisión integradora de la literatura
Oliveira, Francisca Vieira de[1]; Rêgo Neta, Marly Marques[2]; Magalhães, Juliana Macêdo[3]; Oliveira, Adélia Dalva da Silva[4]; Amorim, Fernanda Claudia Miranda[5]; Carvalho, Claudia Maria Sousa de[6]
RESUMO
Objetivo: verificar as evidências científicas sobre a contribuição da musicoterapia como intervenção no tratamento da criança com transtorno espectro autista. Métodos: revisão integrativa da literatura, realizada na base de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde e na Medical Literature Analysis and Retrieval System Online. A busca dos artigos foi realizada de janeiro a março de 2019, utilizando os seguintes descritores controlados: Musicoterapia, Terapêutica e Transtorno autístico que que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão do estudo. Resultados: doze artigos evidenciaram o valor da música e o seu papel como recurso terapêutico em crianças. Conclusão: analisou doze estudos que enfatizam o uso da musicoterapia como ferramenta de tratamento no transtorno do espectro autista, tendo em vista que onze estudos descrevem a forma significativa na melhora do quadro clínico e/psicológico de crianças com Transtorno do Espectro Autista, ao proporcionar melhora na comunicação e na socialização.
Descritores: Musicoterapia; Terapêutica; Transtorno autístico; Criança; Música
ABSTRACT
Objective: To analyze the scientific evidence on the contribution of music therapy as an intervention in the treatment of children with autism apectrum disorder. Methods: integrative literature review, carried out in the database: Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences and in the Medical Literature Analysis and Retrieval System Online. The search for the articles was carried out from January to March 2019, using the following controlled descriptors: Music Therapy, Treatment, Child, Disorder, Autistic Spectrum that met the inclusion and exclusion criteria of the study. Results: twelve articles showed the value of music and its role as a therapeutic resource in children. Conclusion: Analyzed twelve studies that emphasize the use of music therapy as a treatment tool in autism apectrum disorder, considering that eleven studies describe the significant way in improving the clinical and / psychological condition of children with Autism Spectrum Disorder, by providing improved communication and in socialization.
Descriptors: Music therapy; Therapy; Autistic disorder; Child; Music
RESUMEN
Objetivo: analizar la evidencia científica sobre la contribución de la musicoterapia como intervención en el tratamiento de niños con trastorno del espectro autista. Métodos: revisión integradora de la literatura, realizada en la base de datos: Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud y en el Sistema de Análisis y Recuperación de Literatura Médica en Línea. La búsqueda de los artículos se realizó de enero a marzo de 2019, utilizando los siguientes descriptores controlados: Musicoterapia, Tratamiento, Niño, Trastorno, Espectro autista que cumplieron con los criterios de inclusión y exclusión del estudio. Resultados: doce artículos mostraron el valor de la música y su papel como recurso terapéutico en los niños. Conclusión: se analizaron doce estudios que enfatizan el uso de la musicoterapia como herramienta de tratamiento en el trastorno del espectro autista, considerando que once estudios describen la forma significativa en la mejora de la condición clínica y / psicológica de los niños con Trastorno del Espectro Autista, al proporcionar una mejor comunicación y socialización.
Descriptores: Musicoterapia; Terapéutica Trastorno autista; Niño; Musica
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é caracterizado por prejuízos qualitativos na interação social, associados a comportamentos repetitivos, estereotipados e presença de um repertório restrito de atividades e interesses.1
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS/OMS (2017) estima-se que o autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo.2 No Brasil ainda não há dados estatísticos oficiais sobre a prevalência desse transtorno, porém estima-se que 10% a 20% das crianças e adolescentes sofram transtornos mentais. Considera-se que até 4% dessa população necessita de tratamentos intensivos.3
O diagnóstico inicial pode ser realizado pelo médico especialista baseado na anamnese do paciente por intermédio de observações comportamentais e informações dos pais. Porém, ainda há uma dificuldade em dispor do diagnóstico precoce em crianças com TEA, gerando dificuldade no tratamento e nas atividades habituais, levando a criança e família a um sofrimento psíquico.1
No diagnóstico precoce tem-se a possibilidade de intervir nos distúrbios da tríade: interação social, comunicação e reciprocidade social. Autores relatam que quanto mais cedo o início do tratamento, melhor eficácia e menor será a gravidade desse transtorno, havendo um melhor convívio, proximidade e interação social entre criança e família onde ambos terão uma vida relativamente “normal” com poucos prejuízos.4
Deste modo, o diagnóstico precoce trará imenso benefício, podendo assim diminuir a gravidade do TEA, melhorar a interação, o desenvolvimento e habilidades das crianças autistas. Assim, o profissional Enfermeiro é importante na identificação dos sinais e sintomas de criança com TEA, já que ele faz parte da equipe multiprofissional e é um dos responsáveis pelo acompanhamento das crianças na Estratégia Saúde da Família, devendo estar apto para avaliar o desenvolvimento infantil, identificar os parâmetros normais de crianças durante a puericultura.3
Neste sentido, dentro dos serviços de referência para crianças com TEA, o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) é disponibilizado para serviços que podem ajudar na interação, desenvolvimento, comunicação e diminuição do isolamento social. Este serviço disponibiliza várias atividades como lazer, terapia familiar, musicoterapia, rodas de conversa, dança, pinturas, caminhadas, jogos, atividades lúdicas e atividade física.5
Mediante o desenvolvimento dessas atividades há evidências de que a intervenção musical contribui para romper padrões de isolamento, favorece a comunicação, a melhora cognitiva e proporciona um maior contato social e quebra de preconceitos e barreiras.4 Na redução dos métodos farmacológicos e melhoria dos processos não invasivos, a musicoterapia é uma terapêutica usada no tratamento do TEA tendo grande relevância e vastas contribuições no alívio do estresse, ansiedade, promove relaxamento e diminuição no isolamento social dessa criança.5
Nesse contexto, este estudo teve por objetivo verificar as evidências científicas sobre a contribuição da musicoterapia como intervenção no tratamento da criança com Transtorno Espectro Autista.
MÉTODO
Diante a proposta do estudo e com intuito de alcançar o objetivo traçado, foi utilizado como método para esta investigação a revisão integrativa de literatura, para a operacionalização da presente revisão foram adotadas a sequência de seis etapas: elaboração da questão de pesquisa, amostragem ou busca na literatura dos estudos primários, extração de dados, avaliação dos estudos primários incluídos, análise e síntese dos resultados e apresentação da revisão.6
A primeira etapa, trata-se da elaboração da questão norteadora na qual foi mediada pela estratégia PICo,6 sendo “P” a população, “I” o fenômeno de interesse, e “Co” refere-se ao contexto, assim instituiu-se como P: Crianças; I: Musicoterapia e Co: Transtorno do Espectro Autista. Dessa forma, a questão de pesquisa foi: “Qual a contribuição da musicoterapia como intervenção no tratamento da criança com Transtorno do Espectro Autista?”
A busca dos artigos foi realizada de janeiro a março de 2019. O instrumento de coleta elaborado pelas autoras para extração dos artigos científicos selecionados foi uma tabela que contemplou a identificação do artigo, o título do artigo, autor, ano, base de dados, periódico e principais contribuições dos estudos.
Para realizar a seleção dos estudos, foram utilizados os sistemas de bases de dados importantes no contexto da saúde. Por meio do acesso online, sendo utilizadas as seguintes bases de dados: Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDEnf), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) todos via Biblioteca Virtual em Saúde.
Para a busca dos estudos primários nas respectivas bases de dados, foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Musicoterapia, Terapêutica, Criança e Transtorno autístico, combinados em diferentes estratégias com a finalidade de garantir uma busca ampla (Quadro 1).
Quadro 1: Estratégia de busca nas bases de dados da MEDLINE, BDEnf e LILACS publicados entre 2014 e 2019
Bases de Dados |
Estratégia de Busca |
Resultados |
MEDLINE |
Musicoterapia AND Terapêutica AND Transtorno autístico |
45 |
Transtorno autístico AND Música AND Terapêutica |
18 |
|
Musicoterapia AND Criança AND Transtorno autístico |
54 |
|
BDENF |
Musicoterapia AND Terapêutica AND Transtorno autístico |
1 |
Musicoterapia AND Criança AND Transtorno autístico |
1 |
|
LILACS |
Musicoterapia AND Criança AND Transtorno autístico |
4 |
Musicoterapia AND Terapêutica AND Transtorno autístico |
4 |
|
Total |
127 |
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019.
Com a finalidade de estabelecer a amostra dos estudos selecionados para a presente revisão integrativa, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: artigos originais, que discorrer sobre a musicoterapia como intervenção no tratamento de crianças com TEA, publicados entre os anos de 2014-2018 afim de identificar na literatura mais recente o que é publicado sobre a temática, nos idiomas: inglês e português. E foram excluídos: relatos de casos informais, dissertações, teses, reportagens, notícias, editoriais e textos não científicos.
Após a busca dos estudos, norteada pelos critérios de inclusão e exclusão, foi realizada a leitura exaustiva do título e do resumo de cada artigo científico a fim de verificar a sua adequação com a questão de pesquisa da presente investigação.
Após a análise prévia da observância dos critérios de inclusão, e considerando a leitura exploratória de (título e resumo), obteve-se um quantitativo inicial de 127 artigos e após nova triagem restaram 122 publicações, dentre os quais 07 foram excluídos por serem duplicados nas bases de dados. A seguir, foram excluídos 108 estudos cujos títulos e resumos não abordavam sobre a temática relaciona a crianças com TEA, selecionando-se, ao final, 12 estudos para análise (Figura 1).
Figura 1: Fluxograma de identificação, seleção e inclusão dos artigos, para o desenvolvimento da pesquisa
Fonte: elaborado pelos autores, 2019.
A análise dos dados foi realizada de forma descritiva, enfatizando a relevância da musicoterapia como intervenção terapêutica no tratamento de crianças com TEA. Para melhor compreensão, a discussão foi realizada em forma de texto corrido, no qual exigiu a comparação dos resultados dos artigos científicos selecionados com o conhecimento teórico. Para melhor identificação, os artigos científicos receberam um código de sequência alfanumérica (Artigo 01, Artigo 02, Artigo 03..., Artigo12).
Os doze artigos que responderam aos critérios de inclusão propostos foram publicados entre 2014 e 2018, destacando-se os anos de 2014, 2016 e 2018 com três (25%) destas publicações respectivamente sobre a problemática. No período de 2017 obteve duas (16%) produções cientificas, e uma (9%) no ano de 2015. Destes artigos selecionados para compor este trabalho, dez foram encontrados na base de dados MEDLINE/BVS, uma na LILACS e uma na BDEnf.
Entre os periódicos mais relacionados às divulgações das pesquisas foi Journal of Music Therapy com cinco (42%) publicações, as outras sete revistas apresentaram apenas uma publicação em cada conforme descrito no quadro 2. Dos doze artigos analisados, dez (83%) eram na língua inglesa, sendo somente dois (17%) na língua portuguesa. Demostra-se que a língua inglesa é a mais utilizada para as publicações dessa temática, corroborando o fato de ser uma temática predominantemente estudada por autores internacionais (Quadro 2).
Quadro 2: Categorização dos artigos quanto à identificação, título do artigo, autor, ano, bases de dados, periódico e principais contribuições dos estudos.
Título do artigo |
Autores/ ano |
Periódico /Base de dados |
Contribuições dos estudos |
Music therapy for people with autism spectrum disorder7 |
Geretsegger M, Elefant C, Mössler KA, Gold C. / 2014 |
Cochrane database syst. rev. (online)
MEDLINE |
Diante dos resultados há evidências que a musicoterapia pode ajudar crianças com TEA a melhorar interação social, comunicação verbal, comportamento inicial e reciprocidade socioemocional. Além de também pode ajudar a melhorar as habilidades de comunicação não-verbal dentro do contexto da terapia. A musicoterapia pode contribuir para o aumento das habilidades de adaptação social entre crianças com TEA e para a qualidade das relações entre pais e filhos. |
Effects of a music therapy group intervention on enhancing social skills in children with autism8 |
Lagasse AB / 2014 |
J. music ther
MEDLINE |
Os resultados deste estudo apoiam pesquisas adicionais sobre o uso de intervenções em grupo de musicoterapia para habilidades sociais em crianças com TEA. Os resultados estatísticos demonstram apoio inicial ao uso de grupos sociais de musicoterapia para desenvolver atenção conjunta. |
“Bill is now singing”: Joint engagement and the emergence of social communication of three young children with autismo9 |
Vaiouli P, Grimmet K, Ruich LJ / 2015 |
Autism.
MEDLINE |
O estudo permitiu uma compreensão profunda do papel do ambiente social no apoio às habilidades de comunicação social emergentes entre as três crianças. Como todas as crianças apresentaram melhora na atenção conjunta e nas ações de engajamento social, este estudo traz evidências sobre o potencial da musicoterapia como uma intervenção promissora na promoção de habilidades sociais de crianças pequenas com TEA. |
Age related differences in response to music-evoked emotion among children and adolescents with autism spectrum10 |
Heaton P / 2016 |
J autism dev. disord.
MEDLINE |
Os grupos de crianças, independentemente do diagnóstico, mostraram maior reatividade fisiológica aos estímulos assustadores do que a outras emoções. Houve uma interação significativa entre faixa etária e grupo diagnóstico na identificação de estímulos de música assustadora, interrompidas em TEA. |
Musical intervention as a nursing care strategy for children with autism spectrum disorder at a psychosocial care center11 |
Franzoi MAH, Santos JLG, Backes VMS, Ramos FRS./ 2016 |
Texto & contexto enferm
BDENF |
A intervenção musical favoreceu e orientou novas experiências lúdicas, sensoriais, motoras, de linguagem e de interação de crianças com TEA, sendo possível abarcar a tríade de alterações – interação, comunicação e comportamento – de forma lúdica e musical. |
Analysing change in music therapy interactions of children with communication difficulties12 |
Spiro N, Himberg T / 2016 |
Philosophical transactions of the royal society b: biological sciences
MEDLINE |
Os resultados sugerem que, mesmo ao iniciar comportamentos simples, podemos rastrear aspectos de interação e mudanças na musicoterapia, que são consideradas relevantes pelos terapeutas. |
The influence of music on facial emotion recognition in children with autism spectrum disorder and neurotypical children13 |
Brown LS / 2016 |
J. music ther
MEDLINE |
O estudo revelou que as classificações dos participantes de rostos felizes e neutros não foram afetadas pelas condições da música, mais os rostos tristes eram percebidos como triste com música triste do que com música alegre. Em ambas as condições, as crianças neurotípicas classificou os rostos felizes como mais felizes e os rostos tristes como mais tristes do que os participantes com TEA. |
Effects of improvisational music therapy vs enhanced standard care on symptom severity among children with autism spectrum disorder: the time-a randomized clinical trial14 |
Bieleninik Ł. Geretsegger M, Mossler K, Assmus J, Thompson G, Gattino G, et al./2017 |
JAMA.
MEDLINE |
Entre as crianças com TEA, a musicoterapia improvisada, em comparação com o tratamento padrão aprimorado, não resultou em diferença significativa na gravidade dos sintomas com base no domínio de afeto social por mais de 5 meses. Esses achados não apoiam o uso de musicoterapia improvisada para redução de sintomas em crianças com TEA. |
Da vibração ao encontro com o outro: psicanálise, música e autismo.15 |
Souza MB, Silva MS, Rodrigues S, Tavares AA, Sousa K, Santos S. / 2017 |
Estilos clín.
LILACS |
Estudos e pesquisas nessa área proporcionariam modos de intervenção eficazes tendo como objetivo, escutar o sujeito que fala, respeitando seu modo singular e trazendo consequências positivas principalmente no que se refere à linguagem e interação social. |
Reliability of the music in everyday life (MEL) scale: a parent-report assessment for children on the autism spectrum16 |
Gottfried T, Thompson G, Elefant C, Gold C. / 2018 |
J. music ther
MEDLINE |
A confiabilidade da avaliação MEL para medir o uso da música na vida cotidiana pelos pais e filhos com autismo foi confirmada, preenchendo uma lacuna importante na disponibilidade de ferramentas de avaliação. |
Evaluation of a music therapy social skills development program for youth with limited resources17 |
Pasiali V, Clark C / 2018 |
J. music ther
MEDLINE |
Os resultados indicaram que a musicoterapia tem o potencial de ser uma intervenção efetiva para promover a competência social de crianças em idade escolar com recursos limitados, particularmente nas áreas de comunicação e comportamentos de baixo desempenho / alto risco. As habilidades de ensino através de letras de músicas e improvisação emergiram como intervenções marcantes. |
Long-term perspectives of family quality of life following music therapy with young children on the autism spectrum: a phenomenological study18 |
Thompson GA / 2018 |
J. music ther
MEDLINE |
As mães perceberam benefícios a longo prazo para as relações sociais dentro da família, levando a um enriquecimento percebido na qualidade de vida da criança e da família após as sessões de musicoterapia. |
Fonte: elaborado pelas autoras, 2019.
A musicoterapia é citada na literatura como uma opção terapêutica para o tratamento para autistas. Diversas pesquisas vêm evidenciado sua eficácia, tanto para aquelas com desenvolvimento típico como para as com desenvolvimento atípico. Um dos estudos selecionado para esta revisão, investigou o impacto da musicoterapia em crianças com transtornos do espectro do autismo e identificou que elas apresentavam um notável interesse musical, o que torna a música uma oportunidade única para o mundo do autismo.10
As atividades musicais oferecem inúmeras oportunidades para as crianças melhorarem suas habilidades motoras, além de aprender a controlar os músculos e se mover com agilidade. O ritmo desempenha um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isso ocorre porque todas as expressões musicais ativas agem sobre os pensamentos, que promovem benéficos para a liberação emocional, resposta motora e alívio da tensão.12
Ademais, a musicoterapia tem um efeito positivo na interação social de crianças com TEA, havendo um envolvimento melhor dessas crianças com suas famílias, interação no âmbito escolar, onde a intervenção favorece e orienta novas experiências sensoriais, motoras, de linguagem e de interações, sendo possível abarcar a tríade de alterações – interação, comunicação e comportamento de forma lúdica e musical, melhorando sua cognição, e diminuindo isolamento social.8-9,11,16
Por isso, a música e os instrumentos têm o poder de influenciar através de sua vibração e envolvimento, atividades como cantar com acompanhamento de gestos, dançar, bater palmas, pés, são experiências valorizadas para a criança, pois estas, possibilitam o desenvolvimento rítmico, além destas vantagens, vão favorecer também o processo de aquisição da leitura e da escrita.15
Considerando essa perspectiva, um estudo realizado no Brasil descreve a experiência do uso da música como terapêutica no cuidado às crianças autistas no CAPSi de forma positiva, pois contribuiu para melhorar a comunicação verbal e não verbal, rompendo com os padrões de isolamento e diminuindo os comportamentos estereotipados além de estimular a autoexpressão.11
O CAPSi é um serviço diário para crianças e adolescentes que sofrem de sofrimento psíquico grave e não conseguem manter ou estabelecer vínculos sociais, neste caso, o enfermeiro deve ter capacidade de intervenção musical e garantir um cuidado lúdico e seguro.11 É fundamental que o profissional de enfermagem se capacite por meio da busca por conhecimentos sobre aspectos musicais, como timbre, altura tonal, intensidade, métrica, e outras técnicas, e sobretudo sobre as especificidades da criança a ser atendida.15
É notório nos resultados dos estudo que a qualidade de vida das crianças com autismo é muito afetada, dificultando o desempenho de atividades comuns que outras crianças da mesma idade realizam.
Estudo realizado, aplicou uma escala de confiabilidade da avaliação Music in Everyday Life (MEL), que é uma ferramenta para medir a frequência e a qualidade de tomada de músicas compartilhadas na vida cotidiana, de pais com filhos autistas, no qual foi confirmado o preenchimento de uma lacuna importante na disponibilidade de ferramentas de avaliação.16
A avaliação MEL foca na experiência mútua de música partilhada entre pais e filhos, enfatizando a necessidade de musicoterapeutas para que haja uma atenção maior para as famílias, onde irá gerar confiança e conforto nessas famílias, para que dessa forma façam a utilização da música em casa (no ambiente doméstico) sem que haja a presença do musicoterapeuta, no qual haverá um envolvimento, interação maior e melhora na relação pais e filho autista.16
É relevante destacar a correlação positiva encontrada entre as crianças que recebem as sessões de musicoterapia em grupo. Isto tem um aspecto positivo, pois as contribui no processo de integração e comunicação9. Ademais, a música pode diminuir a tensão e a ansiedade provocadas por episódios estressantes. Esse conjunto de benefícios faz com que as crianças sejam mais alegres e felizes, tornando assim seu estado emocional melhor.13
Novas formas de cuidado foram adicionadas aos métodos de tratamento comprovados para melhorar os meios de estimular as habilidades das crianças afetadas por TEA e reduzir seus sintomas. A musicoterapia parece ser uma possível e ascendente forma terapêutica no tratamento dessa patologia, sendo capaz de auxiliar nas terapias que podem contribuir na promoção de saúde desse público.18
Estudos evidenciam que as áreas do processamento da linguagem em pacientes autistas têm ativação reduzida. Apesar disso, as habilidades musicais são geralmente conservadas.7,11,17 Autores destacam que as regiões cerebrais associadas à linguagem e à música se sobrepõem, o que apoia a possibilidade de reabilitação desta por meio da música, ocasionando uma melhora na conduta social e comunicativa pela ampliação da atenção compartilhada.15
As atividades musicais envolvem imitação e sincronização, resultando na ativação da área que contém neurônios-espelho, possibilitando o desenvolvimento da cognição social, atividades tipicamente problemáticas para pessoas com autismo.17
Em síntese, a musicoterapia estimula os pacientes autistas por meio de atividades motivacionais prazerosas, atrai a atenção e a atenção dos pacientes e promove a realização dos objetivos de tratamento estabelecidos.17
Entretanto, apesar de onze artigos desta revisão apresentarem a importância da musicoterapia no tratamento com crianças autistas, os autores produziram um estudo clínico randomizado, realizado em 9 países, com crianças de 4 a 7 anos diagnosticadas com TEA, no período de novembro 2011 a novembro de 2016. Entre as crianças com TEA, a musicoterapia, em comparação com o tratamento padrão, não resultou em diferença significativa na gravidade dos sintomas com base no domínio de afeto social por mais de 5 meses.14
Assim, esses achados não apoiam o uso de musicoterapia improvisada para redução de sintomas em crianças com TEA, porém não podem ser generalizados, sugerindo a realização de novos estudos em outros países com diferentes abordagens e metodologias.
No presente estudo foram analisados doze artigos que enfatizam o uso da musicoterapia como ferramenta de tratamento no TEA, tendo em vista que onze estudos descrevem que esse tratamento age positivamente principalmente nas áreas da socialização-interação, comunicação, psicomotricidade e linguagem. A melhora nas habilidades de comunicabilidade musical repercute em efeitos positivos sobre a socialização das crianças, fundamentalmente na área da comunicação.
Durante o tratamento a criança interage com sua família, colegas, cuidadores e terapeutas, melhorando seu humor, atenção e envolvimento. A criança torna-se menos dependente de seus cuidadores, há melhora quanto ao isolamento social; a mãe aprende a lidar melhor com seu filho com TEA, gerando uma maior confiabilidade na relação entre as partes.
Embora ainda seja um campo relativamente novo, a pesquisa nessa área representa foco de interesse dos pesquisadores de diferentes formações. Nesse cenário, o profissional em enfermagem assim como toda equipe multiprofissional devem explorar diversos métodos terapêuticos no desempenho de sua atividade profissional, com finalidade de promover uma assistência mais humanizada além de melhorar a relação entre equipe-paciente.
As limitações deste estudo são decorrentes da escolha de duas bases de dados e das palavras-chave. A escolha da base de dados e das palavras-chave podem ter camuflado estudos com a mesma temática e não indexados na mesma base. Assim, sugere-se que sejam desenvolvidos mais estudos ampliando os critérios da amostra e pesquisas de caráter longitudinal no cenário brasileiro. Deste modo, será ampliado a visão da musicoterapia no tratamento clínico e desenvolvimento das habilidades musicais ao longo do processo musicoterapêutico em crianças com TEA, proporcionando a generalização dos resultados dos estudos.
1 Campos LK, Fernandes FDM. School profile and language and cognitive abilities of children and adolescents with autism spectrum disorders. CoDAS. [Internet]. 2016[cited 2019 June 09];28(3):234-43. Available form: http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20162015023
2 Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Folha informativa: transtorno do espectro autista. [Internet]. 2017[acesso em 2019 jun 09]. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5651:folha-informativa-transtornos-do-espectro-autista&Itemid=839
3 Nascimento YCML, Castro CSC, Lima JLR, Albuquerque MCS, Bezerra DG. Autistic spectrum disorder: early detection by family health strategy nurses. Rev. baiana enferm. [Internet]. 2018[cited 2019 June 09];32:e25425. Available from: http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v32.25425
4 Aguiar RP, Pereira FS, Bauman CD. Importância da prática de atividade física para as pessoas com autismo. J. Health Biol. Sci. (Online). [Internet]. 2017[acesso 2019 jun 09];5(2):178-83. Disponível em: http://dx.doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v5i2.1147.p178-183.2017
5 Sena RCF, Reinalde EM, Silva GWS, Sobreira MVS. Practice and knowledge of nurses about child autism. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online). [Internet]. 2015[cited 2019 June 09];7(3):2707-16. Available from: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.2015.v7i3.2707-2716
6 Mendes KDS, Silveira RCPC, Galvão CM. Use of the bibliographic reference manager in the selection of primary studies in integrative reviews. Texto & contexto enfermagem. [Internet]. 2019[cited 2019 Oct 09];28:e20170204. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2017-0204.
7 Geretsegger M, Elefant C, Mössler KA, Gold C. Music therapy for people with autistic spectrum disorder (Review). Cochrane database syst. rev. (online). [Internet]. 2014[cited 2019 Oct 09];17(6). Available from: https://doi.org/ 10.1002/14651858.CD004381.pub3
8 Lagasse AB. Effects of a music therapy group intervention on enhancing social skills in children with autism. J. music ther. [Internet]. 2014[cited 2021 Mar 23];51(3):250-75. Available from: https://doi.org/10.1093/jmt/thu012
9 Vaiouli P, Grimmet K, Ruich LJ. “Bill is now singing”: Joint engagement and the emergence of social communication of three young children with autism. Autism. [Internet]. 2015[cited 2021mar 23];19(1):73-83. Available from: https://doi.org/10.1177/1362361313511709
10 Heaton P. Age related differences in response to music-evoked emotion among children and adolescents with autism spectrum disorders. J. autism dev. disord. [Internet]. 2016[cited 2019 Oct 09];46(4):1490-1. Available from: https://doi.org/10.1007/s10803-015-2671-7
11 Franzoi MAH, Santos JLG, Backes VMS, Ramos FRS. Musical intervention as a nursing care strategy for children with autism spectrum disorder at a psychosocial care center. Texto & contexto enferm [Internet]. 2016[cited 2019 Oct 09];25(1):e1020015. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-070720160001020015
12 Spiro N, Himberg T. Analysing change in music therapy interactions of children with communication difficulties. Philosophical transactions of the royal society b: biological sciences. [Internet]. 2016[cited 2021 Mar 23];371(1693):20150374. Available from: https://doi.org/10.1098/rstb.2015.0374
13 Brown LS. The influence of music on facial emotion recognition in children with autism spectrum disorder and neurotypical children. J. music ther. [Internet]. 2016[cited 2021 Mar 23];54(1):55-79. Available from: https://doi.org/10.1093/jmt/thw017
14 Bieleninik Ł. Geretsegger M, Mossler K, Assmus J, Thompson G, Gattino G, et al. Effects of improvisational music therapy vs enhanced standard care on symptom severity among children with autism spectrum disorder: the TIME-A randomized clinical trial. JAMA. [Internet]. 2017[cited 2019 Oct 09];318(6):525-35. Available from: https://doi.org/10.1001/jama.2017.9478
15 Souza MB, Silva MS, Rodrigues S, Tavares AA, Sousa K, Santos S. Da vibração ao encontro com o outro: psicanálise, música e autismo. Estilos clín. [Internet]. 2017[acesso em 2021 mar 23];22(2):299-318. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v22i2p299-318
16 Gottfried T, Thompson G, Elefant C, Gold C. Reliability of the music in everyday life (MEL) scale: a parent-report assessment for children on the autism spectrum. J. music ther. [Internet]. 2018[cited 2019 Oct 09];55(2):133-55. Available form: https://doi.org/10.1093/jmt/thy002
17 Pasiali V, Clark C. Evaluation of a music therapy social skills development program for youth with limited resources. J. music ther. [Internet]. 2018[cited 2021 Mar 23];55(3):280-308. Available from: https://doi.org/10.1093/jmt/thy007
18 Thompson GA. Long-term perspectives of family quality of life following music therapy with young children on the autism spectrum: a phenomenological study. J. music ther. [Internet]. 2017[cited 2021 Mar 23];54(4):432-59. Available from: https://doi.org/10.1093/jmt/thx013
Aceito em: 09/03/2021
[1] Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: t-calove@outlook.com ORCID: 0000-0002-7793-2717
[2] Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: marly_neta@hotmail.com ORCID: 0000-0003-4049-7894
[3] Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: juliana.magalhaes@uninovafapi.edu.br ORCID: 0000-0001-9547-9752
[4] Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: adelia.oliveira@uninovafapi.edu.br ORCID: 0000-0001-8344-9820
[5] Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: fcmamorim@outlook.com ORCID: 0000-0002-1648-5298
[6] Centro Universitário Uninovafapi. Teresina, Piauí (PI), Brasil (BR). E-mail: cmcarvalho@uninovafapi.edu.br ORCID: 0000-0002-2743-0612
Como citar: Oliveira FV, Rêgo Neta MM, Magalhães JM, Oliveria ADS, Amorim, FCM, Carvalho CMS. Contribuição da musicoterapia no transtorno do espectro autista: revisão integrativa da literatura. J. nurs. health. 2021;11(1):e2111117779. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/17779