ARTIGO DE REVISÃO

Utilização das práticas integrativas e complementares em saúde no pré-natal: revisão integrativa

Use of integrative and complementary health practices in prenatal: an integrative review

Utilización de las prácticas integrativas y complementarias en salud en el prenatal: revisión integrativa

Roblejo, Elida Sabrina dos Santos[1]; Torres, Joel Roblejo[2]; Abade, Erik Asley Ferreira[3]

RESUMO

Objetivo: identificar na literatura a utilização das práticas integrativas e complementares em saúde no pré-natal. Método: revisão integrativa realizada entre maio de 2019 e março de 2021 em três bases de dados. Conforme protocolo pré-definido foram selecionados 18 trabalhos para análise crítica a partir da questão norteadora “Quais práticas integrativas e complementares em saúde são usadas no pré-natal?” Resultados: os estudos foram classificados em dois grupos: práticas usadas pelas gestantes e práticas indicadas por profissionais. A prática mais usada pelas gestantes foi a fitoterapia e as mais indicadas pelos profissionais foram homeopatia e medicina tradicional chinesa. A categoria profissional que mais apareceu fazendo trabalho a respeito do tema foi a enfermagem. Conclusões: todas as práticas indicadas pelos profissionais trouxeram benefícios para as gestantes, mostrando segurança em sua utilização. Contudo, as práticas não são incorporadas em sua totalidade, o que indica a necessidade de ampliação de seu uso durante o pré-natal.

Descritores: Terapias complementares; Gravidez; Cuidado pré-natal

ABSTRACT

Objective: identify in the literature the use of integrative and complementary health practices in prenatal care. Method: integrative review carried out between may 2019 and march 2021 in three databases. According to the pre-defined protocol 18 studies were selected for critical analysis based on the guiding question “What are the integrative and complementary practices used in prenatal care?” Results: the studies could be classified into two groups: practices used by pregnant and practices recommended by professionals. It was identified that the most used practice by pregnant was phytotherapy and the practices most recommended by professionals were homeopathy and traditional chinese medicine.The professional category that most appeared doing work on the topic was nursing Conclusions: all the practices recommended by the professionals brought benefits to the pregnant women, showing safety in their use. However, the practices are not fully incorporated, which indicates the need to expand its use during prenatal care.

Descriptors: Complementary therapies; Pregnancy; Prenatal care

RESUMEN

Objetivo: identificar en la literatura la utilización de prácticas integrativas y complementarias en salud en el prenatal. Método: revisión integrativa realizada entre mayo de 2019 y marzo de 2021 en tres bases de datos. Conforme al protocolo predefinido se seleccionaron 18 trabajos para análisis crítica partiendo de la pregunta "¿Cuáles son las prácticas integrativas y complementarias en salud utilizadas en el prenatal?" Resultados: los estudios se clasificaron en dos grupos: prácticas utilizadas por gestantes y prácticas indicadas por profesionales. Se identificó como práctica más utilizada por gestantes la fitoterapia y más indicadas por profesionales la homeopatía y la medicina tradicional china. La categoría profesional que más apareció trabajando en el tema fue enfermería. Conclusiones: todas las prácticas indicadas por profesionales trajeron beneficios para las gestantes, mostrando seguridad en su utilización. Todavía, las prácticas no son incorporadas totalmente, mostrando la necesidad de ampliación de su uso durante el prenatal.

Descriptores: Terapias complementarias; Embarazo; Atención prenatal

INTRODUÇÃO


As práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) são recursos terapêuticos, que trazem consigo o entendimento do processo saúde-doença, que objetivam a promoção do cuidado holístico humano e proporcionam o autocuidado. Essas práticas desenvolvem-se através de estímulos naturais do corpo, para promover saúde e prevenir agravos, com ênfase na escuta acolhedora, criação de vínculo terapêutico e a relação do ser humano com o meio ambiente e a sociedade, sem deixar de lado a singularidade do indivíduo.1

Tais práticas existem e são usadas há milênios no mundo todo como forma de manutenção da saúde e cura. Pode-se citar a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) como pioneira utilizando a acupuntura, plantas medicinais, terapia com dieta, práticas corporais e mentais com o intuito de promover, manter e recuperar a saúde, assim como prevenir o aparecimento de agravos e doenças. 1

Sabe-se que as PICS geram muitos benefícios e podem ser empregadas em diversas situações tanto como terapia principal quanto como complementar ao tratamento principal. Dentre as várias utilidades do uso das PICS estão a promoção de analgesia, restauração das funções de órgãos, equilíbrio imunológico, reabilitação após acidentes vasculares cerebrais, além de tratamento da cefaleia, lombalgia, dismenorreia, asma, entre outros.1 O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 29 tipos de PICS de forma gratuita e integral para a população e os atendimentos podem ser encontrados na atenção básica (2019).

Em meio as áreas de destaque do cuidado em saúde no Brasil, em especial na atenção primária, está o cuidado à gestante e ao bebê.3 Analisando-se a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e a portaria nº1.459 de 24 de junho de 2011, que estabelece a Rede Cegonha,4 percebe-se uma afinidade entre seus objetivos, principalmente no que diz respeito a promoção, manutenção e recuperação da saúde através de um cuidado integral e humanizado.

Estudos de diversas partes do mundo evidenciam a aceitação e os benefícios que o uso das PICS proporcionam para as gestantes. A exemplo de uma pesquisa, realizada no ano de 2016, na qual foi comprovada a aceitação da prática do yoga pelas gestantes, além de ter causado melhora de humor das mesmas.5 Em outros estudos a prática do yoga foi usada principalmente para aliviar sintomas de depressão e ansiedade, como também para diminuir o estresse em grávidas adolescentes.6-7 Um trabalho realizado na Palestina usou a fitoterapia para aliviar desconfortos abdominais e como calmante. O uso dessas plantas é bastante disseminado porque elas são de fácil aquisição, sendo encontradas no mercado ou na própria natureza, o que facilita ainda mais seu uso pelas grávidas.8 Em pesquisa multidisciplinar a acupuntura foi aplicada nas gestantes para tratar dor lombar por se tratar de uma prática efetiva e não farmacológica.

Em Cuba o investimento em medicina alternativa é muito grande, inclusive com desenvolvimento de práticas integrativas próprias. A substituição do uso de medicação ansiolítica pela realização de atividades físicas, culturais e terapia alternativa em pacientes de modo geral e o uso de PICS por gestantes pode ser citada como experiência positiva desenvolvida nesse país.³

Apesar do surgimento de novos estudos nesse contexto, esse trabalho justifica-se porque, embora existam documentos formais, que estimulam o uso das PICS durante o pré-natal e parto, pode-se observar uma falta de estudos sobre as PICS no pré-natal.³ Por compreender que essas práticas podem contribuir com a saúde materno-infantil, facilitando o desenvolvimento de um estilo de vida mais saudável e valorizando os conhecimentos individuais de forma humanizada e integral, esse trabalho também pode ser entendido como uma maneira de repensar o modelo de cuidado ofertado para as mulheres no pré-natal, na tentativa de inovar o uso de práticas que ajudem as gestantes durante a gravidez através da união dos seus próprios conhecimentos e o conhecimento científico.

Diante do exposto, entende-se a importância que as PICS demonstram ter no contexto da saúde da mulher, em especial durante o pré-natal, pois são capazes de promover saúde e prevenir doenças sem expor a gestante à técnicas invasivas ao mesmo tempo em que valoriza os conhecimentos individuais de forma humanizada e integral, sendo estimada a utilização dessas terapias durante o período gestacional. Entende-se, desse modo, a necessidade de saber como se encontra a produção científica sobre a utilização das PICS durante o pré-natal.

A partir da delimitação do tema o presente estudo teve como objetivo identificar na literatura a utilização das práticas integrativas e complementares em saúde no pré-natal.

MÉTODO

Trata-se de um estudo bibliográfico, descritivo, tipo revisão integrativa de literatura. O trabalho foi operacionalizado a partir de seis etapas: 1) escolha do tema e formulação da pergunta de pesquisa; 2) amostragem; 3) coleta de dados (extração das informações); 4) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; 5) interpretação e discussão dos resultados e 6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento.10-11

Utilizou-se a estratégia PICO12 para a formulação da pergunta norteadora: P (pacientes com condição particular) – gestantes; I (intervenção) - práticas integrativas e complementares em saúde; C (comparação) – não foi realizada comparação; O (desfecho) – pré-natal. Dessa maneira foi definida como questão norteadora: qual a utilização das práticas integrativas e complementares em saúde durante o pré-natal?

Foram determinados como critérios de inclusão: artigos, dissertações ou teses, sem delimitação temporal, com informações no título ou no resumo que indicassem o uso de PICS durante o pré-natal, disponíveis na íntegra e escritos em português e espanhol. Excluíram-se do estudo: artigos de revisão, projeto piloto, cartas e editoriais, além de arquivos repetidos.   

Realizou-se a busca de trabalhos no mês de maio de 2019 e uma revisão em 11 de março de 2021 nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Catálogo de Teses e Dissertações CAPES. Os trabalhos foram buscados a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “gravidez”; “cuidado pré-natal”; “terapias complementares”, além disso, o nome de cada terapia complementar foi usado como descritor durante a pesquisa para ampliar a amostra.

A primeira combinação entre descritores foi feita nas bases de dados LILACS e SciELO: “gravidez” OR “cuidado pré-natal” AND “terapias complementares”. Em seguida, o descritor “terapias complementares” foi trocado pelo nome de cada terapia ofertada pelo SUS, a saber: “apiterapia”, “aromaterapia”, “arteterapia”, “ayurveda”, “biodança”, “bioenergética”, “constelação familiar”, “cromoterapia”, “dança circular”, “geoterapia”, “hipnoterapia”, “homeopatia”, “imposição das mãos”, “medicina antropofásica”, “medicina tradicional chinesa/acupuntura”, “meditação”, “musicoterapia”, “naturopatia”, “osteopatia”, “ozonioterapia”, “fitoterapia”, “quiropraxia/quiroprática”, “reflexoterapia”, “reiki/toque terapêutico”, “shantala”, “terapia comunitária integrativa”, “terapia floral”, “termalismo social/crenoterapia” e “yoga”, concluindo a segunda busca.

Por fim, no Catálogo de Teses e Dissertações CAPES, combinou-se o descritor “gravidez” com o nome de todas as PICS ofertadas pelo SUS, cada uma de uma vez. A busca nessa base de dados foi refinada através do tópico trabalhos da área das ciências da saúde.

Através da primeira combinação foram obtidos 13 trabalhos referentes à temática, a segunda busca resultou em 135 trabalhos e com a terceira pesquisa, 938, totalizando 1086. Excluíram-se os textos duplicados, restando 1078 trabalhos.

A seleção preliminar dos estudos foi realizada por um pesquisador através da leitura do título e/ou resumos dos trabalhos, com a aplicação dos critérios de seleção. Foram selecionados 27 trabalhos para a leitura integral, sendo que a leitura integral e confirmação das adequações segundo os critérios de seleção foram feitas entre todos os pesquisadores. 

Foram selecionadas as publicações que relacionassem a prática integrativa e complementar em saúde com a mulher durante o período pré-natal, embora algumas dessas publicações tenham realizado pesquisas com mulheres durante o parto e puérperas, para este trabalho somente foram analisadas informações sobre gestantes durante o pré-natal.

Na terceira etapa foi desenvolvido um instrumento para a extração das informações dos trabalhos com os itens: título, ano, autores, resumo, objetivo, revista, tipo de documento, categoria do primeiro autor, abordagem, método, terapia utilizada, finalidade do uso e principais resultados. Todos os trabalhos foram utilizados independentemente do nível de evidência, devido ao baixo número de trabalhos para a análise.

A etapa de avaliação foi realizada a partir da análise crítica dos estudos selecionados tendo como referencial a questão norteadora da pesquisa. As informações extraídas dos artigos passaram por uma leitura minuciosa e foram analisadas detalhadamente pela pesquisadora principal, com revisão crítica dos outros pesquisadores para assegurar a confiabilidade e rigor metodológico da pesquisa. Após a análise dos resultados dos diferentes estudos, foi realizada a classificação e a agregação dos dados, emergindo duas categorias: estudos que avaliaram o uso das PICS pela gestante e a segunda categoria dos estudos que mostraram o uso PICS na assistência à gestante por profissionais de saúde.

Salienta-se que, quanto aos aspectos éticos, por se tratar de uma revisão, não foi necessária aprovação de Comitê de Ética em Pesquisa. Respeitaram-se as ideias e definições dos autores das produções analisadas.

Empregou-se o fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) para a apresentação dos resultados, sendo possível observar a análise desta revisão na Figura 1.13

Figura 1: Fluxograma explicativo sobre a etapa de busca de artigos nas bases de dados

Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

RESULTADOS

Frente as 18 publicações selecionadas foi observado que, nos anos de 2012 e 2017, apresentou-se mais estudos sobre o tema estudado, totalizando de três trabalhos em cada ano;14-19 já nos anos de 2005, 2011 e 2019 encontrou-se a publicação de dois trabalhos por ano7,21-25 e nos anos de 2004, 2009, 2010, 2014, 2018 e 2020 foi identificada apenas uma publicação.20,26-30 Em relação ao país de realização, verificou-se que a maioria dos trabalhos foi desenvolvido no Brasil.7,14-16,18-21,23-28,30 Sendo que três foram realizados em outros países, sendo estes Colômbia,17 Cuba22 e México.29

Em relação ao tipo de documento o maior número identificado foi de trabalhos publicados como artigos com total de treze estudos;14,17-18,20-27,29-30 em seguida as teses, com três trabalhos;7;15-16 e por fim as dissertações, com somente duas publicações.19,28  Entre os artigos a maior parte deles foi publicada em revistas de saúde coletiva e humanidade.17,20-21,23-24,26 O número de artigos publicados em revista de categoria profissional foi quatro18,22,25,30 e em revistas específicas de PICS a quantidade foi três.14,27,29

A categoria profissional do primeiro autor do trabalho que mais prevaleceu foi enfermagem, com sete publicações sobre o tema.20-21,23-26,30  Em seguida vieram os trabalhos com profissionais de medicina, com quatro publicações,14-15,22,29 os profissionais de farmácia/química17-18,28 e humanas07,19,27 que tiveram três trabalhos cada, e por último, um trabalho foi realizado por profissional de fisioterapia.16

A prática integrativa e complementar em saúde mais estudada ou prescrita foi a fitoterapia,17-18,24-28 tendo aparecido em sete trabalhos. Em seguida veio a homeopatia14-15,29 e a medicina tradicional chinesa (acupuntura e auriculoterapia)20-21,30 que apareceram em três trabalhos. As práticas do yoga07,16 e reflexologia23,25 foram utilizadas em dois trabalhos. Por fim, reiki,19 bioenergética,22 meditação,23 balanceio pélvico,23 musicoterapia e aromaterapia, MSPPM (atividade memória, sensorioperceptiva das plantas medicinais) e Qi Gong25 apareceram em apenas um trabalho. Percebeu-se que entre as PICS dos trabalhos estudados apareceram três (balanceio pélvico, MSPPM e Qi Gong)23,25 que não estão incluídas na lista das PICS que o SUS disponibiliza.

Apresenta-se no Quadro 1 a caracterização dos estudos analisados segundo título, autor/ano e categoria profissional.

Quadro 1: Caracterização dos estudos segundo título, autor/ano e categoria profissional.

Título

Autoria/Ano

Categoria profissional do primeiro autor

Intervenção com yoga em gestantes adolescentes: efeitos sobre estressores e sobre parâmetros de estresse.

ARAÚJO, M.A.N (2019)7

Psicologia

Epilepsia de água quente numa mulher grávida: relato de caso.

BIDANI, N (2012)14

Medicina

Tratamento homeopático em gestantes com sobrepeso ou obesidade e transtorno mental comum: ensaio clínico duplo-cego controlado.

VILHENA, E.C de (2012)15

Medicina

Algias posturais na gestação: prevalência, fatores de risco e tratamento das algias lombares e pélvicas pelo método do Hatha Yoga.

MARTINS, R.F (2012)16

Fisioterapia

Vigilancia del uso de medicamentos en el embarazo en el município de Los Palmitos, Sucre, Colombia: una contribución para la prevención y reducción de la mortalidade materna y perinatal.

GÓMEZ, M.A.M et al (2017)17

Química/

Farmácia

Utilização de medicamentos e plantas medicinais por gestantes atendidas na unidade de saúde da mulher em Alegre, ES, Brasil.

ZAMPIROLLI, A.C.D et al (2017)18

Farmácia

Conhecimento e aceitação das PICS, em especial a terapia reiki, de gestantes diabéticas atendidas num centro terciário: uma abordagem qualitativa.

FERRAZ, G.A.R (2017)19

Comunicação e pedagogia social

Efeitos da auriculoterapia na ansiedade de gestantes no pré-natal de baixo risco.

SILVA, H.L de et al (2020)20

Enfermagem

Enfermagem e a prática avançada da acupuntura para o alívio da lombalgia gestacional.

MARTINS, E.S et al (2019)21

Enfermagem

Bioenergía aplicada a gineco-obstetrícia.

FERRER, J.A.L et al (2005)22

Medicina

O desenvolvimento de um grupo de gestantes com a utilização da abordagem corporal.

REBERTE, L.M et al (2005)23

Enfermagem

Percepção de risco e conceitos sobre plantas medicinais, fitoterápicos e medicamentos alopáticos entre gestantes.

PIRES, A.M et al (2011)24

Enfermagem

As PICS da mulher: uma estratégia de humanização da assistência no Hospital Sofia Feldman.

BORGES, M.R et al (2011)25

Enfermagem

O diálogo com gestantes sobre plantas medicinais: contribuições para os cuidados básicos de saúde.

FARIA, P.G de et al (2004)26

Enfermagem

Representações de gestantes sobre o uso de plantas medicinais.

RANGEL, M et al (2009)27

Educação

O uso de produtos de origem vegetal por mulheres em período de gestação em uma maternidade pública no Maranhão.

SILVA, M.W de B (2010)28

Farmácia

Un caso clínico de oligohidramnios severo tratado con homeopatia.

CABELLO, H.M (2014)29

Medicina

Tratamento com acupuntura: avaliação multidimensional da dor lombar em gestantes.

MARTINS, E.S et al (2018)30

Enfermagem

Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

 

A primeira categoria foi composta por sete trabalhos.17-19,24,26-28 Percebeu-se que esses estudos pesquisaram sobre o uso da fitoterapia pelas gestantes, explorando o conhecimento, a percepção, o uso cotidiano e as dificuldades na utilização da fitoterapia pelas por elas.17-18,24,26-28 Nessa categoria apenas um trabalho19 avaliou o conhecimento das gestantes sobre as terapias de forma geral, especialmente sobre reiki, como pode ser visto na figura acima.

Na segunda categoria estão os estudos que mostraram o uso das PICS na assistência à gestante por profissionais de saúde, para aliviar ou tratar sintomas gravídicos e/ou tratar doenças associadas ou não à gravidez, como pode ser verificado no quadro 3. Encontra-se nesta categoria onze trabalhos07;14-15-16;20-21-22-23;24;29-30 o que representa a maioria dos estudos.

Ainda em relação aos achados importantes, a fitoterapia foi a única PICS utilizada por gestante17-18,24,26-28 que também foi prescrita por profissional de saúde,25 podendo estar presente nas duas categorias criadas a partir da análise dos trabalhos.

Os estudos sobre o uso de PICS no pré-natal puderam ser classificados em duas categorias de acordo com o modo como o tema foi abordado. A primeira categoria foi dos estudos que avaliaram o uso das PICS pela gestante17-19.24,26-28 (Quadro 2) e a segunda categoria foi dos estudos que mostraram o uso das PICS na assistência à gestante por profissionais de saúde7,14-16,20-23,25,29-30 (Quadro 3).

Quadro 2: Síntese dos trabalhos relacionando gestante e terapias, incluindo o uso da PICS, objetivos e principais resultados.

PICS

Objetivos

Principais resultados

Autoria/

Ano

Fitoterapia

Avaliar uma estratégia para monitorar o uso de drogas por mulheres grávidas de um município colombiano.

Criou-se, aplicou-se e validou-se um instrumento de coleta de informações sobre ervas medicinais. Verificou-se que as gestantes consumiram 11 produtos sem a prescrição médica, sendo que 2 eram plantas medicinais. 

GÓMEZ, M.A.M et al (2017)17

Fitoterapia

Identificar a utilização de medicamentos e plantas medicinais junto às gestantes atendidas na Unidade Saúde da Mulher no Espírito Santo.

Notou-se a existência da prática de automedicação e utilização de plantas medicinais pelas gestantes estudadas.

ZAMPIROLLI, A.C.D et al (2017)18

Reiki

Avaliar como as mulheres grávidas diagnosticadas com diabetes compreendem e aceitam o uso das PICS no cuidado à saúde, especialmente reiki, durante o atendimento pré-natal.

Demonstrou-se que a maioria das gestantes conhecia algumas das PICS, porém mostraram desconhecimento sobre o reiki.

FERRAZ, G.A.R (2017)19

Fitoterapia

Analisar as percepções de risco relacionadas ao uso de fitoterápicos, plantas medicinais e medicamentos alopáticos em gestantes, bem como apresentar os conceitos por elas definidos a respeito desses agentes terapêuticos.

Necessita-se aprofundar o conceito da experiência subjetiva das pacientes com a utilização de medicamentos, pois essa experiência influencia toda a forma como o sujeito se relaciona com os medicamentos.

PIRES, A.M et al (2011)24

Fitoterapia

Identificar as plantas comumente utilizadas pelas gestantes; descrever a finalidade e a forma de preparo das plantas e analisar suas implicações para os cuidados básicos de saúde.

Comprovou-se que o conhecimento das gestantes sobre as plantas é de origem sócio familiar, sendo a camomila, erva-doce, erva-cidreira e o boldo os mais utilizados, predominantemente em forma de chá.

FARIA, P.G de et al (2004)26

Fitoterapia

Analisar representações formadas sobre o uso de plantas medicinais por gestantes em tratamento ambulatorial.

Enfrentam-se dificuldades de identificação e administração segura das plantas e um certo grau de mistificação, além do uso de substâncias ineficazes e potencialmente tóxicas.

RANGEL, M et al (2009)27

Fitoterapia

Identificar os potenciais riscos relacionados ao uso indiscriminado de plantas medicinais e/ou seus derivados por mulheres em fase gestacional e suas consequências.

Evidenciou-se o uso indiscriminado de produtos de origem vegetal durante a gestação, com a prática de automedicação e suposto abortamento.

SILVA, M.W de B (2010)28

Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

Quadro 3: Síntese dos trabalhos relacionando assistência/atenção/cuidado à gestante e terapias incluindo a PICS, objetivo e principais resultados.

 

PICS

Objetivos

Principais resultados

Autoria/Ano

Yoga

Avaliar os efeitos da prática do yoga sobre alguns parâmetros de estresse - cortisol, ansiedade e depressão – no pré-natal de adolescentes atendidas em uma maternidade pública (Salvador - Bahia) e a percepção destas acerca dos efeitos desta prática sobre os estressores.

Redução do cortisol nas adolescentes e consequente redução do estresse; criação de novas estratégias para lidar com eventos estressores.

ARAÚJO, M.A.N (2019)7

Homeopatia

Discutir o caso de uma mulher grávida de 28 anos de idade que apresentava convulsões reflexas ao jorrar água na cabeça ao tomar banho.

Fim dos episódios de epilepsia.

BIDANI, N (2012)14

Homeopatia

Avaliar a eficácia do tratamento homeopático em gestantes com sobrepeso ou obesidade 1 ou 2, sem comorbidades, suspeitas de transtorno mental comum, na prevenção do ganho excessivo de massa corporal durante a gestação.

A homeopatia não contribuiu para a prevenção do ganho excessivo de massa corporal em gestantes com sobrepeso ou obesidade, mas desempenhou um papel regulador melhorando a vitalidade dos recém-nascidos no quinto minuto de vida.

VILHENA, E.C de (2012)15

Yoga

Avaliar a prevalência das algias na coluna vertebral, identificar possíveis fatores de risco na gestação e avaliar a efetividade do método do Hatha Yoga para reduzir dor lombar e pélvica relacionadas à gravidez.

A prevalência de dor na coluna vertebral foi de 78,8%. Os períodos noturnos, vespertinos e a posição corporal em pé são fatores preditivos associados para a dor lombopélvica durante a gestação. O yoga foi efetivo para a diminuição da intensidade da dor lombar e pélvica.

MARTINS, R.F (2012)16

Medicina tradicional chinesa (auriculoterapia)

Avaliar os efeitos da auriculoterapia nos níveis de ansiedade em gestantes atendidas em pré-natal de baixo risco.

A auriculoterapia ajudou a diminuir a ansiedade em gestantes durante o pré-natal de baixo risco.

SILVA, H.L de et al (2020)20

Medicina tradicional chinesa (acupuntura)

Avaliar os efeitos da prática de acupuntura realizada no alívio da dor lombar em gestantes que se encontram no segundo e terceiro

trimestre de gravidez, bem como na execução das atividades diárias.

A acupuntura proporcionou efeitos favoráveis à saúde das participantes, pois houve redução na dor logo a partir da segunda sessão, assim como ajudou na execução das atividades diárias.

MARTINS, E.S et al (2019)21

Bioenergética

Determinar a eficácia do tratamento bioenergéticos pacientes com doenças gineco-obstétricas.

O tratamento bioenergético acelerou a cura dos estados físicos e mentais, diminuiu os dias de internação, reduziu o consumo de medicação utilizada previamente e garantiu um melhor prognóstico maternofetal. 

FERRER, J.A.L et al (2005)22

Reflexologia (massagem),

meditação (relaxamento e percepção corporal) e balanceio pélvico

Identificar os desconfortos físicos e emocionais referidos

pelos participantes de um grupo de gestantes e descrever os recursos da abordagem corporal empregados

para o alívio dos desconfortos.

Os desconfortos referidos foram: dor nos membros inferiores, insônia, ansiedade, fadiga corporal, dores lombares,

volume abdominal e seus desconfortos, as tensões musculares. Foram descritas técnicas de abordagem corporal e explicada sua finalidade.

REBERTE, L.M et al (2005)23

Musicoterapia e aromaterapia, fitoterapia (oficina de chás e escalda pés), reflexologia, MSPPM e Qi Gong

Identificar as PICS mais utilizadas pelo Núcleo na Saúde da Mulher e conhecer as impressões das usuárias a respeito de sua aplicação.

As PICS promoveram resultados satisfatórios, provocando alívio dos sintomas físicos e psíquicos. Esse fator muito contribui para sua utilização como forma de suporte na assistência obstétrica voltada para a humanização.

BORGES, M.R et al (2011)25

Homeopatia

Relatar um caso clínico urgente de oligodrâmnio severo, em uma paciente primigesta.

A intervenção permitiu a reversão prontamente e completamente, permitindo o desenvolvimento da gestação e nascimento de um bebê sadio.

CABELLO, H.M (2014)29

Medicina tradicional chinesa (acupuntura)

Avaliar os efeitos da acupuntura no tratamento da dor lombar em gestantes do segundo e terceiro trimestre gestacional.

Proporcionou efeitos positivos favoráveis à saúde das participantes. Houve redução na dor lombar das gestantes logo a partir da segunda sessão e diminuição gradativa com os avançar do número de sessões. As participantes denotaram satisfação e bem-estar ao sair de cada sessão.

MARTINS, E.S et al (2018)30

Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

DISCUSSÃO

Verificou-se um intervalo de quatro anos sem publicação sobre o tema entre os estudos feitos em 200522-23 e 2009.27 Através da revisão pode-se verificar que a PNPICS em Saúde foi feita em 2006 e o aumento de publicações sobre o assunto pode estar relacionado com o surgimento da política.

Nos resultados desta investigação foi identificada a prevalência de duas maneiras distintas das terapias serem estudadas em relação ao seu uso no pré-natal, sendo que uma maneira avaliou o uso das PICS pelas gestantes no seu cotidiano e suas implicações na gestação17-19,24,26-28 e outra avaliou a indicação das PICS por profissionais da área para fins diversos.7,14-16;20-23,25,29-30

Trabalhou-se, majoritariamente, na primeira categoria com a fitoterapia e os autores estudaram a identificação das plantas medicinais usadas sem prescrição médica, as percepções de risco relacionadas ao seu uso, a descrição da finalidade e a forma de preparo das plantas e suas implicações no cuidado básico de saúde, as representações formadas sobre o uso das plantas medicinais e a identificação de potenciais riscos associados ao uso indiscriminados de plantas medicinais.17-18;24;26-28

Notou-se que a fitoterapia foi a terapia mais escolhida pelas gestantes e que essa escolha está diretamente ligada a uma questão de herança familiar.24,26-28 Viu-se, também, que a percepção das gestantes sobre a fitoterapia é positiva, sendo entendida como uma terapia efetiva.24 Verificou-se diversas plantas medicinais usadas pelas gestantes, mas, as mais utilizadas foram a erva-cidreira, erva-doce, camomila, boldo e hortelã, tendo sido escolhidas, principalmente, para má digestão, cólicas intestinais e calmante.18,24,26-28

A maneira mais comum que as gestantes usavam as plantas medicinais era em forma de chá.18,24,26-28 Além da questão familiar as mulheres grávidas relataram que escolhiam o chá por considerarem ter efeito terapêutico rápido, por ser natural, confiável, simples e fácil de usar.24,26-27

Foi observado, que apesar de as mulheres usarem bastante a fitoterapia durante a gestação, um desconhecimento por parte delas sobre os reais benefícios e malefícios do uso dessa prática durante a gravidez.17-18,24,26-28 Observou-se que as gestantes consumiram plantas medicinais sem prescrição médica, sendo que essas plantas apresentavam risco potencial para a gravidez, tais como: comprometimento para o desenvolvimento do feto, propriedade abortiva, risco de sangramento e interação medicamentosa causando reações adversas.17-18,24,26-28

Ainda nessa categoria foi estudado o conhecimento das gestantes sobre as terapias complementares de maneira geral e em especial sobre reiki. O trabalho mostrou que a maioria das mulheres grávidas conhecia alguma prática integrativa e complementar em saúde e que usariam tais terapias se elas fossem ofertadas pelo SUS, no entanto as gestantes mostraram desconhecimento sobre reiki.19

Na segunda categoria verificou-se a indicação das PICS por profissionais com objetivos diversos, tais como identificar as práticas mais utilizadas por equipes de saúde e conhecer as impressões das gestantes a respeito de sua aplicação, tratar problemas não relacionados à gestação e tratar problemas relacionados à gravidez como também amenizar e ou tratar sintomas gravídicos.7,14-16,20-23,25,29-30 

As terapias escolhidas pelos profissionais de saúde identificadas nos estudos foram a homeopatia, acupuntura e auriculoterapia, yoga, bioenergética, massagem, relaxamento e percepção corporal, balanceio pélvico, musicoterapia e aromaterapia, oficina de chás, escalda-pés e reflexologia, MSPPM e Qi Gong.7,14-16,20-25,29-30 As práticas de acupuntura e auriculoterapia se classificam dentro do conceito de medicina tradicional chinesa, assim como massagem é reflexologia, relaxamento e percepção corporal é meditação e oficina de chás e escalda pés é o uso da fitoterapia. 

Notou-se, de maneira geral, os benefícios conseguidos através da utilização das PICS, sendo que todas alcançaram os objetivos propostos e não causaram prejuízos para as gestantes, mostrando que elas podem ser usadas de maneira segura pelos profissionais.

A homeopatia e a medicina tradicional chinesa foram as PICS mais escolhidas pelos profissionais, sendo que a homeopatia foi usada por médicos e a medicina tradicional chinesa, por enfermeiros.14-15,20-21,29-30

No primeiro trabalho a homeopatia foi usada para tratar crises convulsivas decorrentes do contato da água quente com a cabeça, um tipo de epilepsia pouco frequente, principalmente em gestantes. O caso aconteceu com uma paciente de 28 anos e que estava no seu terceiro mês de gestação, que nunca tinha apresentado convulsões anteriormente e que teve seus exames normais. Na ocasião, o profissional prescreveu uma medicação homeopática chamada opium 200 cH, em dose única e após o tratamento a gestante não apresentou mais crises na gravidez e seu bebê nasceu saudável.14

Em outro estudo, que utilizou a homeopatia, o profissional avaliou a eficácia do tratamento homeopático entre gestantes com sobrepeso e obesidade grau 1 e 2, sem comorbidades, mas com suspeita de transtorno mental comum, na prevenção de ganho de massa corporal excessiva durante a gestação, onde foi concluído que a homeopatia não contribuiu para a prevenção de ganho excessivo de massa corporal, no entanto melhorou a vitalidade dos recém-nascidos no quinto minuto de vida.15

O terceiro estudo mostrou o uso da homeopatia para tratar um caso de oligodrâmnio grave, em uma paciente primigesta, que estava com vinte e uma semanas de gestação e com o prognóstico de perda do feto nas seguintes 48 a 72 horas. Foi usado um tratamento que incluía três medicações: tarêntula hispânica 6C, bryonia 6x e naja tripudians 12C. Através da intervenção conseguiu-se a reversão imediata e total do problema, permitindo a conclusão da gestação e o nascimento de um bebê sadio.29   

A medicina tradicional chinesa foi eleita para tratar ansiedade e lombalgia em gestantes. No primeiro estudo, o profissional escolheu a auriculoterapia para tratar ansiedade em gestantes de baixo risco que faziam consulta de pré-natal em um ambulatório numa maternidade do Espírito Santo. Ao final do tratamento pôde-se concluir que a terapia ajudou significativamente na diminuição da ansiedade entre as gestantes.20

No segundo e terceiro trabalhos a acupuntura foi usada para tratar dor lombar em grávidas que tinham entre 14 e 37 semanas de gestação e estivessem realizando pré-natal de risco habitual. Foram percebidos efeitos positivos havendo redução da dor lombar a partir da segunda sessão e fim antes do término do tratamento. As gestantes relataram melhora em outros aspectos além da dor lombar, como: relaxamento, estresse, ansiedade, sono e paciência. Além disso, verificou-se melhora nas atividades da vida diária, que eram prejudicadas pela lombalgia, como por exemplo: dormir e ficar sentada. 21,30

A prática de yoga foi utilizada em dois trabalhos, mas com finalidades diferentes. No primeiro, a terapia foi utilizada como intervenção para melhorar os níveis de estresse em gestantes adolescentes que faziam pré-natal em uma maternidade púbica em Salvador-BA, através da qual foi percebida uma diminuição nos sinais de estresse das adolescentes. No segundo, a prática foi usada no tratamento de algias lombares e pélvicas em gestantes que faziam pré-natal nas Unidades Básicas de Saúde do estado de São Paulo. Nesse estudo concluiu-se que o método do yoga foi efetivo na diminuição da intensidade das dores lombar e pélvica.07,16

A reflexologia também apareceu em dois trabalhos, ambos realizados por enfermeiras, no entanto os ambientes nos quais as terapias foram usadas foram diferentes e as finalidades também. O primeiro estudo foi feito em um ambulatório na cidade de São Paulo, que atendia gestantes de risco habitual, onde a reflexologia foi utilizada com o intuito de diminuir dor nos membros inferiores e dor lombar. Assim como no primeiro estudo sobre reflexologia possível perceber as manifestações de contentamento e as gestantes relataram um sentimento de satisfação, pois as gestantes perceberam a possibilidade do alívio nos desconfortos físicos citados. Já o segundo estudo foi realizado em um hospital público de Belo Horizonte-MG e a reflexologia foi ofertada para gestantes que estavam internadas devido a alguma intercorrência clínica na gravidez ou para tratamento de transtorno hipertensivo. Nesse contexto a terapia foi usada com o objetivo de induzir o relaxamento, reduzir as tensões musculares e combater o estresse e as gestantes relataram satisfação com o uso dessa prática.23,25 

A bioenergética foi utilizada em gestantes internadas em uma maternidade na cidade de Santiago de Cuba (CUB), por enfermidades obstétricas. Após a aplicação da terapia foi comprovado que a maioria experimentou mudança positiva na situação de saúde, melhorando o estado físico e mental das mulheres, diminuindo os dias de internação, reduzindo a dose de medicamento usado habitualmente e garantindo um melhor prognóstico materno-fetal.22

A meditação (relaxamento e percepção corporal) e o balanceio pélvico foram usados para melhorar a fadiga corporal e o volume abdominal e seus desconfortos. Assim como no primeiro estudo sobre reflexologia, foi possível perceber as manifestações de contentamento e as gestantes relataram um sentimento de satisfação, pois as gestantes perceberam a possibilidade do alívio nos desconfortos físicos citados.23

Assim como a reflexologia apareceu como terapia usada com gestantes internadas em um hospital em Belo Horizonte-MG, a musicoterapia, a aromaterapia, a fitoterapia (oficina de chás e escalda pés), o MSPPM e o Qi Gong também foram usados e com o mesmo objetivo da reflexologia e tiveram os mesmos resultados: induzir o relaxamento, reduzir as tensões musculares e combater o estresse e as gestantes relataram satisfação com o uso dessa prática.25

Contudo, foi observado entre os estudos a existência de três PICS que foram ofertadas, porém não existem na lista que o SUS disponibiliza para a população, que são o balanceio pélvico, MSPPM e Qi Gong.23,25 Dessa maneira, foi percebido que as PICS não são exploradas na sua totalidade no cuidado à gestante além disso, emergiu-se dentre os estudos que as gestantes não conhecem todas as terapias existentes.19

Outro achado importante foi o fato de a fitoterapia ter sido a única prática integrativa e complementar em saúde escolhida por gestante e por profissional para ser usada, o que retifica as falas das mulheres de ser uma terapia bem aceita e de fácil uso.

A enfermagem e medicina se destacaram como as duas categorias profissionais que mais realizaram trabalhos sobre essa temática, sendo que a maior prevalência de trabalhos sobre PICS em gestantes se deu na categoria de enfermagem.20-21,23-26,30 Sabe-se que o enfermeiro é um profissional com grande importância na implementação e utilização das PICS, sendo inclusive reconhecida pelo COFEN como uma especialidade.31

Entende-se que esta investigação proporciona a visualização de novas formas para o cuidado com a gestante utilizando as PICS, através da vivência das mesmas e do que já foi colocado em prática. Identificou-se, por outro lado, como limitação a ausência de trabalhos que explorem melhor as demais opções de terapias complementares, bem como o pequeno número de publicações encontrado relativo a esse tema.

CONCLUSÕES

Por meio da presente revisão foi possível identificar que a prática integrativa e complementar em saúde mais usada pelas gestantes foi a fitoterapia, apesar do seu desconhecimento em relação ao correto uso dessa terapia, e as práticas mais indicadas pelos profissionais de saúde foram a homeopatia e a medicina tradicional chinesa; a categoria profissional que mais apareceu fazendo trabalho a respeito do tema foi a enfermagem; as terapias não são utilizadas em sua totalidade; todas as práticas utilizadas pelos profissionais trouxeram benefícios para as gestantes, mostrando que as mesmas podem ser usadas com segurança. Apresentaram-se limitações no estudo devido existir inúmeras práticas integrativas e complementares em saúde e as mesmas não constarem na lista que é disponibilizada pelo SUS, além de a pesquisa ter sido realizada em bases de dados latino-americanas.  Entende-se que o estudo traz novas possibilidades de cuidado com a gestante e estimula novas pesquisas.

AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), por proporcionar o curso de Especialização em Saúde da Família para profissionais de saúde atuantes na atenção básica do estado de Alagoas contribuindo de forma indireta na construção deste trabalho.

REFERÊNCIAS

1 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde, 2015[acesso em 2019 out 19]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf

2 Ministério da Saúde (BR). Práticas integrativas e complementares (PICS): quais são e para que servem? [Internet]. 2019[acesso 2019 out 10]. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/praticas-integrativas-e-complementares

3 Melo LSF de. As práticas integrativas complementares no cuidado pré-natal de risco habitual: uma revisão integrativa [dissertação] [Internet]. Rio de Janeiro (RJ): Fundação Oswaldo Cruz; 2017[acesso em 2020 jan 04]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/25220/2/luciana_melo_iff_mest_2017.pdf

4 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha [Internet]. Diário Oficial da União, 27 jun 2011[acesso em 2021 abr 05]; Seção 1:109. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/27934478/pg-109-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-27-06-2011

5 Uebelacker LA, Battle CL, Sutton KA, Magee SR, Miller IW. A pilot randomized controlled trial comparing prenatal yoga to perinatal health education for antenatal depression. Arch. womens ment. health. [Internet]. 2016[cited 2020 Jan 25];19:543–7. Avaiable from: https://doi.org/10.1007/s00737-015-0571-7

6 Davis K, Goodman SH, Leiferman J, Taylor M, Dimidjian S. A randomized controlled trial of yoga for pregnant women with symptoms of depression and anxiety. Complementary therapies in clinical practice. [Internet]. 2015[cited 2020 Jan 25];21:166-172. Available from: https://doi.org/10.1016/j.ctcp.2015.06.005

7 Araújo MAN. Intervenção com yoga em gestantes adolescentes: efeitos sobre estressores e sobre parâmetros do estresse [dissertação] [Internet]. Salvador (BA): Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública; 2019[acesso em 2019 dez 10]. Disponível em: https://www.repositorio.bahiana.edu.br:8443/jspui/bitstream/bahiana/3898/1/TESE%20Maria%20Antonieta.pdf

8 Ali-Shtayeh MS, Jamous RM, Jamous RM. Plants used during pregnancy, childbirth, postpartum and infant healthcare in Palestine. Complementary therapies in clinical practice. [Internet]. 2015[cited 2020 Jan 25];21:84-93. Available from: https://doi.org/10.1016/j.ctcp.2015.03.004

9 Gallo-Padilla D, Gallo Padilla C, Gallo-Vallejo FJ, Gallo-Vallejo JL. Lumbalgia durante el embarazo. Abordaje multidisciplinar. Semergen Medicina de Familia. SEMERGEN. [Internet]. 2016[aceso 2020 ene 23];42(6):e59-e64. Disponible en: http://dx.doi.org/10.1016/j.semerg.2015.06.005

10 Ercole F, Melo LS, Laís S, Alcorofado CLGC. Integrative review versus systematic review. REME rev. min. enferm. [Internet]. 2014[cited 2020 Jan 25];18(1):1-260. Available from: http://www.dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20140001

11 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & contexto enfermagem. [Internet]. 2008[acesso em 2020 jan 25];17(4):758-64. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-07072008000400018

12 Apóstolo JLA. Síntese da evidência no contexto da translação da ciência [Internet]. Coimbra: Escola Superior de Enfermagem de Coimbra; 2017[acesso em 2019 set 15]. Disponível em: https://www.esenfc.pt/es/download/3868/dXeLMhjdjCvHFwDpAvDd

13.Galvão TF, Pansani TSA, Harrad D. Principais itens para relatar revisões sistemáticas e metaanálises: a recomendação PRISMA. Epidemiol. Serv. Saúde (Online). [Internet]. 2015[acesso em 2020 jan 25];24(2):335-42. Disponível em:  http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742015000200017

14 Bidani N. Epilepsia de água quente numa mulher grávida: relato de caso. Revista de homeopatia [Internet]. 2012[acesso em 2019 set 30];75(19):19-22. Disponível em: http://revista.aph.org.br/index.php/aph/article/view/253

15 Vilhena EC. Tratamento homeopático em gestantes com sobrepeso ou obesidade e transtorno mental comum: ensaio clínico duplo-cego controlado [tese] [Internet]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2012[acesso em 2019 dez 11]. Disponível em: https://www.teses.usp.br/index.php?option=com_jumi&fileid=12&Itemid=77&lang=pt-br&filtro=Vilhena

16 Martins RF. Algias posturais na gestação: prevalência, fatores de risco e tratamento das algias lombares e pélvicas pelo método do Hatha Yoga [tese] [Internet]. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2012[acesso em 2021 mar 19]. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/309847/1/Martins_RosenyFlavia_D.pdf

17 Gómez MAM, Díaz GMG. Vigilancia del uso de medicamentos en el embarazo en el municipio de Los Palmitos, Sucre, Colombia: una contribución para la prevención y reducción de la mortalidade materna y perinatal. NOVA on line. 2017[aceso 2019 dez 05];15(28):115-24. Disponible en: http://www.scielo.org.co/pdf/nova/v15n28/1794-2470-nova-15-28-00115.pdf

18 Zampirolli ACD, Oliveira MVL de, Mariani NAP, Meira EF, Meira FDMS. Utilização de medicamentos e plantas medicinais por gestantes atendidas na unidade de saúde da mulher em alegre, ES, Brasil. Infarma Ciências Farmacêuticas. 2017[acesso em 2021 mar 11];29(4):349-56. Disponível em: http://dx.doi.org/10.14450/2318-9312.v29.e4.a2017.pp349-356

19 Ferraz GAR. Conhecimento e aceitação das práticas integrativas e complementares na saúde, em especial a terapia Reiki, de gestantes diabéticas atendidas num centro terciário: uma abordagem qualitativa [dissertação] [Internet]. Botucatu (SP): Universidade Estadual Paulista; 2017[acesso em 2019 dez 10]. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/150093/ferraz_gar_me_bot_parc.pdf?sequence=3&isAllowed=y

20 Silva HL, Almeida MV, Diniz JS, Leite FM, Moura MA, Bringuente ME, et al. Efeitos da auriculoterapia na ansiedade de gestantes no pré-natal de baixo risco. Acta Paul. Enferm. (Online). [Internet] 2020[acesso em 2021 mar 11]; eAPE20190016. Disponível em: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020ao0016

21 Martins ES, Costa N, Holanda SM, Castro RC, Aquino PS, Pinheiro AK. Nursing and advanced acupuncture for relief of low back pain during pregnancy. Acta Paul. Enferm. (Online). [Internet]. 2019[cited 2021 Mar 11];32(5):477-84. Available from:I http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201900067

22 Ferrer JAL, Báez, GLV. Bioenergía aplicada a ginecoobstetricia. Medisan. [Internet]. 2005[acesso em 2021 mar 11];9(2). Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=368445008011

23 Reberte LM, Hoga LAK. O desenvolvimento de um grupo de gestantes com a utilização da abordagem corporal. Texto & contexto enfermagem [Internet]. 2005[acesso em 2021 mar 11];14(2):186-92. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-07072005000200005

24 Pires AM, Araújo OS. Percepção de riscos e conceitos sobre plantas medicinais, fitoterápicos e medicamentos alopáticos entre gestantes. Rev. baiana saúde pública. [Internet]. 2011[acesso em 2019 dez 05];35(2):320-33. Disponível em: https://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/view/308/pdf_117

25 Borges MR, Madeira LM, Azevedo VMG de O. As práticas integrativas e complementares na atenção à saúde da mulher: uma estratégia de humanização da assistência no Hospital Sofia Feldman. REME rev. min. enferm. [Internet]. 2011[acesso em 2019 maio 2 24];15(1):105-13. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320182311.07832016

26 Faria PG de, Ayres A, Alvim NAT. O diálogo com gestantes sobre plantas medicinais: contribuições para os cuidados básicos de saúde.            Acta sci., Health sci. [Internet]. 2004[acesso em 2019 dez 05];26(2):287-94. Disponível em: https://doi.org/10.4025/actascihealthsci.v26i2.1579

27 Rangel M, Bragança FCR. Representação de gestantes sobre o uso de plantas medicinais. Rev. bras. plantas med. [Internet]. 2009[acesso em 2019 dez 05];11(1):100-9. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-05722009000100016

28 Silva M de WB. O uso de produtos de origem vegetal por mulheres em período em uma maternidade pública do Maranhão [dissertação] [Internet] Goiânia (GO): Universidade Estadual de Goiás; 2010[acesso em 2019 dez 12]. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp133275.pdf

29 Cabello HM. Un caso clínico de oligohidramnios severo tratado con homeopatía. La homeopatía de México. 2014[aceso 2021 mar 11];83(688):27-30. Disponible: https://lahomeopatiademexico.com.mx/688_files/688%20LHM-2014%20ene-feb.pdf

30 Martins ES, Tavares TMCL, Lessa PRA, Aquino PS, Castro RCMB, Pinheiro AKB. Acupuncture treatment: multidimensional assessment of low back pain in pregnant women. Rev. Esc. Enferm. USP. [Internet]. 2018[cited 2010 Dez 18];52:e03323. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2017040303323

31 Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 581 de 11 de julho de 2018. Atualiza, no âmbito do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, os procedimentos para Registro de Títulos de Pós-Graduação Lato e Stricto Sensu concedido a       Enfermeiros e aprova a lista das especialidades. Diário Oficial da União. 18 jul 2018[acesso em 2020 dez 06];Seção1:119. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/199688379/dou-secao-1-18-07-2018-pg-119

Data de submissão: 31/07/2020

Data de aceite: 24/03/2021

Data de publicação: 13/04/2021



[1] Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Maceió, Alagoas (AL). Brasil (BR). E-mail: elidasabrina_87@hotmail.com ORCID: 0000-0002-7771-3303

[2] Universidad de Ciencias Médicas de Holguín (UCMHo). Hoguín, Holguín, Cuba (CUB). E-mail: joelroblejo86@gmail.com ORCID: 0000-0003-0604-0786

[3] Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, Bahia (BA). Brasil (BR). E-mail: erikasley@hotmail.com ORCID: 0000-0001-5780-1229

 

Como citar: Roblejo ESS, Torres JR, Abade EAF. Utilização das práticas integrativas e complementares em saúde no pré-natal: revisão integrativa. J. nurs. health. 2021;11(1):e2111119330. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/19330