ARTIGO ORIGINAL

Aleitamento materno na perspectiva de lactantes de uma unidade de saúde da família

Breastfeeding from the perspective of nursing mothers at a family health unit

Lactancia materna desde la perspectiva de las madres lactantes en una unidad de salud familiar

Dias, Ernandes Gonçalves;[1] Pereira, Juliana dos Santos;[2] Rocha, Júnia Lima;[3] Campos, Lyliane Martins;[4] Araújo, Rondinele Antunes de[5]

RESUMO

Objetivo: analisar a prática do aleitamento materno na perspectiva de lactantes de uma Unidade de Saúde da Família do Norte de Minas Gerais. Método: estudo descritivo, qualitativo realizado com 12 lactantes. Os dados foram coletados no mês de agosto de 2020 por entrevista semiestruturada e tratados por meio da Análise Temática. Resultados: os temas foram as dificuldades em amamentar e os cuidados com as mamas e benefícios da amamentação e sentimentos relacionados. As lactantes expressaram conhecer a importância e benefícios do aleitamento materno, porém há dificuldades na prática da amamentação devido às fissuras e à dor nas mamas, até pela necessidade de trabalhar fora do lar. No entanto, externaram sentimento de prazer e satisfação com a amamentação. Conclusões: sugere-se que os profissionais de saúde apoiem e implementem ações de incentivo ao aleitamento materno que amenizem as dificuldades das lactantes e potencialize o bem-estar da mulher e da criança.

Descritores: Aleitamento materno; Nutrição da criança; Saúde da criança; Estratégia saúde da família

ABSTRACT

Objective: to analyze the practice of breastfeeding from the perspective of breastfeeding mothers at a Family Health Unit in Northern Minas Gerais. Method: a descriptive, qualitative study carried out with 12 nursing mothers. Data were collected in August 2020 through a semi-structured interview and analyzed using Thematic Analysis. Results: the themes were generated: difficulties in breastfeeding and care for the breasts and benefits of breastfeeding and related feelings. The breastfeeding women expressed knowing the importance and benefits of breastfeeding, but there are difficulties in the practice of breastfeeding due to cracks and pain in the breasts, even due to the need to work outside the home. However, they expressed feelings of pleasure and satisfaction with breastfeeding. Conclusions: it is suggested that health professionals support and implement actions to encourage breastfeeding that alleviate the difficulties of breastfeeding women and enhance the well-being of women and children.

Descriptors: Breast feeding; Child nutrition; Child health; Family health strategy

RESUMEN

Objetivo: analizar la práctica de la lactancia materna desde la perspectiva de madres lactantes en una Unidad de Salud de la Familia en el Norte de Minas Gerais. Método: estudio cualitativo, con 12 madres lactantes. Los datos se recopilaron en agosto de 2020 por entrevista semiestructurada y se analizaron mediante Análisis Temático. Resultados: los temas fueran dificultades en la lactancia y el cuidado de los senos y beneficios de la lactancia y sentimientos relacionados. Las madres expresaron conocer la importancia y los beneficios, pero las dificultades en la práctica son debido a grietas y dolor en los senos y la necesidad de trabajar fuera del hogar. Sin embargo, expresaron sentimientos de placer y satisfacción con la lactancia. Conclusiones: se sugiere que los profesionales de la salud apoyen e implementen acciones de incentivo a la lactancia que alivien las dificultades de la lactancia y mejoren el bienestar de mujeres y niños.

Descriptores: Lactancia materna; Nutrición del niño; Salud del niño; Estrategia de salud familiar

INTRODUÇÃO

O aleitamento materno é considerado um dos pilares fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento satisfatório das crianças, tal prática representa impacto significativo na saúde pública no mundo. Devido a sua composição, disponibilidade de nutrientes e por seu teor em substâncias imunoativas, ele fornece os nutrientes necessários para que a criança cresça saudável, também para a saúde da mulher, assim como benefícios econômicos para a família e a população em geral, visto que os custos resultantes de infecções e agravos pela falta de proteção transmitida pelo leite materno são enormes.1-3

Apesar dos benefícios alcançados na saúde, economia e sociedade, a continuidade do aleitamento materno encontra-se em declínio, o que colabora para o aumento da desnutrição e mortalidade infantil.4

Mediante a isso se tornou necessário a criação de políticas públicas para assegurar o direito da criança a amamentação, o qual está inserido nos direitos universais à vida, à saúde e à alimentação, onde cabe ao Estado manter a garantia desse direito, tanto no plano das políticas públicas quanto no plano legislativo.5

Dentre as estratégias governamentais para promoção do aleitamento materno cita-se o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno, destaque no Brasil em 1990, a Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema Único de Saúde (SUS) - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, lançada em 2012, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança, publicada na Portaria 1.130/2015, o marco legal da Primeira Infância criado pela Lei 13.257/2016 e a Lei 13.435/2017 que instituiu o mês de agosto como o mês do Aleitamento Materno (Agosto Dourado) com o objetivo de estimular ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento.4,6-9

Apesar das legislações de incentivo e apoio ao aleitamento materno, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS)10 indicam que existem diversas falhas que contribuem para que as taxas de amamentação sejam baixas, como a falta de vínculo entre as unidades de saúde e as comunidades e o limitado acesso das lactantes a aconselhamento qualificado de profissionais de saúde.

Os índices de abandono precoce permanecem altos, relativamente em torno de 60% nos primeiros seis meses de vida.11 Dessa forma, é importante que as lactantes tenham um acompanhamento adequado, receba suporte apropriado dos profissionais de saúde no processo de amamentação, uma vez que para a mãe adquirir confiança, necessita de conhecimento e assistência. É necessário que os profissionais de saúde desempenhem esse papel através de incentivo, apoio, sensibilização, instrução às mães sobre a lactação, e assim proporcionar uma intervenção mais eficaz em relação ao aleitamento materno.12

Apesar dos benefícios que o aleitamento materno proporciona à criança e à mãe e dos diversos programas de promoção, proteção e apoio a essa prática, os índices mundiais do aleitamento materno encontram-se em torno de 40%, porcentagem considerada baixa pela OMS. Esta Organização tem como meta que os países aumentem em 50% os índices de amamentação até o ano de 2025. Dessa maneira, é importante o acompanhamento realizado pelos profissionais de saúde, pois são fundamentais para o fortalecimento da promoção, proteção e do apoio ao aleitamento materno, bem como, contribui para reduzir as taxas de morbimortalidade infantil.13

Nessa perspectiva, o interesse por este tema surgiu a partir da experiência destes pesquisadores no acompanhamento de lactantes com dificuldade em realizar amamentação de seu bebê de forma adequada. Dessa maneira, este estudo tem como objetivo analisar a prática do aleitamento materno na perspectiva de lactantes de uma Unidade de Saúde da Família (USF) do Norte de Minas Gerais (MG), Brasil.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa realizado com 12 lactantes, de um total de 15, em uma USF de um município interiorano de pequeno porte do norte de MG. A maior parte da população do município apresenta alguma vulnerabilidade social e ou econômica e por isso são majoritariamente dependentes do SUS para acesso aos serviços básicos de saúde. Atualmente conta com quatro USF na zona urbana e três rurais e cobre 100% de sua população com a oferta de serviço da Estratégia Saúde da Família.

Considerou-se como critério de seleção a mulher ser lactante no período de coleta de dados, independentemente do tipo de amamentação, para garantir a participação de mulheres que estavam vivenciando a amamentação, apresentar funções cognitivas preservadas para responder a entrevista e ter idade mínima de 18 anos. Frisa-se que todas as informantes realizaram o pré-natal na USF em estudo.

O acesso às lactantes se deu por contato telefônico, cujo número de todas foi disponibilizado pela equipe. Os dados foram coletados no mês de agosto de 2020 a partir de uma entrevista semiestruturada, elaborada pelos pesquisadores, aplicada por dois entrevistadores, autores deste estudo, na residência da lactante, de forma aleatória até que se obteve saturação dos discursos. Ressalta-se que foram adotados o distanciamento social, o uso de máscara e álcool em gel durante todas as entrevistas como medida de prevenção à doença causada pelo novo coronavírus.

O tempo médio de duração das entrevistas foi de 14 minutos e teve como questões disparadoras: quais dificuldades você tem ou teve para amamentar? Que benefícios você conhece ou percebeu durante o aleitamento materno?

As entrevistas foram gravadas com dispositivo de áudio, transcritas e analisadas mediante Análise Temática do Conteúdo na perspectiva de Braun e Clarke,14 com o auxílio de quadros elaborados em arquivos de Word 2016.

A Análise Temática do Conteúdo é orientada por seis fases que compreende a familiarização com transcrição dos dados, geração de códigos iniciais; busca por temas; revisão dos temas; definição e nomeação dos temas para discussão e produção do relatório.14

Todos os procedimentos metodológicos obedeceram aos padrões estabelecidos pela Resolução 466/2012. O projeto de pesquisa do estudo foi submetido ao instrumento de autoavaliação de projetos de pesquisa que envolvem seres humanos15 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) com o Parecer Consubstanciado número 4.148.750 e Certificado de Apresentação de Apreciação Ética 34061820.0.0000.5146. As lactantes que aceitaram participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e tiveram sua identidade preservada com a substituição de seus nomes por pseudônimos escolhidos pelos pesquisadores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo foi realizado com 12 lactantes com idade entre 18 e 42 anos residentes em uma cidade de pequeno porte do norte de MG. As informantes tinham até o ensino médio completo, sete viviam em união estável, duas eram casadas e três solteiras. A renda média mensal das mulheres era inferior a um salário mínimo e eram de profissão do lar e diaristas. As informantes tinham filhos saudáveis entre um e 12 meses de vida.

A análise do material empírico resultou em dois temas para análise: “As dificuldades em amamentar e os cuidados com as mamas” e “Benefícios da amamentação e sentimentos relacionados”.

As dificuldades em amamentar e os cuidados com as mamas

As participantes relataram dificuldade em amamentar nos primeiros dias de vida da criança, quando tiveram problemas com as mamas como fissuras e dor em decorrência da pega incorreta, tendo essas ocorrências como fatores importantes para o insucesso da amamentação nos primeiros dias e que levaram as mães a cogitarem o desmame precoce.

[...] só doeu mesmo, não chegou rachar não, acho que era porque tava enchendo o leite no peito aí só ficava cheio e doendo mesmo, não chegou rachar não, aí eu a dava assim mesmo, ela só dependia do leite. Elaine

[...] meu peito rachou muito, sangrou e tudo. Mas aí ficou até o que? Uns quinze dias, depois foi melhorando, e dá uma vontade de parar, Nossa Senhora. Na hora que ela coloca a boca para mamar dói até a alma, aí só que de todo jeito você tem que acostumar [...]. Beatriz

[...] No começo né, o peito deu uma rachada, doía, mais depois foi passando, foi sarando, agora não, agora tá tranquilo [...]. Sande

Durante a amamentação as lactantes podem enfrentar algumas complicações para amamentar, as quais podem interferir no processo lactacional, como o ingurgitamento mamário, baixa ou alta produção de leite, traumas mamilares, mastite, bem como a má pega e o esvaziamento inadequado da mama. Essas alterações interferem diretamente no manejo e oferta do aleitamento pois envolvem dor física e psíquica.16

Um estudo realizado em uma maternidade pública do município de Caxias, estado do Maranhão com oito mães atendidas durante e após a sua gestação com o objetivo avaliar as causas, consequências e os fatores da interrupção do aleitamento materno, concluiu que se as complicações mamárias não forem identificadas e tratadas precocemente podem ser uma importante causa de interrupção da amamentação. Dessa forma, a prevenção de complicações mamárias deve ser precisa e apropriada para sustentar a continuidade do aleitamento.17

Nesse sentido, as lactantes foram orientadas por suas mães e pelos profissionais de saúde, no puerpério, sobre o cuidado com as mamas como, banho de sol, pega correta da criança na mama e ordenha sempre que necessário, onde tais práticas favoreceram a prevenção de lesões mamilares e do ingurgitamento mamário.

[...] minha mãe, ela falava o que fazia, as mulheres de antigamente ia pro sol, e é o que eu fazia e o que eu faço. Se eu tiver outro hoje é o que eu faço, eu passo uma pomadinha e tal, mais o meu remédio até hoje é ficar no sol né, o sol no seio, e é o que eu também falo pras outras mães recentes, que é tomar sol, que ali já engrossa o bico do seio e faz com que fica mais resistente. Paula

[...] lá no hospital mesmo elas falaram que eu tinha que aguentar a dor, que é normal, [...] para mim passar o próprio leite para não ficar rachando muito no bico do peito e que ela não pegava no bico do peito direito [...] falou que se eu fizesse assim, se ela pegasse no bico ao redor do bico todinho aí não dava essa rachadura [...]. Beatriz

[...] as enfermeiras do posto, [...] falaram pra eu colocar ela no bico do peito certinho e falou para dar ela o peito sempre que estivesse precisando né, porque enchia demais e inchava. Elaine

O apoio e suporte dado pelos profissionais de saúde às mulheres para o aleitamento materno é importante e deve acontecer desde o pré-natal, por meio de orientações individuais e coletivas. Tão quanto importante é a inclusão de pessoas com vínculo com a mulher para também receber essas orientações para que possa ser um incentivador e apoiador nos momentos de dificuldades.18

O acesso a orientações corretas, aconselhamento qualificado sobre a amamentação e desmistificação de tabus que envolvem o ato de amamentar pode significar uma amamentação mais prazerosa e duradoura.19 Nesse sentido, frisa-se a importância da adesão ao pré-natal como uma estratégia fundamental para a mulher receber orientações fidedignas, pertinentes e confiáveis em relação à amamentação, assim como também importante a continuidade da assistência nos ciclos posteriores ao parto.20

As lactantes relataram, ainda, dificuldades em relação a amamentação relacionadas à necessidade de trabalhar fora do lar e a perda de peso, porém esses fatores não influenciaram na continuidade da amamentação.

[...] eu dou faxina na casa dos outros e qualquer serviço que aparecer eu vou, só que igual agora ele tá mamando, é muito difícil de eu tá indo e quando eu vou fazer algum serviço eu o levo comigo, como ele tá mamando atrapalha um pouco [...]. Luzia

[...] eu tô emagrecendo por conta que eu estou amamentando, mas eu não quero tirar ela do peito por causa disso. Daniela

Amamentar é um direito das mulheres previsto na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), aquelas formalmente empregadas em regime celetista têm direito a licença-maternidade de 120 dias, sem que isso lhe cause prejuízo do emprego e da remuneração. Quando retornar ao emprego e durante a jornada de trabalho têm direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, até que seu descendente alcance seis meses de vida.21

Contudo, a volta das mães ao serviço é considerada um fator relevante para o desmame precoce, uma vez que grande parte das mulheres que possuem trabalho remunerado não recebem benefícios legais para amamentação, por descumprimento da lei por parte dos empregadores ou por estarem em contratos de trabalho informais.22

Um estudo realizado com 60 mães de uma creche da zona norte de Presidente Prudente, estado de São Paulo com o objetivo de determinar a prevalência do desmame em lactentes até os seis meses de vida constatou que 30,43% das mães que trabalham fora de casa tiveram como justificativa para o desmame precoce a volta ao trabalho.23

A perda de peso durante o período de amamentação ainda é bastante controversa, para algumas mulheres pode ser uma das mudanças físicas mais evidentes, visto que no ano de parto podem reter ou ganhar peso.24

Benefícios da amamentação e sentimentos relacionados

Apesar das dificuldades que as lactantes relataram vivenciar durante a amamentação, ainda assim, externaram sentimento de prazer e satisfação durante o ato de amamentar. Além disso, parecem considerar importante o apoio do parceiro nesse momento.

Está sendo muito boa, graças a Deus, tipo assim, é a conexão de amor entre ele eu, e pra mim é muito prazeroso quando chega esse momento [...]. Aline

[...] é incrível, é uma experiência maravilhosa que a gente não sabe nem descrever como é, pra mim foi uma das melhores experiências, ser mãe e poder compartilhar isso com a minha criança [...]. Paula

A sensação mais maravilhosa do mundo que eu já tive na minha vida. Assim, sei lá, dá aquela alegria, tipo assim, dá uma sensação, assim, diferente sabe, assim, não sei explicar sabe, é tão especial que não tem nem como explicar [...]. Laíz

[...] o pai dele olha ele [a criança], aí eu vou fazer alguma coisa, aí fica brincando mais ele e tal, aí depois ele dorme, isso ajuda eu descansar também né, o neném fica mais, eu mais enquanto mama [...]. Genilza

O ato de amamentar proporciona momentos de interação intensa entre mãe e filho, onde favorece o desenvolvimento de vínculo entre ambos. Portanto, embora as mães passem por períodos de dificuldades no processo de amamentação, possuem sentimentos positivos que permitem retratarem a si mesmas como completas e autorrealizadas em seus papéis maternos e de mulher, no qual reforçam suas decisões de prolongar a amamentação.25

Além disso, é relevante ressaltar sobre a importância do apoio do parceiro na fase de amamentação, uma vez que o companheiro se torna uma importante fonte de encorajamento e intensificação do ato de amamentar. Ademais, as dificuldades encontradas pelas mulheres podem ser minimizadas se os pais estiverem conscientes da importância do seu papel, não apenas nos cuidados com o bebê, mas também nos cuidados com a mulher.26

Em um estudo realizado em unidades de obstetrícia, pediatria e terapia intensiva neonatal de um hospital materno-infantil, integrado à Rede de Hospitais “Amigo da Criança”, com 32 profissionais de saúde sobre a compreensão do papel do homem no processo de amamentação evidenciaram que é importante que a mulher receba apoio do parceiro no ato da amamentação, destacaram que esse apoio deve contemplar todo o período gestacional, parto e puerpério.26

As lactantes reconhecem como benefício do aleitamento materno ser importante para o sistema imunológico da criança, formação dos dentes e contribuir com o estabelecimento de vínculo entre a mãe e a criança, além de atuar na prevenção de doenças. Observou-se que as mães se voltam para os benefícios para as crianças, sem mencionar os benefícios para sua saúde e outros.

Para mim é importante porque é uma conexão entre mim e meu filho e também é saudável [...]. Aline

O importante é que para criança crescer sadia, para imunidade da criança, para não adoecer, e é uma conexão entre mãe e filho. E eu acho importante. Evita doenças, dele adoecer, gripar e também nascer os dentinhos sadios, fortes. Sande

Acho que muitas vitaminas né, traz muita proteína, pra tipo assim, dar mais sustança, ela fica mais fortinha, e outras coisas a mais, cresce saudável, cheia de saúde, evita dor de barriga e várias outras coisas né. A importância do leite materno é assim, o bom que se mamar só com o leite materno é mais difícil adoecer né [...]. Laíz

O leite materno proporciona benefícios que aparecerão no futuro da criança, como menor risco para o sobrepeso, obesidade infantil, desnutrição, infecções respiratórias, diabetes tipo I e desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, favorece ainda o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e previne problemas futuros na dentição.27

Destaca-se também como benefícios para a criança atrelados ao aleitamento materno o crescimento e desenvolvimento saudável, devido a diversidade de vitaminas e nutrientes que o leite materno possui, processo imunológico, prevenção de alergias, alívio de cólicas, auxilia ainda na relação afetiva entre mãe e filho, e além disso, ajuda no desenvolvimento do sistema estomatognático da criança, visto que a sucção que ocorre neste período, a língua e o lábio movimentam-se em conjunto e possibilita que ocorra o processo de deglutição alinhado à respiração.28

O desenvolvimento dos músculos mandibulares ocorre através da sucção praticada pelo bebê no ato da amamentação, e dessa forma os ossos e os músculos já vão sendo preparados e tonificados para a chegada dos primeiros dentes e dos futuros movimentos mastigatórios da criança.29

É importante rememorar que além dos benéficos que o aleitamento materno proporciona para as crianças, há também vantagens para a saúde da mulher. Com a prática da amamentação recupera-se mais rápido o peso anterior à gestação, há menor risco de hemorragias no puerpério imediato, anemia por perda sanguínea e ainda, uma maior proteção contra o desenvolvimento de câncer de mama.2

Outros benefícios relacionados ao aleitamento materno para a saúde da mulher, descritos na literatura, referem-se à proteção contra câncer de ovário, diabetes tipo II, depressão, ansiedade pós-parto, distúrbio do sono e estresse. Ajuda também na aceleração da involução uterina, que por sua vez reduz o sangramento pós-parto, aumenta o tempo entre as gestações e reduz a probabilidade de desenvolver doenças como osteoporose.30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que as mães expressem algum conhecimento sobre os benéficos do aleitamento materno há dificuldades na prática deste, especialmente nos primeiros dias de vida da criança, ainda assim, esses problemas não determinaram o abandono do aleitamento, mesmo que tenham cogitado.

Na perspectiva das lactantes a amamentação confere benefícios à saúde da criança como proteção imunológica, formação dos dentes e contribui para o estabelecimento de vínculo com a mãe, além de atuar na prevenção de doenças. Contudo, os benefícios e a importância do aleitamento materno se estendem para além daqueles mencionados pelas mães, e por isso o conhecimento dessas mulheres deve ser potencializado para que reconheçam estes também sob outras vertentes que envolvem o ato de amamentar.

Apesar do ponto de vista que a lactante se coloca para analisar a experiência do aleitamento materno e das dificuldades expressas é possível identificar sucesso na amamentação pelo rompimento das barreiras e manutenção do aleitamento, nesse sentido, o apoio da família/parceiro e dos profissionais de saúde aparece como essencial para a continuidade do aleitamento materno.

O estudo tem como limitação o fato de ter sido realizado com uma quantidade reduzida de lactantes e em uma cidade de pequeno porte, porém, ainda assim permitiu-se um avanço no conhecimento em relação à prática do aleitamento materno. Sugere-se que os profissionais de saúde apoiem e implementem ações de incentivo ao aleitamento materno que amenize as dificuldades das lactantes e potencialize o bem-estar da mulher e da criança.

REFERÊNCIAS

1 Alves JS, Oliveira MC, Rito RVVF. Orientações sobre amamentação na Atenção Básica de Saúde e associação com o Aleitamento Materno exclusivo. Ciênc. Saúde Colet. 2018;23(4):177-88. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018234.10752016

2 Marques VGPS, Silva MPB, Alves RSS, Jesus GLS, Sousa AB, Silva ABF, et al. Aleitamento materno: importância e benefícios da amamentação. Research, society and development. 2020;9(10):e2299108405. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i10.8405

3 Santos EM, Silva LS, Rodrigues BFS, Amorim TMAX, Silva CS, Borba JMC. Avaliação do aleitamento materno em crianças até dois anos assistidas na atenção básica do Recife, Pernambuco, Brasil. Ciênc. Saúde Colet. 2019;24(3):1211-22. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232018243.126120171

4 Flor RB, Damm DV, Almeida AR, Sousa APS, Fernandes AG. Report of experience: support group for breastfeeding oh the municipality of São Gonçalo, Brazil. Demetra (Rio J.). 2019;14(Suppl1):e43743. DOI: https://doi.org/10.12957/demetra.2019.43743

5 Pereira BT. A Perspectiva de construção do aleitamento materno como direito humano fundamental. Faz ciência. 2019;21(33):24-45. Disponível em: http://saber.unioeste.br/index.php/fazciencia/article/view/22557/15503

6 Bouskelá A, Capelli JCS, Rocha CMM, Lima FF, Sperandio N, Fonseca VM. Evolution of exclusive breastfeeding in the first 15 years 21th century: a estudy in the municpality of Macaé, Rio de Janeiro, Brazil. Demetra (Rio J.). 2019;14(1):1-15. DOI: https://doi.org/10.12957/demetra.2019.43562

7 Silva EP, Silva ET, Aoyama EA. A importância do aleitamento materno nos primeiros meses de vida do recém-nascido. Revista Brasileira Interdisciplinar de Saúde. 2020;2(2):60-5. Disponível em: https://revistarebis.rebis.com.br/index.php/rebis/article/download/89/82/264

8 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programática Estratégicas. Bases para a discussão da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno. Brasília: Editora MS; 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/bases_discussao_politica_aleitamento_materno.pdf

9 Alves YR, Couto LL, Barreto ACM, Quitete JB. Breastfeeding under the umbrella of support networks: a facilitative strategy. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2019;24(1):1-24. DOI: https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2019-0017

10 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Organização Mundial da Saúde (OMS). Bebês e mães em todo o mundo sofrem efeitos da falta de investimentos em amamentação. Brasília (DF); 2017. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5470:bebes-e-maes-em-todo-o-mundo-sofrem-efeitos-da-falta-de-investimentos-em amamentacao&Itemid=820

11 Organização das Nações Unidas (ONU). UNICEF E OMS: apenas 40% das crianças no mundo recebem amamentação exclusiva no início da vida. 2017. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2017/08/1592121-unicef-e-oms-apenas-40-dos-bebes-ate-6-meses-tem-amamentacao-exclusiva

12 Coca KP, Pinto VL, Westphal F, Mania PNA, Abrão ACFV. Bundle of measures to support intrahospital exclusive breastfeeding: evidence of systematic reviews. Rev. paul. pediatr. 2018;36(2):214-20. DOI: https://doi.org/10.1590/1984-0462/;2018;36;2;00002

13 Santos AA, Resende MA, Maia GP, Carvalho NCJ, Ferreira Júnior AP. O papel do enfermeiro na prevenção do desmame precoce. Revista Eletrônica Acervo Enfermagem. 2020;2:e2232. DOI: https://doi.org/10.25248/reaenf.e2232.2020

14 Braun V, Clarke V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology. 2006;3(2):77-101. DOI: http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp063oa

15 Dias EG. Proposta de instrumento para autoavaliação de projetos de pesquisa envolvendo seres humanos. Revista de Graduação USP. 2020;4(1):139-45. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2525-376X.v4i1p139-145

16 Feitosa MBE, Silva SEO, Silva LL. Aleitamento materno: causas e consequências do desmame precoce. Research, society and development. 2020;9(7):e856975071. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i7.5071

17 Figueiredo JTC, Silva QAD, Nunes HJM, Nascimento FSC. Causas e consequências do desmame precoce e as intervenções dos profissionais enfermeiros. Revista ciência & saberes. 2018;4(3):1158-63. Disponível em: http://www.facema.edu.br/ojs/index.php/ReOnFacema/article/view/332/248

18 Silva DD, Schmitt IM, Costa R, Zampieri MFM, Bohn IE, Lima MM. Promoção do aleitamento materno no pré-natal: discurso das gestantes e dos profissionais de saúde. REME rev. min. enferm. 2018;22:e-1103. DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20180031

19 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica nº 23 -Saúde da criança nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Editora do Ministério da Saúde. 2009;112p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_alimentacao.pdf

20 Dias EG, Alves JCS, Santos MRA, Pereira PG. Prevalência do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês no município de Mamonas-MG em 2013. Rev. Contexto Saúde (Impr.). 2015;15(29):81-90. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoesaude/article/view/4292

21 Nardi AL, Frankenberg AD, Franzosi OS, Santo LCE. Impacto dos aspectos institucionais no aleitamento materno em mulheres trabalhadoras: uma revisão sistemática. Ciênc. Saúde Colet. 2020;25(4):1445-62. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232020254.20382018

22 Schultz SM, Moreira KFA, Pereira PPS, Ferreira LN, Rodrigues MAS, Fernandes DER. The influence of health education on breastfeed self-efficacy: quasi-experimental study. Rev. baiana enferm. 2020;34:35995. Available from: http://www.revenf.bvs.br/pdf/rbaen/v34/en_984-0446-rbaen-34-e35995.pdf

23 Pinto KCLR, Silva LFC, Ribeiro PS, Dias ERS, Silva BV. Prevalência do desmame precoce e suas principais causas. Brazilian journal health review. 2019;3(1):717-28. Disponível em: https://app.amanote.com/v3.12.8/note-taking/document/p57k3XMBKQvf0Bhi9utK

24 Falivene MA, Orden AB. Maternal behavioral factors influencing postpartum weight retention. Clinical and metabolic implications. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant. (Online). 2017;17(2):261-70. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-93042017000200003.

25 Cunha GM, Rodrigues FA, Herber S. Aleitamento materno do prematuro em um hospital amigo da criança. Revista Recien. 2020;10(30):168-78. DOI: https://doi.org/10.24276/rrecien2020.10.30.168-178

26 Siqueira FPC, Silva JCC, Mazzetto FMC, Marques SRA, Prado JTO. Compreensão do papel do homem no processo de amamentação sob ótica dos profissionais de saúde. Investigação Qualitativa em Saúde. 2019;2:843-52. Disponível em: https://proceedings.ciaiq.org/index.php/CIAIQ2019/article/view/2157/2084

27 Lopes WC, Marques FKS, Oliveira CF, Rodrigues JÁ, Silveira MF, Caldeira AP, et al. Infant feeding in the first two years of life. Rev. paul. pediatr. 201836(2):164-70. DOI: https://doi.org/10.1590/1984-0462/;2018;36;2;00004

28 Braga MS, Gonçalves MS, Augusto CR. Os benefícios do aleitamento materno para o desenvolvimento infantil. Brazilian journal of development. 2020;6(9):70250-61. DOI: http://dx.doi.org/10.34117/bjdv6n9-468

29 Cassimiro IGV, Souza PG, Rodrigues MC, Carneiro GKM. A importância da amamentação natural para o sistema estomatognático. Revista UNINGÁ. 2019;56(S5):54-66. Disponível em: http://revista.uninga.br/index.php/uninga/article/view/2678/1995

30 Silva JLP, Linhares FMP, Barros AA, Souza AG, Alves DS, Andrade PON. Factors associated with breastfeeding in the first hour of life in a baby-friendly hospital. Texto & contexto enferm. 2018;27(4):e4190017. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-07072018004190017

Recebido em: 29/01/2021

Aceito em: 20/10/2021

Publicado em: 09/02/2022



[1] Faculdade Verde Norte (FAVENORTE). Mato Verde, Minas Gerais (MG). Brasil (BR). E-mail: ernandesgdias@yahoo.com.br ORCID: 0000-0003-4126-9383

[2] Faculdade Verde Norte (FAVENORTE). Mato Verde, Minas Gerais (MG). Brasil (BR). E-mail: jhusantos567@gmail.com ORCID: 0000-0003-0278-2141

[3] Faculdade Verde Norte (FAVENORTE). Mato Verde, Minas Gerais (MG). Brasil (BR). E-mail: juniarocha1@outlook.com ORCID: 0000-0002-6641-4121

[4] Faculdade Verde Norte (FAVENORTE). Mato Verde, Minas Gerais (MG). Brasil (BR). E-mail: lyliport@gmail.com ORCID:0000-0002-9476- 2377

[5] Faculdade Verde Norte (FAVENORTE). Mato Verde, Minas Gerais (MG). Brasil (BR). E-mail: rondineliantunes@yahoo.com.br ORCID:0000-0001-5842-3346

 

Como citar: Dias EG, Pereira JS, Rocha JL, Campos LM, Araújo RA. Aleitamento materno na perspectiva de lactantes de uma unidade de saúde da família. J. nurs. health. 2022;12(1):e2212120570. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/20570