ARTIGO ORIGINAL

Perfil epidemiol�gico de sa�de do homem idoso rural de um munic�pio do Sul do Brasil

Epidemiological profile of the health of rural elderly men in a municipality in southern Brazil

Perfil epidemiol�gico de la salud de ancianos rurales en un municipio del sur de Brasil

Costa, Daniel Nunes;[1] Lange, Celmira;[2] Pinto, Andressa Hoffmann;[3] Peters, Carla Weber;[4] Braga, Jessica Noema da Rosa;[5] Sampaio, Hellen dos Santos[6]

RESUMO

Objetivo: descrever o perfil epidemiol�gico de sa�de do homem idoso rural. M�todo: quantitativo, descritivo de 360 idosos rurais, escolhidos por sorteio dos prontu�rios existentes nas unidades de sa�de no ano de 2014. A coleta de dados se deu por meio de question�rio fechado. Resultados: as preval�ncias do consumo de fumo e bebidas alco�licas foram, respectivamente, de 17,8% e 50,6%. A hipertens�o arterial foi a doen�a mais prevalente (58,1%) e, quanto ao rastreamento do c�ncer de pr�stata 76,1% havia realizado pelo menos um nos �ltimos dois anos. Houve predomin�ncia de idosos entre 60 e 69 anos, de cor branca, alfabetizados, aposentados e que em sua maioria moravam com suas esposas e filhos. Conclus�o: o consumo de fumo e �lcool n�o foi expressivo, por�m a preval�ncia de hipertens�o deve ser salientada. Os idosos demonstraram maior aceita��o quanto � realiza��o do exame para rastreamento do c�ncer de pr�stata.

Descritores: Sa�de do homem; Idoso; Zona rural; Aten��o prim�ria � sa�de; Perfil de sa�de

ABSTRACT

Objective: to describe the epidemiological health profile of rural elderly men. Method: quantitative, descriptive of 360 rural elderlies, chosen by drawing lots from existing medical records in health units in the year 2014. Data collection took place through a closed questionnaire. Results: the prevalence of smoking and alcohol consumption were, respectively, 17.8% and 50.6%. Arterial hypertension was the most prevalent disease (58.1%) and, regarding prostate cancer screening, 76.1% had performed at least one in the last two years. There was a predominance of elderly people between 60 and 69 years old, white, literate, retired and most of whom lived with their wives and children. Conclusion: the consumption of tobacco and alcohol was not expressive; however, the prevalence of hypertension should be highlighted. The elderly showed greater acceptance regarding the examination for prostate cancer screening.

Descriptors: Men's health; Aged; Rural areas; Primary health care; Health profile

RESUMEN

Objetivo: describir el perfil epidemiol�gico de salud de los ancianos rurales. M�todo: cuantitativo, descriptivo de 360 ancianos rurales, elegidos por sorteo de las fichas m�dicas existentes en las unidades de salud en el a�o 2014. La recolecci�n de datos se realiz� a trav�s de un cuestionario cerrado. Resultados: las prevalencias de tabaquismo y consumo de alcohol fueron, respectivamente, 17,8% y 50,6%. La hipertensi�n arterial fue la enfermedad m�s prevalente (58,1%) y, en cuanto al tamizaje de c�ncer de pr�stata, el 76,1% se hab�a realizado al menos uno en los �ltimos dos a�os. Hubo predominio de ancianos entre 60 y 69 a�os, blancos, alfabetizados, jubilados y la mayor�a viv�a con su esposa e hijos. Conclusi�n: el consumo de tabaco y alcohol no fue expresivo; sin embargo, se debe destacar la prevalencia de hipertensi�n. Los ancianos mostraron mayor aceptaci�n con respecto al examen para el tamizaje del c�ncer de pr�stata.

Descriptores: Salud del hombre; Anciano; Medio rural; Atenci�n primaria de salud; Perfil de salud

INTRODU��O

A popula��o brasileira tem vivenciado e experiencia da invers�o da pir�mide populacional, ao observar o aumento da propor��o de pessoas com 60 anos ou mais, em acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), em2022, as pessoas consideradas idosas representam 10,49%, o que corresponde 22,6milh�es de pessoas. A proje��o � de que em 2060 elas representar�o 25,5%, o que corresponder� a 58,2 milh�es de idosos.1

Diante dessa realidade, � importante o pensamento cr�tico e reflexivo sobre a sa�de de homens idosos, em especial dos moradores das �reas rurais, uma vez que o processo de envelhecimento e a velhice envolvem mudan�as expressivas no organismo das pessoas, como a redu��o da capacidade de audi��o e de vis�o e a predisposi��o � doen�as cr�nicas n�o transmiss�veis e seus agravos.2 Os homens, em sua maioria, apresentam comportamentos de riscos, s�o mais suscet�veis � problemas cardiovasculares e buscam menos os servi�os de sa�de, sobretudo, com vistas � promo��o da sa�de e a preven��o, alertando para a necessidade de aten��o e cuidado diferenciado nos servi�os de sa�de com o grupo citado.3

Os idosos podem ser acometidos pelas doen�as cr�nicas n�o-transmiss�veis, destacando-se a hipertens�o arterial sist�mica, que afeta mais de 30% da popula��o adulta em todo o mundo e mais de 30 milh�es de pessoas no Brasil, e a diabetes mellitus, sendo que o Brasil se encontra na 5� posi��o em incid�ncia no mundo, com 16,8 milh�es de doentes adultos (20 a 79 anos). Ambas as doen�as podem acarretar uma s�rie de limita��es e diminui��o da satisfa��o qualidade de vida do idoso.4 Ao encontro do exposto, estudo sobre fatores relacionados � qualidade de vida de idosos de uma comunidade quilombola, mostrou que o n�mero de DCNT � inversamente proporcional a satisfa��o e a qualidade de vida das pessoas com 60 anos ou mais. Em outras palavras, quanto mais DCNT menos satisfa��o e a qualidade de vida.5

J� a neoplasia de pr�stata, doen�a estritamente masculina, tem caracter�stica n�o invasiva na maioria dos casos e a sua incid�ncia tem rela��o direta com a faixa et�ria, aumentando consideravelmente dos 75 a 79 anos de idade. O diagn�stico da neoplasia pode ser via exame de toque retal, ultrassom transretal ou exame laboratorial de PSA s�rico (ant�geno prost�tico espec�fico), rela��o PSA total e PSA livre/PSA total. O rastreamento � realizado ap�s ampla discuss�o de riscos e potenciais benef�cios, em decis�o compartilhada com o paciente.6 Associado a esses fatores percebe-se a dificuldade em acompanhar a sa�de da popula��o rural devido � baixas condi��es de renda, moradia e saneamento b�sico, o que indica a import�ncia em ampliar pol�ticas e a��es em sa�de.6 Deste modo, o presente manuscrito possuiu como objetivo descrever o perfil epidemiol�gico de sa�de do homem idoso rural.

MATERIAIS E M�TODO

Trata-se do recorte de uma pesquisa quantitativa, realizada na �rea rural de um munic�pio do Sul do Brasil, em 2014.7 Neste artigo foram consideradas as quest�es do bloco de perfil socioecon�mico e demogr�fico, h�bitos comportamentais e preval�ncia de DM e HAS, e rastreamento para neoplasia de pr�stata e sua preval�ncia. A pesquisa seguiu as recomenda��es do Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE).

Participaram da pesquisa 360 pessoas do sexo masculino, de 60 anos ou mais, e devidamente cadastradas em Unidades organizadas sob a forma de Estrat�gia de Sa�de da Fam�lia (ESF)da �rea rural de um munic�pio do Sul do Brasil. A �rea rural, comumente, � chamada de col�nia, e essa, especificamente, possui como caracter�sticas produtivas a fabrica��o de doces coloniais, as planta��es de uva e a fabrica��o de sucos e vinhos, a produ��o de cucas, schimiers e as planta��es de p�ssegos e outras frutas t�picas.8

Os idosos foram escolhidos por meio de sorteio dos prontu�rios existentes nas unidades de sa�de. A aplica��o do question�rio fechado ocorreu na resid�ncia dos idosos com dura��o m�dia de uma hora. Os crit�rios de inclus�o foram: ser do sexo masculino, possuir60 anos ou mais e ser residente em �rea rural. J� os crit�rios de exclus�o foram os seguintes: estar privado de liberdade por decis�o judicial, institucionalizados ou hospitalizados e ter mudado de resid�ncia.�

A pesquisa foi aprovada pelo Comit� de �tica em Pesquisa sob protocolo de n�mero 649.802/2014 e respeitou os preceitos da Resolu��o do Conselho Nacional de Sa�de n� 466/2012.9 As quest�es foram respondidas pelo pr�prio idoso ou pelo respondente auxiliar ou substituto. Os respondentes auxiliares colaboraram na pesquisa quando o idoso n�o compreendia a pergunta, geralmente por d�ficit auditivo ou n�o ter conhecimento sobre dados econ�micos, uso de medicamentos, entre outros. Os dados coletados foram digitados no Software EpiInfo (vers�o 6.05d�), sob forma de dupla entrada para an�lise da consist�ncia interna e posteriormente, foi feita a an�lise estat�stica descritiva desses.

RESULTADOS

Na amostra analisada a m�dia de idade dos homens foi de 70,2 anos, se intitularam a maioria como de cor branca, viviam com suas companheiras e eram pais. A fonte de renda da maioria era a aposentadoria, por�m metade dos idosos ainda exerciam alguma atividade laboral, sendo a de agricultor a profiss�o mais prevalente (Tabela 1).


Tabela 1: Descri��o da amostra de homens idosos cadastrados nas ESFs da �rea rural de um munic�pio do Sul do Brasil. Pelotas, RS, Brasil, 2014. n=360

Vari�veis

%

n

Idade (anos)

 

 

60 a 69

55,3

199

70 a 79

33,3

120

80 a 89

10,6

38

90 ou mais

0,8

03

Cor da Pele

 

 

Branco

88,9

320

Preto

3,6

13

Pardo

6,1

22

Amarelo

1,4

05

Situa��o Conjugal

 

 

Com companheira

82,5

297

Sem companheira

17,5

63

Frequentou a escola

 

 

Sim

89,4

322

N�o

10,6

38

Aposentado

 

 

Sim

92,5

333

N�o

7,5

27

Renda Mensal (sal�rio-m�nimo de 2014)

 

 

< de 1 sal�rio-m�nimo

0,8

03

1-2 sal�rios-m�nimos

80,7

288

> de 2 sal�rios-m�nimos

18,5

66

Tem filhos

 

 

Sim

91,6

327

N�o

8,4

30

N�mero de filhos (n=327)

 

 

1

11,3

37

2-4

66,4

217

5-7

17,1

56

8 ou mais

5,2

17

N�mero de pessoas com quem mora

 

 

Sozinho

7,2

26

1-2

62,7

226

3-4

21,9

79

5-7

8,2

29

Fonte: dados da pesquisa, 2014.


No que concerne �s pr�ticas de cuidado e de comportamento, mais de 41,0% relataram nunca terem fumado. Em rela��o ao consumo de bebida alco�lica os que afirmaram consumir tiveram como frequ�ncia o raramente e finais de semana valores similares. Somado a isso, a preval�ncia de neoplasia relatada foi inferior a 5% e a HAS, foi a doen�a mais frequente (Tabela 2).

Tabela 2: Comportamentos e Doen�as Cr�nicas N�o Transmiss�veis da amostra de homens idosos rurais de um munic�pio do Sul do Brasil. Pelotas, RS, Brasil, 2014. n=360

Vari�veis

%

n

Fumante

 

 

Sim

17,8

64

N�o

82,2

296

Ex-fumante

 

 

Sim

58,4

173

N�o (Nunca fumaram)

41,6

123

Consome bebida alco�lica

 

 

Sim

50,6

182

N�o

49,4

178

Frequ�ncia do consumo de bebida alco�lica

 

 

Raramente

45,0

82

Final de semana

38,5

70

Diariamente

16,5

30

Possui diagn�stico de neoplasia

 

 

Sim

3,1

11

N�o

96,9

349

Possui diagn�stico de DM

 

 

Sim

13,3

48

N�o

86,7

312

Possui diagn�stico de HAS

 

 

Sim

58,1

209

N�o

41,9

151

Fonte: dados da pesquisa, 2014.

Com rela��o � realiza��o de exames de rastreamento para neoplasia de pr�stata, mais de 70,0% dos idosos afirmaram terem realizado, sendo a combina��o de PSA e toque retal a maior preval�ncia (Tabela 3).

Tabela 3: Realiza��o de exames de rastreamento para neoplasia de pr�stata na em homens idosos rurais de um munic�pio do Sul do Brasil. Pelotas, RS, Brasil, 2014. n=360

Vari�veis

%

N�mero Total

Realizou exame de rastreamento de neoplasia pr�stata

 

Sim

76,1

274

N�o

23,9

86

Tipo de exame de rastreamento de neoplasia pr�stata (n=274)

 

PSA

50,4

138

Toque retal

2,2

06

Ambos

47,4

130

Per�odo de realiza��o do �ltimo exame de rastreamento de neoplasia pr�stata (n=274)

Dois �ltimos anos

66,1

181

mais de 3 anos

33,9

93

Fonte: dados da pesquisa, 2014.

DISCUSS�O

A amostra analisada caracterizou-se pela predomin�ncia de idosos entre 60 e 69 anos, apresentando somente tr�s idosos com mais de 90 anos. A longevidade masculina � menor quando comparada � longevidade feminina. Al�m dos fatores externos que influenciam nessa diferen�a de longevidade entre homens e mulheres, j� descritos na introdu��o, a biologia humana mostra de maneira sustentada que h� superioridade das mulheres no que concerne ao assunto. Demonstrando que essa superioridade come�a no nascimento, considerando-se que os rec�m-nascidos prematuros do sexo masculino possuem taxas de sobreviv�ncia menores quando comparados aos do rec�m-nascidos prematuros do sexo feminino. E, ainda, que as mulheres sobrevivem mais, independentemente das condi��es externas.10

Partindo da perspectiva que as condi��es externas influenciam o processo de sa�de�doen�a-cuidado � importante o planejamento de a��es, programas e pol�ticas sociais e de sa�de com vistas � promo��o da sa�de e a preven��o de doen�as e agravos com foco na qualidade de vidada popula��o idosa. Porquanto, a qualidade de vida � um fator multifatorial que compreende a autonomia, a independ�ncia, a sa�de f�sica, psicol�gica e emocional, as rela��es interpessoais e com o meio ambiente. E mesmo que comumente relacionada com a sa�de, a qualidade de vida encontra-se tamb�m diretamente relacionada com os fatores sociais, culturais, econ�micos e pol�ticos, sendo fundamental a realiza��o de pesquisas em diferentes comunidades e contextos, com rela��o � qualidade de vida e � poss�vel influ�ncia dos locais de resid�ncia que sirvam como base para o planejamento em quest�o.11

No que diz respeito � cor da pele, � importante considerar-se que o Brasil � composto por uma ampla diversidade �tnica, racial e cultural. Essa diversidade �tnica, racial e cultural � consequ�ncia das origens dos imigrantes que vieram ao Brasil desde a sua coloniza��o. Na popula��o pesquisada, 320 (88,9%) dos idosos denominaram-se brancos. Tal dado comprova a coloniza��o europeia ocorrida no local de pesquisa em que existe o predom�nio de pessoas de origem alem�, pomerana, italiana e francesa.8

Referente � escolaridade, � not�vel o �ndice de pessoas que frequentaram a escola, 322 (89,4%) idosos, mesmo diante das dificuldades existentes na �poca em que iniciaram os estudos. Em meados de 1950, o governo federal desejava padronizar as escolas, a fim de construir um pa�s branco, ocidental e crist�o, o que dificultava o acesso de imigrantes eafrodescendentes.12 Frente a isso, e motivados pela forte liga��o entre a cultura, a religi�o e a educa��o, os imigrantes alem�es e italianos se organizaram, iniciaram o processo de cria��o das escolas comunit�rias que ofertavam � popula��o a forma��o no ensino b�sico.13 Diante de tal atitude, presume-se que mesmo com as dificuldades impostas pelo Estado, as crian�as dessas culturas tiveram maior acesso � forma��o b�sica quando comparadas �s crian�as de outras culturas da �poca, o que pode� justificar a escolaridade alta dos participantes da pesquisa para os padr�es da �poca.

Em rela��o aos filhos, 327 (91,6%) dos idosos eram pais. A m�dia correspondeu a tr�s filhos por idoso, o que pode ser associado ao processo de mudan�as que a sociedade brasileira sofreu na d�cada de 1970 transformando-se de uma sociedade tradicional com fam�lias numerosas � um perfil de fam�lias menos numerosas. Outro aspecto que pode ser relativizado � a presen�a da mulher no trabalho da lavoura para manter o sustento familiar e o n�vel de escolaridade maior entre os pesquisados.2

Acerca da situa��o econ�mica, a maioria dos idosos eram aposentados e recebiam um sal�rio-m�nimo. Semelhante aos achados de outra pesquisa sobre a capacidade funcional de idosos cadastrados em uma ESF de �rea rural, em que a renda predominante referida foi de um a dois sal�rios-m�nimos (75,2%).14 Embora tenham prevalecido os idosos aposentados, metade da amostra afirmou que ainda trabalhava. A esse fato pode-se atribuir o aumento do custo de vida e do consumo de medicamentos nessa faixa et�ria, o que inviabiliza o acesso a esses bens apenas com um sal�rio-m�nimo.15 Outro aspecto relacionado ao fato de que os participantes da pesquisa ainda trabalhavam � o modo de vida pr�prio daqueles que residem em �rea rural, em que se destaca a associa��o de capacidade e produtividade com a manuten��o do trabalho na lavoura. O que, al�m de proporcionar qualidade de vida e satisfa��o, permite a subsist�ncia por meio do consumo e comercializa��o dos alimentos como complemento para a renda familiar.16

Referente ao consumo de fumo, a maioria (82,2%) dos idosos residentes em �rea rural n�o fumavam no momento da entrevista, por�m entre esses destacam-se os ex-fumantes (58,4%). Esse achado vai ao encontro de uma pesquisa na cidade de S�o Paulo, em que 54,7% dos participantes eram ex-fumantes.17 Referente ao consumo de bebida alco�lica pouco mais da metade dos idosos relataram que raramente consomem este tipo de bebida, divergindo de outra pesquisa acerca do consumo de fumo e de �lcool como fator de risco para doen�as cardiovasculares, na popula��o idosa do sul do Brasil, em que 65% dos idosos homens afirmaram que consomem bebidas alco�licas.18

O consumo abusivo de �lcool somado ao tabagismo, a baixa ingest�o de frutas e de vegetais e o sedentarismo s�o fatores de risco para o desenvolvimento de Doen�as Cr�nicas N�o Transmiss�veis (DCNS), dentre elas a HAS.19 Nessa pesquisa, a HAS foi a DCNT mais prevalente entre os participantes da pesquisa. De maneira semelhante, a pesquisa sobre a condi��o de sa�de autopercebida e a preval�ncia de DCNT em idosos atendidos pela ESF descreveu que 57,1% dos participantes relataram serem hipertensos.20

Frente � essa realidade, os servi�os de sa�de devem ser reorganizados, a fim de estimular pr�ticas de cuidado como a��es de educa��o em sa�de e orienta��es quanto ao autocuidado. O pr�prio processo de envelhecimento predisp�e a limita��es funcionais, associadas �s morbidades, fazendo com que o risco aumente consideravelmente.21 Em outra pesquisa a preval�ncia de DM foi de 17,0% entre os homens, na amostra atual a preval�ncia foi menor, 13,3%, indicando a possibilidade de que esses idosos por vivenciarem um estilo de vida rural, consequentemente teriam h�bitos alimentares mais saud�veis e se manteriam mais tempo ativos, o que poderia ser um fator de prote��o ao desenvolvimento da DM.22

No que diz respeito � neoplasia de pr�stata, ressalta-se que a faixa et�ria tem rela��o direta com o risco de desenvolvimento da doen�a, gerando preocupa��es entre os homens na velhice.23 Nessa pesquisa, a ocorr�ncia de homens com 60 anos ou mais de idade, que realizaram algum exame de rastreamento do c�ncer de pr�stata, foi superior a 70% da amostra, o que sugere a preocupa��o em realizar a preven��o da doen�a.

Esse resultado � considerado pelos pesquisadores como positivo, visto que a literatura cientifica revela que, comumente, a aceita��o para a realiza��o dos exames de rastreamento do c�ncer de pr�stata ainda est� em processo, em raz�o do medo do diagn�stico de uma doen�a grave ou � cultura associativa de perda da virilidade e masculinidade. Assim, por vezes, o problema n�o est� na falta de informa��o, mas nos mitos que envolvem o assunto, assim como no preconceito, na vergonha e no medo de muitos homens em rela��o ao exame, sendo a educa��o em sa�de com foco na preven��o da doen�a e seus agravos o caminho para enfrentamento desses problemas.24

Ressalta-se as atividades de educa��o em sa�de que exigem das pessoas participa��o ativa no planejamento das a��es e na tomada de decis�es sobre as expectativas e necessidades de sa�de, seja na utiliza��o dos recursos materiais e humanos, assim como, na promo��o do autocuidado orientado.25 Corroborando, pesquisa recente acerca do processo sa�de-doen�a-cuidado do idoso residente em �rea rural, apontou que eles possuem conhecimentos e pr�ticas de cuidado com si mesmos. As quais s�o decorrentes de orienta��es de profissionais de sa�de sobre, por exemplo, mudan�as de estilo de vida diante do diagn�stico de doen�as cr�nicas, com foco no controle das mesmas e na preven��o de agravos.26 Homens diagnosticados com c�ncer de pr�stata tardiamente e que realizaram cirurgia de prostatectomia radical apresentaram incontin�ncia urin�ria nos primeiros meses de p�s-operat�rio. Situa��o que impactou na qualidade de vida e gerou limita��es na realiza��o das Atividades da Vida Di�ria (AVDs), bem como, nas atividades sociais, de lazer, e na vida conjugal.27 Dessa forma, pensando na preven��o de doen�as e agravos, deve-se garantir que os idosos do sexo masculino tenham acesso � informa��o e acesso � realiza��o dos exames.

O fato de os participantes da pesquisa realizarem os exames de rastreamento do c�ncer de pr�stata � atribu�do � cobertura do local em residem pela ESF. A ESF � um modelo de cuidado que organiza suas a��es de forma integral, continuada e humanizada, promovendo a sa�de e abordando quest�es preventivas de forma mais pr�xima � popula��o.26 Diante disso, confirma-se a import�ncia de ampliar a discuss�o acerca do preconceito em rela��o aos exames em quest�o e da necessidade de o homem idoso buscar ajuda profissional, independentemente da exist�ncia da doen�a j� instalada. Dado que um diagn�stico tardio de c�ncer de pr�stata pode resultar na piora das condi��es de sa�de e na diminui��o da sobrevida.28

Sendo que a constru��o do conhecimento e a troca de viv�ncias experi�ncias a partir de uma rela��o intersubjetiva/interpessoal, s�o considerados como eixos sustentadores para a pr�tica profissional de enfermeiros e demais profissionais de sa�de que contemplem as necessidades e expectativas de sa�de das pessoas residentes em �reas rurais.29

Assim, pode-se inferir a import�ncia em conhecer o perfil de sa�de dos homens para o estabelecimento de a��es eficazes e efetivas no cuidado em sa�de deles. O estudo traz como limita��o o fato de ser descritivo, por�m apresenta resultados relevantes para a localidade e que na maioria das vari�veis convergem com outros estudos de popula��o rural.

CONCLUS�O

A presente pesquisa identificou a predomin�ncia de idosos jovens, de cor branca, alfabetizados, aposentados e que em sua maioria moravam com suas esposas e filhos. O consumo de fumo e �lcool n�o foram vari�veis com express�o consider�vel, por�m a preval�ncia de HAS deve ser salientada. Em rela��o aos exames de rastreamento para o c�ncer de pr�stata, os idosos demonstraram maior aceita��o quanto � realiza��o desse. Assim, cientes dos dados apresentados, torna-se vi�vel a discuss�o sobre as reais a��es necess�rias direcionadas aos homens com 60 anos ou mais, residentes em �rea rural, j� que essa � uma popula��o pouco pesquisada no meio acad�mico e cient�fico - investir em pesquisas que atentem � essa parcela populacional torna-se necess�rio e urgente. Os achados oferecem subs�dios tanto � equipe de sa�de quanto � enfermagem para organizar a��es e qualificar o cuidado.

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Recebido em: 24/03/2021

Aceito em: 28/12/2022

Publicado em: 31/12/2022



[1] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul. Brasil (BR). E-mail: dncenf@gmail.com ORCID: 0000-0001-7954-0293

[2] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul. Brasil (BR). E-mail: celmira_lange@terra.com.br ORCID: 0000-0002-5032-9088

[3] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul. Brasil (BR). E-mail: dessa_h_p@hotmail.com ORCID: 0000-0001-6448-2166

[4] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul. Brasil (BR). E-mail: carlappters@hotmail.com ORCID: 0000-0003-4321-6517

[5] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul. Brasil (BR). E-mail: darosabraga@gmail.com ORCID: 0000-0002-9111-5908

[6] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul. Brasil (BR). E-mail: enf.hellensampaio@gmail.com ORCID:0000-0002-3428-8810

 

Como citar: Costa DN, Lange C, Pinto AH, Peters CW, Braga JNR, Sampaio HS. Perfil epidemiol�gico de sa�de do homem idoso rural de um munic�pio do Sul do Brasil. J. nurs. health. 2022;12(3):e2212320853. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v12i3.4660