Editorial

Teorias norteadoras de Enfermagem com foco nos cuidados paliativos

Guiding nursing theories focusing on palliative care

Guías de enfermería guía que se enfocan en el cuidado paliativo

Ribeiro, Beatriz Maria dos Santos Santiago;[1] Dalri, Rita de Cassia de Marchi Barcelos[2]

As aplicações das teorias de enfermagem contribuem sobre maneira para o reconhecimento da importância da Enfermagem, além de proporcionar conhecimento para o enfermeiro na prática profissional.1 Destarte, o conhecimento e a apropriação das teorias de Enfermagem atribuem respaldo científico às ações dos profissionais de enfermagem, subsidiando qualidade de vida aos clientes em Cuidados Paliativos (CP).

O respaldo das teorias de enfermagem orienta o enfermeiro a descrever, diagnosticar e/ou prescrever ações, focando nos CP. As teorias proporcionam justificativa e fundamento para as realizações das intervenções de Enfermagem, que é uma ciência relevante.2 Em relação à prática profissional em CP embasada na teoria, é possível se atentar a comunicação verbal e não verbal na assistência de enfermagem, enquanto importante ferramenta para entendimento sobre a doença, as expressões e as atitudes do cliente, além de ter controle psicológico perante a realização dos procedimentos.3

Nessa perspectiva, as breves reflexões de escolha para esse texto que evidenciam a aproximação com o CP foram as seguintes Teorias: do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger, Humanística de Paterson e Zderad, do Autocuidado de Dorothea Orem, do Cuidado Transpessoal de Jean Watson, Ambientalista de Florence Nightingale, do Conforto de Katharine Kolcaba, do Tornar-se Humano de Rosemarie Rizzo Parse, das Necessidades Fundamentais de Virgínia Henderson e, por fim, da Adaptação de Callista Roy.

A Teoria do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger auxilia para que o profissional de enfermagem preste assistência de qualidade para culturas diferentes, bem como devem ser considerados fatores religiosos, familiares, ambientais, sobre crenças, entre outros que podem influenciar no cuidado paliativo ofertado ao cliente. A Enfermagem conhecendo as características individuais de cada pessoa, poderá atender melhor seus anseios, minimizar o sofrimento dos envolvidos e as necessidades envolvidas no seu processo paliativo.4

A Teoria Humanística de Paterson e Zderad baseia-se na abordagem multidisciplinar que envolve não somente o cliente, mas também a família e a comunidade. Essa teoria vai ao encontro ao atendimento que é realizado ao cliente em CP, por meio de uma equipe multiprofissional. Sendo assim, reduz o sofrimento e proporciona o cuidado integral. Observa-se de forma holística o cuidado prestado no tratamento de clientes terminais. Dessa maneira, essa teoria quando inserida nos CP é de grande valia no processo saúde e doença, preservando a autonomia, participação máxima e capacidade do ser humano em tomar decisões. O enfermeiro, que faz uso desta Teoria, traz valorização para o seu atendimento e maior facilidade de atuação com profissionais das outras áreas da saúde.5

Com relação a Teoria do Autocuidado de Dorothea Orem, o seu foco é o cliente como figura principal durante o tratamento, visando melhora na sua qualidade de vida. O intuito é preservar a força corporal, enfatizar sua autoestima, o que requer uma assistência simples, deliberada e sistemática, promovendo o autocuidado quando não há mais capacidade de realizá-la por si mesmo. Embora essa teoria pareça ser um desafio para o profissional de enfermagem no âmbito dos CP, é versátil, pois ela orienta a criação de estratégias para o cliente cuidar de si próprio. A mesma deve ser aplicada em cuidados terapêuticos, tendo cinco elementos descritos: agir ou executar para o outro, direcionar o outro, amparar ao outro (tanto físico, como psicologicamente), adaptar um ambiente terapêutico e instruir o outro.6

Vale ressaltar que um estudo realizado com uma cliente submetida à mastectomia radical demonstrou que o referencial teórico de Orem sobre as orientações da Enfermagem, tornou o momento da cirurgia oncológica menos traumático para o cliente e sua família.7 Esta teoria subsidia o aprimoramento e o crescimento do ser humano, com objetivo de preservar a vida, o bem-estar e a funcionalidade e também a dignidade no processo de morte e morrer. No cuidado paliativo, essa teoria pode ser aplicada gradativamente, conforme o grau de dependência do cliente ou dos envolvidos para o autocuidado.6

A Teoria Ambientalista de Florence Nightingale. Ao descrever as teorias de enfermagem, rapidamente associa-se à Florence Nightingale, visto que ela é a percussora da Enfermagem moderna. Na Teoria Ambientalista, o foco é a recuperação da saúde do enfermo, mas nos CP pode-se mencionar que ela visa a dignidade humana e o bem-estar. A busca por um ambiente agradável, para o viver e conviver com a doença e para uma morte digna, deve ser preparada pela enfermagem, um ambiente em que a morte aconteça com a presença dos familiares e de outros entes queridos pelo cliente.8-9

A Teoria do Cuidado Transpessoal de Jean Watson foca na humanização, valorizando o ser humano, os seus valores e suas crenças. O enfermeiro pode transmitir harmonia para a mente, a alma e o corpo do indivíduo que recebe o cuidado. Esta teoria contribui para a manutenção da vida, rearticulando as dimensões humanas, a qual muitas vezes é não é notada pelos profissionais da saúde, durante a atuação no cuidado ao cliente/família. O enfermeiro que se embasa nessa teoria consegue ter suporte necessário para ajudar os clientes a viverem ativamente até o momento de sua morte, respeitando suas limitações.10

A Teoria de Katharine Kolcaba do Conforto foca no alívio das dores físicas por meio do cuidado, para que o cliente sinta experiência de paz e tranquilidade interior e assim conforto. Quando alcançado esses aspectos, o cliente e seus familiares têm o alívio da dor social e espiritual, atingindo a dignidade pessoal proveniente da integralidade do cuidado.11 

No que tange a Teoria do Tornar-se Humano de Rosemarie Rizzo Parse, esta compreende as experiências humanas, incluindo o processo da morte e morrer, tendo como princípio da transcendência, que resulta para que o cliente ou família receba o cuidado da enfermagem e agregue sua subjetividade essencial à experiência do cuidar. Diante disso, o vínculo no processo do cuidar, torna-se descoberta do sentido da vida para todos envolvidos e uma morte digna para quem está se despedindo da vida.12

Já, a Teoria das Necessidades Fundamentais de Virgínia Henderson, é uma das teorias que mais se aproxima dos pressupostos filosóficos dos CP, esta teoria contempla todas as dimensões humanas no cuidado realizado pela Enfermagem, inclusive no fenômeno de morte. Nessa teoria encontra-se a definição de Enfermagem como uma das mais completas profissões em defender a morte.13

Por fim, a Teoria da Adaptação de Callista Roy é baseada no processo interativo, onde o ser humano é reverenciado como um ser holístico que interage constantemente com outros seres humanos e com o ambiente e que se adapta às situações que vêm ao seu encontro. Na perspectiva de Roy, a pessoa pode adaptar-se ao processo de morrer, sendo o ambiente parte das condições, circunstâncias e influências no comportamento da pessoa.14

Com esse texto, acredita-se trazer visibilidade e nortear o processo de cuidar do profissional de Enfermagem paliativista com a utilização das teorias de enfermagem em CP. Desse modo sugere-se que o enfermeiro opte por no mínimo uma teorista para embasamento na sua atuação profissional. Norteia-se acerca do fenômeno da enfermagem a orientação com base nas teorias para o cotidiano dos profissionais paliativistas. As teorias são fundamentais para a atuação profissional, bem como para as pesquisas sobre a temática, auxiliando no fortalecimento da profissão de enfermagem como ciência.

Descritores: Teoria de enfermagem; Cuidados paliativos; Enfermagem

REFERÊNCIAS

1 Ribeiro BMSS, Martins JT, Silva VA, Teston EF, Silva AC, Martins EAP. Occupational health nursing in civil construction: contributions based on Roy’s adaptation theory. Rev. bras. med. trab. 2019;17(2):260-7. Available from: https://www.rbmt.org.br/details/458/pt-BR/enfermagem-do-trabalho-na-construcao-civil--contribuicoes-a-luz-da-teoria-da-adaptacao-de-roy

2 Potter PA, Perry AG. Fundamentos de Enfermagem. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 2009.

3 Franca JRFS, Costa FSG, Lopes MEL, Nóbrega MML, França ISX. The importance of communication in pediatric oncology palliative care: focus on Humanistic Nursing Theory. Rev. latinoam. enferm. (Online). 2013;21(3):780-6. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-11692013000300018

4 Leininger M. Teoria do cuidado transcultural: diversidade e universalidade. Anais do Simpósio Brasileiro de Teorias de Enfermagem. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 1985. p.255-76.

5 Paterson JG, Zderad LT. Humanistic nursing. 2ª ed. New York: National League for Nursing; 1988.

6 Orem DE. Nursing: concepts of practice. 3ª ed. New York: McGraw-Hill; 1985.

7 Bordallo FR, Teixiera ER, Andrade M, Couto IRR, Souza FBA, Sanches ICP. Client underwent to radical mastectomy and application of CIPE in a surgical oncology unit: a case study. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online). 2013;5(5):182-9. Available from: http://www.seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/1758/pdf_1023

8 Nightingale F. Notas sobre enfermagem: o que é e o que não é; 1859.

9 Peres MAA, Aperibense PGGS, Dios-Aguado MM, Gómez-Cantarino S, Queirós PJP. The Florence Nightingale’s nursing theoretical model: a transmission of knowledge. Rev. gaúch. enferm. 2021;42(nesp):e20200228. DOI: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200228

10 Savieto RM, Leão ER. Nursing assistance and Jean Watson: a reflection on empathy. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2016;20(1):198-202. DOI: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160026

11 Kolcaba K. Comfort theory and practice: a vision for holistic health care and re­search. New York: Springer; 2003.

12 Parse RR. Nursing Science: Major paradigms, theories and critiques. Philadelphia: W B Saunders; 1987.

13 Irigibel-Uriz X. Revisión crítica de una interpretación del pensamiento de Virginia Henderson: acercamiento epistemológico al libro de Luis, Fernández y Navarro. Index enferm. 2007;16(57):55-9. Disponible en: https://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1132-12962007000200012

14 Silva VA, Silva RCF, Trovo MM, Silva MJP. Teoria da Adaptação de Roy e Modelo do Processo Dual de Luto fundamentando o cuidado paliativo de enfermagem à família. Mundo saúde (Impr.). 2017;(40):521-36. Disponível em: https://revistamundodasaude.emnuvens.com.br/mundodasaude/article/view/187/152

Publicado em: 28/12/2021



[1] Universidade de São Paulo (USP). Ribeirão Preto, São Paulo (SP). Brasil (BR). E-mail: beatrizsantiago1994@hotmail.com ORCID: 0000-0001-5211-5422

[2] Universidade de São Paulo (USP). Ribeirão Preto, São Paulo (SP). Brasil (BR). E-mail: ritacmbdalri@bol.com.br ORCID: 0000-0002-6575-5426

 

Como citar: Ribeiro BMSS, Dalri RCMB. Teorias de enfermagem com foco nos cuidados paliativos. J. nurs. health. 2022;12(1):e2212121185. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/201185