Sa�de mental de mulheres transg�neras: uma revis�o integrativa de literatura
Mental health of transgender women: an integrative literature review
Salud mental de las mujeres transg�nero: una revisi�n integradora de la literatura
Cortes, Helena Moraes;[1] Morais, Andr�ia Vanessa Carneiro de;[2] Carnevalli, Ligia Maffei;[3] Pinho, Paula Hayasi[4]
RESUMO
Objetivo: conhecer a produ��o cient�fica nacional e internacional acerca da sa�de mental das mulheres transg�neras de 2007 a 2017. M�todo: revis�o integrativa realizada na Biblioteca Virtual em Sa�de, em abril de 2018. Analisaram-se os estudos em seis fases, agrupando-os em categorias tem�ticas. Resultados: dos 30 estudos selecionados emergiram sete categorias tem�ticas, a saber: �necessidades de sa�de mental�, �vulnerabilidade psicossocial�, �processo transexualizador�, �mulheres transg�neras jovens e na terceira idade�, �rela��es sociais�, �direitos civis e cidadania� e �rela��es entre as mulheres transg�neras e os servi�os de sa�de�. Conclus�es: mulheres transg�neras est�o expostas a maiores riscos de desenvolverem transtornos mentais, em rela��o �s pessoas cisg�neras parecendo ter rela��o com o preconceito, estigma, discrimina��o, e nega��o de direitos civis. S�o transtornos mais prevalentes nesta popula��o: depress�o, ansiedade, idea��o/ tentativa de suic�dio, abuso de �lcool e outras drogas, os quais est�o diretamente relacionados com o n�o acesso aos servi�os de sa�de.
Descritores: Sa�de mental; Pessoas transg�nero; Servi�os de sa�de para pessoas transg�nero; Identidade de g�nero
ABSTRACT
Objective: to know the national and international scientific production about the mental health of transgender women from 2007 to 2017. Method: this is an integrative review conducted at the Virtual Health Library, April 2018. The studies were analyzed in six phases, grouping them into thematic categories. Results: from the 30 selected studies, seven thematic categories emerged: �mental health needs�, �psychosocial vulnerability�, �transsexualising process�, �young and old transgender women�, �social relations�, �civil rights and citizenship� and �relationships between transgender women and health services�. Conclusions: transgender women are at greater risk of developing mental disorders than cisgender people appearing to be related to prejudice, stigma, discrimination, and denial of civil rights. The most prevalent disorders in this population are depression, anxiety, suicidal ideation / attempt, alcohol, and other drug abuse, which are directly related to non-access to health services.
Descriptors: Mental health; Transgender persons; Health service for transgender persons; Gender identity
RESUMEN
Objetivo: conocer la producci�n cient�fica nacional e internacional sobre la salud mental de mujeres transg�nero de 2007 a 2017. M�todo: revisi�n realizada en la Biblioteca Virtual en Salud utilizando los filtros listados en las bases de datos de Literatura Latinoamericana y Brasile�a, en abril de 2018. Se analizaron en seis fases, agrup�ndolos en categor�as tem�ticas. Resultados: de los 30 estudios seleccionados surgieron siete categor�as: "necesidades de salud mental", "vulnerabilidad psicosocial", "proceso transexual", "mujeres trans j�venes y ancianas", "relaciones sociales", "derechos civiles y ciudadan�a" y �relaciones entre mujeres transg�nero y servicios de salud�. Conclusiones: mujeres transg�nero est�n expuestas a mayores riesgos de desarrollar trastornos mentales, en relaci�n con las personas cisg�nero que parecen estar relacionadas con prejuicios, estigma, discriminaci�n y negaci�n de los derechos civiles. Los trastornos m�s prevalentes: depresi�n, ansiedad, ideaci�n/ intento suicida, abuso de drogas, estando relacionados con la falta de acceso a servicios de salud.
Descriptores: Salud mental; Personas transg�nero; Servicios de salud para las personas transg�nero; Identidad de g�nero
INTRODU��O
A transexualidade, na quinta edi��o do Manual Diagn�stico e Estat�stico de Transtornos Mentais migrou do grupo de transtornos de sa�de mental - �transexualismo�- passando a figurar como �incongru�ncia de g�nero�.1 Pessoas transg�neras, muitas vezes n�o acessam os servi�os de sa�de, pois esses ainda est�o imbricados de uma concep��o patologizante.2 Al�m do n�o acesso, a viol�ncia de g�nero relacionou-se diretamente como �ndices de depress�o leve e grave em mulheres transg�neras.3 Em contrapartida, a (trans)viv�ncia � uma forma de resist�ncia aos estigmas e que o fato de �poder ser quem �, apesar dos preconceitos, contribui positivamente para o bem-estar psicol�gico da pessoa.4-5
Segundo as recomenda��es da World Professional Association for Transgender Health (WPATH), os profissionais de sa�de mental precisam atuar na perspectiva de reconhecer como as quest�es psicossociais impactam clinicamente na sa�de mental das pessoas transg�neras.6
Estudos tem mostrado as altas vulnerabilidades psicossociais que mulheres transg�neras (transexuais, trans e travestis) tem sido v�timas, culminado nos alarmantes �ndices de transfeminic�dios. 7-9 Verifica-se uma lacuna na literatura que aborde especificamente o que tem sido produzido cientificamente acerca dos impactos e repercuss�es da transfobia na sa�de mental dessas mulheres e, � nesta perspectiva interseccional (mulher transg�nera) que este estudo se insere.� Sendo assim, objetivou-se conhecer a produ��o cient�fica nacional e internacional acerca da sa�de mental das mulheres transg�neras de 2007 a 2017.
MATERIAIS E M�TODO
Trata-se de uma revis�o integrativa de literatura realizada em seis fases.10 Primeiramente, formulou-se a quest�o norteadora, com base na estrat�gia PICo: qual a produ��o cient�fica nacional e internacional acerca da sa�de mental das mulheres transg�neras de 2007 a 2017? O recorte temporal justifica-se considerando a necessidade emergente de discuss�o da sa�de da popula��o transg�nera verificada nos �ltimos dez anos.� Na qual, foi definida como popula��o (P) as mulheres transg�neras, o interesse (I) � a produ��o cient�fica nacional e internacional e o contexto (Co) a sa�de mental. A busca dos estudos foi realizada em abril de 2018, por meio da BVS utilizando os filtros relacionados nas bases de dados Literatura Latino-americana e do Caribe em Ci�ncias da Sa�de (LILACS) e MEDLINE. Os Descritores em Ci�ncias da Sa�de (DeCS) utilizados e combinados foram: �Sex Reassignment Surgery�, �Gender Identity�, �Transexualism�, �Sex Reassignment Procedures�, �Travestism�, �Transgender Woman�, �Health Services for Transgender Persons�, �Gender Dysphoria� e �Mental Health�. A estrat�gia de busca adotada foi "transgender woman� AND travestism OR sex reassignment surgery OR sex reassignment procedures OR gender identity OR health services for transgender persons OR transexualism AND gender dysphoria OR mental health�, pois foi a combina��o de descritores que mais apresentou artigos.
Os crit�rios de inclus�o adotados para a sele��o dos artigos foram: artigos originais dispon�veis no formato eletr�nico, de livre acesso, nos idiomas portugu�s, ingl�s e espanhol, que tratavam da sa�de mental de mulheres transg�neras. Os crit�rios de exclus�o foram: artigos n�o dispon�veis no formato eletr�nico; artigos dispon�veis eletronicamente sem livre acesso e/ou que n�o respondessem � pergunta norteadora, artigos de revis�o ou relatos de experi�ncia. Durante a etapa de elegibilidade dos artigos foi utilizado o software ENDNOTE� para importar as refer�ncias. O processo de busca e sele��o dos estudos seguiu as recomenda��es PRISMA e est� representado na Figura 1.
Figura 1: Fluxograma dos m�todos de identifica��o, triagem, elegibilidade e inclus�o dos artigos. Santo Ant�nio de Jesus, Bahia, Brasil, 2019
Fonte: elaborado pelas autoras a partir do PRISMA Flow Diagram,112022.
Os artigos resultantes na an�lise cr�tica foram agrupados em categorias tem�ticas convergentes e a an�lise baseou-se na literatura internacional sobre transgeneridades e sa�de mental. Por se tratar de uma revis�o integrativa, n�o houve submiss�o ao Comit� de �tica em Pesquisa, no entanto, os direitos autorais das obras consultadas foram respeitados bem como os preceitos �ticos para desenvolvimento da pesquisa cient�fica.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 30 artigos publicados de 2007 a 2017. A partir desta amostra foi poss�vel identificar sete categorias tem�ticas, a saber: necessidades de sa�de mental, vulnerabilidade psicossocial, processo transexualizador, mulheres transg�neras jovens e na terceira idade, rela��es sociais, direitos civis e cidadania e as rela��es entre as mulheres transg�neras e os servi�os de sa�de. No Quadro 1, est�o caracterizados os artigos quanto a categoria tem�tica, autoria, ano, tipo de estudo, pa�s e idioma.
Quadro 1: Caracteriza��o dos artigos selecionados na revista integrativa, 2018
Categorias tem�ticas |
Anos |
Idioma |
Pa�ses |
Tipo de Estudo |
Necessidades de sa�de mental12-23 |
2014 a 2017 |
Ingl�s |
B�lgica, Alemanha, Holanda, Noruega, EUA, Austr�lia, Canad�, Reino Unido |
Quantitativo12-16,19-22 Qualitativo17-18,23 |
Vulnerabilidade psicossocial13-16,18,21,23-31 |
2013 a 2018 |
Ingl�s, Portugu�s |
EUA, Canad�, Brasil, Su�cia |
Quantitativo13-18,21-24,27-31 Qualitativo17,24-25 |
Rela��es das mulheres transg�neras e servi�os de sa�de17 |
2013 |
Ingl�s |
|
Qualitativo17 |
Processo transexualizador25-26, 32-34 |
2013, 2015 a 2017 |
Ingl�s, Portugu�s |
EUA, Brasil, Tail�ndia |
Quantitativo32 Qualitativo25-26,33-34 |
Direitos civis e cidadania35-36 |
2014, 2016 |
Ingl�s |
Peru, Argentina |
Quantitativo36 Qualitativo35 |
Mulheres transg�neras jovens e na terceira idade15, 25, 37-40 |
2014 a 2017 |
Ingl�s |
EUA, Pa�ses Baixos |
Quantitativo15,38-39 Qualitativo25,37,40 |
Rela��es sociais19,34 |
2015 |
Ingl�s, Portugu�s |
Canad�, Brasil |
Quantitativo19 Qualitativo34 |
Fonte: elaborado pelas autoras, 2022.
DISCUSS�O
Na categoria �necessidades de sa�de mental� foi exposto o maior risco da popula��o transg�nera em apresentar problemas/necessidades de sa�de mental se comparada � popula��o cisg�nera.12-17 Depress�o, ansiedade, idea��o suicida, dem�ncia e abuso de �lcool e outras drogas foram os principais transtornos abordados, originados diretamente da transfobia. A discrimina��o, a falta de acesso aos servi�os de sa�de e o estigma foram considerados fatores determinantes.14-16,18-23 Neste contexto, em �vulnerabilidade psicossocial� o estigma presente na sociedade e nos pr�prios servi�os de sa�de, a falta de acesso e as viol�ncias simb�licas geradas pelos sistemas de sa�de e pelos profissionais que nele trabalham foram temas destacados.14-16,18,23-27
Ademais, os maus tratos na inf�ncia, os determinantes sociais, a viol�ncia ps�quica e f�sica e o uso de subst�ncias psicoativas.13-14,16,21,24,28-31 Dessa maneira, alguns artigos buscaram compreender as� �rela��es das mulheres transg�neras com os servi�os de sa�de� e foram abordados os modelos de aten��o em sa�de e as equipes multidisciplinares, al�m da constru��o de pol�ticas p�blicas que consideraram o contexto sociocultural das mulheres trans.17 Dentro desses servi�os ressalta-se os especializados, assim na categoria �processo transexualizador� ocorreram temas como o acesso ao processo, a terapia hormonal, as modifica��es corporais, a Cirurgia de Redesigna��o Sexual (CRS), as diretrizes para o tratamento de adolescentes e o uso de silicone industrial.25-26,32-34
Tendo em vista que algumas mulheres possuem o desejo de realiza��es modifica��es corporais e/ou documentais, na categoria �direitos civis e cidadania� foram apresentados alguns fatores associados � retifica��o do nome civil e suas consequ�ncias, assim como o desenvolvimento e cumprimento de leis para a popula��o transg�nera.35-36 Nota-se que � fundamental garantir os direitos civis para possibilitar cidadania, no entanto, as dificuldades e as preocupa��es modificam-se quando est�o relacionadas ao marcador gera��o. Assim na categoria �mulheres transg�neras jovens e na terceira idade�, os artigos apontam para a invisibiliza��o, o silenciamento e a transi��o de g�nero na terceira idade.18,37 Em rela��o �s jovens transg�neras, as preocupa��es se voltaram para a puberdade, para o processo transexualizador, para as rela��es afetivas, para os comportamentos de risco e as iniquidades presentes nos servi�os de sa�de.15,25,38-40
A categoria �redes sociais� evidenciou a import�ncia da rede de apoio para as mulheres transg�neras e a associa��o desta com a redu��o da idea��o e tentativa de suic�dio.19 No entanto, a fam�lia tamb�m se destacou como poss�vel representa��o de intoler�ncia, a partir do momento em que n�o aceita a express�o de g�nero do indiv�duo, causando-lhe mais sofrimento.34 Desse modo, compreende-se a import�ncia dos estudos que evidenciam a sa�de mental das mulheres trans, sobretudo, na perspectiva de v�rios pa�ses com diversas realidades.
Pensar na sa�de mental de mulheres trans - que tem sido constantes v�timas de transfobia e feminic�dio - perpassa por considerar a assist�ncia � sa�de de forma integral, na perspectiva de que � urgente que minimamente essas mulheres �consigam chegar at� os servi�os de sa�de�, rompendo com um ciclo de constantes exclus�es e preconceitos que se iniciam na fam�lia, na escola, no n�o trabalho formal, no n�o ingresso na universidade e no n�o acesso aos servi�os de sa�de, pelo simples fato de n�o terem seu nome social respeitado, por exemplo.� Ademais, destaca-se que, n�o foram encontrados artigos no idioma espanhol e poucas produ��es utilizaram o descritor �Transgender Woman�, sendo necess�rio utilizar outros descritores combinados para obter um quantitativo maior de estudos.
CONSIDERA��ES FINAIS
Considera-se a revis�o integrativa possibilitou atingir o conhecimento acerca da produ��o cientifica nacional e internacional, evidenciando que mulheres transg�neras est�o expostas a maiores riscos de desenvolverem problemas de sa�de mental, em rela��o �s pessoas cisg�neras, que parecem ter rela��o com o preconceito, estigma, discrimina��o, e nega��o de direitos civis. Destaca-se como os transtornos mais prevalentes nesta popula��o a depress�o, ansiedade, idea��o e tentativa de suic�dio, abuso de �lcool e outras drogas, os quais est�o diretamente relacionados com o n�o acesso aos servi�os de sa�de. O acesso ao processo transexualizador e a garantia dos direitos civis, como a mudan�a do nome social tamb�m � outro fator que promove sa�de e contribui para melhor qualidade de vida.
Nota-se o apoio familiar e social como fonte de prote��o � sa�de mental, dessa forma a aus�ncia ou fragilidade da rede de apoio, bem como a falta de compreens�o desta em rela��o � transgeneridade parece resultar em sofrimento ps�quico para mulheres transg�neras. Mulheres trans quase n�o procuram os servi�os de sa�de, devido ao despreparo dos profissionais para lidar com essa popula��o e, � falta de acesso aos cuidados adequados. Somado a isso, destaca-se as vulnerabilidades sociais a que essas mulheres est�o sujeitas� determinantes sociais, minorias �tnicas, viol�ncias f�sica e ps�quica � que intensifica o sofrimento. Assim, considera-se fundamental a educa��o permanente dos profissionais de sa�de em rela��o a sa�de integral da pessoa transg�nera. Portanto, sugere-se que os servi�os p�blicos al�m de assegurarem na pr�tica a execu��o do direito ao processo transexualizador, desenvolvam interven��es em sa�de mental que abarquem esta popula��o, a fim de promoverem melhor qualidade de vida, evitar disparidades sociais, e oferecer uma aten��o � sa�de universal e com equidade.
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Recebido em: 09/10/2021
Aceito em: 19/12/2022
Publicado em: 27/12/2022
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Como citar: Cortes, HM, Morais AVC, Carnevalli LM, Pinho PH. Sa�de mental de mulheres transg�neras: uma revis�o integrativa de literatura. J. nurs. health. 2022;12(3):e2212321706. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v12i3.4642