Cuidado de enfermagem no ambiente hospitalar aos pacientes com les�es cr�nicas
Nursing care in the hospital environment for patients with chronic injuries
Cuidados de enfermer�a en el ambiente hospitalario a pacientes con lesiones cr�nicas
Busanello, Josefine;[1] Viana, Diogo da Rosa;[2] Garcia, Raquel Potter;[3] Simon, Bruna Sodr�;[4] Alves, Camila Bueno[5]
RESUMO
Objetivos: conhecer a percep��o dos enfermeiros acerca do cuidado de enfermagem no ambiente hospitalar aos pacientes com les�es cr�nicas. M�todo: pesquisa descritiva, com 20 enfermeiros que atuam no cuidado direto ao paciente, de um hospital da fronteira oeste do Rio Grande do Sul. A coleta de dados ocorreu em abril de 2017, por meio de entrevista semiestruturada. Resultados: predomina, no ambiente hospitalar investigado, a les�o por press�o. Os cuidados de enfermagem est�o direcionados � avalia��o da les�o e t�cnica de curativo. A falta de materiais foi referenciada como a principal dificuldade para organizar o cuidado. Conclus�es: a percep��o dos enfermeiros sobre os cuidados de enfermagem aos pacientes com les�es cr�nicas est� restrita � les�o. N�o h� uma perspectiva que contemple as demais necessidades de cuidados que tamb�m interferem na recupera��o e na cicatriza��o da les�o, como as quest�es associadas �s doen�as de base, e os problemas socioculturais.
Descritores:� Enfermagem; Cuidados de enfermagem; Cicatriza��o; Doen�a cr�nica
Objective: to know the perception of nurses about nursing care in the hospital environment for patients with chronic injuries. Method: descriptive research with 20 nurses who work in direct patient care at a hospital on the western border of Rio Grande do Sul. Data collection took place in April 2017, through semi-structured interviews. Results: pressure injury predominates in the investigated hospital environment. Nursing care is aimed at assessing the injury and dressing technique. Lack of materials was mentioned as the main difficulty to organize care. Conclusions: nurses' perception of nursing care for patients with chronic injuries is restricted to the injury. There is no perspective that contemplates the other care needs that also interfere with the recovery and healing of the injury, such as issues associated with underlying diseases, and sociocultural problems.
Descriptors: Nursing; Nursing care; Wound healing; Chronic disease
RESUMEN
Objetivo: conocer la percepci�n de los enfermeros sobre los cuidados de enfermer�a en el �mbito hospitalario para pacientes con lesiones cr�nicas. M�todo: investigaci�n descriptiva con 20 enfermeras que trabajan en la atenci�n directa al paciente en un hospital de la frontera occidental de Rio Grande do Sul. La recolecci�n de datos se realiz� en abril de 2017, trav�s de entrevistas semiestructuradas. Resultados: la lesi�n por presi�n predomina en el �mbito hospitalario investigado. La atenci�n de enfermer�a tiene como objetivo evaluar la lesi�n y la t�cnica del vendaje. La falta de materiales se mencion� como la principal dificultad para organizar la atenci�n. Conclusiones: la percepci�n de las enfermeras sobre el cuidado de enfermer�a al paciente con lesiones cr�nicas se restringe a la lesi�n. No existe una perspectiva que contemple las otras necesidades que tambi�n interfieren con la recuperaci�n de la lesi�n, tales como cuestiones asociadas a enfermedades subyacentes y problemas socioculturales.
Descriptores: Enfermer�a; Atenci�n de enfermer�a; Cicatrizaci�n de heridas; Enfermedad cr�nica
INTRODU��O
As les�es cr�nicas s�o um problema de sa�de, devido � morbidade, altera��o na qualidade de vida e impacto econ�mico no sistema de sa�de. Acometem a popula��o que apresenta comorbidades, especialmente, o diabetes mellitus, a hipertens�o arterial sist�mica e os d�ficits neurol�gicos. Essas les�es s�o caracterizadas pelo retardo da cicatriza��o, nas quais h� condi��o de cronicidade, com fisiopatologia permanente.1-2 Por esse motivo, os pacientes com les�es cr�nicas s�o frequentemente hospitalizados, para tratamento t�pico e das complica��es, especialmente, infec��es locais e sist�micas. Situa��o que exige aten��o mais complexa, como a antibioticoterapia, desbridamento instrumental e cir�rgico, e o controle da pr�pria doen�a de base.2
Nesse sentido, o cuidado a indiv�duos com les�es cr�nicas, n�o pode estar restrito a terapia t�pica ou exclusivamente � les�o. De um modo geral, nos servi�os de sa�de, a equipe de enfermagem � a principal respons�vel pelo cuidado dos pacientes com essas condi��es. Esses profissionais precisam estar preparados para cuidar do paciente em sua integralidade, com aten��o para a �rea lesionada e, tamb�m, para os fatores sist�micos e psicossociais que podem alterar o processo de cicatriza��o.3
Os cuidados de enfermagem devem ser direcionados � les�o cr�nica e �s demais necessidades do paciente, contribuindo para o processo de cicatriza��o. � importante estabelecer um processo assistencial sistematizado, com avalia��o cl�nica do paciente e defini��o dos cuidados para atender seus problemas de sa�de e suas doen�as de base.4 Esse processo pode ser orientado por protocolos, com o objetivo de padronizar instrumentos de avalia��o e organizar a assist�ncia.5
Na literatura, estudos mais atuais que abordam este tema, est�o direcionados para novas tecnologias de cuidado e para as coberturas farmacol�gicas, sobre a efic�cia da terapia de press�o negativa,6 alginato de c�lcio associado �s pr�ticas de desbridamento,7 e o uso de laserterapia para a cicatriza��o.8
Os avan�os tecnol�gicos direcionados para coberturas farmacol�gicas e terapia t�pica s�o fundamentais para a evolu��o dos cuidados direcionados aos pacientes com les�es, impactando no custo do tratamento, na necessidade de capacita��o da equipe de enfermagem para realiza��o dos procedimentos, no tempo de interna��o e na qualidade de vida dos pacientes.9-10
As pesquisas publicadas sobre les�es cr�nicas est�o, em sua maioria, direcionadas para a terapia t�pica, sem enfoque para a contextualiza��o da Enfermagem e a import�ncia do cuidado integral a essas feridas complexas, especialmente no ambiente hospitalar. Assim, questiona-se: como os enfermeiros percebem o cuidado de enfermagem hospitalar aos pacientes com les�es cr�nicas? Esse enfoque � essencial para o avan�o do conhecimento da enfermagem e justifica a import�ncia do presente estudo, pois o enfermeiro precisa estar apto para cuidados cl�nicos e gest�o, visando favorecer a cicatriza��o das les�es cr�nicas e tamb�m garantir a articula��o do servi�o hospitalar com a rede de sa�de para a continuidade do tratamento e do processo de reabilita��o p�s-alta. Assim, objetivou-se conhecer a percep��o dos enfermeiros acerca do cuidado de enfermagem no ambiente hospitalar aos pacientes com les�es cr�nicas.
Pesquisa descritiva, explorat�ria e qualitativa. O cen�rio do estudo foi um hospital filantr�pico localizado na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, Brasil. Para acesso aos enfermeiros, foram selecionadas as unidades de interna��o cl�nica, cir�rgica, pronto socorro e terapia intensiva adulto, nas quais pacientes com les�es cr�nicas s�o internados para o tratamento destas condi��es e suas complica��es.
Todos os enfermeiros das unidades selecionadas foram convidados a participar do estudo. Como crit�rio de inclus�o este profissional deveria atuar no cuidado direto ao paciente. J� como crit�rio de exclus�o os indiv�duos estariam em per�odo de f�rias ou licen�a de qualquer natureza. Foram exclu�dos dois enfermeiros que estavam em f�rias no per�odo de coleta de dados, totalizando 20 enfermeiros participantes do estudo.
A coleta de dados ocorreu em abril de 2017, por meio de entrevista semiestruturada, durante o turno de trabalho dos participantes, em ambiente espec�fico, disponibilizado pela institui��o. Foi utilizado um instrumento que que continha as quest�es orientadoras: Quais as les�es cr�nicas predominantes nos pacientes hospitalizados? Como voc� planeja o cuidado a um paciente com les�o cr�nica? Qual(is) a(s) t�cnica(s) de curativo que voc� utiliza? Quais as coberturas farmacol�gicas utilizadas? Quais os mecanismos de a��o dessas coberturas? Voc� encontra dificuldades para implementar os cuidados? Se sim, conte-me quais?
O tempo m�dio de dura��o das entrevistas foi de 20 minutos, todas �udiogravadas em arquivo digital, no formato MP3 e transcritas utilizando o programa Office Word. Para garantir o anonimato, os participantes foram identificados com letra E, seguida da numera��o, conforme ordem das entrevistas.
O tratamento dos dados qualitativos foi por meio da an�lise tem�tica de conte�do. Esse m�todo permite organizar, estruturar e extrair o significado dos dados em tr�s etapas: pr�-an�lise; codifica��o; e interpreta��o dos resultados. Na pr�-an�lise ocorreu a organiza��o dos dados no Microsoft Office Word. Foram criados arquivos, um para cada quest�o do instrumento de entrevista. Cada arquivo recebeu as respostas dos 20 participantes para a quest�o espec�fica. Na etapa seguinte, a partir da leitura repetitiva do conjunto de dados, buscou-se a codifica��o. Os c�digos, ou seja, as palavras-chave e similaridades de dados foram cromaticamente identificados. Por fim, os dados real�ados foram agrupados, conforme as cores, e a partir da interpreta��o, formou-se uma categoria tem�tica.�
A pesquisa seguiu os preceitos �ticos da Resolu��o n� 466/12, do Conselho Nacional de Sa�de, do Minist�rio da Sa�de. Obteve-se aprova��o do Comit� de �tica em Pesquisa da Universidade na qual o projeto est� vinculado, sob o n� de parecer 1.994.596 e Certificado de Apresenta��o de Aprecia��o �tica n� 62656016.4.0000.5323.
Este artigo � proveniente de um trabalho de conclus�o de curso apresentado em 2017 na Universidade Federal do Pampa, sob o t�tulo: Cuidados de enfermagem aos pacientes hospitalizados com feridas cr�nicas o acesso ao arquivo na �ntegra est� dispon�vel no reposit�rio da universidade pelo link: https://dspace.unipampa.edu.br/bitstream/riu/5270/1/DIOGO%20VIANA.pdf
RESULTADOS
Os resultados configuraram uma categoria tem�tica representando a percep��o dos enfermeiros acerca do cuidado de enfermagem aos pacientes com les�es cr�nicas nos setores investigados:
Les�es cr�nicas predominantes no ambiente hospitalar e o cuidado de enfermagem
Na percep��o dos enfermeiros, predominam entre os pacientes hospitalizados as les�es por press�o (LPP), associadas, especialmente, � mobilidade f�sica prejudicada e �s situa��es cr�ticas de vida. Ainda, as �lceras venosas e as les�es neurop�ticas e isqu�micas, tamb�m s�o encontradas entre os pacientes.
Na unidade de interna��o encontramos paciente cl�nico e cr�nico, com les�o por press�o. (E5)
Se o paciente vai para o tubo, eles acabam desenvolvendo essas les�es por press�o [...]. (E11)
Mais frequente � a les�o por press�o dos pacientes acamados, principalmente, que vem de casa [...]. (E11)
Na unidade de interna��o cl�nica, encontramos pacientes cl�nicos e cr�nicos com p� diab�tico [...]. (E5)
[...] Tem �lcera varicosa e p� diab�tico, sugestivo de amputa��o. (E11)
No que se refere ao cuidado de enfermagem ao paciente com les�o cr�nica, os participantes revelam que esse fica restrito a terapia t�pica, n�o sendo especificadas interven��es de acordo com a etiologia da les�o. Os principais cuidados executados pelo enfermeiro destinam-se � avalia��o da les�o e o m�dico realiza o acompanhamento da les�o, mediante solicita��o dos enfermeiros.
Acaba sendo avaliado pelo enfermeiro. Aquele enfermeiro que atua direto nas unidades que tem pacientes internados com feridas e les�es. (E17)
Os enfermeiros e, quando solicitamos, o m�dico. (E18)
Eu avalio. O m�dico, depende. [...] a maioria, d�o uma olhada, uma vez na semana, ou quando eu pe�o para eles olharem. (E9)
Os aspectos avaliados na les�o s�o registrados no prontu�rio do paciente, e servem de subs�dio para o planejamento e prescri��o dos cuidados de enfermagem. Contudo, destacam que as coberturas farmacol�gicas s�o previstas na prescri��o m�dica.
[...] informa��es como local, curativo, tamanho, materiais que s�o utilizados, as caracter�sticas da ferida, o tipo de exsudato, e a evolu��o do tamanho do per�metro. (E5)
Todas as caracter�sticas gerais do tecido, local, tamanho, se est� drenando ou n�o, o tipo de cobertura, o material que foi utilizado, e o turno em que realizamos o curativo. (E16)
Os enfermeiros, e alguns acad�micos de enfermagem, realizam a prescri��o de enfermagem. M�dicos s� realizam a prescri��o das coberturas. (E7)
Os enfermeiros destacaram tamb�m os cuidados utilizados durante a limpeza da ferida. Identificou-se que os profissionais t�m conhecimento sobre a t�cnica ass�ptica:
Pacientes cr�nicos, com feridas contaminadas, realizamos a t�cnica ass�ptica de fora para dentro. P� diab�tico est� contaminado, ent�o de fora para dentro [...]. (E5)
Ao serem questionados sobre as coberturas farmacol�gicas, destacaram que utilizam as subst�ncias padronizadas na institui��o: colagenase, �leo mineral, �cidos graxos essenciais e sulfadiazina de prata. Ressaltam ainda que essas coberturas s�o prescritas pelo m�dico. Foi poss�vel identificar o conhecimento limitado sobre determinadas coberturas. Os depoimentos apresentam o mecanismo de a��o dos agentes t�picos de forma sucinta, com d�vidas sobre o uso e indica��o.
Aqui � o m�dico que prescreve a cobertura. Normalmente conversamos com eles e solicitamos a prescri��o. Temos colagenase, �leo e sulfadiazina de prata. Colagenase faz desbridamento qu�mico. �leo com �cidos graxos essenciais, para forma��o de tecido e ajudar na cicatriza��o, e a sulfadiazina de prata para antibi�tico. (E16)
Sulfadiazina de prata, de modo geral para queimaduras. Les�o por press�o, avaliamos se necessita desbridamento qu�mico, e utilizamos a colagenase se tem necrose. E o �cido graxo essencial para preven��o de les�o por press�o de grau 1 e 2. (E3)
Colagenase ajuda a desbridar, geralmente utilizamos para necrose. E os �leos para a hidrata��o e preven��o de novas les�es. (E7)
N�o lembro do mecanismo de a��o, apenas da Sulfadiazina de prata para os queimados. (E10)
N�o sei dizer no momento o mecanismo das outras coberturas, lembro s� da colagenase, mais pedido, ela age como desbridante. (E20)
�Como a principal dificuldade para organizar e implementar o cuidado adequado aos pacientes com les�es cr�nicas, os participantes revelaram a falta de materiais. Ainda, os enfermeiros destacaram a falta de tempo para realizar as a��es de cuidado.
As dificuldades s�o referentes a falta de material, geralmente realizamos da melhor forma com o que temos, e pela fun��o do tempo. (E1)
N�o tenho dificuldades, a �nica dificuldade � a falta de material que o hospital apresenta. (E7)
DISCUSS�O
A les�o por press�o foi a les�o cr�nica mais incidente segundo os enfermeiros. Destaca-se que a sua ocorr�ncia � utilizada como indicador da qualidade da assist�ncia dos servi�os de sa�de, especialmente de enfermagem. A LPP, no ambiente hospitalar, acomete mais pacientes graves, com comprometimento fisiol�gico. Assim, a incid�ncia � de 23,1% e 59,5% em pacientes com limita��o na atividade f�sica e mobilidade. As LPP tamb�m podem se desenvolver em pacientes que necessitam de suporte ventilat�rio. Muitas vezes, estes pacientes fazem o uso de sedativos que acabam prejudicando a mobilidade e a evolu��o cl�nica, dois fatores de risco importantes para essas les�es.11
No entanto, as les�es cr�nicas, especialmente �s �lceras venosas e as les�es neurop�ticas e isqu�micas, tamb�m acometem um quantitativo significativo de indiv�duos no Brasil, representando um importante contingente de hospitaliza��es para o tratamento associado �s feridas e suas complica��es.12-14
Essa perspectiva corrobora com a percep��o apresentada pelos participantes de que a �lcera diab�tica surge como prevalente no ambiente hospitalar. O diabetes mellitus � fator de risco para o surgimento das neuropatias diab�ticas e isquemia, e/ou popularmente conhecido como p� diab�tico. Os n�veis elevados de glicose no sangue est�o associados com eventos de degrada��o �ssea e trauma que precedem estas les�es. Os pacientes n�o identificam os traumas nos p�s, e a les�o, inicialmente pequena, pode progredir para uma infec��o grave, exigindo a hospitaliza��o para tratamento cl�nico e ou cir�rgico, incluindo a amputa��o.14
Considerando a complexidade fisiopatol�gica das les�es cr�nicas, destaca-se que � atribui��o do enfermeiro avaliar as les�es, e verificar se o tratamento est� sendo efetivo e adequado. Essa avalia��o precisa contemplar as dimens�es biol�gicas, psicol�gica e f�sica do paciente, considerando todos os fatores que podem interferir na cicatriza��o da ferida.15
A avalia��o de enfermagem referente �s les�es deve seguir crit�rios: localiza��o da les�o, grau, tipo de tecido, odor, tamanho, exsudato, coberturas e o turno em que foi realizado o curativo. O objetivo da avalia��o � identificar as t�cnicas promissoras para o preparo do leito. Para tanto, destaca-se a ferramenta TIME, que envolve a identifica��o de barreiras que impedem e prejudicam a cicatriza��o, e contempla: Tissue (tecidos presentes no leito e fase cicatricial); Infection and inflammation (sinais de infec��o e inflama��o); Moisture (Umidade e exsuda��o); Edges (avalia��o das margens).4-5
No estudo, os enfermeiros n�o mencionaram sobre uma avalia��o mais ampla, com enfoque e associa��o para a cl�nica do paciente, ou fatores que poderiam prejudicar o processo de cicatriza��o. Nesse sentido, salienta-se que o hist�rico de enfermagem � relevante para defini��o de melhores condutas, pois a partir da avalia��o da hist�ria de sa�de e da les�o, o enfermeiro pode elaborar um plano de cuidados que atenda �s necessidades desse indiv�duo, que v�o al�m dos cuidados espec�ficos dedicados � les�o tecidual.5,8 � preciso avaliar a condi��o cl�nica e considerar que o paciente enfrenta diversas situa��es, que tamb�m podem influenciar e perpassar o seu estado emocional e a sua condi��o sociocultural.15
Al�m do mais, como fator necess�rio para a adequada evolu��o das les�es cr�nicas, tem-se a prescri��o de enfermagem, por�m a sua utiliza��o n�o ficou evidente nos depoimentos dos entrevistados, inclusive salientou-se o predom�nio da necessidade de prescri��o m�dica para as coberturas. As interven��es de enfermagem precisam contemplar os cuidados com a ferida e a pele adjacente, indica��o da cobertura, uso de antibi�tico, melhoria da vasculariza��o e preven��o de recidiva, e encaminhamento/solicita��o de avalia��es da equipe multiprofissional. Representa um instrumento para a qualidade do cuidado e de comunica��o da equipe dos trabalhadores de enfermagem9 e, possibilita, a autonomia profissional para estabelecer os procedimentos operacionais � equipe de enfermagem.16
Quando se trata da autonomia do enfermeiro, no cuidado aos pacientes com les�es cr�nicas, n�o se discute apenas a capacidade, o direito de escolha do m�todo terap�utico ou a cobertura utilizada na ferida. Resgata-se tamb�m ao compromisso e os esfor�os do profissional em identificar as demais necessidades de cuidado, desde a avalia��o inicial at� o acompanhamento do processo cicatricial.16
No que tange aos aspectos que envolvem a realiza��o dos curativos, os participantes relataram os instrumentos/materiais utilizados para o curativo, bem como t�cnicas ass�pticas. O emprego de t�cnicas ass�pticas � fundamental no controle das infec��es, visando a redu��o da carga de microrganismo no leito da ferida, o qual ir� potencializar a repara��o tissular da mesma.4-5,17
Destaca-se a import�ncia da limpeza da les�o com solu��o biocompat�vel, fisiol�gica a 0,9% ou �gua destilada. As caracter�sticas de uma solu��o de limpeza ideal s�o: n�o ser t�xica para os tecidos humanos, manter o tecido de granula��o vi�vel, reduzir o n�mero de microrganismos, n�o causar rea��es de sensibilidade, estar amplamente dispon�vel e ser de baixo custo.4-5
Sobre as coberturas citadas pelos enfermeiros tem-se principalmente a colagenase, a sulfadiazina de prata e os �cidos graxos essenciais. No entanto, cabe destacar que o uso indiscriminado de coberturas farmacol�gicas, ou a aplicabilidade de forma err�nea, pode acarretar preju�zos. O enfermeiro precisa de habilidades e conhecimento cl�nico para avaliar as les�es e verificar qual tipo de cobertura mais adequado.17
A colagenase atua como desbridante enzim�tica no tecido desvitalizado. A desvantagem � que necessita de pH espec�fico e temperatura ideal. �cidos graxos essenciais s�o indicados para les�o de pele, infectada ou n�o, independentemente da fase em que se encontra o processo de cicatriza��o, tendo como desvantagem a troca di�ria do produto.18
A sulfadiazina de prata atua no controle do crescimento bacteriano no leito da les�o em feridas infectadas e tecido necrosado, para a preven��o de coloniza��o e tratamento de queimaduras. A desvantagem � que pode prejudicar a visualiza��o do leito da les�o, por se tratar de um creme dificilmente absorvido, deixando res�duos sobre a les�o, deve ser trocado pelo menos duas vezes ao dia, e exige cobertura final secund�ria.18
A recomenda��o do uso ou n�o de um determinado produto no tratamento de feridas deve ser baseado em referencial te�rico. Tamb�m � necess�ria a atualiza��o dos profissionais, para o manejo das coberturas e compreens�o dos seus respectivos mecanismos de a��o. Ademais, � de extrema import�ncia resgatar instrumentos norteadores do cuidado e pr�ticas baseadas em evid�ncias cient�ficas que, atualmente, est�o sustentadas nas pesquisas na �rea de les�es.
A precariedade de materiais foi destacada como fator dificultador pelos enfermeiros no manejo das les�es cr�nicas. A car�ncia de recursos financeiros prejudica a estrutura f�sica e a disponibilidade de materiais, tamb�m foi encontrado em outra pesquisa.19 Contudo, a promo��o da seguran�a do paciente � comprometida tamb�m pela falta de atualiza��o da equipe. O enfermeiro precisa buscar os conhecimentos t�cnico-cient�ficos sobre o tratamento de les�es.16-17
Nesse contexto, a implanta��o e a implementa��o de protocolos nas institui��es de sa�de s�o consideradas como positivas para a preven��o de les�es e garantir as pr�ticas baseadas em evid�ncias cient�ficas. Na institui��o em que esta pesquisa foi realizada, n�o h� a disponibilidade de um protocolo assistencial, o que prejudica a implementa��o do cuidado e a tomada de decis�o dos enfermeiros. Os protocolos devem ser constru�dos a partir das recomenda��es das diretrizes cl�nicas, para serem instrumentos que permitam estabelecer uma abordagem diagn�stica e terap�utica, numa perspectiva intersetorial e interdisciplinar.16-17
CONSIDERA��ES FINAIS
Evidenciou-se que a percep��o dos enfermeiros sobre os cuidados com pacientes com les�es cr�nicas est� restrita � les�o. N�o h� uma perspectiva ampla, que contemple as demais necessidades de cuidados, como as quest�es associadas �s doen�as de base, os problemas sociais e culturais, que tamb�m interferem na recupera��o do paciente e na cicatriza��o da les�o durante sua hospitaliza��o.
Em rela��o a prescri��o da terapia t�pica, no que se refere a defini��o das coberturas farmacol�gicas, os enfermeiros percebem a hegemonia m�dica. Por outro lado, a possibilidade de os enfermeiros prescreverem as coberturas farmacol�gicas exige conhecimento espec�fico sobre os mecanismos de a��o e, com rela��o a esse aspecto, observou-se que alguns enfermeiros apresentam conhecimento ainda limitado.
Ademais, a prescri��o de enfermagem, sem a previs�o da terapia farmacol�gica, compromete a autonomia. � necess�ria a documenta��o, na prescri��o de enfermagem, da escolha da cobertura pelo enfermeiro. Esse � o desafio para os profissionais de enfermagem para ampliar o reconhecimento da profiss�o, a partir de um protocolo que respalde as prescri��es de enfermagem de coberturas.
Identifica-se a necessidade de atividades de atualiza��o da equipe de enfermagem, em especial para o enfermeiro. Al�m da implementa��o do processo de enfermagem, � importante a reorganiza��o da sistematiza��o do cuidado, com a revis�o dos materiais dispon�veis, organiza��o do trabalho, e a pr�pria implanta��o de um protocolo, para viabilizar a atua��o do enfermeiro, e garantir sua autonomia nesse processo.
Como limita��es do estudo, destaca-se que houve participantes que sentiram dificuldade de compreens�o das perguntas elaboradas pelo instrumento de coleta. Tal fato poderia ser mais bem abordado com um m�todo grupal, no qual a percep��o acerca do cuidado de enfermagem aos pacientes com feridas cr�nicas fosse constru�da coletivamente, com contribui��es de diferentes forma��es envolvidas.
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Recebido em: 30/08/2021
Aceito em: 30/11/2022
[1] Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Uruguaiana, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: josefinebusanello@unipampa.edu.br ORCID: 0000-0002-9950-9514
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[5] Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Uruguaiana, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: camilabueno.aluno@unipampa.edu.br ORCID: 0000-0002-1925-8138
Como citar: Busanello J, Viana DR, Garcia RP, Simon BS, Alves CB. Cuidado de enfermagem no ambiente hospitalar aos pacientes com les�es cr�nicas. J. nurs. health. 2022;12(1):e2212121553. Dispon�vel em: https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/JONAH/article/view/4312