ARTIGO ORIGINAL

�Se uma pessoa escuta vozes n�o � um defeito�: experi�ncia de adolescentes que ouvem vozes

�If a person hears voices, it is not a problem�: teenager� experience who hear voices

�“Si una persona escucha voces, no es un defecto”: experiencia de adolescentes que escuchan voces

Menna, J�ssica Steuer;[1] Guedes, Ariane da Cruz;[2] Machado, Roberta Antunes;[3] Kantorski, Luciane Prado;[4] Ubessi, Liamara Denise;[5] Souza, Thylia Teixeira[6]

RESUMO

Objetivo: compreender a experi�ncia de ouvir vozes � que outras pessoas n�o ouvem � entre adolescentes. M�todo: pesquisa qualitativa, descritiva e explorat�ria realizada em maio de 2019 com 14 adolescentes usu�rios de um Centro de Aten��o Psicossocial Infanto Juvenil que tem na sua hist�ria de vida a experi�ncia de ouvir vozes, por meio de uma entrevista discursiva, com an�lise tem�tica. Resultados: os conte�dos mais prevalentes das vozes foram negativos e de comando. A forma como as vozes influenciam as/os adolescentes parece ter rela��o com o sentido que eles/as fornecem a essa experi�ncia. Algumas estrat�gias de lida e enfrentamento est�o interligadas com suas cren�as religiosas e de atividades que lhes d�o prazer. Conclus�es: � necess�rio a compreens�o dessa experi�ncia a partir de abordagens que autoriza o di�logo e a escuta da experi�ncia livre de preconceitos direcionado a condutas terap�uticas que evitem a patologiza��o e a medicaliza��o da vida.

Descritores: Sa�de mental; Adolescente; Voz; Servi�os de sa�de mental

ABSTRACT

Objective: to understand the experience of hearing voices � which other people do not hear � among adolescents. Method: this qualitative, descriptive, and exploratory research was carried out in May 2019 with 14 adolescent users of a Child and Youth Psychosocial Care Center, who have in their life history the experience of hearing voices. A discursive interview, with thematic analysis, was performed. Results: the most prevalent contents of the voices were negative and commanding. The way voices influence adolescents seem to be related to the meaning they give to this experience. Some coping strategies are intertwined with their religious beliefs and activities that give them pleasure. Conclusions: it is necessary to understand this experience from approaches that authorize dialogue and listening to the experience free of prejudices directed to therapeutic behaviors that avoid pathologizing and medicalization of life.

Descriptors: Mental health; Adolescent; Voice; Mental health services

RESUMEN

Objetivo: comprender la experiencia de escuchar voces � que otras personas no escuchan � entre adolescentes. M�todo: investigaci�n cualitativa, descriptiva y exploratoria realizada en mayo de 2019 con 14 adolescentes de un Centro de Atenci�n Psicosocial Infantil y Juvenil que tienen en su historia de vida la experiencia de escuchar voces, a trav�s de una entrevista discursiva, con an�lisis tem�tico. Resultados: los contenidos m�s prevalentes de las voces fueron negativos y autoritarios. La forma en que las voces influyen en los adolescentes parece estar relacionada con el significado que le dan a esta experiencia. Algunas estrategias de afrontamiento est�n entrelazadas con sus creencias religiosas y actividades que les dan placer. Conclusiones: es necesario comprender esta experiencia desde enfoques que autoricen el di�logo y la escucha de la experiencia libre de prejuicios encaminados a conductas terap�uticas que eviten la patologizaci�n y medicalizaci�n de la vida.

Descriptores: Salud mental; Adolescente; Voz; Servicios de salud mental

INTRODU��O

Com o surgimento da psiquiatria no s�culo XIX, a audi��o de vozes passou a ser considerada uma alucina��o auditiva, sintoma de transtorno mental, em especial relacionado a esquizofrenia, que levou ao asilamento e ao exterm�nio de pessoas em manic�mios. No Brasil, na d�cada de 80 tem-se o movimento da Luta Antimanicomial que contribuiu para a implanta��o do Sistema �nico de Sa�de (SUS) e que culminou em 2001, no processo da Reforma Psiqui�trica. Foram implantados servi�os de aten��o psicossocial em todo o territ�rio nacional, dentre estes os Centros de Aten��o Psicossocial Infantojuvenil (CAPSij). Contudo, mesmo com esses avan�os substanciais no modelo de aten��o em sa�de mental, o entendimento sobre a experi�ncia da audi��o de vozes permaneceu o mesmo.1

H� sujeitos que ouvem vozes e que registraram essa experi�ncia como negativa, por se expressar de forma hostil. Contudo, h� pessoas que lidam de modo positivo com a audi��o das vozes.1 Por volta de at� 15% da popula��o ocidental t�m chance de passar pelo menos uma vez por essa experi�ncia, e metade tende a demandar de ajuda de um servi�o de sa�de mental.2

O Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes (MIOV), nascido na Holanda em 1987, compreende essa experi�ncia como uma manifesta��o humana, que pode ou n�o estar ligada a um trauma vivido ou a outras situa��es, pass�veis de significa��o e interpreta��o pelo pr�prio sujeito. Esse movimento opera em outro paradigma de compreens�o humana, que facilita o compartilhar dessas experi�ncias com �nfase em uma vis�o diferenciada da predita pela psiquiatria, que rotula as pessoas com diagn�sticos.2-3 Este movimento originou uma rede internacional para ouvidores de vozes (Intervoice), com o objetivo de conectar as iniciativas a favor desta abordagem em sa�de mental. O Brasil ingressou nesta rede a partir de 2017.

Apesar de alguns estudos relacionarem a experi�ncia de ouvir vozes com eventos traum�ticos, tais como: abuso sexual, neglig�ncia emocional, luto, abuso f�sico, bullying etc.,4-5 sabe-se que essa experi�ncia nem sempre est� relacionada ao trauma ou a um sintoma de doen�a mental, mas sim a uma varia��o humana.6 Estudo mostra que 60% das crian�as que ouvem vozes deixaram de ouvi-las com a resolu��o do problema emocional e do estresse.7

Ao mesmo tempo, h� pouca produ��o cient�fica que aborda o tema da audi��o de vozes entre crian�as e adolescentes, salvo sob a perspectiva hegem�nica. Nos estudos internacionais, ainda prevalece o foco nos aspectos relacionados a fatores gen�ticos e ambientais, ligados a esquizofrenia e a tratamentos tradicionais, segregacionistas e biom�dicos, na contram�o do que Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) preconiza.8

Esta organiza��o compreende a adolesc�ncia a partir da faixa et�ria dos 10 anos at� os 19 anos completos.9 Trata-se de uma fase complexa e din�mica da vida, apontada por especialistas como um per�odo da vida mais suscet�vel para a experi�ncia do sofrimento ps�quico,10 e que relacionadas a traumas ou n�o, podem estar associadas a audi��o de vozes.

Deste modo, evidencia-se a necessidade de estudos sobre como os adolescentes ouvidores de vozes percebem essa experi�ncia em suas vidas, no intuito de n�o simplificar a mesma e nem o cuidado em sa�de mental, que tende a reduzir essa viv�ncia a uma patologia e a medicamentalizar essa fase da vida. Al�m disso, o uso de outras abordagens em sa�de mental pode contribuir com a vida dessas pessoas no modelo de aten��o em sa�de mental em conson�ncia com os preceitos da Reforma Psiqui�trica e da Luta Antimanicomial, na resist�ncia aos retrocessos atuais que voltam a considerar o manic�mio como local de tratamento e o incluem na rede de sa�de.11 Em vista disso, o objetivo deste estudo foi compreender a experi�ncia de ouvir vozes de adolescentes inseridos em um CAPSij.

MATERIAIS E M�TODO

Esta pesquisa possui uma abordagem qualitativa, descritiva e explorat�ria. Foi realizada em um CAPSij, em maio de 2019. O servi�o conta com uma popula��o estimada de 328.275 pessoas, sendo 52.485 na faixa et�ria dos 10 aos 19 anos.12 A escolha do local foi por ser o �nico servi�o psicossocial destinado ao p�blico-alvo deste estudo, no munic�pio de Pelotas, localizado na regi�o sul do Rio Grande do Sul.

A coleta de dados foi realizada por uma das pesquisadoras, que na �poca estava realizando est�gio final do curso de gradua��o em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) no CAPSij. Al�m disso, ela atuava como bolsista de inicia��o cient�fica na pesquisa �Ouvidores de Vozes - novas abordagens em sa�de Mental� e se autodeclara ouvidora de vozes.

Essa pesquisa foi realizada com 14 adolescentes ouvidores de vozes, usu�rios ativos no CAPSij, oito se autodeclararam do sexo feminino e seis do masculino, na faixa et�ria entre 10 e 17 anos. Foram selecionados os 15 primeiros adolescentes indicados pela equipe de sa�de, dos quais apenas um se recusou a participar. Os participantes foram identificados por nomes fict�cios autorreferidos. Como crit�rios de inclus�o foram utilizados: ser usu�rio ativo do CAPSij; possuir idade entre 10 e 18 anos 11 meses e 29 dias e ser ouvidor/a de vozes. Foram considerados crit�rios de exclus�o: n�o aceitar que a entrevista fosse gravada em �udio; n�o apresentar condi��es emocionais e/ou cognitivas para a realiza��o delas no per�odo de coleta de dados.

O estudo e o procedimento para a coleta de dados foram explicados aos participantes e seus respons�veis juntamente com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Assentimento Livre e Esclarecido. Foi realizada entrevista discursiva com a seguinte quest�o norteadora �Qual a percep��o que voc� tem em rela��o a sua experi�ncia de audi��o de vozes?�. As entrevistas foram realizadas em salas de atendimento individual dispon�veis no servi�o, sem interfer�ncias externas. O tempo m�dio de dura��o das entrevistas foi de 16 minutos.

A entrevista discursiva � uma t�cnica que facilita a intera��o entre entrevistado e entrevistador, em que ambos est�o conscientes da intera��o. Ainda � uma forma de conversa��o, na qual cabe ao entrevistador � defini��o do tema, a decis�o de desviar ou n�o do tema proposto assim como a apresenta��o das perguntas ao entrevistado na forma que considerar conveniente, e ao entrevistado a possibilidade de se tornar o protagonista, respondendo ou n�o, de uma forma ou outra, aos questionamentos.13

O conte�do das entrevistas comp�s o material da an�lise de dados que foi baseada na an�lise tem�tica,14 dividida em tr�s etapas: a primeira refere-se a pr�-an�lise, que consiste na escolha dos materiais que ser�o analisados e na retomada das hip�teses e objetivos iniciais da pesquisa; a segunda, � a de explora��o do material, que parte uma opera��o de classifica��o visando � compreens�o do conte�do analisado; e a terceira e �ltima etapa, culmina no tratamento dos resultados obtidos e interpreta��o, que deve ser realizado de acordo com o conte�do te�rico inicial.14 Deste modo, chegou-se a quatro categorias tem�ticas: (1) A experi�ncia de ouvir vozes; (2) Conte�do das vozes; (3) influ�ncia das vozes; (4) estrat�gia de conviv�ncia ou enfrentamento das vozes.

Esta pesquisa respeitou os princ�pios �ticos da Resolu��o 466/2012 do Conselho Nacional de Sa�de. Foi aprovada pelo Comit� de �tica em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Medicina da UFPel, sob n�mero de parecer 3.231.789 de 2019.

RESULTADOS E DISCUSS�ES

�Pra mim �s vezes � uma coisa boa, outras vezes � ruim, depende da voz que eu esteja escutando� - experi�ncias de ouvir vozes

O surgimento da psiquiatria como saber trouxe um �nus para as pessoas que t�m na sua hist�ria de vida a experi�ncia de ouvir vozes, pois a reduziu ao status de sintoma de doen�a mental. As institui��es religiosas disputam com a institui��o psiqui�trica, o �discurso verdadeiro� sobre essa experi�ncia t�o singular dos sujeitos.15 As pessoas que vivenciam essa experi�ncia pelo vi�s da psiquiatria, em geral evitam falar sobre ela, devido ao estigma relacionado com a loucura. As religi�es tendem a acolher essa experi�ncia sem estigmatizar, pois, d�o um sentido ligado a espiritualidade.16 Por�m, sabe-se que nem todos/as que ouvem vozes associam essa experi�ncia a essas duas perspectivas de interpreta��o.

A experi�ncia de ouvir vozes � privada � cada sujeito. Neste sentido, conhecer a hist�ria de vida e a experi�ncia com as vozes a partir do enunciado daqueles/as que a vivenciam � fundamental para compreend�-la.1-2 Neste estudo, os/as adolescentes narraram suas experi�ncias com as vozes, revelando o quanto ela � singular, uma vez que d�o sentidos diferentes a ela conforme sua experi�ncia com ela.

Pra mim �s vezes � uma coisa boa, outras vezes � ruim, depende da voz que eu esteja escutando porque s�o duas n�[...] uma � mais grossa assim, parece homem e a outra � indeterminada eu n�o consigo distinguir [...] A que eu n�o consigo distinguir � boa. (Judai)

� � como se eu sempre estivesse correndo de alguma coisa que sempre vai acabar me derrubando sabe?! Como se eu sempre estivesse correndo delas e a� elas viessem tipo e eu n�o conseguisse evitar. (Flor)

Tipo a experi�ncia � ruim n�, eu n�o sei como explicar, � tudo tipo muito r�pido e medo [...] Sim, s� que agora eu j� me acostumei e a� eu n�o queria parar de ouvir mais. (Girassol)

Judai, Flor e Girassol demonstram a ambival�ncia de suas percep��es sobre a experi�ncia de ouvir vozes. A hist�ria de vida n�o foi explorada de forma profunda neste estudo, por�m conhec�-la permite um entendimento mais minucioso sobre os motivos que levam os/as adolescentes consider�-las como uma viv�ncia boa ou ruim.

Como esta experi�ncia sucede no campo privado dos sujeitos, � qual pertence apenas � pessoa que sente, sendo poss�vel falar sobre ela, mas nunca a expor ao ponto de outra pessoa sentir da mesma forma e intensidade, torna-se dif�cil at� para quem experiencia dar sentido � voz.1 Neste aspecto, as vozes podem gerar sofrimento ps�quico intenso, como foi poss�vel verificar na narrativa da Flor, que busca fugir desta experi�ncia. Pessoas que ouvem vozes podem desenvolver comportamentos e a��es confusas e amedrontadoras em rela��o �s vozes e por isso tentam fugir delas. Esta fuga pode ser curta ou durar anos, entretanto para obten��o de equil�brio se requer alguma forma de aceita��o.1

A compreens�o desta experi�ncia pelo vi�s da religiosidade e espiritualidade est� presente nas narrativas de alguns/ algumas adolescentes.

A minha m�e sempre fala que isso � um esp�rito, que isso � um esp�rito que est� tentando me atormentar. (Harley)

Sei l� acho que � quando a gente escuta alguma voz estranha de esp�rito essas coisas. (Bruna)

� assim, � que tudo engloba, eu sou umbandista e esp�rita [...] Ent�o o come�o eu vim pra c� falando que eu escutava vozes que eu via esp�rito e eu achava que era loucura minha, a famosa �loucura da cabe�a�[...] e a� conforme eu fui me desenvolvendo na umbanda eu fui vendo que � tudo da minha espiritualidade [...] eu particularmente... certas pessoas tem ou enxerga e � coisa da cabe�a [...] eu particularmente � da umbanda, � da religi�o [...] eu enxergo, eu escuto vozes [...] eles falam comigo, eles caminham do meu lado. (Santa)

Na narrativa dos/as adolescentes � percept�vel a rela��o desta experi�ncia com a cren�a religiosa. Relacionar a experi�ncia de ouvir vozes com essa cren�a � um fator que vem sendo observado com mais aten��o no campo da sa�de mental, dado que a religiosidade pode fornecer um sentido menos estigmatizante do que aquele produzido pela psiquiatria, o que pode tornar o fen�meno de ouvir vozes menos angustiante.15

Historicamente a experi�ncia de ouvir vozes sempre esteve ligada com �s pr�ticas religiosas e espirituais, muitas vezes tendo sua origem relacionada a voz de Deus, anjos/as, bons guias, como tamb�m vozes do diabo ou do dem�nio, mas sempre apresentando-se de maneira singular, como uma mensagem ou conversa.15 A compreens�o desta experi�ncia est� profundamente conectada com o per�odo hist�rico e cultural, mas principalmente entrela�ada com a hist�ria de vida das pessoas que apresentam essa capacidade.6

�Oh, eu te falo que essas vozes que eu escuto pode falar pra mim fazer uma coisa boa ou uma coisa ruim� - o conte�do das vozes

Na explora��o da experi�ncia de ouvir vozes � que outras pessoas n�o ouvem � uma das vari�veis topogr�ficas que devem ser investigadas � o conte�do das vozes, ou seja, aquilo que elas anunciam para o/a ouvidor/a. Esses conte�dos podem ser classificados como: positivos, negativos, neutros, bondosos, pessimistas, disciplinantes e/ou de comando, entre outros aspectos, como se verifica nas narrativas que seguem.

Elas aparecem tipo [...] vai errar [...] n�o vai dar certo. (Flor)

Ahh algumas vezes elas dizem pra mim pegar uma faca [...] outras vezes dizem pra mim pula de uma ponte. (Bruna)

�, para mim eram boas n�, boas e ruins [...] ah faz isso, faz aquilo [...] conversar [...] a conversa ali, ah n�o vai ali n�o.� Assim [...] A � briga... coisa assim [...] faz confus�o. (Zack)

Entre os participantes deste estudo, pode-se evidenciar a predomin�ncia de conte�dos negativos e de comando, exceto nos conte�dos relatados por Ana Clara e Harley que apesar de ouvirem conte�dos negativos tamb�m ouviam conte�dos positivos. Alguns adolescentes referiram vozes depreciativas, disciplinares, divergentes e de rejei��o.

A boa � o meu v� que sempre me cuidou desde pequena [...] a ruim � o gato, um gato preto que sempre sai correndo atr�s de mim. (Ana Clara)

Oh, eu te falo que essas vozes que eu escuto pode falar para eu fazer uma coisa boa ou um coisa ruim. (Harley)

As vozes depreciativas e de comando, de acordo com o seu conte�do, podem produzir sofrimento e at� a pessoa se colocar em risco a depender da rela��o que tenha com suas vozes. Um estudo17 demonstrou que as vozes de comando foram as que mais produziram sofrimento com possibilidades de crise nos participantes. Entretanto, nem todas as vozes de comando possuem conte�do negativo.

O conte�do das vozes tende a estar ligado �s experi�ncias vivenciadas pelo indiv�duo no seu contexto social e cultural, e com influ�ncias em sua vida2. Estudo sobre a compreens�o da linguagem da subjetividade mostrou que o conte�do das vozes estava relacionado com a hist�ria de vida dos participantes.17

Tipo, por exemplo, quando eu t� mexendo no face e algu�m me chama de bonita, de linda da� tipo elas falam assim: Voc� sabe que voc� n�o � assim [...] A� quando as pessoa me d� um elogio, a� d� o contr�rio. (Lua)

Ele fica falando na minha cabe�a e eu nem conhe�o ele, eu s� ou�o ele falando na minha cabe�a, mas eu n�o vejo ele [...] pra mim ir embora e n�o voltar, n�o volta pra casa [...] Que eu sou feia porque eu tenho umas coisas na cara [...] ele me chama de feiosa. (L�)

H� um imperativo de beleza na sociedade, que padroniza o que � o belo e que tende a interferir na subjetividade de modo a tentar responder nesse padr�o, recusar ou inventar o pr�prio estilo. Por exemplo, as tecnologias de g�nero que atuam na constru��o da imagem do ser �mulher� ou �homem�, como o cinema, as novelas, a publicidade,18 colocam de algum modo, que n�o atingir ao mesmo � ser menos aceit�vel, menos desej�vel, o que tamb�m pode se expressar no conte�do das vozes, como enunciado por Lua e L�. Estudo com pessoas que apresentam anorexia mostrou que algumas referem ouvir vozes com conte�do depreciativo.19

Contudo, o profissional ao inv�s de interpretar a experi�ncia do adolescente, deve considerar o entendimento do ouvidor sobre o que vivencia na rela��o com as vozes, como mostra a narrativa de Girassol, que as explica como esp�ritos que falam consigo. Ao mesmo tempo aponta que sentir-se amada diminui as vozes, o que demostra a import�ncia da afetividade em sa�de mental.

(Talvez) tem uns que falam pra fazer isso, pra fazer aquilo, os esp�ritos ruins falam pra mim se matar, se cortar sabe s� que agora eu parei um pouco de ouvir n�, porque tem gente que me ama aqui. (Girassol)

Explorar o conte�do das vozes n�o � o foco principal da psiquiatria tradicional. Este saber tende a silenciar a experi�ncia e as pessoas que a experiencia por interm�dio dos antipsic�ticos, devido a vis�o biom�dica e patologizante que possuem acerca deste fen�meno, mesmo sabendo que ele pode ter origens diversas.20 A experi�ncia de ouvir vozes pode parar de forma espont�nea, por�m ainda n�o se tem evid�ncias neurol�gicas de como isso ocorre.

Atualmente, o interesse por outra abordagem na compreens�o de quem ouve vozes, cresce na psicologia, visto que o conte�do expressado pelo que as vozes comunicam � essencial para que se compreenda o ouvidor e possa utilizar esta experi�ncia como aux�lio para manejos terap�uticos.16

A import�ncia de entender estas vozes � essencial para que os adolescentes criem estrat�gias de enfrentamento como mostra a fala da Manu ao n�o obedecer ao comando da voz para ela se matar. Trata-se de uma estrat�gia de enfrentamento ao conte�do dessa voz e para conviver com elas. Entretanto, nem todas as pessoas que ouvem, e no caso os adolescentes, conseguem estabelecer de imediato essa rela��o. � um processo a rela��o com as vozes.

Eu vi uma mandando eu me matar, mas eu n�o fiz isso. (Manu)

� necess�rio que os adolescentes compreendam que apesar das vozes enunciarem ordens negativas, a decis�o de obedecer ou n�o ao comando delas � do ouvidor, uma vez que, s�o eles os respons�veis pelos resultados dessa escolha. � relevante que os adolescentes analisem o conte�do das suas vozes para que possam ter um insight sobre o que elas querem realmente comunicar, pois, nem sempre a voz que ordena para se matar est� dizendo que � para o ouvidor se suicidar. A voz pode estar querendo comunicar sobre algo que n�o est� resolvido na sua subjetividade, relacionada � sua hist�ria de vida.

Influ�ncia das vozes

Ouvir vozes que outras pessoas n�o ouvem pode acarretar sentimentos como medo, por exemplo, o qual poder� influenciar diretamente nas suas a��es17. Muitas pessoas que ouvem vozes acabam se isolando socialmente, ora por ter uma compreens�o negativa sobre essa experi�ncia, ora por aceitar o comando enunciado pelas vozes, que pode estar relacionado �s atividades da vida di�ria.

Neste estudo, as/os adolescentes relataram que em algum momento deixaram de realizar alguma atividade cotidiana, por serem influenciados negativamente pelo conte�do das vozes ou pela sensa��o de medo e ang�stia que elas acarretam. Nas narrativas a seguir, pode-se verificar a influ�ncia negativa que algumas vozes t�m sobre os adolescentes.

� como se eu deixasse de fazer algumas coisas porque eu sei que tipo, elas v�o aparecer depois e eu vou come�ar a pensar em algum coisa ruim �, ent�o eu deixo de fazer algumas coisas que eu gosto pra n�o acontecer depois. (Flor)

�Elas falam n�o estuda [...] elas falam umas coisas pra eu n�o fazer [...] pra eu n�o fazer um monte de coisa [...] n�o toma banho, s� isso [...] ah eles me deixam com medo assim, e eu n�o consigo nem se levanta da cama. (Sol)

[...]a ruim (a voz) quando eu t� assim bravo, eu n�o me sinto mais, como eu [...] eu me sinto como se fosse ele (a voz) fazendo. (Judai)

Ai eu j� tentei me suicidar v�rias vezes e eu escutava que algu�m tava tentando me matar tipo, te mata, vem comigo, alguma coisa assim. (Santa)

O gato ele sempre me d� muito medo, da� eu tenho medo de at� ir ao banheiro sozinha. (Ana Clara)

Nota-se que o sentido atribu�do a experi�ncia pelos/as adolescentes repercute na influ�ncia que as vozes t�m sobre eles/as. Vozes com sentido amea�adoras, controladoras, intrusivas costumam produzir uma influ�ncia negativa, como mostra as narrativas das/os adolescentes deste estudo. O medo das vozes gera sofrimento nos/as adolescentes, os/as desestabilizam, causando sentimentos de confus�o, desconfian�a, tristeza profunda, irritabilidade, sintomas que podem levar ao isolamento social, ao pensamento suicida, a depress�o entre outros.

O sentido atribu�do �s vozes e o modo de se relacionar com elas podem influenciar a procura ou n�o por servi�os de sa�de para lidar com essa experi�ncia. Um estudo com 184 pessoas que ouvem vozes e n�o recebem assist�ncia psiqui�trica, identificou que essas pessoas n�o utilizam os servi�os de sa�de para enfrentar essa experi�ncia, pois percebem as vozes como gentis e se mostram mais preparados para lidarem com elas. As pessoas que ouvem vozes e buscam os servi�os de sa�de mental, tendem a perceber as vozes como assustadoras e negativas e consequentemente estabelecem uma rela��o negativa e se mostram menos preparados para lidarem com elas.21

Desde modo, � relevante que as/os profissionais da sa�de conhe�am a hist�ria de vida dos/as adolescentes para identificar quais fatores s�o capazes de persuadir o sentido atribu�do �s vozes, a rela��o que as/os adolescentes estabelecem com elas, para conjuntamente criarem estrat�gias de enfrentamento.

Quando as/os adolescentes oferecem um sentido construtivo e estabelecem uma rela��o positiva com as vozes, elas podem produzir influ�ncias favor�veis no comportamento e a��es das pessoas que as ouvem.� As narrativas a seguir s�o exemplos de como as vozes influenciaram de maneira positiva as/os adolescentes deste estudo.

Uns s�o bons (as vozes) para mim sabe, esses dias eu quase, eu quase morri n� a� me avisaram e tal e a� n�o fui pra onde eu deveria ter ido, pra escola. (Girassol)

Quando eu t� em prova ou quando eu vou fazer alguma coisa errada ela me diz o certo, a (voz) boa n�. (Judai)

O v� s� me influencia coisa boa a tia tamb�m. (Ana Clara)

Quando as/os adolescentes atribuem um sentido positivo para as vozes e estabelecem uma rela��o de confian�a com elas, a forma que elas influenciam na vida tendem a ser favor�vel nas atividades da vida cotidiana como revelou as narrativas de Girassol, Judai e Ana Clara. No entanto, sabe-se que o contr�rio tamb�m pode acontecer, em especial quando o conte�do das vozes � negativo ou amea�ador.17 Portanto, saber de que modo essa experi�ncia influencia na vida das/dos adolescentes � fundamental para construir estrat�gias de conviv�ncia ou de enfrentamento para que as/os adolescentes possam viver sem preju�zos emocionais, sociais e psicol�gicos.

��s vezes eles n�o vem pra te fazer mal, s� que tu tens que entender� - estrat�gia de conviv�ncia e/ou enfrentamento

O Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes considera as pessoas que ouvem vozes que as outras pessoas n�o ouvem como expertises por experi�ncia, sendo capazes de criar estrat�gias para lidar com as vozes. Dentre as estrat�gias para estabelecer uma melhor rela��o com elas, os grupos de auto m�tua ajuda tem sido uma possibilidade de aprendizado para enfrentamento e recupera��o do controle das vozes por meio da troca e compartilhamento das experi�ncias.2

Os relatos encontrados nas entrevistas trazem estrat�gias utilizadas pelos adolescentes. � poss�vel observar que muitas delas s�o interligadas as cren�as religiosas, mas tamb�m � sentimentos de felicidade e atividades como cantar e ouvir m�sica, realizar desenhos, falar sozinha, se divertir e se esconder, como traz a narrativa Santa, Flor, Girassol, Judai, Bruna e L�. H� ouvidores que possuem rela��es positivas com as suas vozes, como por exemplo Rafael, que a partir de sua fala, mostra a satisfa��o e aceita��o das vozes como companhias.

Acho que escutar sei l�, uma m�sica ou outra coisa. (Flor)

Quando eu me divirto [...] �, por exemplo, esses dias eu tava com meu pai n� e a gente se diverte bastante e a� eu fico feliz assim alegre e eles param, e eles n�o vem por dois dias por exemplo sabe, a� minha m�e diz tem que t� sempre alegre, s� que n�o d� muito n�. (Girassol)

Bom as vezes eu consigo, eu boto o capuz e tranco os ouvidos [...] assim, as vezes eu quando elas me falam eu acabo fazendo desenhos. (Judai)

Minhas guias e fluido [...] assim, eu vou escutando, da� eu vou chamando tipo as entidades. Vou chamando o pessoal que eu confio n�, Orix�s que eu confio e a� vou me acalmando. (Santa)

Eu canto louvor. (Harley)

Eu come�o a fala sozinha. (Bruna)

Eu digo sai e eu me escondo, mas elas me acham [...], a� eu choro [...] �s vezes elas v�o embora [...] outras vezes elas n�o saem. (L�)

�Eu n�o, porque � at� bom, porque eu gosto de ficar falando�. (Rafael)

A primeira op��o utilizada para enfrentamento que s�o adotadas pelos ouvidores, � ignorar as vozes, por�m, pesquisas apresentam que esta n�o � uma t�cnica eficaz.22 Desse modo, ressalta-se a import�ncia de que os ouvidores possam conhecer as suas pr�prias estrat�gias ao longo do tempo, pois muitas estrat�gias podem servir para algumas pessoas e n�o para outras e elas podem se modificar.23

Como ponto final das entrevistas, foi solicitado aos ouvidores de vozes uma frase que considerasse importante a ser dita para outros ouvidores, com o intuito de melhorar a conviv�ncia com as suas vozes. Foram manifestados atrav�s pelas falas, principalmente, a busca por um entendimento da sua experi�ncia, apontando para a diminui��o do estigma que est� atrelado �s vozes, tamb�m atividades que proporcionem prazer, apontando para a diminui��o do estigma.

Eu ia te falar para tu tentar te distrair com alguma coisa que tu goste, que nem eles (profissionais do servi�o) me ensinaram. (Manu)

Eu acho que assim as pessoas t�m muito medo de mortos, mas �s vezes eles n�o vem pra te fazer mal, s� que tu tem que entender que � ai que t� o leve problema [...] leve problema de entender, porque tu n�o sabe se eles querem te fazer o mal ou eles querem te fazer o bem, eles podem vim pra te auxiliar, tu pode enxergar um anjo de branco, alguma coisa de branco e acha que tu t� vendo alguma coisa ruim e �s vezes � s� um conforto, ent�o eu acho que tu tem que medir os dois lados numa balan�a, um equil�brio. (Santa)

Se uma pessoa escuta vozes n�o � um defeito, isso � uma coisa muito especial da pessoa. (Ana Clara)

N�o sei, procura entender as vozes e procura um tratamento. (Bruna)

Eu diria para ela se acalmar, mas eu acho que n�o d� certo porque eu n�o consigo, � eu acho que � s� isso. (L�)

Ah pra continua tomando rem�dio e levar de boa [...] n�o d� assim pra te fala bah t� ouvindo voz, t� louco, n�o d� [...] tem que seguir se tu ficar assim, bah! Ai sim tu vai ficar mesmo [...] eu fui um eu n�o vou enlouquecer, bah eu n�o vou ficar ai t� ouvindo vozes [...] eu vou ir [...] eu vou continuar a vida. (Zack)

A audi��o de vozes tende a ser uma experi�ncia vivenciada em completa solid�o, devido ao estigma de sua associa��o com o diagn�stico de esquizofrenia. A experi�ncia de parte das autoras deste estudo tanto como pessoas que ouvem vozes e/ou como moderadoras de grupos de ouvidores/as de vozes tem verificado que o enfrentamento das vozes contribui na busca de um significado e n�o de um diagn�stico psiqui�trico. Pensar em distintas maneiras de lidar com as vozes auxilia e refor�a o poder do ouvidor sobre a sua experi�ncia, al�m disso, estabelece rela��es que promovem a aceita��o.

As estrat�gias permitem que os ouvidores de vozes possam estabelecer um contato direto com as suas vozes, tais como melhora nas suas rela��es pessoais, com redu��o das influ�ncias n�o desej�veis no seu cotidiano. Assim, contrap�e o que o modelo biom�dico ressalta, que a �nica alternativa � a redu��o das vozes pelo uso de psicof�rmacos. Deste modo, refor�a-se a import�ncia dos grupos e da participa��o dos ouvidores nestes, para compartilharem suas experi�ncias e estrat�gias que possam acrescentar em suas viv�ncias com as mesmas e na vida cotidiana.24-26

CONSIDERA��ES FINAIS

Com este trabalho foi poss�vel compreender as percep��es dos adolescentes na sua experi�ncia da audi��o de vozes sobre a influ�ncia, o conte�do e as estrat�gias utilizadas para enfrentamento e conviv�ncia com elas. O Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes contribui para a despatologiza��o e desestigmatiza��o desta experi�ncia, ao demonstrar que os sintomas psiqui�tricos na perspectiva biom�dica reduzem essa experi�ncia a uma explica��o biologizante, sem considerar o contexto de vida de quem ouve vozes que outras pessoas n�o ouvem.�

Esta pesquisa contribuiu para que os adolescentes ouvidores se sentissem acolhidos nas entrevistas, pois ao serem conduzidas em conson�ncia com a abordagem do Movimento possibilitou que aos poucos os adolescentes fossem desconstruindo a compreens�o das vozes exclusivamente pelo vi�s psiqui�trico.�

Entende-se a necessidade da compreens�o da experi�ncia de ouvir as vozes � que outras pessoas n�o ouvem � a partir das novas abordagens em sa�de mental, neste caso, pelo Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes, o qual autoriza o di�logo e a escuta dessa experi�ncia livre de preconceitos. Dessa forma, a/o adolescente ouvidora/ ouvidor se sente � vontade para narrar sua experi�ncia de forma ampla e pessoal, o que possibilita a investiga��o do conte�do das vozes, bem como, as influ�ncias que elas causam na vida dessas/es adolescentes. � vista disso, � poss�vel desenvolver condutas terap�uticas que evitem a patologiza��o e a medicaliza��o da vida.

Contudo, destaca-se algumas limita��es como a dificuldade de contato telef�nico atualizado no prontu�rio dos adolescentes e a presen�a deles no dia e hor�rio agendado para as entrevistas.

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Recebido em: 11/09/2022

Aceito em: 03/06/2023

Publicado em: 20/07/2023



[1] Prefeitura Municipal de Pelotas (PMP). Pelotas, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: jessicasteuermenna@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0001-5792-9003

[2] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: arianecguedes@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-5269-787X

[3] Instituto Federal de Educa��o, Ci�ncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). Rio Grande, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: roberta.machado@riogrande.ifrs.edu.br ORCID: http://orcid.org/0000-0002-9087-6457

[4] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: kantorskiluciane@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9726-3162

[5] Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Uruguaiana, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: liaubessi@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-5884-9969

[6] Prefeitura Municipal de Viam�o (PMV). Viam�o, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: thyliatsouza@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7086-0853

 

Como citar: Menna JS, Guedes AC, Machado RA, Kantorski LP, Ubessi LD, Souza TT. �Se uma pessoa escuta vozes n�o � um defeito�: experi�ncia de adolescentes que ouvem vozes. J. nurs. health. 2023;13(2):e13221684. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v13i1.21684