ARTIGO ORIGINAL

Entre os livros e o bebê: reorganização familiar em apoio à nutriz-estudante universitária

Between books and the baby: family reorganization in support of the university student lactating mother

Entre los libros y el bebé: reorganización familiar en apoyo a la madre lactante-estudiante universitaria

Van der Sand, Isabel Cristina Pacheco;[1] Cabral, Fernanda Beheregaray;[2] Girardon-Perlini, Nara Marilene Oliveira;[3] Hildebrandt, Leila Mariza;[4] Silveira, Andressa da;[5] Massariol, Ana Maria[6]

RESUMO

Objetivo: conhecer vivências de famílias de mulheres que decidiram amamentar durante a graduação em enfermagem. Método: estudo exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa, realizado em município do sul do Brasil em 2016. Participaram da investigação seis famílias de mulheres, universitárias ou egressas, com vivência do processo de amamentação durante o curso de graduação em enfermagem, totalizando 16 participantes. Para produção de dados, utilizou-se a entrevista aberta e construção de genograma, os quais foram submetidos à análise de conteúdo temática. Resultados: as categorias elaboradas revelam sobre a reorganização da dinâmica familiar em apoio à decisão da mulher de amamentar e continuar seus estudos. Conclusão: as famílias reorganizam seus cotidianos para atender às demandas oriundas do nascimento de um bebê, em que companheiro e avó materna contribuem nas diferentes tarefas domésticas e cuidados à criança, para que a estudante nutriz continue amamentando, reforçando o vínculo mãe e filho, e mantenha seus estudos.

Descritores: Aleitamento materno; Família; Relações familiares; Estudantes de enfermagem; Enfermagem familiar

ABSTRACT

Objective: to learn about the experiences of families of women who decided to breastfeed during their nursing graduation. Method: qualitative study conducted in a municipality in southern Brazil in 2016. Six families of women, university students or graduates, with experience of the breastfeeding process during the undergraduate nursing course, participated in the investigation, totaling sixteen participants. The data was from open interviews and genogram construction and treated by content analysis. Results: the elaborated categories reveal the reorganization of family dynamics in support of the woman's decision to breastfeed and continue her studies. Conclusion: families reorganize their daily lives to meet the demands arising from the birth of a baby, in which the partner and maternal grandmother contribute to the different household tasks and care for the child, so that the nursing student continues to breastfeed, reinforcing the mother-child bond, and keep your studies.

Descriptors: Breast feeding; Family; Family relations; Students, nursing; Family nursing

RESUMEN

Objetivo: conocer las experiencias de familias de mujeres que decidieron amamantar durante su graduación en enfermería. Método: estudio cualitativo realizado en un municipio del sur de Brasil en 2016. Participaron de la investigación seis familias de mujeres, estudiantes universitarias o graduadas, con vivencia del proceso de lactancia materna durante el curso de graduación en enfermería, totalizando dieciséis participantes. Los datos fueron de entrevistas abiertas y construcción de genograma y tratados por análisis de contenido. Resultados: tiene la reorganización de la dinámica familiar en apoyo a la decisión de la mujer de amamantar y continuar sus estudios. Conclusión: las familias reorganizan su cotidiano para atender las demandas derivadas del nacimiento de un bebé, en el cual la pareja y abuela materna contribuyen en las diferentes tareas del hogar y cuidado del niño, para que la estudiante de enfermería continúe amamantando, reforzando vínculo de la madre con hijo, y manteniendo tus estudios.

Descriptores: Lactancia materna; Familia; Relaciones familiares; Estudiantes de enfermería; Enfermería de la familia

INTRODUÇÃO

No século passado, era incomum uma mulher em processo de amamentação dedicar-se ao trabalho e aos estudos. Porém, nos dias atuais esta é uma realidade, considerando que a primeira gravidez em mulheres do sul do Brasil, local em que este estudo foi realizado, ocorre por volta dos 22 anos, faixa etária em que jovens estão ingressando, cursando ou até mesmo, em fase de conclusão da graduação.1 Esse fato instigou as autoras a debruçarem-se sobre a temática da amamentação vivenciada por universitárias e sua repercussão sobre a dinâmica familiar, entendida como movimentos realizados pelos membros das famílias na rotina diária e no enfrentamento de eventos que acometam o grupo familiar, tais como doenças, conflitos e outras adversidades.2

O interesse pela dinâmica familiar no contexto da amamentação e vida universitária justifica-se porque, para muitas mulheres-estudantes-nutrizes, a família é a base e o suporte para a continuidade dos estudos, o que geralmente exige reorganização de sua dinâmica. Neste estudo será usada a imexpressão mulher-estudante-nutriz, o que decorre de uma opção teórico-metodológica e filosófica, pois se entende que as mulheres, na gravidez e como nutrizes, vivenciam situação que é transitória, a qual, apesar da transitoriedade, tende a inviabilizar a mulher como sujeito social de necessidades, demandas e vulnerabilidades que estão para além da maternidade e de sua condição de lactante. Ainda, essa será empregada no singular ou plural, conforme a necessidade gramatical como referência a mulheres que vivem ou viveram a situação de estudar e amamentar, estudantes ou egressas.

A definição de família, propriamente dita, constitui-se em tarefa complexa, dadas as diferentes conformações existentes. Por outro lado, é inquestionável que a família, independentemente de sua formação, tem implicações nas escolhas relacionadas à saúde de seus membros3-4 e, neste caso, na decisão de aleitar e dar continuidade aos estudos universitários. Assim, a definição de família adotada nesta pesquisa remete a de que é família quem seus membros dizem que são.2

No Brasil é garantido, à estudante, regime de estudos domiciliares a partir do oitavo mês de gestação e três meses posteriores à data de nascimento da criança. Portanto, pressupõe-se que as mulheres-estudantes-nutrizes, se desejarem, terão os três primeiros meses para amamentar seu bebê no domicílio. Entretanto, o direito a exercícios domiciliares não se aplica a disciplinas com atividades práticas ou estágios supervisionados,5 o que reflete na necessidade de as estudantes de graduação retornarem para o âmbito universitário e implica na redução e, em alguns casos, na interrupção da amamentação exclusiva.

Desta forma, conciliar a continuidade da amamentação com a graduação pode ser desafiador e gerar sobrecarga, o que potencialmente refletirá na qualidade de vida dessa mulher-estudante-nutriz. Neste sentido, é fundamental a existência de uma rede apoio à mulher, representada pela família e pela instituição de ensino.6-8

O grupo familiar modula, por meio da cultura e transmissão de experiências, os preceitos de quão importante é ou não amamentar, sendo relevante que a Enfermagem conheça e compreenda a dinâmica familiar, a fim de produzir com a família práticas de promoção, apoio e incentivo à amamentação.3 Salienta-se que, neste estudo, há o entendimento de que a família é um núcleo de cuidados, ou seja, que presta cuidados e os demanda. Compreende-se, assim, que aleitar transcende ao desejo exclusivo da mulher, ou seja, a família e a sociedade são determinantes nas decisões relativas à temática.

Frente a essas considerações, tem-se como questão de pesquisa: como se dá a vivência da família de mulheres-nutrizes-estudantes que decidem amamentar durante um curso de graduação em enfermagem? Objetiva-se conhecer vivências de famílias de mulheres que decidiram amamentar durante a graduação em enfermagem

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de caso de abordagem qualitativa, realizado em município do sul do Brasil. Essa estratégia metodológica investiga, em profundidade, fenômenos sociais contemporâneos em seu contexto de vida, desde uma problemática mais ampla, mediante a particularização do caso que, apesar do caráter singular, possibilita a apreensão de muitos aspectos ou experiências que são gerais e que podem ser transferíveis a outros casos pelas similaridades das condições particulares e contextuais de cada situação.9

O estudo iniciou-se com a identificação e localização de estudantes do curso de enfermagem, de um dos campi de uma universidade pública do Sul do Brasil, que tivessem vivenciado ou vivenciando a situação de continuar os estudos universitários em concomitância ao aleitamento materno. A partir da apresentação da proposta de pesquisa à coordenação do curso de enfermagem, realizou-se a visita às cinco turmas que compõem o curso. Aí foi explicitado o objetivo do estudo e emitido convite às estudantes que se adequassem ao fenômeno de interesse ao estudo. O convite aos familiares foi realizado pelas estudantes, não havendo limite no número de participantes, justificado pela definição de família adotada no estudo. Foi solicitada também, nessa ocasião, a indicação de egressas que tiveram essa vivência.

A opção pelas estudantes e egressas de um curso de enfermagem, para chegar às suas famílias, justifica-se pela elevada carga horária de disciplinas teórico-práticas no curso, o que as limita na obtenção de licença-maternidade e pode interferir de algum modo no processo de amamentação. Desta forma, adotaram-se como critérios de seleção para o estudo, referentes às estudantes/egressas, que essas tivessem sido gestantes durante o curso e desejado amamentar. Quantos aos familiares, esses deveriam ter sido indicados pela estudante/egressa e estar domiciliado no município-sede do campus onde foi realizado o estudo.

Após o aceite, agendou-se a visita ao domicílio, na qual a pesquisadora apresentou à família o objetivo do estudo e a trajetória metodológica e, na concordância dos familiares indicados, foi iniciado o processo de coleta de dados.

O tamanho da amostra foi definido pelo processo de saturação dos dados, entendido não somente pela revelação de redundância e duplicação de conteúdo, mas também como algo que deve refletir “as múltiplas dimensões de determinado fenômeno e a qualidade das ações e das interações em todo o decorrer do processo”, cuja determinação aconteceu durante a coleta dos dados.10:9 Assim, participaram do estudo seis famílias, com um total de dezesseis indivíduos: seis mulheres-estudantes-nutrizes, das quais quatro eram estudantes e duas egressas; três companheiros; e, sete avós dos filhos dessas mulheres, sendo quatro maternas, uma paterna, um avô materno e um paterno. Um dos familiares convidados recusou-se a participar do estudo.

A produção de dados ocorreu em 2016, por meio de entrevista realizada no domicílio das famílias, devido à percepção de que as interações entre os membros do núcleo familiar mostram-se mais intensas e fiéis à realidade nesse cenário, visto que esse é um ambiente conhecido aos participantes da investigação, sendo propício, inclusive, para a promoção de alguns rituais de sociabilidade na presença do pesquisador, o que pode auxiliar na compreensão do fenômeno em estudo.2

A entrevista teve duração média de 40 minutos, foi gravada em mídia digital e transcrita, manualmente, a partir das seguintes questões: Como foi, para a família, da mulher-estudante-nutriz, seguir estudando enquanto amamentou ou desejou amamentar? Conte-me o que ocorreu. As transcrições das entrevistas não foram validadas pelos participantes.

Além da questão aberta, foi elaborado junto com os participantes o genograma da família, por ser um diagrama representativo do grupo familiar, ferramenta fundamental para que a enfermeira/pesquisadora possa ‘pensar a família’.2

Destaca-se que, a partir de cada entrevista, houve registro em diário de campo acerca da experiência da entrevistadora no encontro com cada família. Nele registraram-se as peculiaridades e especificidades relativas à constituição de cada núcleo familiar, as relações percebidas pela pesquisadora que parecem permear a convivência em família. Na interação com cada família, constatou-se a necessidade e a expectativa de cada núcleo familiar em falar e ser ouvido.

Os dados produzidos foram submetidos à análise temática11 composta por três etapas. Na pré-análise, procedeu-se a leitura exaustiva mediante o contato com o material produzido a fim de se obter a impregnação das informações aí contidas; na etapa de exploração do material, os dados foram categorizados, recortando-se o texto e agrupando-se as unidades de registro por afinidade temática; por último, buscou-se a compreensão e interpretação dos resultados, integrando-os ao referencial de ancoragem e de cotejamento.

O estudo foi orientado pela diretriz Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ). A pesquisa respeitou os preceitos da Resolução 466/2012 e foi aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) conforme Parecer nº. 1.487.594. Assim, se garantiu a confidencialidade das informações e o anonimato dos participantes/famílias, utilizando-se codificação para cada família e seus membros. Para a primeira família a inserir-se no estudo foi usado o código F1; para a mulher que estudou durante o processo de amamentação desta família usou-se um código correspondente à mulher-estudante-nutriz e a identificação de sua família (MEN-F1); para os familiares escolhidos por ela para participar do estudo foram utilizados os seguintes códigos: C-F1, para o companheiro; AM para avó materna; AP para a avó paterna; AM para avô materno.

RESULTADOS

Referente à caracterização dos participantes deste estudo, das seis mulheres que tiveram a experiência de amamentar seus filhos enquanto cursavam enfermagem, à época da entrevista, duas já haviam concluído a graduação e quatro ainda estavam cursando enfermagem. Dentre as participantes, quatro, ao engravidar, estavam na faixa etária dos 20 anos, enquanto duas tinham 30 anos ou mais. Quanto ao estado civil, uma era casada, duas viviam em regime de união estável, duas eram separadas/divorciadas e uma era solteira. Quanto à ocupação, das quatro estudantes, uma, além de estudar, exercia atividade laboral; entre as egressas, ambas trabalhavam, uma como enfermeira e a outra não. Em relação à modalidade de aleitamento materno, quatro mantiveram o aleitamento materno misto desde que retornaram ao meio acadêmico, enquanto uma amamentou exclusivamente até o quarto mês e outra até o sexto. Esta se afastou das atividades acadêmicas durante um ano, por meio de solicitação de trancamento do curso, utilizando-se duas vezes desse recurso. Outras características encontram-se no Quadro 1.

Quadro 1: Caracterização das mulheres-nutrizes-estudantes participantes do estudo, Rio Grande do Sul, Brasil, 2017.

Participante

Modalidade de AM

Idade do lactente no retorno à universidade

Idade do desmame

Semestre curricular de retorno à universidade

Número de disciplinas cursadas

Planejamento da gestação

MEN 1

Misto

23 dias

6 meses

Todas do semestre

Não

MEN 2

Misto

40 dias

7 meses

Todas do semestre

Não

MEN 3

Misto

2 meses

1 ano e 4 meses

Todas do semestre

Sim

MEN 4

Exclusivo até 6º mês

8 meses

Ainda é amamentado

(tem 2 anos)

Não

Não

MEN 5

Misto

15 dias

20 dias

Todas do semestre

Não

MEN 6

Exclusivo até 4º mês - após, misto

1 mês

9 meses

Todas do semestre

Não

MEN= Mulher-estudante-nutriz; AM= Aleitamento Materno.

Fonte: Relatório de pesquisa, 2017.

A Figura 1 faz a representação da constituição das famílias definidas pelas mulheres-estudantes-nutrizes, a partir dos genogramas.

Figura 1: Genogramas das famílias participantes do estudo.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Cabe ainda mencionar que na família 1, enquanto a mulher-estudante-nutriz estava em estágio curricular supervisionado seu filho era cuidado pelo seu companheiro. Percebe-se cumplicidade do casal na divisão dos cuidados com a criança e das tarefas domésticas, evidenciando harmonia e aproximação entre ambos. Na família 2, o bebê ficava aos cuidados da avó materna, quando a mulher-estudante-nutriz necessitava se afastar por ocasião de seus estudos. Já na família 3, a avó materna da criança dedicava-se aos cuidados do neto, que ficava sob sua responsabilidade quando a mulher-estudante-nutriz precisava ausentar-se para atividades acadêmicas; ela cuidava também dos afazeres domésticos em sua casa. Para a família 4, também era a avó materna que cuidava do neto enquanto a mulher-estudante-nutriz dedicava-se aos estudos. Além disso, ela cuidava do lar e revendia produtos de beleza por catálogo. E, para a família 5, egressa, enquanto mulher-estudante-nutriz, contou com a mãe como cuidadora principal da neta, que se dedicava também aos cuidados da casa, tendo deixado de contribuir no empreendimento familiar após o nascimento da criança. Por fim, na família 6, a avó paterna, professora universitária, auxiliava nos cuidados ao neto, mas os cuidados principais eram realizados pela própria mãe quando esta frequentava a universidade. O ex-marido, pai da criança, que residia em outra cidade, foi citado, pela mulher-estudante-nutriz, como importante para ter conseguido estudar e amamentar.

A partir das unidades de registro, selecionadas por semelhança de significado e sentido entre si, elaborou-se a categoria analítica que trata da reorganização da dinâmica da família em apoio à decisão da mulher em dar continuidade aos estudos amamentando seu bebê.

Entre os livros e o bebê: reorganização da dinâmica familiar em apoio à estudante-nutriz-universitária

As reorganizações na dinâmica das famílias deste estudo mostraram-se singulares, considerando-se que cada uma tem suas particularidades na forma de compreender e vivenciar o cotidiano quando do nascimento de um bebê. Contudo, apresentam semelhanças entre si, visto que os membros da família empreenderam adequações em suas rotinas pessoais e coletivas na dependência da interpretação dada às necessidades da mulher que amamenta quando do seu retorno à rotina acadêmica.

As mudanças transcendem as vivências intrafamiliares, refletindo-se também no cenário externo à família propriamente dita. Alguns dos companheiros dessas mulheres-índices articularam estratégias no mundo do trabalho para que pudessem conciliar com as necessidades da vida pessoal que foi transformada pela chegada da criança e com a decisão de que a mulher-estudante-nutriz deveria dar continuidade aos estudos. Nessa lógica, esses homens, por vezes, utilizaram-se do período de férias e de eventuais reduções de carga horária para cuidar do bebê na ausência da mãe-estudante.

Adiei minhas férias para, no momento que ela voltasse a estudar, eu pudesse ficar com a nenê em casa. [C–F1]

Nessa perspectiva, em uma das famílias, o companheiro responsabilizava-se por levar o bebê ao ambiente de estudos da mãe para ser amamentado, o que incluía locais de atividades práticas e estágios desenvolvidos em vários pontos da rede de atenção à saúde, até o hospital.

Quando eu estava de estágio, era ele que levava ela para mamar. Quando eu não vinha, ele a levava. E tinha a rotina, horário certo: nove horas batia lá no estágio. [MEN-F1]

Outro recurso, não sistemático, de reorganização familiar constitui-se em a mulher-índice levar o bebê para a instituição de ensino, para poder cuidá-lo e amamentá-lo.

Teve umas vezes que eu o levei na faculdade. Era bebê, porque daí eles não incomodam. Por vezes, meu marido tinha que trabalhar, a mãe tinha um compromisso, daí ele ia junto comigo, só que tirava um pouco a concentração dos colegas (risos). [MEN–F2]

Há também transformações econômico-financeiras, pois, com a chegada do bebê alguns decidiram pela contratação de alguém para auxiliar nas tarefas domésticas, o que contribuiu na liberação da avó para o cuidado do neto, reforçando a possibilidade de a família apoiar à mulher na decisão de dar continuidade aos estudos universitários.

Mudamos! Quando ele ficou maiorzinho pegamos uma cozinheira, uma mulher para limpar a casa, para eu cuidar dele, porque o meu genro trabalha de manhã e daí eu que fico com ele. Eu e o tio. Passamos envolvidos com ele. [AM–F2]

Aqui em casa era todo mundo se unindo. E o pai passou a pagar uma funcionária para ajudar a mãe (risos). O bebê fez uma reviravolta aqui. [MEN – F2]

Na casa tem a empregada que faz todo o serviço, mas, mesmo assim, mudou o serviço até com a empregada, porque aumentou o trabalho dela. [MEN–F5]

Para as famílias que não contam com uma empregada doméstica, as atividades rotineiras da casa recaem sobre o cuidador do bebê, o que representa certa sobrecarga sobre esse membro do núcleo familiar, apesar dos rearranjos realizados.

Eu fazia todo o serviço: lavava, passava, cozinhava e cuidava do bebê. [AM–F3]

A mãe fazia todo o serviço de rua da empresa, mas com a chegada do nenê passou a não fazer mais. Com isso, sobrecarregou meu pai, que, além de fazer toda a administração da empresa, ainda tinha que fazer todo o serviço de banco e algumas entregas. [MEN–F5]

Além das avós e dos companheiros, outros membros da família, como os tios e o avô, participaram do cuidado ao bebê, desempenhando atividades que não faziam anteriormente.

Até o tio, meu irmão mais novo, ajudou muito. Na faculdade eu pensava: ‘Será que o nenê está dormindo? Será que não está chorando?’ Aí eu mandava mensagem pelo celular perguntando e ele me mandava foto do meu filho dormindo, enquanto meu irmão ficava sentado ao lado, cuidando dele. [MEN-F2]

A minha filha, tia do bebê, mora perto aqui de casa. Ficou mais tranquilo, porque ela também cuidava do nenê quando precisava (AP – F6).

O avô também ajudava cuidar. Quando eu tinha roupa para lavar, ele ficava atendendo o nenê, brincava com ele, ficava balançando o neto; às vezes, o bebê até dormia. [AM–F3]

Os dados revelam que as famílias valoram tanto a continuidade dos estudos como o bem-estar da criança representado pelo aleitamento materno, o que as mobiliza para reorganização de sua dinâmica. A partir dessa lógica, as atribuições, que comumente são desempenhadas pela mãe do lactente, são delegadas a outros membros do núcleo familiar, como se vê nas manifestações a seguir.

Me dediquei 24 horas por dia cuidando direto dos dois. [AM-F4]

Passei a ser a mãe da minha neta, pois minha filha tinha que estudar. [AM-F5]

A gente sabe da importância da amamentação na fase inicial da criança, então incentivamos para que ela amamentasse, apesar das dificuldades: ir para a faculdade, voltar, às vezes chegar atrasada. Demos a maior força. Era importante para nosso netinho. [AP–F2]

Desde quando ela engravidou nós sentamos e conversamos. Perguntei: ‘você vai parar ou você vai continuar?’. Ela respondeu: ‘Vou continuar’. Respondi: ‘se você vai continuar, vou te apoiar’. [C–F1]

Ela tentou desistir umas duas ou três vezes da faculdade, mas não deixei. A gente sempre deu força para ela. Ela amamentou sete meses por minha causa, senão ela desistia. [C–F2]

Por outro lado, em uma das famílias, em que as cólicas do bebê foram interpretadas como um agravo à sua saúde, o bem-estar da criança sobrepujou o valor à continuidade da graduação. Esta interpretação repercutiu na dinâmica familiar, com a avó da criança decidindo pelo afastamento temporário de sua filha das atividades acadêmicas. Esse bebê foi amamentado exclusivamente até o sexto mês de vida e com dois anos de vida ainda estava em aleitamento materno.

Achei essencial que ele fosse amamentado, não só para ela ter o afeto com o bebezinho, mas também para saúde dele. Ele teve cólica até três meses, sofreu, achei melhor trancar a faculdade para ter o momento com ele. Ele precisava de mais cuidado. Era o melhor remédio também e não ia se adaptar com qualquer leite. Mamou, ainda mama. [AM-F4]

Por fim, em uma das famílias, as experiências prévias negativas da mulher-estudante-nutriz relativas ao aleitamento materno comprometeram a família no sentido de apoiá-la em sua decisão de amamentar o filho mais novo. Isto, portanto, colocou-se como motivo suficiente para a reorganização familiar em prol do aleitamento materno, respeitando a decisão da mulher índice em continuar seus estudos.

Eu sabia da importância, porque no meu primeiro filho eu amamentei só quinze dias, então eu queria amamentar mais tempo este bebê. [MEN–F2]

Esta categoria temática indica a importância de que as particularidades de cada família sejam reconhecidas. Outrossim, intervenções de enfermagem podem ser específicas e singulares, conforme suas mudanças e rearranjos, seus anseios e necessidades, a todos os membros do sistema familiar e da família como um todo de modo a considerá-la um núcleo que desenvolve cuidados, contudo, precisa de compreensão, respeito e apoio.

DISCUSSÃO

A chegada de um novo membro à família causa transformações em sua dinâmica. Toda mudança gera nas pessoas e nos núcleos familiares sentimentos e sensações que, como em uma gangorra, transitam entre baixos e altos. Com relação aos ‘baixos’, esses se associam, dentre outros motivos, com o temor ao desconhecido e o estresse gerado pelos desajustes que levam aos rearranjos. Quanto aos ‘altos’, dessa alegoria, esses se referem, dentre outros fatores, à satisfação da retomada do equilíbrio após a crise e/ou à harmonia reestabelecida no núcleo familiar. Por isso, mesmo com semelhanças entre si, cada família tem uma forma específica de se organizar diante das mudanças exigidas no processo do nascimento. Essas especificidades são moduladas de acordo com os princípios, as vivências prévias e as crenças de cada unidade familiar, influenciadas por múltiplos saberes que compõem o contexto cultural em que se inserem e, por isso, a torna uma unidade de cuidado singular.

Destaca-se a distinção entre ‘desenvolvimento da família’ e ‘ciclo vital da família’. O primeiro enfatiza a trajetória única construída por cada núcleo familiar e é modelado por acontecimentos previsíveis e imprevisíveis, como doenças, catástrofes e tendências da sociedade. Já o segundo se refere às trajetórias típicas da maioria dos núcleos familiares, como as ‘entradas’ e ‘saídas’ de membros da família (nascimentos, saída de filhos de casa e óbitos). Esses eventos no ciclo vital das famílias geram mudanças que concorrem para que essas reorganizem seus papéis e suas regras.2 Tal observação foi constatada neste estudo, na medida em que a decisão da mulher-estudante-nutriz de amamentar e dar continuidade aos estudos repercute de forma significativa na família, alterando sua rotina e modificando a sua organização.

Contudo, identifica-se que a avó materna é o componente familiar que tem sua rotina mais modificada para dar suporte à mulher-estudante-nutriz, o que se assemelha aos achados de estudo em que as nutrizes tenderam a procurar ajuda para a resolução de suas problemáticas, primariamente, junto a familiares do sexo feminino, visto que estas são a referência na sua rede social e são vistas como sujeitos experientes.7 Os rearranjos familiares, que atingem principalmente a mãe da mulher-estudante-nutriz, podem ser justificados, dentre outros fatores que são trazidos mais adiante nesta discussão, porque a amamentação é aprendida e transmitida de mães para filhas, a partir do compartilhamento de experiências, as quais, muitas vezes, contribuem para empoderar a nutriz. Nessa perspectiva, quando a experiência das avós é reconhecida, pela mulher grávida ou nutriz, como positiva, elas tornam-se referência para suas filhas, orientando-as e influenciando-as.3, 7,12

Por outro lado, na medida em que há casos em que as avós afirmam dedicar-se exclusivamente aos cuidados do neto, os dados indicam que elas podem tomar, para si, atribuições que são cuidados maternos, o que pode levar à confusão de papéis dentro do núcleo familiar. Diante disso, percebe-se a necessidade de o enfermeiro, em conjunto com as famílias, tecer reflexões sobre os sentidos e os significados de a avó ‘tornar-se mãe de seu neto’. Essa transferência de responsabilidades para as avós do bebê leva a uma modificação nos limites dos membros de uma família, os quais dizem respeito às regras para garantir a diferenciação deles dentro de um sistema familiar, ou seja, representam o que é atribuição de cada indivíduo que compõe esse núcleo.

Salienta-se que esses limites podem ser difusos (quando há a diminuição das diferenças entre os componentes do sistema familiar, com esses tornando-se muito íntimos e, com isso, perdendo a autonomia e a individualidade), rígidos (quando as decisões são definidas por um ou dois membros e são acatadas por todos sem possibilidade de questionamento ou de divergências, o que gera uma tendência do núcleo à separação) ou permeáveis (existe uma adequada flexibilidade, na qual existem regras passíveis de modificações). Esses limites têm tendência à mudança com o decorrer do tempo e podem tornar-se imprecisos frente a alterações na dinâmica das famílias, tais como no nascimento ou por ocasião do óbito de familiares.2

As transições relatadas pelas avós maternas neste estudo podem representar uma das fases na reorganização da família, na qual os limites são ambíguos e mantêm-se em alternância, quando a mulher-estudante-nutriz permite que os limites de sua relação com o seu bebê tornem-se permeáveis, para que a avó materna possa penetrar na interação do binômio mãe-filho e ‘modificar as regras’ da organização familiar, atribuindo a si as tarefas que seriam destinadas à mulher que acaba de se tornar mãe daquela criança. Por outro lado, embora seja comum em alguns segmentos sociais a avó envolver-se com os cuidados dos netos, até mesmo criá-los, há situações em que isto pode gerar conflitos intrafamiliares. Nesses casos pode haver desentendimentos com os genitores da criança, falta de interesse dos pais no cuidado ao bebê, ou uma insatisfação das avós por terem que assumir as atribuições de mãe e não conseguirem dedicar-se aos seus netos de outra forma, devido à sua responsabilidade pela educação.13

Constitui-se desafio para a enfermagem identificar essas relações conflituosas, buscando a necessária interlocução com as famílias que atravessam essa fase para juntos, definirem os caminhos que possam minimizar tais situações. Cabe lembrar que as unidades familiares vivem, inevitavelmente, momentos difíceis que exigem delas agir, sentir e pensar, o que, por vezes, ultrapassa as suas capacidades conhecidas até então. Diante disso, faz-se necessário que os enfermeiros sejam capazes de acessar e compreender esse universo invisível do mundo privado e singular das famílias e, em seu cotidiano profissional, empreendam esforços para que as fragilidades percebidas possam ser significadas como oportunidades para fortalecimento da família e possibilidade de resolução de seus conflitos.14

Nesta investigação, a figura paterna, diferentemente de estudo já citado, teve destaque na rede social de apoio à nutriz, sendo mencionado como um pilar no incentivo ao aleitamento materno.3 O retorno da mulher-estudante-nutriz às atividades acadêmicas parece ter contribuído para fortalecer os laços do casal na busca do que seria o ideal para a sua família, além de constituir-se em dispositivo que auxilia o homem a materializar a experiência de tornar-se pai. Além disso, na medida em que a mulher permite a participação mais significativa do pai no cuidado ao filho, menor será a sua sobrecarga e maior a cumplicidade da tríade mãe-pai-criança.

Ainda, cabe tecer reflexões acerca da inserção do homem-pai nos cuidados relativos à criança, o que tem se tornado uma realidade, se contrapondo à sua participação em outras tarefas no âmbito doméstico, onde ele ainda tem participação incipiente. A despeito das transformações e ressignificações das relações entre homens e mulheres atualmente, essas se mostram como um processo a ser consolidado. É necessária uma ‘desconstrução’ da enraizada cultura de gênero, visto que as tradicionais divisões de papéis ainda resistem. Para isso, as famílias precisam ser instigadas a questionar e rever suas próprias relações e interações no grupo familiar, o que poderá repercutir em redefinição de papéis no interior desse núcleo.15-16

Percebe-se, também, que a enfermagem tem muito o que aprender com essas famílias, que se rearranjam para dar suporte à mulher-estudante-nutriz, redistribuindo as tarefas, a fim de que o grupo familiar, como um todo, e cada um de seus componentes, se reequilibrem. A partir desse entendimento, ressalta-se que, para agir de forma colaborativa com as famílias, é necessário o desenvolvimento de uma base de conhecimentos que envolva a promoção e o fortalecimento da saúde da família nos níveis relacional e sistêmico, especialmente a partir da compreensão do funcionamento do sistema de saúde da família,17 como se apresenta neste estudo.

Ainda no que tange às reorganizações familiares, outros componentes, tais como tia e avô materno da criança, também são mencionados nesta investigação. Percebe-se que esses se configuram como suporte aos cuidadores principais, representados pelos companheiros e as avós. Nessa lógica, esses membros do grupo familiar os substituem quando precisam ausentar-se por alguns momentos ocasionais. Contudo, destaca-se que entre as famílias estudadas não houve uma preferência, dentre esses substitutos, por pessoas do sexo feminino, como destacado em outros estudos que, a partir de uma perspectiva de gênero problematizam a naturalização e essencialização do cuidado como tarefa do universo feminino.16,18-19

Especificamente acerca do recurso de trancamento da matrícula por um ano, percebe-se que, na assunção da maternidade, a mulher é levada a renunciar a algumas coisas que lhes são caras e importantes, como nesse caso, os estudos. Esse seria o ‘preço’ da opção pela vida adulta, que se transforma com a chegada de um bebê.

A sobreposição do papel materno à realização profissional constatada neste estudo parece corroborar o argumento de que dentre as capilaridades de papéis que se apresentam para a mulher atualmente, a maternidade ainda representa um papel, no imaginário social como uma condição do feminino que durante muito tempo coube às mulheres e foi construída pelos valores partilhados na sociedade, criando o mito do instinto materno.20 O discurso de que a mulher deve abdicar de seus estudos para cuidar do bebê reforça um padrão cultural em superação para algumas famílias, mas ainda vigente, ou seja, de que os cuidados dos filhos, com vistas à preservação de sua saúde e bem-estar, são atribuições exclusivamente da mulher-mãe. Esse padrão pode representar um fardo que se mantêm sobre os ombros de algumas mulheres, na medida em que abdicam de alguns planos que estão para além da maternidade. Reforça-se, assim, a necessidade de perceber-se, na enfermagem de família, que as relações intrafamiliares são permeadas por questões culturais e, em consequência, de gênero, as quais modulam a dinâmica familiar e ao mesmo tempo são moduladas por elas.

Neste estudo, identificaram-se práticas adotadas pelo núcleo familiar para garantir o aleitamento materno do bebê, que, nesse contexto social e histórico, simboliza carinho, afeto, aproximação, confiança, segurança para a criança e vínculo entre mãe e filho.21 Tais práticas configuram-se em adaptações que a família realiza em suas rotinas, em reconfigurações de papeis, para possibilitar, dentre outros objetivos, que esse simbolismo tome concretude sem ferir os planos de realização profissional da mulher-estudante-nutriz que dá continuidade aos estudos. Ao apoiá-la em sua decisão, a família garante, também, a estabilidade familiar.

Essa tentativa de manter-se estável agrega no contexto das famílias um significado complexo, pois se refere a um processo de autorregulação que se dá mediante situações que desorganizam sua dinâmica e, em consequência, requerem uma reorganização do sistema familiar em busca do equilíbrio. Sendo assim, as famílias deste estudo buscam, por meio de suas reorganizações individuais (de cada membro) e coletivas (a família como um todo) a homeostasia do sistema familiar, viabilizando o retorno da mulher-estudante-nutriz às aulas e o aleitamento materno da criança, concomitantemente.

Da reflexão sobre os resultados deste estudo, apreende-se que as práticas de cuidado dirigidas às famílias precisam ser orientadas pela compreensão de que atualmente “o desejo de ter filhos costuma entrar em conflito com outros imperativos da vida da mulher como, por exemplo, com o trabalho. É preciso considerar que existem ‘tantas mulheres quantos desejos’ [...] que há nós paradoxais entre os repertórios discursivos da maternidade e a forma como cada mulher vivencia este processo. [...] há uma tensão entre o que o meio social, histórico e cultural determina, e a vivência subjetiva de cada mulher a respeito da maternidade”.19:189 Há, o entendimento de que famílias tensionadas que precisarão de cuidados para avançarem em direção à construção e conquista de um mundo permeado por relações justas e igualitárias.

Em âmbito institucional, foi aprovada a Política de Igualdade de Gênero da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), instituída pela Resolução nº 064, de 03/11/2021, que em seu Art. 29, § 3º, inciso V, garante o direito de amamentação livre em qualquer espaço da UFSM, dentre outros recursos que favoreçam ambiência adequada para sua prática.22 

Destaca-se como limitação da pesquisa o fato de ter sido desenvolvida com estudantes de enfermagem pertencentes a uma única instituição de ensino, o que pode limitar a compreensão das vivências de outras famílias. Vale destacar que a escolha por estudantes de graduação em enfermagem se deve à vinculação de uma das autoras a esse curso e o fato de ela estar amamentando nesse período. Associado a isso, a inexistência de um espaço institucional para dar suporte a essas estudantes nutrizes que acabavam sendo acolhidas e auxiliadas por docentes e colegas, de maneira informal.

Cabe salientar que, na literatura nacional, há escassez de estudos científicos que relacionem a amamentação com a continuidade dos estudos universitários, principalmente quando articulados com as repercussões na dinâmica familiar em razão do processo do aleitamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do estudo asseveram que, em cada núcleo familiar, as mudanças em sua dinâmica envolvem diversas interfaces da vida de seus membros. Dentre as transformações destacam-se as relativas ao emprego formal dos companheiros, a reorganização do cotidiano da avó materna que toma para si, em parte significativa das famílias, o cuidado do neto e, em algumas situações, assume também as tarefas domésticas da casa da filha, enquanto ela se dedica às atividades acadêmicas. A contratação de uma empregada doméstica emerge como uma alternativa em algumas famílias, cabendo aos familiares os cuidados à criança.

Referente às razões para as mudanças na dinâmica familiar, sobressaem-se os benefícios da amamentação à saúde da criança, com destaque a valorização do vínculo entre mãe e filho, e as experiências prévias da família em relação à amamentação. Esses são aspectos que compõem a cultura familiar e, como tal, orientam cada um dos seus componentes e a família como um todo para rearranjos que permitam apoiar a nutriz em suas decisões, neste caso em específico, seguir estudando e amamentando.

Os resultados deste estudo contribuem para dar visibilidade a uma problemática bastante comum dentro dos espaços das instituições de ensino superior, em especial dos cursos de enfermagem, podendo servir de subsídio para que políticas ou, pelo menos, estratégias institucionais sejam pensadas e discutidas, no âmbito das universidades, visando o incentivo ao aleitamento materno e garantia dos direitos de mães-estudantes. Além disso, esses resultados sinalizam para a importância de os profissionais de saúde, sobretudo os da atenção primária em saúde, dentre eles os enfermeiros, se aproximarem dessas famílias considerando-as como núcleos de cuidado.

Quanto à análise dos resultados, cabe salientar que, na literatura nacional, há escassez de estudos científicos que relacionem a amamentação com a continuidade dos estudos universitários, principalmente quando articulados com as repercussões na dinâmica familiar em razão do processo do aleitamento, o que representa um limitador para a discussão.

A enfermagem de família é um campo a ser mais bem explorado nos cursos de graduação em Enfermagem, em razão das diferentes conformações familiares e, também, pela forte influência da cultura familiar nas escolhas de saúde dos sujeitos e seus grupos sociais. Assim, ‘pensar na família’, elencando-a como unidade de cuidado, dentro de um modelo de atenção voltado à integralidade dos sujeitos, que dialoga com aspectos sociais, culturais, políticos e com questões de gênero, pode transformar a realidade de muitos sistemas familiares que aceitam o desafio de apoiar um dos seus membros que se decide por estudar e amamentar ao mesmo tempo.

Por fim, sugere-se que sejam realizados investimentos para contribuir na promoção do aleitamento materno, especialmente esforços para acolher mulheres-estudantes-nutrizes e encorajá-las a manter a amamentação após a retomada dos estudos universitários. Destarte, pesquisas com estudantes nutrizes de diferentes cursos de graduação podem contribuir para discussões nas instituições de ensino superior no sentido de se projetar estratégias de suporte a elas. Tais ações poderão contribuir para que elas mantenham a amamentação e o cuidado com o bebê e continuem seus estudos.

REFERÊNCIAS

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Recebido em: 02/02/2022

Aceito em: 19/12/2022

Publicado em: 28/12/2022



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[2] Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: cabralfernandab@gmail.com ORCID: 0000-0002-4809-278X

[3] Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Santa Maria, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: nara.girardon@gmail.com ORCID: 0000-0002-3604-2507

[4] Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: leilahildebrandt@yahoo.com.br ORCID: 0000-0003-0504-6166

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Como citar: Van der Sand ICP, Cabral FB, Girardon-Perlini NMO, Hildebrandt LM, Silveira A, Massariol AM. Entre os livros e o bebê: reorganização familiar em apoio à nutriz-estudante universitária. J. nurs. health. 2022;12(3):e2212322329. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v12i3.4647