ARTIGO ORIGINAL
Impacto do uso de dispositivos eletrônicos na visão das crianças em
idade escolar
Impact of the use of electronic devices on the view of children at school age
Impacto del uso de dispositivos electrónicos en la visión de los niños en edad
escolar
Carneiro, Bruna Ribeiro;
1
Skonieczny, Nattally Edimeire;
2
Spinello, Analice Horn;
3
de Bortoli,
Cleunir de Fátima Candido
4
RESUMO
Objetivo: conhecer o impacto das telas sobre a acuidade visual das crianças em idade de
quatro a 12 anos, na perspectiva dos pais e responsáveis. Método: estudo quantitativo,
descritivo, com 176 participantes. O convite ocorreu por mensagens enviadas nas redes
sociais e a coleta através de um questionário online, entre fevereiro e abril de 2021. A
análise ocorreu pelas frequências simples dos dados. Resultados: 50,57% tiveram o primeiro
contato com as telas, antes de dois anos de idade. As queixas mais frequentes após uso de
telas são: dores de cabeça, irritação visual, olhos ressecados e lacrimejando, visão turva e
tonturas. 20,45% das crianças possuem dificuldades com de visão em grandes distâncias e
60,80% das crianças, realizaram avaliação oftalmológica. Conclusão: um crescente
número de crianças expostas precocemente e durante prolongados períodos, aos aparelhos
eletrônicos de forma demasiada.
Descritores: Acuidade visual; Saúde ocular; Saúde da criança; Enfermagem
ABSTRACT
Objective: to know the impact of screens on the visual acuity of children aged 4 to 12 years,
from the perspective of parents and guardians. Method: quantitative, descriptive study
with 176 participants. The invitation took place through messages sent on social networks
and collection by an online questionnaire, between February and April 2021. The analysis
was carried out by the simple frequency of the data. Results: 50,57% had their first contact
with screens, before the age of two. The most frequent complaints after using screens are:
headaches, visual irritation, dry and watery eyes, blurred vision and dizziness. 20,45% of
children have vision difficulties at great distances and 60,80% of the children have already
undergone an ophthalmological evaluation. Conclusion: there is an increasing number of
children exposed early and for prolonged periods to electronic devices too much.
Descriptors: Visual acuity; Eye health; Child health; Nursing
RESUMEN
Objetivo: conocer el impacto de las pantallas en la agudeza visual de niños de 4 a 12 años,
desde la perspectiva de padres y tutores. Método: estudio cuantitativo, descriptivo, con
176 participantes. La invitación se realizó a través de mensajes enviados en redes sociales
1
Centro Universitário de Pato Branco (UNIDEP). Pato Branco, Paraná (PR). Brasil (BR). E-mail: bruna_ribeiro16@outlook.com
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-1093-7377
2
Centro Universitário de Pato Branco (UNIDEP). Pato Branco, Paraná (PR). Brasil (BR). E-mail:
nattallyskonieczny23@hotmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-1948-4717
3
Centro Universitário de Pato Branco (UNIDEP). Pato Branco, Paraná (PR). Brasil (BR). E-mail: analice.spinello@unidep.edu.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9146-8116
4
Centro Universitário de Pato Branco (UNIDEP). Pato Branco, Paraná (PR). Brasil (BR). E-mail: cleunir_candido@hotmail.com
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-1266-5267
Como citar: Carneiro BR, Skonieczny NE, Spinello AH, de Bortoli CFC. Impacto do uso de dispositivos eletrônicos
na visão das crianças em idade escolar. J. nurs. health. 2023;13(1):e13122373. DOI:
https://doi.org/10.15210/jonah.v13i1.22373
y recogida mediante un cuestionario en línea, entre febrero y abril de 2021. El análisis se
realizó por la frecuencia simple de los datos. Resultados: el 50,57% tuvo su primer contacto
con las pantallas, antes de los dos años. Las quejas más frecuentes tras el uso de pantallas
son: dolores de cabeza, irritación visual, ojos secos y llorosos, visión borrosa y mareos. El
20,45% de los niños tienen dificultades de visión a grandes distancias y el 60,80% de los niños
ya se han realizado una evaluación oftalmológica. Conclusión: hay un número creciente de
niños expuestos demasiado tempranamente y durante periodos prolongados a los
dispositivos electrónicos.
Descriptores: Agudeza visual; Salud ocular; Salud infantil; Enfermería
INTRODUÇÃO
Acredita-se que a maioria dos problemas oculares ocorrem apenas em pessoas em
idade adulta. Entretanto, muitos deles surgem ainda na infância ou de forma congênita e
muitas vezes esses problemas não são diagnosticados, passando desapercebidos pelos pais e
familiares, no ambiente doméstico. A criança não tem noção de que não enxerga bem, pois
não exerce atividades que demandem esforço visual, sofrendo agravos em consequência de
hábitos inadequados e pela falta de realização de exames oftalmológicos, os quais permitem
um diagnóstico precoce do problema.1-3
A sociedade vivencia uma profunda mudança no estilo de vida, intensificada nos
últimos tempos com a ascensão da tecnologia. O uso de mídias tem se tornado comum entre
as pessoas, sendo incorporado aos hábitos de vida nas diferentes faixas etárias e contextos
sociais. Pode-se dizer, que as crianças e adolescentes fazem parte da nova geração digital e
usam esses dispositivos digitais cada vez mais precocemente e em todos os lugares e se
tornaram mais atraentes para as crianças.1,3
Para a saúde ocular, essa mudança de comportamento tem vários pontos negativos. O
primeiro é que ao escolher uma tela para brincar em detrimento das brincadeiras
tradicionais, a criança utiliza sua visão de perto na maior parte do tempo, dessa forma
podem surgir diversos problemas oculares.1 Os dispositivos eletrônicos emitem luz azul
violeta de modo que o tempo de uso exagerado pode à longo prazo danificar as células da
retina e causar perda da visão.4
Estima-se que 12,8 milhões de crianças, entre cinco e 15 anos, apresentam erros de
refração não corrigidos, e se não corrigidos, eles são a principal causa de deficiência visual
entre as crianças brasileiras. Os tipos mais comuns apresentam como tratamento
convencional uso de óculos ou lentes de contato. Aproximadamente 20% dos alunos do ensino
fundamental manifestam alguma alteração oftalmológica, cerca de 10% deles necessitam de
correção óptica e, destes, 5% demonstram redução grave da acuidade visual.5
Por isso se faz necessário projetos como o “Olhar Brasil”, que foi instituído pelo
Governo Federal, no ano de 2007. Possui como objetivo principal identificar problemas
visuais em alunos matriculados na rede pública de Ensino Fundamental, em discentes
registrados no Programa “Brasil Alfabetizado” do Ministério da Educação e na população
acima de 60 anos de idade, prestando assisncia oftalmológica, com fornecimento de óculos
nos casos de detecção de erros de refração.6
Em abril de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um guia de
orientações sobre o uso de telas para menores de cinco anos. As orientações têm como
objetivo assegurar o futuro das crianças, promovendo um olhar para os cuidados familiares,
garantindo a formação de valores éticos e fazendo despertar o apoio e a resiliência de
familiares em busca do pleno desenvolvimento infantil.7-8
A prevenção de agravos, a promoção de saúde, o diagnóstico precoce e o controle de
alterações na visão das crianças devem ser realizados com o objetivo de reduzir os casos e
as consequências dessas alterações visuais. Neste contexto, o enfermeiro tem papel
fundamental, pois além de ter a oportunidade do contato com as crianças em suas diferentes
fases de desenvolvimento, seja durante a puericultura, bem como no Programa Saúde na
Escola (PSE), poderá realizar orientação com os familiares e cuidadores para identificar
qualquer sinal de acuidade visual alterada e assim encaminhar para um profissional da saúde
especializado, sendo essencial para o controle da deficiência visual na infância de forma
precoce.9
O interesse pelo tema surgiu a partir da preocupação que se tem em relação à criança
com o uso da tecnologia, que apesar de ser uma grande ferramenta atual para o
desenvolvimento infantil, os dispositivos eletrônicos podem provocar grandes déficits visuais
e uso precoce de óculos. Para tanto, o estudo possui como questão orientadora qual o
impacto do uso demasiado das telas e equipamentos eletrônicos na saúde ocular das
crianças? Teve como objetivo conhecer o impacto das telas sobre a acuidade visual das
crianças em idade de quatro a 12 anos, na perspectiva dos pais e responsáveis.
MATERIAIS E MÉTODO
Foi utilizada uma estratégia metodológica de natureza quantitativa, descritiva. A
elaboração do manuscrito, seguiu itens descritos no checklist da iniciativa Strengthening the
Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE).10 O convite aos pais ou
responsáveis foi realizado por meio de mensagens via redes sociais, solicitando a
participação dos mesmos e explicando sua devida importância. Foi desenvolvido na região
sudoeste do Estado do Paraná.
O estudo abordou pais ou responsáveis de crianças em idade escolar de quatro a 12
anos, escola pública ou privada. Não foram considerados os participantes que não
completaram integralmente o questionário.
Para coleta de dados utilizou-se um questionário online, elaborado pelas próprias
pesquisadoras, composto por 20 perguntas, sobre a saúde ocular das crianças e adolescentes,
usando termos simples e de fácil entendimento. O período de coleta ocorreu entre os meses
de fevereiro e abril do ano corrente de 2021. A coleta de dados desenvolveu-se por meios
de comunicação, sendo enviado o link para os participantes, contendo uma breve explicação
sobre o estudo e objetivo da pesquisa, logo abaixo encontrava-se disposto o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, para que os participantes, realizassem a leitura,
efetuando assim o download ou uma cópia e guardando para si (fazendo um “print” da tela).
Após leitura foi solicitado que o participante aceitasse ou não participar da pesquisa,
podendo recusar-se. Aqueles que aceitaram colaborar com o estudo, com todos termos
apresentados, foram direcionados a uma segunda página com o formulário contendo as
perguntas.
Após a coleta, as informações passaram por contabilização e foram apresentadas em
tabelas. Com base no questionário, fundamentou-se um comparativo identificando o tempo
de uso diário de dispositivos eletrônicos e sintomas apresentados com o uso excessivo de
telas, para comparar as variáveis com aparecimento de atuais e futuros problemas na
acuidade visual.
No desenvolvimento do estudo, seguiu-se todos os aspectos éticos, de acordo com a
resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Por se tratar de pesquisa com seres
humanos, o projeto passou por avaliação do Comitê de Ética e Pesquisa CEP UNIDEP, o qual
foi aprovado com número de Certificado de Apresentação para Apreciação Ética da
Plataforma Brasil: 40900320.7.0000.9727.
RESULTADOS
Houve 203 formulários respondidos, sendo que 22 não se enquadraram na faixa etária
selecionada ou não preencheram corretamente, cinco não aceitaram responder a pesquisa.
Assim, 176 respondentes se encaixaram nos critérios de inclusão. Destes 87 (49,43%) eram
responsáveis por meninas e 89 (50,57%) por meninos, a faixa etária foi variada, com maior
frequência de crianças de sete anos, com 29 respostas (16,48%) e a menor, com crianças na
faixa etária de 11 anos, com 11 respostas (6,25%).
Na Tabela 1, observa-se que a maioria dos pais relatam que seus filhos não possuem
problemas em visualizar em grandes ou pequenas distâncias. Entre os relatos dos que
possuem tal problema, observa-se que a maior dificuldade das crianças é com relação a visão
em grandes distâncias (20,45%) e que 6,82% dos participantes declaram que as crianças
possuem dificuldades em visualizar de perto e de longe.
Tabela 1: As dificuldades oculares de crianças de quatro a 12 anos apontadas pelos responsáveis.
Região Sudoeste do Paraná, 2021. N=176
Variáveis
Frequência
Sim
Não
Não informado
N (%)
N (%)
N (%)
Crianças com dificuldade em visualizar em
grandes distâncias.
36
(20,45%)
140
(79,55%)
0
(0%)
Dificuldade em visualizar em pequenas
distâncias.
29
(16,48%)
147
(83,52%)
0
(0%)
A criança possui dificuldade de dormir após
mexer em um aparelho eletrônico.
37
(21,02%)
129
(73,30%)
10
(5,68%)
A criança realizou alguma avaliação
oftalmológica.
107
(60,80%)
69
(39,20%)
0
(0%)
Fonte: dados da pesquisa, 2021.
Quanto às crianças já terem realizado alguma avaliação oftalmológica, o resultado foi
satisfatório, pois 60,8% responderam que sim, ou seja, uma expressão significativa dos pais
e responsáveis participantes, já tiveram a preocupação de averiguar possíveis problemas na
visão em seus filhos.
Os resultados representados na Tabela 2, mostram que uma pequena proporção das
crianças faz uso de óculos ou lentes de contato para correção visual. Observa-se os
diagnósticos mais recorrentes de miopia (53,66%) e astigmatismo (51,22%). A idade com
maior prevalência no uso de meios de correção visual, foi de um a três anos com 24 (64,87%)
dos 37 participantes que disseram que seus filhos usam óculos.
Tabela 2: Representação de queixas relacionadas com uso dos óculos de crianças de quatro a 12 anos
apontadas pelos responsáveis. Região Sudoeste do Paraná, 2021. N=176
Grupos
Sim
N (%)
Classificação quanto às respostas sim
N (%)
Número de crianças
que fazem uso de
óculos
37
(21,02)
Menos de 1 ano: 04 (10,81%)
De 1 a 3 anos: 24 (64,87)
De 4 a 6 anos: 08 (21,62)
Mais de 6 anos: 01 (2,70)
*Algum familiar
utiliza óculos
164
(93,18)
Pai: 63 (38,41)
Mãe:78 (47,56)
Irmão / Irmã: 34 (20,73)
Avó / Avô: 123 (75)
Outros: 25 (15,24)
*A criança queixa-se
de desconforto
quando está
mexendo em
aparelhos eletrônicos
47
(26,70)
Dores De Cabeça:43 (91,49)
Olhos Ressecados: 11(23,40)
Visão turva/ Embaçada: 09 (19,15)
Tontura: 07 (14,89)
Irritação/ Incômodo Visual: 25 (53,19)
Olhos Lacrimejantes: 10 (21,27)
Outros Sintomas: 05 (10,64)
*Criança possui
algum problema
oftalmológico
diagnosticado
41
(23,30)
Miopia: 22 (53,66)
Astigmatismo: 21 (51,22)
Estrabismo: 04 (9,76)
Hipermetropia: 06 (14,63)
Glaucoma: 02 (4,88)
Ceratocone: 02 (4,88)
Ambliopia: 01 (2,44)
Fonte: dados da pesquisa, 2021.
*Esta variável aceitava mais de uma resposta por participante.
Daquelas crianças que apresentam queixas após o uso das telas, em que 43 (91,49%)
relatam ter dores de cabeça, 25 (53,19%) irritação ou incômodo visual, 11 (23,40%) olhos
ressecados, 10 (21,27%) olhos lacrimejantes, nove (19,15%) visão turva e sete (14,89%)
tonturas. Sintomas muito importantes ao associá-los com as queixas de dificuldades de
visualizar à longas ou curtas distâncias, sendo assim recomendado a procura de um
profissional oftalmologista.
Ao analisar a Tabela 3 é possível observar nesses resultados que as crianças vêm sendo
expostas com os aparelhos eletrônicos muito cedo, antes mesmo de seus primeiros anos de
vida tiveram contato com esses dispositivos, sendo 50,57% com contato até dois anos.
Percebe-se a falta de conhecimento dos pais com relação às recomendações das entidades
científicas quanto à exposição prolongada e demasiada das crianças aos dispositivos.
Identifica-se que os aparelhos mais usados pelas crianças são os celulares, televisores
e computadores e que isso, vem progressivamente piorando, devido ao período de pandemia,
em que as crianças não podem sair para realizar atividades recreativas ou ir para escola,
delimitando suas atividades para via remota e necessitando o uso desses dispositivos.
Tabela 3: A exposição da criança aos aparelhos eletrônicos de crianças de quatro a 12 anos apontadas
pelos responsáveis. Região Sudoeste do Paraná, 2021. N=176
Idade em que a criança teve os primeiros contatos com os aparelhos eletrônicos
<1 a 2 anos
N (%)
3 a 5 anos
N (%)
6 a 8 anos
N (%)
>9 anos
N (%)
89
(50,57)
58
(32,95)
19
(10,80)
10
(5,68)
Tempo de exposição aos aparelhos eletrônicos por dia
Até 1 h/dia
N (%)
1 a 3 h/dia
N (%)
3 a 5 h/ dia
N (%)
+ de 5 h/ dia
N (%)
14
(7,95)
65
(36,93)
60
(34,09)
37
(21,03)
Aparelho eletrônico mais utilizado pela criança*
Celular
N (%)
TV
N (%)
Vídeo Game
N (%)
Tablet
N (%)
Computador
N (%)
123
(69,89)
121
(68,75)
26
(14,77)
23
(13,07)
38
(21,59)
* Esta variável aceitava mais de uma resposta por participante.
Fonte: dados da pesquisa, 2021.
DISCUSSÃO
A avaliação oftalmológica é indispensável para prevenção da baixa acuidade, é com
esse intuito que o PSE, tem como objetivo promover a saúde dos estudantes da rede pública
de educação básica, dessa forma fornece importantes instrumentos utilizados para avaliação
e cuidado da saúde ocular.11 À vista disso, o estudo mostra a importância da avaliação
oftalmológica ainda quando criança.
Indivíduos com casos de oftalmopatias na família podem sofrer predisposição para
surgimento de futuras doenças, ou seja, é hereditário. A pesquisa mostrou que 164 (93,18%)
possuem um familiar que utiliza óculos. Correspondendo aos achados, que mostram 70
(15,3%) crianças possuem alteração ocular e com histórico familiar e 146 (31,8%), não
possuem alteração, mas com histórico familiar.12 Em um estudo 40 das 124 crianças
participantes necessitavam de indicação de lentes corretivas.5
A prevalência de diagnósticos de miopia e astigmatismo, corroboram com descrito
pela Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), estima-se que cerca de 69% dos
problemas visuais que ocorrem na infância são devido aos erros refrativos não corrigidos.13
Esses achados confirmam os resultados do estudo encontrado, que identificou 63
participantes que apresentavam erros de refração ou alguma oftalmopatia, desses 27
apresentaram astigmatismo.14 Esses valores não divergem muito do encontrado na literatura,
mostrou que 31 (52,5%) do grupo pesquisado apresentaram erros refrativos.2
Na miopia o foco visual, ou seja, a imagem se forma antes da retina, fazendo com o
que o paciente tenha dificuldade de enxergar de longe. A hipermetropia é o contrário, as
imagens são projetadas depois da retina ocasionando a dificuldade de visualizar em
pequenas distâncias. Já o astigmatismo é quando o foco visual, ao invés de se formar em um
único ponto, se forma em dois pontos distintos. Podendo ser antes e depois da retina e isso
gera uma dificuldade visual para longe e para perto, é como se faltasse foco e a visão ficasse
borrada tanto longe quanto perto. Coincidindo com a pesquisa em questão, em que foi
possível analisar que 29 (16,48%) dos pais ou responsáveis relatam que seus filhos possuem
dificuldades em visualizar em pequenas distâncias, 36 (20,45%) dizem ter dificuldades em
enxergar a longas distâncias e 12 (6,82%) mencionam alteração visual tanto para perto
quanto para longe, alterações essas que podem estar associadas com as oftalmopatias
supracitadas.15
O estudo em questão indica que 47 (26,70%) dos pais relataram que seus filhos
apresentam queixas ao mexer em aparelhos eletrônicos, isso difere do apresentado por outro
autor, em que a presença de queixas como cefaleia, dor nos olhos e visão turva não apontou
relação com o aparecimento ou não de alterações visuais.12 Mas outros autores apontam
que a prevalência de tensão ocular, hiperemia e irritação/ardor foram relatadas por mais
de 50% dos participantes.3
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria menores de dois anos de idade não devem
ter contato com aparelhos eletrônicos, pois essa faixa etária é considerada precoce, os
dados apresentados nesse estudo diferem do recomendado.4 Isso corrobora com outro
estudo, demonstrando que 90 (50%) crianças possuíam idade igual a dois anos e já possuíam
contato com as telas e 63,3% das crianças são expostas a um tempo igual ou superior a duas
horas/dia. Assim como os dados deste trabalho, indicam que 79 (44,88%) das crianças
utilizam os dispositivos de mídias até três horas/dia.16
De forma mais preocupante, a pesquisa apontou que 37 (21,03%) das crianças possuíam
um tempo de tela igual ou superior a cinco horas/dia. Esses dados exibem um consumo diário
muito além do recomendado pelas sociedades científicas que indicam limite ao tempo de
telas de uma hora/dia, para crianças com idades entre dois e cinco anos, duas horas/dia
para crianças com idades entre seis e 10 anos e o limite de três horas/dia para adolescentes
com idades entre 11 e 18 anos.4,13
Autores16 indicam que a televisão é a mais escolhida com 61% pelas crianças, seguido
dos smartphone com 41% do total. Dados esses que não diferem muito dos achados na
presente pesquisa, mostrando que a televisão e o celular foram os aparelhos eletrônicos
mais utilizados. Tais resultados mostram quanto maior a frequência deles, maior a incidência
de queixas por parte da criança, por utilizar esse aparelho muito próximo aos olhos.16
CONCLUSÕES
O estudo retrata o tempo de exposição prolongado frente aos dispositivos eletrônicos
pelas crianças e cada vez mais precocemente. Nota-se o número elevado de crianças que
até seus dois anos de idade obtiveram contato com algum equipamento eletrônico.
Esse resultado piora nas idades de zero a cinco anos, em que coincide com a faixa
etária que as crianças moldam suas personalidades e tem seus sentidos aguçados e
desenvolvidos, sendo assim, bloqueados pela monotonia de estar à frente das telas ao invés
de serem estimulados como deveriam para a fase em questão durante essas idades. Observa-
se escassas literaturas relacionadas ao uso das telas por um período prolongado e os agravos
dos distúrbios visuais infantis.
Ainda é pouco conhecida a forma como essas mídias tecnológicas impactam no
processo visual das crianças e adolescentes, por se tratar de mudanças recentes, estudos
ainda estão sendo realizados, com o intuito de averiguar esses impactos futuros nas novas
gerações. Constata-se grande dificuldade em relacionar o uso demasiado dos equipamentos
eletrônicos com as oftalmopatias encontradas, devido tratar-se de um estudo de recorte
observacional, limitando assim a confrontação dos resultados esperados pela pesquisa.
Recomenda-se novos estudos com recorte longitudinal, em que se poderá observar a
correlação dos problemas oftalmológicos futuros, decorrentes do uso exorbitante dos
dispositivos eletrônicos.
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Recebido em: 17/02/2022
Aceito em: 04/10/2023
Publicado em: 14/11/2023