ARTIGO ORIGINAL

Fatores que motivam os enfermeiros no exerc�cio da profiss�o: pesquisa qualitativa

Factors that motivate nurses in the practice of their profession: qualitative research

Factores que motivan a las enfermeras en el ejercicio de su profesi�n: investigaci�n cualitativa

Aydogdu, Ana Luiza Ferreira[1]

RESUMO

Objetivo: identificar fatores que motivam enfermeiros no exerc�cio da profiss�o e fornecer recomenda��es para favorecer a motiva��o desses profissionais. M�todo: estudo descritivo, com abordagem qualitativa. Fazem parte da pesquisa um total de 32 narrativas de enfermeiros que atuam em servi�os de sa�de no Brasil. Foi utilizada a an�lise de conte�do. Resultados: quatro temas foram identificados: (1) escolha da profiss�o de Enfermagem; (2) sentimentos com rela��o � profiss�o de Enfermagem; (3) fontes de motiva��o dos enfermeiros; (4) sugest�es para favorecer a motiva��o dos enfermeiros. Conclus�es: enfermeiros acreditam que o pr�prio ato de cuidar � uma importante fonte de motiva��o. Enfermeiros se sentem realizados, por�m tamb�m est�o desgastados devido �s condi��es de trabalho. Reconhecimento profissional, melhores condi��es de trabalho e apoio institucional s�o alguns dos fatores que poderiam impulsionar a motiva��o dos enfermeiros.

Descritores: Enfermeiras e enfermeiros; Motiva��o; Pesquisa qualitativa; Satisfa��o no emprego; Satisfa��o pessoal.

ABSTRACT

Objective: to identify factors that motivate nurses in the exercise of their profession and provide recommendations to support the motivation of these professionals. Method: a descriptive study with a qualitative approach. A total of 32 narratives of nurses who work in health services in Brazil are part of the study. Content analysis was used. Results: four themes were identified: (1) choosing the nursing profession; (2) feelings about the nursing profession; (3) nurses� sources of motivation; (4) suggestions to support nurses� motivation. Conclusions: nurses believe that caring itself is an important source of motivation. Nurses feel fulfilled, but they are also worn out due to working conditions. Professional recognition, better working conditions, and institutional support are some of the factors that could boost nurses' motivation.

Descriptors: Nurses; Motivation; Qualitative research; Job satisfaction; Personal satisfaction.

RESUMEN

Objetivo: identificar factores que motivan enfermeros en el ejercicio de su profesi�n y brindar recomendaciones para incentivar la motivaci�n de estos profesionales. M�todo: estudio descriptivo con abordaje cualitativo. Un total de 32 narrativas de enfermeras que act�an en servicios de salud en Brasil forman parte de la investigaci�n. Se utiliz� el an�lisis de contenido. Resultados: se identificaron cuatro temas: (1) eleccin de profesin de enfermera; (2) sentimientos sobre la profesi�n de enfermer�a; (3) fuentes de motivaci�n de las enfermeras; (4) sugerencias para incentivar la motivaci�n de las enfermeras. Conclusiones: las enfermeras creen que el acto de cuidar en s� mismo es una importante fuente de motivaci�n. Las enfermeras se sienten realizadas, pero tambi�n est�n desgastadas por las condiciones de trabajo. El reconocimiento profesional, las mejores condiciones de trabajo y el apoyo institucional son algunos de los factores que pueden impulsar la motivaci�n de las enfermeras.

Descriptores: Enfermeras y enfermeros; Motivaci�n; Investigaci�n cualitativa; Satisfacci�n en el trabajo; Satisfacci�n Personal.

INTRODU��O


O trabalho enobrece o indiv�duo, sendo, portanto, uma atividade necess�ria, que deve ser realizada com satisfa��o.1 O trabalho, al�m de ter uma fun��o econ�mica, tem tamb�m uma fun��o social, visto que ao realizar suas fun��es o indiv�duo interage com outros.1 Esta intera��o pode se dar de forma harm�nica ou conflituosa, e suas consequ�ncias implicam na qualidade do trabalho realizado e na satisfa��o do trabalhador.2 Em algumas profiss�es as rela��es interpessoais s�o pontos-chave para a realiza��o das tarefas necess�rias. Uma dessas profiss�es � a Enfermagem, na qual as rela��es entre pessoas � frequente e cont�nua. O enfermeiro, al�m de estar inserido numa rela��o pr�xima com os pacientes, funciona ainda como elo entre os usu�rios e os outros membros da equipe multidisciplinar,3 precisando sentir-se motivado para realizar todas as suas fun��es de forma eficiente.

A motiva��o intr�nseca � uma for�a que vem de dentro do indiv�duo, sendo essencial para estimul�-lo a gerar a��es, � um impulso que incentiva o indiv�duo, pois ele gosta ou se interessa pelo que faz.4 A motiva��o extr�nseca, por sua vez, � uma for�a externa que pode ser desencadeada por fatores como boas condi��es de trabalho, rela��es interpessoais positivas e por possibilidade de ascens�o na carreira.4 A motiva��o no trabalho, tanto intr�nseca quanto extr�nseca �, portanto, um impulso que leva os funcion�rios a produzirem de forma eficiente.5 O estado motivacional do indiv�duo implica na forma como ele trabalha, assim, as institui��es precisam ter como um de seus objetivos principais manter seus funcion�rios motivados.6

Manter a motiva��o do enfermeiro em alta, implicar� na qualidade do cuidado7 e na reten��o do profissional na institui��o.8-9 Como fatores internos e externos s�o respons�veis pela motiva��o dos indiv�duos,4 s�o v�rios os elementos que interferem na motiva��o dos enfermeiros durante o desempenho de suas fun��es. Estudos identificaram que uma boa rela��o com a chefia,1 gosto pela profiss�o, garantia de estabilidade, exist�ncia de seguro social, reconhecimento do trabalho realizado,5 bons sal�rios, oportunidade de ascens�o na carreira e solidariedade entre colegas10 s�o fatores importantes para que os enfermeiros se sintam motivados no local de trabalho.

A insatisfa��o no ambiente de trabalho � um dos principais motivos para pedidos de demiss�o entre enfermeiros,8-9 por sua vez, a alta rotatividade do profissional de Enfermagem tem uma rela��o direta com a diminui��o da qualidade do cuidado.9 Quando um enfermeiro experiente se desliga da institui��o de sa�de, tanto a organiza��o como a sociedade s�o prejudicadas, visto que o treinamento desse profissional demanda tempo e dedica��o.8,11

Enfermeiros motivados ser�o mais produtivos, eficazes e eficientes ao realizarem suas tarefas,7,10 al�m disso, o enfermeiro deve ser um modelo para sua equipe12 e quando sua insatisfa��o � percebida pelos demais membros da equipe, eles s�o negativamente influenciados e a qualidade do cuidado � ent�o amea�ada. Em outras palavras, as atitudes de um enfermeiro desmotivado refletem na equipe de Enfermagem, que n�o ser� capaz de prestar um cuidado de qualidade � popula��o. Em vista da import�ncia do exposto, os objetivos do presente estudo foram identificar fatores que motivam enfermeiros no exerc�cio da profiss�o e fornecer recomenda��es para favorecer a motiva��o desses profissionais.

Padr�o do plano de fundo

Descri��o gerada automaticamenteMATERIAIS E M�TODO

Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. Abordagens qualitativas s�o utilizadas quando se procura conhecer opini�es e experi�ncias dos indiv�duos sobre assuntos espec�ficos.13 A pesquisa foi pautada na lista de verifica��o Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ).14

O universo do estudo foi formado por enfermeiros atuantes em institui��es de sa�de brasileiras. O n�mero de participantes foi estipulado de acordo com a satura��o dos dados.13 Um total de 32 narrativas escritas de enfermeiros baseadas em cinco perguntas abertas fazem parte da pesquisa.

O estudo foi conduzido por uma enfermeira/professora assistente, com doutorado em Administra��o em Enfermagem, que concluiu um curso sobre pesquisas qualitativas e t�m experi�ncia nesse tipo de estudo. Apesar de a origem cultural da pesquisadora ser semelhante � dos participantes da pesquisa, a mesma n�o tem qualquer v�nculo com os participantes, que foram recrutados mediante m�dia social, o que garantiu a autonomia dos mesmos ao escolherem participar ou n�o do estudo.

Enfermeiros atuando em institui��es de sa�de do territ�rio nacional por no m�nimo um ano, que assinalaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e que preencheram corretamente o instrumento de coleta de dados foram inclu�dos na pesquisa. Quatro narrativas foram exclu�das porque os enfermeiros n�o atuavam em institui��es de sa�de e mais cinco n�o fizeram parte da pesquisa, pois, os formul�rios, ou foram preenchidos parcialmente, ou erroneamente.

Para abranger participantes que atuassem em diferentes regi�es do Brasil foi utilizada a tecnologia de formul�rio eletr�nico on-line Google Forms na coleta de dados. Abordagens on-line est�o se tornando cada vez mais populares em pesquisas qualitativas, por apresentarem flexibilidade, permitindo assim conhecer e explorar as experi�ncias dos indiv�duos atrav�s de uma perspectiva mais ampla.15 Para recrutar participantes, foram enviadas mensagens instant�neas para indiv�duos que se identificaram como enfermeiros em seus perfis de aplicativos de m�dia social. Nas mensagens constavam o convite para participar da pesquisa, informa��es gerais sobre o estudo, o TCLE e o instrumento de coleta de dados. A fim de garantir que apenas profissionais com pelo menos um ano de experi�ncia participassem da pesquisa, instruiu-se, por meio do TCLE, que enfermeiros com menos de um ano de experi�ncia n�o respondessem ao question�rio, mesmo que convidados a faz�-lo. Al�m disso, uma das perguntas inclu�das no question�rio referia-se ao tempo de experi�ncia na profiss�o, permitindo a verifica��o para assegurar que profissionais com menos de um ano de experi�ncia n�o fossem inclu�dos na an�lise dos dados.

Da primeira parte do instrumento de pesquisa constaram perguntas relacionadas �s caracter�sticas pessoais e profissionais dos enfermeiros, como idade, sexo, estado civil, escolaridade, estado onde atua, cargo, tempo de trabalho, entre outras.� Da segunda parte do formul�rio faziam parte cinco perguntas abertas relacionadas � escolha da profiss�o e � motiva��o no local de trabalho, preparadas com base na literatura cient�fica:6-7,10,16 (1) Por que voc� escolheu ser enfermeiro(a)? (2) Como voc� define seus sentimentos enquanto est� trabalhando (Como voc� se sente ao realizar suas fun��es)? (3) Quais s�o os fatores que te motivam a trabalhar (O que te impulsiona na profiss�o)? (4) O que voc� acha que deveria ser feito para aumentar a motiva��o do enfermeiro? (5) Se pudesse voltar no tempo, escolheria a Enfermagem novamente? Por qu�? No final do question�rio havia ainda um espa�o para o caso de o participante querer acrescentar algum coment�rio com rela��o ao tema. Os dados foram coletados em janeiro de 2023.

Antes de proceder � coleta de dados propriamente dita, o question�rio foi analisado atrav�s de tr�s testes pilotos. Ap�s os quais uma pergunta foi acrescentada e nenhuma pergunta foi exclu�da ou modificada. Os dados coletados desses tr�s participantes n�o fazem parte dos resultados finais do estudo.

Os dados foram analisados atrav�s da an�lise de conte�do. Esse tipo de an�lise trata-se de um processo detalhado atrav�s do qual os dados s�o sistematicamente descritos e organizados.13 As narrativas escritas dos 32 participantes foram lidas e relidas, analisadas quanto aos temas, �s ideias principais, �s semelhan�as e �s diferen�as, e codificadas manualmente. Temas e subtemas foram verificados v�rias vezes pela pesquisadora. A interpreta��o dos dados foi completada por meio de reflex�es constantes sobre os objetivos da pesquisa. A autora utilizou sua experi�ncia anterior em pesquisa qualitativa e seguiu passo a passo as etapas da an�lise de dados. Primeiramente, a pesquisadora familiarizou-se com os dados, o que permitiu gerar os c�digos iniciais e agrup�-los em temas. Em seguida, foi realizada uma revis�o dos dados por meio de leituras repetidas das narrativas dos participantes, assim os temas finais foram definidos. A an�lise dos dados foi cuidadosamente planejada e a pesquisadora atentou para a cont�nua reflexividade e fidelidade das narrativas em todas as etapas da an�lise.

A pesquisa foi aprovada pelo Comit� de �tica em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery � Hospital Escola S�o Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio de Janeiro por meio da Plataforma Brasil (data de aprova��o: 24 de dezembro de 2022; CAAE: 57771922.8.0000.5238, n�mero do parecer: 5.837.763). Os crit�rios de credibilidade, confirmabilidade, confiabilidade e transferibilidade foram utilizados para aumentar a precis�o e a validade da pesquisa.17

RESULTADOS

A maioria (11 de 32) dos enfermeiros tem entre 36 e 45 anos de idade, 27 dos 32 participantes s�o do sexo feminino, 15 s�o casados, 19 s�o enfermeiros especialistas, oito trabalham no estado de Santa Catarina e oito no Rio de Janeiro, 24 trabalham em institui��es p�blicas; seis atuam em Unidades B�sicas de Sa�de da Fam�lia e a m�dia de tempo de servi�o � 16,2 anos. As caracter�sticas dos participantes s�o apresentadas nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1: Caracter�sticas demogr�ficas dos participantes (n=32)

Participante

Idade

Sexo

Estado civil

Escolaridade

Estado

1

36-45

F

Solteira

Especializa��o

RJ

2

36-45

F

Casada

Especializa��o

RJ

3

46-55

F

Solteira

Especializa��o

RJ

4

36-45

F

Casada

Especializa��o

CE

5

46-55

F

Casada

Especializa��o

RJ

6

26-35

F

Divorciada

Especializa��o

BA

7

26-35

F

Solteira

Especializa��o

AM

8

36-45

F

Uni�o Est�vel

Gradua��o

RS

9

36-45

F

Casada

Especializa��o

RJ

10

36-45

F

Solteira

Mestrado

BA

11

46-55

M

Casado

Mestrado

MG

12

36-45

F

Solteira

Especializa��o

MG

13

36-45

F

Divorciada

Mestrado

MG

14

26-35

F

Casada

Doutorado

SP

15

36-45

F

Casada

Mestrado

RJ

16

56-65

M

Casado

Especializa��o

SC

17

26-35

F

Casada

Especializa��o

PR

18

56-65

F

Casada

Especializa��o

SC

19

36-45

F

Casada

Gradua��o

SC

20

46-55

M

Casado

Especializa��o

SC

21

56-65

F

Divorciada

Mestrado

RJ

22

56-65

F

Casada

Especializa��o

SC

23

18-25

M

Solteiro

Especializa��o

CE

24

26-35

F

Casada

Mestrado

RJ

25

46-55

F

Uni�o Est�vel

Mestrado

SC

26

56-65

M

Casado

Especializa��o

SC

27

36-45

F

Divorciada

Especializa��o

SC

28

26-35

F

Uni�o Est�vel

Gradua��o

SP

29

18-25

F

Divorciada

Gradua��o

AC

30

46-55

F

Divorciada

Mestrado

PB

31

26-35

F

Uni�o Est�vel

Especializa��o

RS

32

18-25

F

Solteira

Especializa��o

SE

Fonte: elaborada pela autora, 2023.

 

Tabela 2: Caracter�sticas profissionais dos participantes (n=32)

Participante

Tipo de institui��o

Unidade

Tempo de servi�o

(em anos)

1

P�blica

Emerg�ncia

15

2

P�blica

Ambulat�rio

20

3

Particular

Cl�nica Cir�rgica

23

4

P�blica

Maternidade

1

5

P�blica

Banco de Sangue

20

6

Particular

Tratamento de Les�es

3

7

P�blica

Cl�nica M�dica

2

8

Particular

CME*

10

9

P�blica

Vigil�ncia Epidemiol�gica

21

10

Particular

Terapia Intravenosa

15

11

P�blica

Ambulat�rio,

20

12

P�blica

Emerg�ncia

16

13

P�blica

Pronto Socorro

18

14

P�blica

UBSF**/Cl�nica Psiqui�trica

14

15

P�blica

UBSF**

15

16

P�blica

UBSF**

39

17

P�blica

UBSF**

3

18

P�blica

Cl�nica m�dica/Centro cir�rgico

40

19

P�blica

UBSF**

15

20

P�blica

Emerg�ncia

22

21

P�blica

Coordena��o de Sa�de

38

22

Particular

Home Care

45

23

P�blica

UBSF**

3

24

P�blica

Unidade de Aten��o Prim�ria

3

25

P�blica

Ag�ncia Transfusional

26

26

P�blica

Oncologia

38

27

P�blica

CTI***

11

28

Particular

Tele sa�de

2

29

Particular

Aut�nomo

1

30

P�blica

Cl�nica cir�rgica

15

31

P�blica

SAMU****

3

32

Particular

CCIH*****

2

*CME=Central de Materiais e Esteriliza��o **UBSF=Unidade B�sica de Sa�de da Fam�lia ***CTI=Centro de Tratamento Intensivo ****Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia *****Comiss�o de Controle de Infec��o Hospitalar

Fonte: elaborada pela autora, 2023.

Os dados foram organizados em quatro temas: (1) escolha da profiss�o de Enfermagem; (2) sentimentos com rela��o � profiss�o de Enfermagem; (3) fontes de motiva��o dos enfermeiros e (4) sugest�es para favorecer a motiva��o dos enfermeiros. Foram identificados ainda 13 subtemas. Temas e subtemas s�o apresentados no Quadro 1.


Quadro 1: Temas e subtemas

Temas

Subtemas

Escolha da profiss�o de Enfermagem

-Enfermagem como primeira op��o

-Enfermagem para ser �til � sociedade

-Enfermagem, uma escolha inconsciente

-N�o escolheria a profiss�o novamente

Sentimentos com rela��o � profiss�o de Enfermagem

-Sentindo-se realizado com a profiss�o

-Sentimentos negativos referentes � Enfermagem

Fontes de motiva��o dos enfermeiros

 

-Fazendo a diferen�a na vida do outro

-Exercendo a autonomia e sendo fonte de inspira��o

-Fatores financeiros

Sugest�es para favorecer a motiva��o dos enfermeiros

-Melhores condi��es de trabalho

-Reconhecimento pela sociedade do papel da Enfermagem

-Apoio institucional

-A motiva��o come�a em n�s mesmos

Fonte: elaborado pela autora, 2023.

Tema 1: Escolha da profiss�o de Enfermagem

O primeiro tema abrange as reflex�es dos enfermeiros a respeito da escolha da profiss�o. Um total de 18 participantes afirmaram que escolheriam novamente a Enfermagem. Enquanto alguns participantes foram categ�ricos ao afirmarem gostar da profiss�o pela possibilidade de prestar cuidados � popula��o, outros enfatizaram que a escolha n�o foi muito consciente. O tema � apresentado em quatro subtemas: (1) Enfermagem como primeira op��o; (2) Enfermagem para ser �til � sociedade; (3) Enfermagem, uma escolha inconsciente; e (4) n�o escolheria a profiss�o novamente.

Enfermagem como primeira op��o

Enfermeiros que participaram da presente pesquisa relataram que foi o amor pela profiss�o que os fizeram escolher a Enfermagem. Nas falas a seguir observa-se a determina��o a respeito da escolha da profiss�o:

A Enfermagem sempre foi minha primeira op��o. (Participante 4)

Escolhi a Enfermagem porque � a �nica �rea que me identifico e me sinto realizada. (Participante 8)

Escolhi conscientemente por me identificar com as atribui��es e atividades desenvolvidas pelo enfermeiro. Li muito sobre e me formei em uma �poca em que o enfermeiro estava sendo procurado e valorizado pelas institui��es. (Participante 11)

Enfermagem para ser �til � sociedade

Os participantes relataram a import�ncia da enfermagem para a popula��o e que foi esse o motivo para que escolhessem a profiss�o. A relev�ncia da profiss�o que promove a sa�de e previne doen�as pode ser percebida nas falas a seguir:

Escolhi aos 14 anos quando fiz um curso de atendente de Enfermagem e trabalhei com popula��o ribeirinha no interior onde morava, e ali entendi que era isso que queria fazer, cuidar das pessoas e atuar na sa�de p�blica. (Participante 21)

Sempre me identifiquei com a �rea da sa�de, e sempre foi um sonho cuidar das pessoas. (Participante 23)

Al�m da possibilidade de ser �til para a sociedade atrav�s da presta��o de cuidados, percebeu-se que os participantes tamb�m atentaram para o retorno financeiro trazido pela Enfermagem na �poca em que escolheram a profiss�o. As falas abaixo refletem o desejo de cuidar e, ao mesmo tempo, a necessidade de se sustentar com um sal�rio digno:

Na �poca eu desejava ter uma profiss�o que al�m da trazer meu sustento pudesse ser �til � sociedade. (Participante 19)

Quis ser enfermeiro para ajudar os enfermos e como consequ�ncia ser reconhecido n�o s� como �her�i�, mas tamb�m financeiramente, mas infelizmente no Brasil isto � utopia. (Participante 20)

Enfermagem, uma escolha inconsciente

Enquanto para alguns participantes a escolha da profiss�o foi baseada em experi�ncias e expectativas pessoais, para outros essa escolha n�o foi feita de forma muito consciente. As afirma��es seguintes refletem a escolha inconsciente da profiss�o de Enfermagem:

Sinceramente, n�o sei dizer porque escolhi a Enfermagem, simplesmente aconteceu. (Participante 1)

A Enfermagem n�o foi bem uma escolha. Aconteceu. (Participante 3)

N�o foi uma escolha consciente sobre a profiss�o. Dentre as op��es que existiam na �poca, a Enfermagem me pareceu ser poss�vel. (Participante 24)

N�o escolheria a profiss�o novamente

Participantes relataram suas frustra��es e insatisfa��es com rela��o � Enfermagem, afirmando que n�o seriam capazes de escolher a profiss�o novamente. As afirmativas a seguir refletem opini�es de enfermeiros que exemplificam a desvaloriza��o da Enfermagem atrav�s de compara��es com outras profiss�es da �rea da sa�de:

N�o escolheria a Enfermagem. Hoje eu faria fisioterapia para poder trabalhar mais de forma individualizada o meu paciente. A Enfermagem fica entre as demais profiss�es da sa�de e nosso servi�o � crucial, mas sofre muito preconceito. (Participante 19)

N�o escolheria a profiss�o novamente. Depois de tantos anos a Enfermagem ainda n�o � considerada, n�o � valorizada, seja por seus esfor�os ou financeiramente. Na maior parte do tempo � considerada inferior � medicina e pouco importante. Poucos s�o os que reconhecem o valor e a import�ncia do cuidado de Enfermagem no atendimento, seja emergencial ou assist�ncia di�ria. (Participante 26)

Participantes afirmaram que n�o escolheriam a profiss�o novamente devido � desuni�o da classe, � desvaloriza��o profissional e �s condi��es de trabalho adversas, como sal�rios baixos e carga hor�ria desgastante. As falas abaixo relatam a insatisfa��o dos enfermeiros com rela��o ao mercado de trabalho e �s condi��es de trabalho da Enfermagem:

N�o escolheria novamente. Por causa do pouco reconhecimento, baixas remunera��es e carga hor�ria extensa. (Participante 5)

N�o seria enfermeira. Infelizmente, o mercado de trabalho est� p�ssimo, valoriza��o pior ainda, somos totalmente desunidos e grande parte n�o gosta de ajudar a pr�pria classe em NADA! (Participante 7)

No cen�rio atual de desvaloriza��o da categoria e baixos sal�rios, pouco prov�vel fazer esta escolha. (Participante 10)

Tema 2: Sentimentos com rela��o � profiss�o de Enfermagem

Participantes relataram sentimentos mistos em rela��o � profiss�o. Embora haja uma not�vel satisfa��o e sentimento de realiza��o enfatizados pelos participantes, alguns sentimentos negativos tamb�m foram relatados. Dois subtemas fazem parte desse tema: (1) sentindo-se realizado com a profiss�o e (2) sentimentos negativos referentes � Enfermagem.

Sentindo-se realizado com a profiss�o

Enfermeiros afirmaram sentirem-se felizes e realizados ao desenvolverem suas fun��es. Segundo os participantes, a sensa��o de serem �teis � popula��o � fonte de muitas emo��es positivas. Nas falas abaixo identifica-se o sentimento de realiza��o enfatizado pelos participantes:

Hoje eu me sinto realizada por escolher e conseguir trabalhar na �rea que quero e cumprir meu prop�sito de transformar vidas, ajudando pacientes a terem um p�s-operat�rio mais tranquilo, uma recupera��o mais r�pida, e com menos amputa��es. (Participante 6)

Me sinto realizada com as atividades que desenvolvi na vida profissional. Trabalhei em UTI e atualmente sou enfermeira de terapia intravenosa, ambos trabalhos din�micos e que me permitiram atuar de forma livre, aplicando conhecimento, isto � interessante. (Participante 10)

Me sinto feliz, respeitado, valorizado e �til. (Participante 11)

O sentimento de realiza��o que o profissional experiencia ao realizar suas fun��es pode ser impulsionado pela possibilidade de exercer sua autonomia enquanto enfermeiro e sentir-se como parte fundamental da equipe multidisciplinar. A fala a seguir reflete a import�ncia da coordena��o entre equipes para a realiza��o profissional do enfermeiro:

Gosto de trabalhar em unidade de sa�de, me sinto relevante pelo tipo de atendimento, e gosto de ter um trabalho mais independente, mas ao mesmo tempo, mais integrado com outros profissionais da sa�de (Participante 17)

Embora os participantes sintam-se realizados ao exercerem a Enfermagem, eles podem se sentir tamb�m sobrecarregados e desvalorizados em determinados momentos.� Nas falas abaixo o desgaste e o pouco reconhecimento profissional foram enfatizados:

Me sinto realizada, por�m sobrecarregada por outras demandas. (Participante 2)

Me sinto desempenhando um papel muito importante na vida das pessoas, mas muito desgastante tamb�m. (Participante 15)

Sou feliz na minha profiss�o, por�m me incomoda a desvaloriza��o que a popula��o tem em n�o reconhecer nossa import�ncia. (Participante 19)

Sentimentos negativos referentes � Enfermagem

Participantes relataram as dificuldades da profiss�o de Enfermagem. Segundo eles, condi��es de trabalho desfavor�veis e o pr�prio sistema de sa�de podem fazer com que o enfermeiro desenvolva sentimentos negativos com rela��o � profiss�o. Adoecimento e sensa��o de impot�ncia foram relatados pelos participantes:

A Enfermagem � uma profiss�o onde n�o somos respeitados nem valorizados e nos adoece. Atualmente estou de licen�a m�dica, a Enfermagem me adoeceu. (Participante 1)

Tenho uma sensa��o de impot�ncia em grande parte do tempo. (Participante 25)

Tema 3: Fontes de motiva��o dos enfermeiros

O terceiro tema aborda as fontes de motiva��o dos enfermeiros. Os participantes relataram que podem ser impulsionados por diferentes fatores ao realizarem suas atividades no local de trabalho. O tema � organizado em tr�s subtemas: (1) fazendo a diferen�a na vida do outro; (2) exercendo a autonomia e sendo fonte de inspira��o e (3) fatores financeiros.

Fazendo a diferen�a na vida do outro

Os enfermeiros que participaram da presente pesquisa afirmaram que se sentir �til para a sociedade � uma importante fonte de motiva��o. Assim, o ato de ajudar e cuidar do pr�ximo pode impulsionar o profissional a se sentir mais satisfeito durante o exerc�cio de suas rotinas. Os relatos a seguir identificam o ato de cuidar como uma importante fonte de motiva��o para os enfermeiros:

Fazer a diferen�a na vida de um paciente ainda � minha maior motiva��o. (Participante 2)

Ver a recupera��o dos pacientes e a gratid�o deles e dos familiares � o que me motiva. (Participante 6)

Salvar vidas em primeiro lugar. Segundo lugar, a satisfa��o em ser �til para o outro. Ter um prop�sito na vida. Isso motiva. (Participante 31)

Exercendo a autonomia e sendo fonte de inspira��o

Para os enfermeiros sentir-se independente ao exercer a Enfermagem � uma importante fonte de motiva��o, uma vez que o cuidado de Enfermagem � um talento exclusivo do enfermeiro e exercido de forma aut�noma. As falas a seguir explicitam a satisfa��o dos enfermeiros ao exercerem sua autonomia e inspirarem outros profissionais:

O que me motiva � a minha liberdade em colocar em pr�tica minha forma��o, meus conhecimentos e poder contribuir para uma assist�ncia de qualidade. (Participante 11)

Fortalecer o universo gigante que a Enfermagem ocupa na �rea do cuidado em sa�de e inspirar outros profissionais me motiva. (Participante 12)

Fatores financeiros

Participantes abordaram que a necessidade financeira � um fator motivador para eles continuarem exercendo a profiss�o. Nos relatos a seguir os participantes refletem de forma racional sobre a Enfermagem enquanto profiss�o que garante o sustento, afirmando que atualmente a �nica fonte de motiva��o do enfermeiro � o sal�rio pago no final do m�s:

Atualmente, o que me motiva � a necessidade financeira. Preciso pagar as minhas contas [...] (Participante 15).

No momento o que me motiva s�o as contas que precisam ser pagas. (Participante 24).

Tema 4: Sugest�es para favorecer a motiva��o dos enfermeiros

Os participantes apontaram medidas que deveriam ser tomadas para favorecer a motiva��o dos enfermeiros. O tema � apresentado em quatro subtemas: (1) melhores condi��es de trabalho; (2) reconhecimento pela sociedade do papel da Enfermagem;(3) apoio institucional e (4) a motiva��o come�a em n�s mesmos.

Melhores condi��es de trabalho

Segundo os enfermeiros que participaram da presente pesquisa, melhorias nas condi��es de trabalho da Enfermagem, como aprova��o de um piso salarial digno, e horas de trabalho mais flex�veis, com per�odos de descanso mais longos, s�o importantes medidas para que enfermeiros se sintam mais motivados ao exercerem suas fun��es. Os relatos a seguir refletem o desejo dos participantes de se sentirem mais valorizados enquanto profissionais atrav�s da implementa��o de condi��es de trabalho mais dignas:

A Enfermagem deveria ter condi��es humanizadas de trabalho, respeito profissional e sal�rio justo. (Participante 1)

� preciso reduzir a carga hor�ria, aumentar a faixa salarial, e valorizar as fun��es do enfermeiro. (Participante 2)

Faz-se necess�rio o reconhecimento da profiss�o em todos os aspectos, principalmente financeiros. Al�m do reconhecimento de que o nosso labor precisa de um tempo maior de descanso, visto que na maioria das institui��es privadas a carga hor�ria laboriosa � demasiada. (Participante 5)

Reconhecimento pela sociedade do papel da Enfermagem

Participantes abordaram a necessidade de esclarecimentos sobre as fun��es e autonomia da Enfermagem para que a popula��o possa reconhecer o papel dos enfermeiros. As falas a seguir refletem a import�ncia do desenvolvimento de projetos que divulguem as a��es desenvolvidas pelos enfermeiros e garantam a autonomia da Enfermagem para que haja uma conscientiza��o cont�nua da popula��o a respeito do papel da profiss�o na sociedade:

[�] marketing da profiss�o e divulga��o do que � privativo do enfermeiro para a sociedade, poderia ser uma fonte de motiva��o. (Participante 11)

O reconhecimento de suas potencialidades e autonomia no cuidado motivaria o enfermeiro. (Participante 25)

Apoio institucional

O papel da institui��o de sa�de dando apoio � Enfermagem foi abordado como um fator importante para impulsionar os enfermeiros, fazendo com que eles se sintam mais motivados enquanto trabalham. Os relatos a seguir enfatizam que cursos e treinamentos que permitam o aperfei�oamento cont�nuo da classe, e ascens�o na carreira tamb�m podem ser fontes de motiva��o para os enfermeiros:

[�] cursos de atualiza��o frequentemente, palestras de v�rios nichos, (palestra) motivacional, sobre direitos dos trabalhadores, abordar certas tem�ticas do cotidiano, assuntos que sempre acontecem no ambiente de trabalho, etc. podem ajudar na motiva��o da classe (Participante 7)

Feedbacks mais constantes, treinamentos, planos de carreira s�o fontes de motiva��o. (Participante 28)

A motiva��o come�a em n�s mesmos

Participantes enfatizaram ainda que os pr�prios enfermeiros s�o respons�veis por criar fontes de motiva��o e melhorias na �rea de Enfermagem. As falas abaixo refletem sobre a motiva��o como um processo lento e interno, que deve ser trabalhado pelos enfermeiros para que eles se sintam mais valorizados ao realizarem suas fun��es:

A valoriza��o e a motiva��o do profissional t�m que come�ar dentro dele e � um trabalho de formiga que estamos fazendo, mas avan�ando para a categoria ser valorizada mais justamente. (Participante 6)

A motiva��o � interna, por isso acredito que os enfermeiros na maioria das vezes buscam a motiva��o em lugares errados, e o autoconhecimento � que traz essa clareza. Grande parte dos profissionais est� olhando a profiss�o pela lente errada. (Participante 12)

DISCUSS�O

A motiva��o dos profissionais de sa�de influencia diretamente a efici�ncia e a efic�cia da assist�ncia prestada, afetando, portanto, a qualidade do cuidado.16 Em se tratando da enfermagem, s�o v�rios os motivos que podem impulsionar ou diminuir a motiva��o dos profissionais durante a execu��o de suas tarefas. A pandemia de covid-19, por exemplo, enquanto desencadeou uma diminui��o da motiva��o em alguns enfermeiros,18 foi fonte de motiva��o para outros.19 Fatores que afetam a motiva��o dos enfermeiros devem ser identificados e medidas devem ser tomadas para impulsionar a motiva��o desses profissionais t�o importantes para que o sistema de sa�de alcance suas metas.6 O presente estudo procurou identificar os fatores que motivam os enfermeiros no exerc�cio da profiss�o e fornecer recomenda��es para favorecer a motiva��o desses profissionais.

A escolha de uma profiss�o pode ser muito dif�cil, al�m de decisiva na vida dos indiv�duos.20 Os motivos que levam as pessoas a escolherem uma profiss�o, podem, mais tarde, influenciar seus n�veis de motiva��o ao exercerem suas atividades. Os participantes da presente pesquisa afirmaram que o desejo de cuidar, de se sentirem �teis para a sociedade e o amor pela profiss�o influenciaram suas escolhas ao optarem pela enfermagem. Esses resultados est�o de acordo com os de uma pesquisa realizada na Austr�lia com enfermeiros e estudantes de enfermagem, onde se identificou que a escolha da profiss�o foi baseada no amor pelo ato de cuidar; no estudo, os participantes se referiram � escolha da profiss�o como um �chamado�,21 o que se assemelha a alguns relatos da presente pesquisa. Em um estudo conduzido com estudantes de enfermagem portugueses, o motivo da escolha tamb�m foi associado � vontade de cuidar do pr�ximo, e a um desejo pessoal de exercer a profiss�o. Al�m disso, no mesmo estudo identificou-se que a enfermagem n�o foi a primeira op��o de alguns estudantes.22 Resultado similar foi encontrado numa pesquisa realizada com estudantes de enfermagem turcos, que afirmaram que a enfermagem foi uma segunda op��o.23 Esses resultados tamb�m est�o de acordo com os da presente pesquisa, uma vez que alguns participantes relataram que a escolha da profiss�o foi inconsciente e outros, que n�o escolheriam a enfermagem novamente.

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos determinou que enfermeiros se sentem frustrados com a profiss�o por n�o poderem exercer a autonomia, por se sentirem desvalorizados e devido ao n�mero excessivo de obriga��es que devem ser cumpridas por um n�mero reduzido de profissionais.24 Enfermeiros que participaram do presente estudo relataram opini�es semelhantes, visto que se sentem valorizados quando podem exercer a autonomia e prestar cuidados qualificados � sociedade, mas tamb�m se sentem sobrecarregados pelas v�rias tarefas que devem cumprir.

Fazer a diferen�a na vida do pr�ximo, p�r em pr�tica os conhecimentos enquanto elemento importante da equipe multidisciplinar e quest�es financeiras foram apontadas como fontes de motiva��o pelos participantes do presente estudo. Esses resultados est�o de acordo com os de pesquisas realizadas com enfermeiros em diferentes pa�ses. Satisfazer a demanda do pr�ximo foi identificado em um estudo realizado com enfermeiros sauditas como um importante fator que motiva os enfermeiros no exerc�cio da profiss�o.25 Ser reconhecido na institui��o onde trabalha atrav�s de sistemas justos de avalia��o de performance e sentir-se valorizado como parte importante da equipe multidisciplinar foram apontados como importantes elementos para a motiva��o profissional de enfermeiros et�opes.26 Quest�es salariais, e trabalho em equipe tamb�m foram apontados por profissionais de sa�de turcos como fontes essenciais de motiva��o.10

Participantes sugeriram que melhores condi��es de trabalho, reconhecimento da enfermagem por parte da sociedade, e apoio institucional atrav�s de planos de carreira e cursos de aperfei�oamento poderiam favorecer a motiva��o dos enfermeiros. Essas sugest�es est�o de acordo com os resultados de uma revis�o sistem�tica conduzida em 2018 para determinar os fatores respons�veis pela motiva��o de profissionais de sa�de. Segundo a revis�o, fatores financeiros, condi��es de trabalho, progress�o na carreira e reconhecimento da comunidade s�o decisivos para a motiva��o dos profissionais da �rea da sa�de.16 Uma revis�o de escopo, tamb�m conduzida em 2018 para examinar os fatores que afetam a motiva��o no trabalho de enfermeiros, apontou que treinamentos, oportunidades de ascender na carreira, autonomia, suporte institucional, boas condi��es de trabalho, como sal�rios justos, horas de trabalho flex�veis e seguran�a no trabalho s�o alguns dos fatores respons�veis por impulsionar a motiva��o dos enfermeiros.27 Uma pesquisa realizada com enfermeiros ganeses tamb�m determinou que condi��es de trabalho dignas, como sal�rios adequados; cursos de aperfei�oamento e reconhecimento social s�o fatores que contribuem para a motiva��o dos enfermeiros.28 Condi��es de trabalho e reconhecimento profissional foram citados ainda num estudo pr�vio feito com profissionais de enfermagem brasileiros como fatores que afetam a motiva��o no exerc�cio da profiss�o.7 Al�m de fatores externos, a motiva��o como uma for�a interna tamb�m foi relatada pelos participantes do presente estudo, enfatizando que os enfermeiros precisam ter determina��o e interesse enquanto trabalham para que se sintam motivados. Resultados similares foram observados em pesquisas desenvolvidas na Mal�sia4 e na �frica do Sul12, que destacaram a import�ncia da motiva��o intr�nseca na �rea da enfermagem.

As condi��es de trabalho adversas dos enfermeiros foram citadas diversas vezes pelos participantes da presente pesquisa, tanto como raz�es para a redu��o da motiva��o como motivos para desistir da profiss�o. A insatisfa��o de profissionais de enfermagem com rela��o �s condi��es de trabalho � discutida em v�rios estudos nacionais e internacionais.29 Principalmente quest�es salariais s�o constantes motivos para frustra��es e reividica��es na �rea da enfermagem. Em agosto de 2022 foi sancionada a Lei n� 14.434/2022, que regulamenta o piso salarial da classe no Brasil30. Entretanto, a Lei foi suspensa mais tarde, dando origem a um impasse e aprofundando a frustra��o dos profissionais de Enfermagem, frustra��o essa que se reflete nos relatos dos enfermeiros participantes dessa pesquisa.

Apesar de permitir uma importante an�lise dos fatores que motivam enfermeiros atuantes em diferentes regi�es do pa�s e oferecer sugest�es para que a motiva��o no local de trabalho desses profissionais seja impulsionada, o estudo apresenta algumas limita��es. Uma delas � o m�todo de coleta de dados, que por ter sido online e por meio de question�rios autoaplic�veis n�o permitiu que o assunto fosse abordado de forma mais aprofundada. Al�m disso, por se tratar de um estudo qualitativo, os resultados n�o podem ser generalizados. Recomenda-se que no futuro o tema seja abordado atrav�s de estudos que utilizem desenhos metodol�gicos diferenciados.

CONSIDERA��ES FINAIS

Enfermeiros expressaram suas opini�es com rela��o � motiva��o durante o exerc�cio da profiss�o. Foram identificados os motivos da escolha da enfermagem, fator que pode interferir na motiva��o dos enfermeiros. O amor pela profiss�o e o desejo de ajudar o pr�ximo foram os motivos daqueles que escolheram a enfermagem conscientemente, alguns participantes, por�m, manifestaram escolhas inconscientes, apesar de a maioria dos enfermeiros ter afirmado que escolheria novamente a enfermagem. Enfermeiros se sentem realizados e felizes ao realizarem suas fun��es, mas reconhecem que a profiss�o demanda muitos esfor�os, traz pouco retorno financeiro e deveria ser melhor reconhecida pela sociedade. Fazer a diferen�a na vida do outro, a possibilidade de exercer a autonomia, ser fonte de inspira��o para outros profissionais e fatores financeiros foram apontados pelos enfermeiros como fontes de motiva��o. Segundo os participantes, melhores condi��es de trabalho, reconhecimento pela sociedade, apoio institucional, al�m de esfor�os pr�prios s�o alguns dos fatores que poderiam impulsionar a motiva��o dos enfermeiros.

O profissional que trabalha motivado � mais produtivo e mais eficiente; no caso da enfermagem, a motiva��o ir� afetar diretamente a qualidade do cuidado prestado, uma vez que quando motivado, o enfermeiro � mais engajado e comprometido com seu trabalho. A motiva��o � uma parte crucial da jornada do enfermeiro e deve ser cultivada e fomentada para garantir o bem-estar dos pacientes e do pr�prio profissional. Assim, medidas que favore�am a motiva��o dos enfermeiros, como melhoria das condi��es de trabalho, em especial, do piso salarial e da jornada de trabalho, com a regulamenta��o das 30 horas semanais; cursos de aperfei�oamento; planos de carreira; campanhas que informem a popula��o sobre o importante papel da enfermagem para a sociedade e atividades que fortale�am a uni�o da classe devem ser desenvolvidas por representantes governamentais, administradores de institui��es de sa�de e l�deres de enfermagem.

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Recebido em: 17/02/2023

Aceito em: 09/11/2023

Publicado em: 06/12/2023



[1] Istanbul Health and Technology University (ISTUN) Faculty of Health Sciences. Istanbul. Turquia (TR). E-mail: ana.luiza@istun.edu.tr ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0411-0886

 

Como citar: Aydogdu ALF. Fatores que motivam os enfermeiros no exerc�cio da profiss�o: pesquisa qualitativa. J. nurs. health. 2023;13(3):e13324325. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v13i3.24325