ARTIGO ORIGINAL

Saberes e pr�ticas de cuidado � sa�de no climat�rio

Knowledge and practices of health care in the climacteric

Conocimientos y pr�cticas de atenci�n de la salud en el climaterio

Bisognin, Priscila;[1] Prates, Lisie Alende;[2] Perez, Rhayanna de Vargas;[3] Bortoli, Cleunir de Fatima Candido de;[4] Wilhelm, La�s Antunes;[5] Schimith, Maria Denise[6]

RESUMO

Objetivo: conhecer os saberes e as pr�ticas de cuidado � sa�de adotados no climat�rio por um grupo de mulheres vinculadas a uma Estrat�gia de Sa�de da Fam�lia de um munic�pio da serra ga�cha. M�todo: pesquisa qualitativa, desenvolvida com oito mulheres, em fevereiro e mar�o de 2015. Utilizou-se entrevista grupal e individual, associadas � oficina de bonecas de pano. Adotou-se a proposta operativa para an�lise dos dados. Resultados: os saberes adv�m da pr�pria viv�ncia e/ou das experi�ncias de outras mulheres do seu meio social. As pr�ticas de cuidado est�o associadas aos desconfortos no climat�rio, envolvendo o uso de ervas e plantas medicinais, �gua fria e toalhas �midas, alimentos derivados da soja, atividade f�sica e lazer. Conclus�es: os saberes e pr�ticas de cuidado s�o repassados entre as gera��es e est�o ligados �s condi��es de vida e de trabalho, a hist�ria e o meio social.

Descritores: Enfermagem; Sa�de da mulher; Climat�rio; Menopausa; Cultura

ABSTRACT

Objective: to know the knowledge and practices of health care adopted in the climacteric by a group of women linked to a Family Health Strategy of a municipality of serra ga�cha. Method: qualitative research, developed with eight women in February and March 2015. A group and individuals� interview were used, associated with the workshop of cloth dolls. The operative proposal for data analysis was adopted. Results: knowledge comes from your own experiences and/or experiences of other women in their social environment. Care practices are associated with discomforts in the climacteric, involving the use of herbs and medicinal plants, cold water and wet towels, foods derived from soybean, physical activity, and leisure. Conclusions: knowledge and care practices are passed on between generations and are linked to living and working conditions, history, and the social environment.

Descriptors: Nursing; Women's health; Climacteric; Menopause; Culture

RESUMEN

Objetivo: conocer los conocimientos y pr�cticas de atenci�n de salud adoptados en el climaterio por un grupo de mujeres vinculadas a una Estrategia de Salud de la Familia de un municipio de serra ga�cha. M�todo: investigaci�n cualitativa, desarrollada con ocho mujeres en febrero y marzo de 2015. Se utiliz� entrevista grupal e individu�is, asociadas al taller de mu�ecas de tela. Se adopt� la propuesta operativa de an�lisis de datos. Resultados: el conocimiento proviene de sus proprias experiencias y/o experiencias de otras mujeres en su entorno social. Las pr�cticas de cuidado se asocian con molestias en el climaterio, que implican el uso de hierbas y plantas medicinales, agua fr�a y toallas h�medas, alimentos derivados de la soja, actividad f�sica y ocio. Conclusiones: el conocimiento y las pr�cticas de cuidado se transmiten entre las generaciones y est�n vinculados a las condiciones de vida y de trabajo, la historia y el entorno social.

Descriptores: Enfermer�a; Salud de la mujer; Climaterio; Menopausia; Cultura

INTRODU��O

As palavras menopausa e climat�rio costumam ser tratadas como sin�nimos. Contudo, vale destacar que o climat�rio representa um processo fisiol�gico e natural da vida da mulher e que compreende a transi��o entre o per�odo reprodutivo e o n�o reprodutivo da sua vida. Por outro lado, a menopausa � reconhecida ap�s um ano da ocorr�ncia do �ltimo ciclo menstrual, o que pode ocorrer entre os 48 aos 50 anos de idade.1

Neste estudo, o conceito adotado � aquele que compreende o climat�rio a partir de uma dimens�o multifatorial, ou seja, que contempla n�o apenas os aspectos biol�gicos, mas os socioculturais, espirituais, entre outros. Na abordagem da mulher que vivencia o climat�rio, � fundamental n�o se restringir ao aspecto fisiol�gico, pois as mudan�as corporais est�o cercadas por aspectos psicol�gicos e culturais, al�m de mitos e desigualdades sociais e de g�nero.2

Portanto, o climat�rio n�o � determinado somente pela cronologia ou pela cessa��o da menstrua��o, mas pela condi��o social e cultural, na qual a mulher est� inserida.3 Logo, a percep��o das queixas, quando ocorrem, variam de acordo com a cultura, o n�vel socioecon�mico e os fatores individuais. Assim, � necess�rio compreender a cultura como um sistema marcado por simbologias, que precisam ter seus significados interpretados.4

Mais que uma fase da vida da mulher, que pode passar despercebida pelos servi�os de sa�de, o climat�rio pode ser um per�odo de grandes significados e que precisa ser vivido na sua plenitude. Nessa perspectiva, compreender o contexto sociocultural de cada mulher contribui para que o enfermeiro desenvolva suas pr�ticas pautadas na compreens�o ampliada dos determinantes do processo sa�de-doen�a.3

Com isso, reconhece-se que a mulher prov�m de uma fam�lia e cultura, sendo sua vida permeada por in�meros acontecimentos que a fazem construir suas pr�ticas de cuidado.5 Essas pr�ticas agrupam as experi�ncias culturais aprendidas e socializadas pelos indiv�duos ou grupos a respeito dos cuidados que realizam ou lhes s�o direcionados. Assim, o setor popular de cuidados de sa�de pode ser pensado como uma matriz, contendo v�rios n�veis: cren�as e atividades individuais, familiares, da rede social e da comunidade.6

Diante do exposto, apresenta-se, neste artigo, os resultados provenientes de uma disserta��o de mestrado, que direcionaram a quest�o de pesquisa �quais s�o os saberes e as pr�ticas de cuidado � sa�de adotadas no climat�rio por um grupo de mulheres vinculadas a uma Estrat�gia de Sa�de da Fam�lia (ESF) de um munic�pio da Serra Ga�cha�? O objetivo do estudo foi conhecer os saberes e as pr�ticas de cuidado � sa�de adotadas no climat�rio por um grupo de mulheres vinculadas a uma ESF de um munic�pio da Serra Ga�cha.

MATERIAIS E M�TODO

Pesquisa qualitativa, de campo e descritiva, desenvolvida com mulheres, em um munic�pio da Serra Ga�cha, isto �, no estado do Rio Grande do Sul, nos meses de fevereiro e mar�o de 2015. Oito participantes foram selecionadas de forma intencional, a partir da indica��o do m�dico ou enfermeiro da ESF, considerando-se os crit�rios de inclus�o: mulheres na faixa et�ria entre 40 e 65 anos. Os crit�rios de exclus�o foram mulheres que realizaram ooforectomia bilateral associada, ou n�o, � histerectomia.

O convite para participar da pesquisa foi realizado verbal e individualmente a cada participante. Elas tamb�m foram esclarecidas sobre a operacionaliza��o dos encontros.

Na produ��o dos dados, utilizou-se a entrevista grupal, no contexto da oficina de bonecas de pano. Para a caracteriza��o do grupo de participantes, foi empregada a t�cnica de entrevista semiestruturada individual, em uma sala na pr�pria ESF, tendo a presen�a apenas da participante e da pesquisadora principal. As entrevistas grupais e individuais foram audiogravadas, com o consentimento das participantes.

Na sequ�ncia, ap�s identificar a disponibilidade de dia, turno e hor�rio das participantes, foi agendada a data e local para o in�cio das oficinas, que ocorreram na sala de reuni�es da ESF. Os encontros subsequentes foram semanalmente, conforme a disponibilidade da pesquisadora e das participantes. Na v�spera de cada encontro, foi feito contato por telefone com as participantes, reafirmando o hor�rio e o local do encontro. Ao final de cada reuni�o, foi entregue um lembrete contendo as informa��es do pr�ximo encontro e de agradecimento pela presen�a.

A produ��o dos dados deste estudo centrou-se no contexto da oficina de bonecas de pano. Esta possui embasamento te�rico na oficina pedag�gica7 ou educativa.8

Ao todo, foram desenvolvidas tr�s oficinas, com intervalo semanal e dura��o m�dia de uma hora e trinta minutos. Na operacionaliza��o das oficinas foram seguidas as etapas:7 1) etapa de configura��o do espa�o para a realiza��o da oficina; 2) etapa de sensibiliza��o, em que foi o tema e o objetivo eram lan�ados �s participantes; 3) etapa de viv�ncia art�stica, na qual s�o materiais e t�cnicas s�o explorados com o intuito de permitir a express�o em linguagem n�o verbal das impress�es acerca do objeto de investiga��o; e 4) etapa de express�o verbal acerca das viv�ncias.

Ao final da produ��o dos dados, todo o material foi armazenado em arquivos digitais. Ap�s, eles foram analisados a partir da proposta operativa,9 a qual leva em considera��o o contexto e aquilo que deriva da experi�ncia comum, do cotidiano. Essa proposta � dividida em dois momentos operacionais: explorat�rio e interpretativo.

A fase explorat�ria incluiu o contexto s�cio-hist�rico do grupo a ser estudado. Nesse momento, se deu a busca de compreens�o da hist�ria do grupo, seu ambiente, as condi��es socioecon�micas, a participa��o e inser��o na sociedade.9 Na pesquisa, essa fase teve seu in�cio ao tomar conhecimento da ESF como poss�vel cen�rio de pesquisa, durante a constru��o do projeto e com a participa��o de atividades na comunidade e no servi�o. Ap�s esse momento, a entrevista semiestruturada individual possibilitou a primeira compreens�o sobre o contexto socioecon�mico e de sa�de das mulheres participantes, aspectos que foram aprofundados no decorrer dos encontros nas oficinas.

A fase interpretativa constituiu-se de duas etapas: a ordena��o dos dados se deu por meio da transcri��o do material obtido atrav�s da coleta dos dados, leituras do material e organiza��o dos relatos, os quais determinaram o in�cio da classifica��o dos resultados obtidos; a classifica��o dos dados correspondeu � segunda etapa, em que se realizou a leitura horizontal e exaustiva dos achados, e atrav�s de leituras flutuantes foi poss�vel apreender as estruturas de relev�ncia e as ideias centrais dos depoimentos; a leitura transversal foi o momento de estabelecer rela��es entre os dados, construindo as categorias ou unidades de sentido. A an�lise final compreendeu a fase na qual os dados obtidos foram confrontados com os com os referenciais te�ricos acerca do tema.

Por fim, destaca-se que foi fornecido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido �s participantes, o qual foi desenvolvido em duas vias, das quais uma ficou em posse da participante e a outra da pesquisadora respons�vel. As participantes escolheram um codinome ou pseud�nimo para assim preservar o seu anonimato. O projeto de pesquisa teve aprova��o do Comit� de �tica em Pesquisa, sob Certificado de Apresenta��o para Aprecia��o �tica 39318614.0.0000.5346, em 11 de dezembro de 2014.

RESULTADOS E DISCUSS�O

As mulheres participantes deste estudo eram, em sua maioria, da �rea rural e tinham seu pr�prio modo de cuidar da vida, da sa�de ou tratar as doen�as. Diante disso e frente �s mudan�as e queixas relatadas no climat�rio, algumas mulheres lan�am m�o de estrat�gias para se cuidar, sejam por meio de ch�s, atividades de lazer, exames de rotina preconizados pelo modelo de sa�de hegem�nico ou alguma receita que aprenderam com familiares, amigas ou vizinhas. Essas pr�ticas emergem da pr�pria experi�ncia e s�o apreendidas no meio social onde vivem.

Minhas parentes, minhas irm�s mais velhas, minhas tias, minha m�e. Elas diziam que ia parar as menstrua��es e iria vir os calor�es. (Nena, 63 anos)

Eu tive que perguntar para a m�e, mas ela n�o � muito de falar dessas coisas, eu aprendi mais com as minhas tias. A gente se encontrava e elas explicavam tudo. (Cristina, 46 anos)

Na �poca eu era adolescente quando minha m�e entrou na menopausa, via a conversa com as amigas, depois fui estudar, procurei ler na internet, e hoje tem bastante informa��o. Hoje s� n�o sabe quem n�o quer, tem que buscar ler. (Clara, 45 anos)

A partir da aproxima��o da cultura de um grupo ou de cada indiv�duo, � poss�vel compreender como certos saberes e pr�ticas de cuidado ocorrem e o significado que as pessoas atribuem a determinadas experi�ncias sociais. Nessa perspectiva, autor refor�a que a cultura orienta a exist�ncia humana e as pr�ticas populares de sa�de, as quais s�o constitu�das de rituais, cren�as e saberes difundidos entre os membros de um grupo.4

As experi�ncias das m�es, av�s e tias foram as primeiras refer�ncias paras essas mulheres terem conhecimento acerca do climat�rio. O fato de sentir algo, de apresentar alguma queixa era a forma encontrada pela mulher para orientar e explicar as modifica��es corporais.

Nessa dire��o, concorda-se com autores que dizem que � na fam�lia que todo ser humano recebe os primeiros cuidados, seja de higiene, alimenta��o e intera��o afetiva, fundamental � sa�de mental e constitui��o da personalidade. Logo, nesse contexto familiar, a mulher costuma assumir o papel de respons�vel pelo cuidado de seus membros e seu pr�prio cuidado, conforme tamb�m apontado em outro estudo.5

Uma das participantes relatou a busca por informa��es por meio de leituras, enfatizando que esse meio � socializado atualmente e dispon�vel a todas as pessoas. Recorre-se, em alguns cen�rios socioculturais, especialmente � internet para a busca de informa��es, pois tal ferramenta facilitou o acesso do p�blico para fundamentar suas pr�ticas de sa�de. Esse fato � refor�ado tendo em vista que o Brasil est� na quinta coloca��o quando o assunto � a busca por informa��es e orienta��es sobre sa�de na Internet, utilizando-as para a automedica��o e diagn�stico, no entanto, ainda h� a exclus�o digital, mesmo diante do crescente n�mero de usu�rios que se restringe aos grandes centros e aos com maior poder aquisitivo.10

Nesse sentido, � preciso considerar que as pessoas recorrem a Internet para o esclarecimento de d�vidas sobre assuntos ligados � sa�de. Diante disso, � preciso considerar a possibilidade do uso desse recurso para a busca de informa��es sobre sa�de.

Na sequ�ncia, observou-se que o papel das av�s e tias foi essencial para os esclarecimentos sobre as transforma��es com o corpo. Entretanto, para uma das participantes, o sil�ncio das m�es foi destacado e este pode estar relacionado � falta de informa��es ou por ser um assunto que gerava desconforto.

Ah, eu acho que era um assunto que deixava elas meio encabuladas, era um tabu, fim do mundo! Elas aprendiam entre elas, ia passando de gera��o para gera��o, e n�o tinha algu�m que orientasse. Ent�o era meio escondido, quando tinha adolescente vendo era meio cochichado [sussurrado], parece que era uma coisa vergonhosa entrar na menopausa, parecia o fim do mundo. (Clara, 45 anos)

Tinham vergonha de falar para gente. (Nena, 63 anos)

A aus�ncia de di�logo, da falta de comunica��o entre as gera��es pode ocorrer e traduzir-se em dificuldades na viv�ncia das pessoas. Em contrapartida, quando h� comunica��o, os v�nculos tendem a se consolidar por meio da solidariedade, que � fundamental para lan�ar novos horizontes para o futuro. Tamb�m a proximidade ou a presen�a de diferentes gera��es no mesmo espa�o f�sico facilita a transmiss�o dos saberes entre elas. Pode-se compreender, a partir disso, que um membro da fam�lia troca valores, experi�ncias e, at� mesmo, os sil�ncios com o outro, ou seja, os di�logos que n�o ocorrem e as d�vidas que n�o s�o esclarecidas. Isso pode ser denominado de transmiss�o intergeracional e compreende a travessia de uma gera��o a outra na transmiss�o de rituais, tradi��es, linguagem, comportamentos.11-12

Essas rela��es de aprendizado ocorrem principalmente entre as mulheres que exercem pr�ticas populares de cuidado, que adquiriram conhecimentos e apoio com outras mulheres mais experientes, quase sempre pertencentes ao seu grupo familiar.12

Em rela��o aos �fogachos�, as mulheres tamb�m encontram formas de aliviar os calor�es. Para as participantes, essas manifesta��es podem ser amenizadas com medidas que as pr�prias mulheres t�m acesso, visualizadas nas pr�ticas do setor popular de cuidados � sa�de que realizam para tirar o calor do corpo, como banho frio, esfriar os punhos com �gua fria ou colocar toalhas �midas frias, nas pernas.

Tomo banho de �gua fria, molho os pulsos na torneira. (Clara, 45 anos)

Coloco a toalha de banho molhada nas pernas. (Nena, 63 anos)

Essas atitudes s�o estrat�gias adotadas por boa parte das mulheres que enfrentam os fogachos, de uma forma geral, contudo nem sempre relatadas pela literatura cient�fica. Sabe-se que, em cada contexto cultural, tamb�m se desenvolvem diversas formas de pr�ticas de cuidado frente aos calores do climat�rio, como em um grupo de mulheres colombianas que fervem �gua com folhas de trevo vermelho (Trifolium rubens L.) e depois a ingerem, com o intuito de reduzir a temperatura corporal.13

Nessa dire��o, destaca-se que o setor popular de cuidados entrela�a v�rias quest�es, como as cren�as e atividades individuais, familiares, da rede social e da comunidade.6 S�o pr�ticas leigas, n�o especialistas, que emergem da arena da cultura popular em que a doen�a � reconhecida pela primeira vez e as pr�ticas de cuidados de sa�de s�o iniciadas.

Ainda no conjunto de pr�ticas utilizadas no cuidado � sa�de oriundas do saber popular, t�m-se as dietas como formas de tratamentos e o uso de plantas medicinais.

Acho que na alimenta��o, eu andei lendo, comer coisas com soja, n�, tomar leite de soja. (Clara, 45 anos)

Eu ouvi falar muita coisa sobre a soja! Diz que a soja ajuda bastante. S� diz que tem que come�ar a tomar antes [da menopausa], que a gente tem que se preparar. No Mato Grosso, numa escola eles fazem tudo com soja. L� mesmo que fazem o leite de soja. (Maria Marta, 48 anos)

Uma participante enfatizou a import�ncia de consumir alimentos derivados da soja. Por�m, elas refor�am que o consumo deve ocorrer antes da menopausa. As participantes tamb�m mencionam que a soja ameniza as queixas que surgem nesse per�odo.

� preciso considerar que o conhecimento trazido pelas mulheres se coaduna aos saberes cient�ficos, pois sabe-se que existem muitos fitoestr�genos nesta leguminosa. Logo, ela � considerada um composto qu�mico n�o hormonal, semelhante aos horm�nios estrog�nicos humanos.14

Ainda cabe destacar que as isoflavonas presentes em 25 a 30g/dia de prote�na isolada de soja s�o capazes de proporcionar al�vio na intensidade das queixas do climat�rio. Autores destacam que, ap�s o uso da prote�na isolada, pode ocorrer a transi��o de manifesta��es moderadas para leves de uma forma geral, o que possibilita bem-estar e melhor qualidade de vida.14 Por�m para alguns autores, a recomenda��o do seu uso ainda � inconsistente, pois eles consideram que a efic�cia do isoflavona no organismo � m�nima.15

Outras participantes citam outros recursos para amenizar os sintomas apresentados no climat�rio. Aprende-se com a vizinha, com a amiga, com a colega de trabalho que tinha uma av� e detinha conhecimentos sobre o uso de ch�s, quase sempre com quem experimentou certas pr�ticas de cuidado. Os depoimentos revelam os rituais dispensados no preparo dos ch�s, al�m do conhecimento sobre a quantidade a ser consumida, a forma de preparo, o cuidado na escolha das folhas, como no caso da parreira.

Minha amiga, vizinha, dizia que quando tu sentires calor�o toma ch� de folha de parreira. Tinha que pegar as folhas, mas n�o as com veneno, quando vinham aqueles brotos. Coloca uma folha numa x�cara, colocava �gua fervendo. Acalmava os calor�es e me sentia bem. (Jasmim, 60 anos)

Eu tinha uma colega que tomava ch�, quando ela viu que ia parar de menstruar, ela tomava ch� daquela folha da amora branca de mato, e ela disse que ia ao m�dico fazer exame, que sabe que a mulher que para de menstruar vai ter os horm�nios. Muitas t�m que tomar pela tireoide, eu j� estou tomando rem�dio para a tireoide. E ela disse se tu tomar esse ch�, tu n�o vais ter nada! Por causa da menopausa, por causa dos calor�es, a press�o sobe, muitas sofrem de press�o alta quando para de menstruar. Ela tomava uma garrafinha dessas, de 200 ml, por dia. O m�dico se surpreendeu porque tinha umas 30, e a �nica que n�o tomava nada de rem�dio era ela, com 62 anos. A av� dela era bugre, e ela dizia que as tias e os parentes dela l� da fronteira todas est�o tomando isso, e nenhuma vai ao m�dico. (Cristina, 46 anos)

A literatura cient�fica tamb�m refor�a o uso que as pessoas fazem das ervas e plantas, como em um levantamento etnobot�nico de plantas utilizadas como medicinais. A amora branca (Morus alba L.), por exemplo, tem seu uso popular devido aos efeitos anti-hipertensivos,16 comuns � mulher durante a menopausa, devido � deple��o de estrog�nio, respons�vel pela prote��o dos vasos sangu�neos na mulher.17

N�o somente a amora branca, mas os resultados de estudo confirmam a utiliza��o do ch� de amora preta (M. nigra) no tratamento de queixas do climat�rio, apresentando um importante consenso de informa��o.18 Com rela��o � folha da videira, sabe-se que possui atividade antioxidante e que tanto as variedades de folhas das castas brancas e tintas apresentam atividade bloqueadora de radicais antioxidantes.19

Nessa dire��o, � sabido que, desde o in�cio da humanidade, as mulheres estiveram relacionadas com pr�ticas de cuidado que se utilizavam de recursos da natureza. Pr�ticas estas transmitidas de gera��o em gera��o, entre mulheres, por meio da fam�lia ou de pessoas conhecidas que j� tiveram uma experi�ncia pr�via de cuidado � sa�de por meio do uso de recursos naturais. Autores corroboram que as pr�ticas populares de cuidado � sa�de est�o alicer�adas no conhecimento de familiares e no conselho de pessoas sobre determinada pr�tica de cuidado.20

Dessa forma, as pr�ticas populares de sa�de s�o observadas no cuidado do outro, como nas atividades das parteiras tradicionais, dos erveiros e raizeiros, dos benzedores, nos terreiros de candombl�s, entre outros. Por isso, o cuidado do outro pode ser considerado um ato de solidariedade refor�ado como possibilidade de afirma��o da vida.21

Assim, pode ser pertinente a necessidade de outros estudos aproximando os conhecimentos populares e cient�ficos, uma vez que as pessoas lan�am m�o dos conhecimentos adquiridos popularmente, intergeracional e no meio sociocultural em que vivem, mostrando que conhecem para o que servem determinadas ervas e ch�s. Por outro lado, as d�vidas em rela��o a tratamentos convencionais e cient�ficos tamb�m existem e n�o asseguram seu uso para aliviar as queixas do climat�rio.

Tu me destes esses dias um gel, s� n�o experimentei ainda! [muitos risos coletivos]. (Jasmim, 60 anos)

O gel para passar l�! Tem l� [na sala da enfermeira], tem um monte ali. (Clara, 45 anos)

Para dar vontade? Para fazer fogo? (Milena, 50 anos)

Para n�o ressecar. (Nena, 63 anos)

Pode-se perceber o equ�voco da participante quando entende o gel lubrificante como um recurso para estimular o prazer, quando na verdade ele permite um maior conforto nas rela��es sexuais, tendo em vista que a lubrifica��o vaginal tende a ficar diminu�da nesse per�odo. Muitas mulheres pouco falam sobre a diminui��o na lubrifica��o vaginal, pois nem sempre s�o oferecidas oportunidades para que exponham essas dificuldades, repercutindo inclusive no acesso aos cuidados, os quais tamb�m ficam prejudicados. Nota-se que o cuidado profissional tamb�m � importante �s mulheres nessa fase, e a procura pelos servi�os ou profissionais de sa�de se d�, muitas vezes, em fun��o de algumas manifesta��es relacionadas ao climat�rio.

Menstruo a cada 25 dias, e meu seio empedra e me d� muita febre. A� eu corro: enfermeira, o que eu fa�o? A� ela me encaminha para o m�dico, tomo antibi�tico e fa�o mamografia, tudo bem. (Cristal, 49 anos)

Falei uma vez para o m�dico que eu n�o aguentava de dor nas pernas e do calor�o, e ele disse que era normal, � da idade. Ent�o eu continuei a colocar a toalha molhada em cima das pernas. (Nena, 63 anos)

Parei com 45, come�ou a parar, e o m�dico me receitou comprimido para eu menstruar, porque eu era muito nova para parar de menstruar, ent�o eu tomei at� os 52. A� parou mesmo, at� com os comprimidos, a� ele disse que agora � hora de deixar parar mesmo, a� n�o veio mais. N�o menstruei mais. (Jasmim, 60 anos)

Percebe-se nos depoimentos, al�m das queixas com rela��o � mastalgia, aos fogachos e � irregularidade menstrual, a conduta de cada profissional frente � aten��o dispensada a essas mulheres. A conduta da enfermeira, nesse caso, foi realizar o encaminhamento para o m�dico, que no entendimento da participante foi resolutivo, embora n�o tenha sido observado no relato, alguma outra orienta��o de cuidado. Diante da queixa do �calor�o� e dores nas pernas, percebe-se certa naturaliza��o, pois h� o entendimento de que s�o �repercuss�es da idade�, pr�prias do climat�rio. Este fato n�o significa medicalizar cada queixa trazida, mas buscar compreender o contexto sociocultural da mulher e se esses desconfortos prejudicam a sua qualidade de vida e, assim, oferecer a orienta��o adequada dentro de cada realidade e/ou refor�ar alguma pr�tica de cuidado j� realizada.

Os dados indicam que as participantes se cuidam tamb�m a partir de influ�ncia dos profissionais, especialmente do m�dico, embora uma depoente n�o tivesse sua demanda atendida e tenha encontrado no uso da toalha molhada sobre as pernas o al�vio frente aos fogachos, conformando-se que a idade traz alguns inc�modos. Nesse contexto, autores salientam que os fogachos representam os sintomas mais intoler�veis pelas mulheres em climat�rio.22

Quanto � depoente que citou o uso de comprimidos, considera-se que ela se refere � reposi��o hormonal, em que o m�dico entendeu que a interrup��o precoce da menstrua��o implicaria na sa�de da mulher. Observa-se o olhar medicalizado desse evento da vida, mas cabe observar o risco e benef�cio da reposi��o hormonal, observando as caracter�sticas e contexto de sa�de de cada mulher.

Com base nas evid�ncias, a terapia de reposi��o hormonal na menopausa (THM) � a estrat�gia de primeira escolha para mulheres que apresentam risco elevado de fratura e encontram-se abaixo dos 60 anos de idade, na presen�a ou n�o de queixas, contribuindo tamb�m para reduzir o risco de c�ncer de c�lon. Contudo, h� algumas quest�es a serem observadas: as mulheres que iniciam a THM ap�s 10 anos de menopausa apresentam risco aumentado para eventos cardiovasculares, como manifesta��es tromboemb�licas; j� aquelas que iniciam antes desse per�odo tendem a ter baixo risco para esses eventos.23

Observa-se, ent�o, que a demanda espont�nea das mulheres em climat�rio � condicionada pelos agravos � sa�de, a partir da percep��o, culturalmente determinada, de que alguns agravos merecem aten��o dos profissionais da sa�de e outros poderiam ser enfrentados sem a participa��o deles.24 Nesse sentido, cada indiv�duo � dotado de complexidade e demandas m�ltiplas com rela��o � sa�de do corpo e da alma, se � que se pode separ�-las, por isso suas necessidades precisam da abordagem multiprofissional e interdisciplinar.

Al�m dos cuidados que as mulheres realizam sob a orienta��o dos profissionais de sa�de, alguns familiares orientam sobre a atividade f�sica. Esta foi mencionada como uma pr�tica importante para a sa�de.

A minha filha � professora de educa��o f�sica diz para caminhar muito. (Jasmim, 60 anos)

A gente n�o � s� trabalhar, tem que ter uma atividade f�sica, uma distra��o. (Nena, 63 anos)

Minha irm� me diz: vai fazer uma academia, uma gin�stica, tu s� ficas a� nessa vida sedent�ria. (Clara, 45 anos)

Minha filha, quando eu n�o podia caminhar, ela me deu uma esteira. Por que vai caminhar onde? No asfalto? Que n�o tem acostamento! Passa um caminh�o alto, tu morres do cora��o, tu te encolhes toda. (Nena, 63 anos)

Os depoimentos demonstram as orienta��es fornecidas pelos familiares, geralmente os mais pr�ximos como, neste caso, pelas filhas e irm� das depoentes. A atividade f�sica tamb�m pode ser vista como uma distra��o, uma possibilidade de lazer. Al�m disso, uma participante destacou o fato de a filha ser professora de educa��o f�sica, o que torna as orienta��es mais significativas para ela, evidenciando uma pr�tica de cuidado poss�vel com a ajuda do outro, como no caso da participante que ganhou a esteira da filha.

A realiza��o de exerc�cios f�sicos est� implicada na diminui��o das queixas no climat�rio. Nesse sentido, a pr�tica de atividade f�sica contribui para a redu��o de fogachos, ins�nia, fadiga, palpita��o, entre outros. Logo, a atividade f�sica pode acarretar impacto positivo na qualidade de vida das mulheres climat�ricas.25

Entretanto, torna-se indispens�vel refletir sobre o que est� sendo oferecido em termos de atividades f�sicas �s mulheres em climat�rio, ou quais as limita��es que impedem que participem delas quando s�o oferecidas. Junto ao grupo em estudo, semanalmente, h� um grupo de atividade f�sica realizada por profissional do N�cleo de Apoio � Sa�de da Fam�lia (NASF) que vai at� a comunidade, por�m isso n�o foi referido por elas.

Aliado ao entendimento que a atividade f�sica � importante, mas nem sempre � parte da rotina das mulheres, a alimenta��o foi outro aspecto referido. As falas revelam que existe a consci�ncia de se atentar para uma alimenta��o mais saud�vel especialmente nessa fase.

�s vezes, a gente n�o tem nem vontade de se cuidar. Mas tem que pensar, ah hoje vou comer isso, vou comer aquilo, mas se eu sei que me faz mal porque eu vou comer. (Cristina, 46 anos)

Na alimenta��o! Eu me cuido bastante. (Nena, 63 anos)

Na alimenta��o eu cortei o azeite, o �leo de cozinha, uso muito pouco! Creio que eu tenho que melhorar muita coisa. Reduzir o a��car, as farinhas, que isso a� faz um ac�mulo no organismo. (Clara, 45 anos)

O principal cuidado que as mulheres t�m em rela��o � alimenta��o, ao que parece, est� relacionado, principalmente, com a ingesta de carboidratos e gorduras. Por outro lado, h� aquelas que nem sempre conseguem ter uma alimenta��o saud�vel, mesmo sabendo das implica��es de comer o que �faz mal� � sa�de e entendem, que uma alimenta��o desiquilibrada ou em excesso favorece o surgimento de doen�as. Nesse sentido, pode ser necess�rio um est�mulo para se cuidarem, seja por meio de orienta��es alimentares, receitas saud�veis, pr�ticas e que levem em considera��o os recursos que cada realidade disp�e.

As participantes tamb�m recorrem aos cuidados como no uso de medicamentos, que foi citado pela maioria das participantes. Entretanto, � preciso considerar que estes recursos s�o utilizados devido �s condi��es ligadas ao envelhecimento e n�o ao climat�rio, visto que as condi��es cr�nicas n�o transmiss�veis, como a diabetes e a hipertens�o arterial, est�o cada vez mais presentes na vida das pessoas.

Eu s� comecei a tomar rem�dio depois dos 50. Um dia eu estava no centro, e parecia cerra��o, e n�o era cerra��o. Era a press�o. Fui tirar a press�o e estava quase 20. Da� em diante comecei a tomar rem�dio para press�o, diabetes. (Nena, 63 anos)

A minha ansiedade � comer, quando eu estou nervosa tudo o que vejo na frente como! Era o que eu n�o poderia fazer, porque eu tenho diabetes, press�o alta, a� eu me acerto com a geladeira. (Maria Marta, 48 anos)

Esses relatos revelam que algumas doen�as cr�nicas n�o transmiss�veis fazem parte do cotidiano das mulheres em climat�rio muito em fun��o do processo de envelhecimento e do estilo de vida. A falta de cuidados com a pr�pria sa�de tamb�m � percebida na fala da participante, quando refere que a ansiedade ou nervosismo contribui para os excessos alimentares que prejudicam ainda mais a sa�de da mulher.

As mulheres tamb�m referiram a import�ncia dos exames de rotina. Nesse caso, elas citaram a mamografia e o exame preventivo de colo uterino.

Tem que cuidar muito os exames, cuidar do �tero, dos ov�rios. A mamografia, tem que cuidar muito das mamas. (Jasmim, 60 anos)

Tenho que fazer o citopatol�gico. (Maria Marta, 48 anos)

Esses cuidados s�o poss�veis porque as mulheres reconhecem ou aprenderam a reconhecer a import�ncia dos acompanhamentos que integram o sistema m�dico. O exame citopatol�gico cervical � o exame mais referido pelas mulheres, sendo ele a principal estrat�gia utilizada para detec��o precoce da doen�a.26

Dessa forma, a assist�ncia � sa�de precisa ser fornecida de forma integral e multiprofissional, considerando as necessidades de sa�de, as viv�ncias, anseios e expectativas dos indiv�duos.24 Por isso, muitas estrat�gias de cuidado que as pessoas realizam percorrem os diferentes setores de cuidado � sa�de, refletem as cren�as, as influ�ncias recebidas durante a vida acerca das pr�ticas de cuidado e que, portanto, devem ser levadas sempre em considera��o ao se prestar assist�ncia.

Muitas atividades e pr�ticas de cuidado que as participantes deste estudo realizam, notadamente, est�o relacionadas com a sua hist�ria de vida. Com isso, diversas possibilidades de lazer tamb�m s�o citadas nos relatos das participantes.

Eu vou pescar! � bom pescar, desestressa! Eu vou de vez em quando. (Nena, 63 anos)

Eu gosto de escutar bastante m�sica, mexer na terra! Se eu estou um pouco triste vou l� para fora. (Nani, 48 anos)

Mexer na terra. (Milena, 50 anos)

Eu tamb�m! Vou na minha horta. (Jasmim, 60 anos)

E se est� chovendo tiro o chinelo vou de p�s descal�os, pisoteio no barro um pouco, e acalma. (Nani, 48 anos)

Fiz boneca que aprendi aqui no posto, bastantes trabalhos, mas n�o desse tipo, aqui aprendi um monte de coisas, tapete de l�, fa�o croch�, fa�o tric�. Fazia, n�o fa�o mais. (Nena, 63 anos)

Ent�o ajuda n�, conversar, ler, sair, os grupos, dan�ar. (Clara, 45 anos)

De vez em quando dar uma saracoteada [dan�ar] cai a ferrugem! Faz bem para mente, para espairecer um pouco, � uma terapia. (Nani, 48 anos)

� uma terapia, renova a alma. (Clara, 45 anos)

Os relatos apontam uma diversidade de entretenimentos poss�veis no cotidiano dessas mulheres. S�o pr�ticas que conferem bem-estar, relaxamento e socializa��o, implicando na sa�de f�sica e ps�quica, importantes para a viv�ncia do climat�rio. Pescar e escutar m�sica fornecem distra��o diante das poss�veis perturba��es vivenciadas. A m�sica proporciona conforto e prazer, al�m de ser um importante recurso para a percep��o de si e na express�o das emo��es.27 Algumas formas de lazer que podem ser vistas como trabalho e obriga��o, como cuidar da horta e limpar o jardim tamb�m podem representar um momento de relaxamento e entrar em contato com os elementos da natureza. E isso se mostra muito presente na vida das participantes, como uma forma de apego � terra e tudo o que vem dela, pois a maioria delas vive na zona rural.

Por isso, ter uma �distra��o� ou lazer pode ser compreendido como uma manifesta��o cultural que associa m�ltiplas rela��es com os aspectos socioecon�micos, que constituem as sociedades na contemporaneidade.28 Aliado a isso, vinculadas � terra, seja como trabalho ou forma de lazer, o fato � que o trabalho feminino no cen�rio rural produz alimentos e garantem o sustento familiar por meio das atividades no campo, al�m de se ocuparem com o plantio de ervas medicinais e com o artesanato.29

As atividades de lazer s�o essenciais nessa fase, uma vez que muitas mulheres podem se deparar com a aposentadoria e com o fato de estarem sem a companhia dos filhos ou do parceiro. Assim, as participantes encontram diversas formas ou possibilidades de lazer, necess�rias para seu bem-estar.

Leitura, passeios e atividades grupais foram citadas por uma depoente como pr�tica que contribui para a sa�de mental. A dan�a tamb�m foi referida por algumas das participantes como uma forma de �terapia� e que �renova a alma�. Sendo assim, sabe-se que dan�ar contribui para melhora da aptid�o f�sica, autoestima, sociabiliza��o e constru��o de v�nculos afetivos, equil�brio, melhora da qualidade de vida, satisfa��o pessoal, entre outros benef�cios.30

No tocante � boneca, mencionada por uma das participantes, cabe mencionar que toda a produ��o de dados se deu em torno da confec��o desse objeto. O objetivo da atividade era motivar as mulheres a se reunirem para conversar sobre o climat�rio enquanto confeccionavam suas bonecas (Figura 1).

A escolha pela boneca de pano deve-se ao fato das poss�veis representa��es que esta pode possibilitar, bem como por estar ligada culturalmente � figura feminina. Assim, compreendeu-se que a confec��o da boneca poderia permitir representa��es particulares, sem a inten��o de refor�ar o senso comum da sociedade, que diz que mulher tem que brincar com boneca para aprender a cuidar dos filhos. Portanto, considerou-se que, ao criarem ou aprenderem a criar a boneca de pano, as participantes, ao mesmo tempo em que costuravam, poderiam representar sua pr�pria viv�ncia, refletir sobre seus saberes, pr�ticas e/ou cren�as, enquanto se pensava e discutia o cuidado no climat�rio.

Em um primeiro momento, houve certo desconforto quando foi sugerida a proposta de boneca de pano, pois algumas mulheres relataram que nunca tinham feito e que n�o sabiam como fazer. No entanto, o medo foi amenizado, quando foram apresentadas algumas bonecas constru�das no projeto piloto desta pesquisa. Assim, elas puderam olhar, tocar e imaginar como sua boneca poderia ser criada.

Desse modo, a confec��o da boneca de pano facilitou a express�o das falas, criando um espa�o de conviv�ncia e de cria��o de v�nculos, sem medo de julgamentos. A oficina se configurou como espa�o para estar junto, representando encontros que possibilitaram construir e descontruir saberes.

Figura 1 - Bonecas constru�das pelas participantes na oficina.

Fonte: arquivo fotogr�fico das autoras.

CONSIDERA��ES FINAIS

Os saberes sobre o climat�rio ou menopausa indicam o aprendizado que ocorre entre as mulheres e gera��es, no qual o conhecimento � constru�do de m�e para filha, de av� para neta, entre amigas ou no local de trabalho. Por meio das manifesta��es relatadas pelas mulheres, associando os saberes de diferentes gera��es e das m�ltiplas rela��es de suas vidas, o climat�rio foi sendo compreendido, especialmente pelas queixas que o caracterizam.

Dar voz �s mulheres no climat�rio � o primeiro passo para ajud�-las a refor�ar sua autonomia, conhecer suas necessidades, d�vidas e supera��es, valorizar seus saberes, estimular as pr�ticas saud�veis de cuidado que realizam e compreender as raz�es quando n�o conseguem ou n�o podem cuidar de si pr�prias. Pensar, discutir ou escrever sobre o climat�rio/menopausa torna-se imprescind�vel, pois por muito tempo, na hist�ria da sociedade, este tema e p�blico estiveram atrelados ao sil�ncio, preconceito ou falta de informa��es. Em virtude disso, h� muito que investigar e, principalmente, escutar sobre o que as mulheres nessa fase de vida est�o fazendo para se cuidar, como vivem esse per�odo, o que sabem sobre os cuidados que devem/podem desenvolver, ou com quem aprenderam tais cuidados.

As filhas, as irm�s, as amigas ajudaram no cuidado, ao indicar ch�s como da folha da amora branca, da parreira, alimentos derivados da soja que contribuem na diminui��o dos fogachos, ou quando as incentivaram a realizar exerc�cios f�sicos. As participantes reconheceram a import�ncia da atividade f�sica e da alimenta��o equilibrada. Por�m, por diversas quest�es, a alimenta��o adequada n�o � uma realidade do cotidiano da maioria. Salienta-se que alguns relatos demonstram que as participantes t�m oportunidade de realizar exames de rotina, como o preventivo de c�ncer de colo uterino e a mamografia, bem como fazer uso dos medicamentos para o tratamento de doen�as cr�nicas, concomitantes nesse per�odo.

As atividades de lazer foram citadas como imprescind�veis para as mulheres em climat�rio: passear, lidar na terra de algum modo, como �mexer� na horta e cuidar do jardim, pescar, ouvir m�sica, participar de grupos da terceira idade, dan�ar, fazer artesanato como croch� e tric� s�o outras possibilidades de cuidado para o corpo/mente que as mulheres utilizam e conferem bem-estar. Isso refor�a que a qualidade de vida dessas participantes n�o passa somente pela via biom�dica ou por consultas individuais, mas por atitudes, muitas vezes singelas, que fazem parte de seus cotidianos e impactam em suas vidas.

Foram v�rias as fontes de conhecimento a respeito do climat�rio indicadas. Aos poucos tais fontes s�o entrela�adas �s experi�ncias, sensa��es e contextos que orientam suas a��es de cuidado no cotidiano. Aliado a isso, � preciso enfatizar que o cuidado que as mulheres realizam est� ligado a suas condi��es de vida, seu trabalho, sua hist�ria, o meio social em que vivem e se identificam culturalmente e, nesse contexto, aprendem a lidar com a sa�de e com a doen�a. Esse entendimento leva � confirma��o de que se deve incentivar as pequenas conquistas de cada uma, na singularidade de suas possibilidades, no que se refere �s formas de se cuidar no climat�rio, na oferta de espa�os de conviv�ncia e encontros de compartilhamento de saberes e a��es para contribuir para a qualidade de vida e, e o enfermeiro torna-se um profissional imprescind�vel ao possibilitar estes encontros.

As limita��es deste estudo decorrem da necessidade de uma maior imers�o nos aspectos te�ricos que envolvem as quest�es socioculturais dos saberes e pr�ticas de cuidado � sa�de, bem como a necessidade de aprofundar algumas discuss�es na perspectiva cultural. Em alguns momentos neste estudo, ainda fica evidente o olhar a partir da lente biom�dica, quando s�o enfocados demasiadamente as queixas e as explica��es biom�dicas destas. Reconhecer estas limita��es conduzem para caminhos mais atentos, em que, tanto na pesquisa e na assist�ncia, a vis�o de mundo, as cren�as e valores das pessoas sejam acolhidos e respeitados, de modo que exista um compartilhamento de saberes entre os diferentes contextos, promovendo qualidade de vida e sa�de. Assim, refor�a-se que estudos podem ser necess�rios sobre a import�ncia das pr�ticas de cuidado por meio da utiliza��o das terapias complementares, bem como sobre as dificuldades de realizar determinadas pr�ticas de cuidado, diante de um discurso que revela a import�ncia desses cuidados, mas nem sempre vi�vel ou poss�vel.

REFER�NCIAS

1 Minist�rio da Sa�de (BR). Secretaria de Aten��o � Sa�de. Departamento de A��es Program�ticas Estrat�gicas. Manual de aten��o � mulher no climat�rio/menopausa. Bras�lia: Editora do Minist�rio da Sa�de; 2008. Dispon�vel em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_mulher_climaterio.pdf

2 Alc�ntara LL, Nascimento LC, Oliveira VAC. Conhecimento das mulheres e dos homens referente ao climat�rio e menopausa. Enferm. foco (Bras�lia). 2020;11(1):44-9. DOI: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n1.2450

3 Silva LDC, Mamede MV. Unveiling the senses and meanings of the climacteric in coronary women. Ci�nc. cuid. sa�de. 2017;16(2) DOI: https://doi.org/10.4025/ciencuidsaude.v16i2.31719

4 Geertz CJ. A interpreta��o das culturas. Rio de Janeiro (RJ): Livros T�cnicos e Cient�ficos; 1989.

5 Prates LA, Possati AB, Timm MS, Cremonese L, Oliveira G, Ressel LB. Meanings of health care assigned by quilombola women. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online). 2018;10(3):847-55. DOI: https://doi.org/10.9789/2175-5361.2018.v10i3.847-855

6 Kleinman A. Patients and healers in the context of culture. An exploration of the borderland between anthropology, medicine and psychiatry. Berkeley: University of California Press; 1980.

7 Araldi LCC. A educa��o est�tica e o feminino: propostas para uma vis�o humanizadora em educa��o [disserta��o]. Passo Fundo (RS): Universidade de Passo Fundo; 2006. Dispon�vel em: https://www.sapili.org/livros/pt/cp020988.pdf

8 Arruda-Barbosa L, Salhah S, Vasconcelos IG, Sales AFG, Sales MC. Oficinas como ferramentas para ensino de primeiros socorros no ensino m�dio. Revista brasileira de educa��o em sa�de. 2020;10(3):171-6. DOI: https://10.0.71.202/rebes.v10i3.8146

9 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em sa�de. 14� ed. S�o Paulo: Hucitec-Abrasco; 2014.

10 Fernandes LS, Calado C, Araujo CAS. Social networks and health practices: influence of a diabetes online community on adherence to treatment. Ci�nc. Sa�de Colet. 2018;23(10):3357-68. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-812320182310.14122018

11 Ceolin T. Conhecimento sobre plantas medicinais entre agricultores de base ecol�gica da Regi�o Sul do Rio Grande do Sul [disserta��o]. Pelotas (RS): Universidade Federal de Pelotas; 2009. Dispon�vel em: http://guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/1883/1/Dissertacao_Teila_Ceolin.pdf

12 Prates LA, Oliveira G, Wilhelm LA, Cremonese L, Demori CC, Ressel LB. �Passed from generation to generation�: Care practices of quilombola women. Rev. enferm. UFSM. 2019;9:e40. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769233450

13 Vargas-Fandi�o �J, Leal-Vargas EH, Castillo-Zamora MF, Restrepo-Castro OI, Zambrano-Vera ME, Plazas-Vargas M. Percepci�n de la menopausia y la sexualidad en mujeres adultas mayores de dos hospitales universitarios de Bogot�, Colombia, 2015. Rev. colomb. obstet. ginecol. 2016;67(3):197-206. DOI: http://dx.doi.org/10.18597/rcog.767

14 Silveira DM, Cavalcanti DSP. Isoflavona de soja como alternativa de reposi��o hormonal na menopausa. Sa�de & ci�ncia em a��o. 2019;5(1):13-27. Dispon�vel em: http://revistas.unifan.edu.br/index.php/RevistaICS/article/view/510

15 Souza EL, Santos MBL. Advantages of the use of phytoestrogens in the treatment of hormonal reposition: literature review. ReonFacema. 2018;4(4):1324-9. Available from: https://www.facema.edu.br/ojs/index.php/ReOnFacema/article/viewFile/298/272

16 Silva LE, Quadros DA, Maria Neto AJ. Estudo etnobot�nico e etnofarmacol�gico de plantas medicinais utilizadas na regi�o de Matinhos � PR. Ci�nc. Nat. (Online). 2015;37(2):266-76. DOI: https://doi.org/10.5902/2179460X15473

17 Melo JB, Campos RCA, Carvalho PC, Meireles MF, Andrade MVG, Rocha TPO, et al. Cardiovascular risk factors in climacteric women with coronary artery disease. Int. j. cardiovasc. sci. (Impr.). 2018;31(1):4-11. DOI: https://doi.org/10.5935/2359-4802.20170056

18 Costa JPL. Efeito do extrato de Morus Nigra L. no tratamento de sintomas vasomotores em mulheres com s�ndrome climat�rica � um estudo randomizado, placebo � controlado [disserta��o]. S�o Lu�s (MA): Universidade Federal do Maranh�o; 2018. Dispon�vel em: https://tede2.ufma.br/jspui/bitstream/tede/2485/2/JoyceCosta.pdf

19 Lima AF, Bento A, Pereira JA, Baraldi IJ, Malheiro R. Avalia��o do teor em compostos fen�licos e atividade antioxidante de folhas de videira com vista ao seu aproveitamento para uso alimentar. Revista de ci�ncias agr�rias. 2017;40(nesp):140-6. DOI: https://doi.org/10.19084/RCA16223

20 R�ckert B, Cunha DM, Modena CM. Saberes e pr�ticas de cuidado em sa�de da popula��o do campo: revis�o integrativa da literatura. Interface comun. sa�de educ. 2018;22(66):903-14. DOI: https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0449

21 R�ckert B, Aranha AVS. Os valores no cuidado em sa�de de mulheres do campo. Rev metamorfose 2020;4(4):113-31. Dispon�vel em: https://portalseer.ufba.br/index.php/metamorfose/article/view/34437/21511

22 Lom�naco C, Tomaz RAF, Ramos MTO. O impacto da menopausa nas rela��es e nos pap�is sociais estabelecidos na fam�lia e no trabalho. Reprod. clim. 2015;30(2):58-66. DOI: https://doi.org/10.1016/j.recli.2015.08.001

23 Silva MM, Bueno RGPC, Maciel MSP, Freitas RMCC, Marcelino TP. Evid�ncias contempor�neas sobre o uso da terapia de reposi��o hormonal. Brazilian journal of health review. 2019;2(2):925-69. Dispon�vel em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/1269/1142

24 Souza SS, Santos RL, Santos ADF, Barbosa MO, Lemos ICS, Machado MFAS. Mulher e climat�rio: concep��es de usu�rias de uma unidade b�sica de sa�de. Reprod. Clim. 2017;32(2):85-9. DOI: https://doi.org/10.1016/j.recli.2017.01.001

25 Pinto RGP, Oliveira DM, Macedo AG, Passos GS. Exerc�cio f�sico como estrat�gia terap�utica e coadjuvante nos sintomas do climat�rio: revis�o baseada em evid�ncias. J. health sci. 2021;23(1):35-8. DOI: https://doi.org/10.17921/2447-8938.2021v23n1p35-38

26 Andrade, PP, Omizzolo JAE, Santos MVJ, Zanini D. Percep��o de usu�rias sobre a pr�tica do acolhimento na coleta de preventivo de c�ncer de colo de �tero. Inova Sa�de. 2019;9(2):124-38. DOI: http://dx.doi.org/10.18616/inova.v9i2.4130

27 Nunes ECDA, Oliveira FA, Cunha JXP, Reis SO, Meira GG, Szylit R. Music as a transpersonal care tool - perceptions of hospitalized people assisted in the university extension. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2019;24(2): : e20190165. DOI: https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2019-0165

28 Andrade RD, Schwartz GM, Felden �PG. Vari�veis socioecon�micas e o envolvimento no lazer an�lise com a Escala de Pr�ticas no Lazer (EPL). Licere (Online). 2018;21(1):292-312. Dispon�vel em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/licere/article/view/1779/1220

29 Chaves ARS, Castro RRA, Menezes A. A busca pela ascens�o feminina no PDS Virola Jatob�, Anapu-PA. Revista Estudos Feministas. 2018;26(1):e42742. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9584.2018v26n142742

30 Venancio RCP, Carmo EG, Paula LV, Schwartz GM, Costa JLR. Efeitos da pr�tica de Dan�a S�nior nos aspectos funcionais de adultos e idosos. Cad. Bras. Ter. Ocup. 2018;26(3):668-79. Dispon�vel em: https://www.scielo.br/j/cadbto/a/dn6TyKXNwhjV8nQ6NBYCxqk/?format=pdf&lang=pt

Recebido em: 14/01/2021

Aceito em: 01/02/2022

Publicado em: 04/04/2022



[1] Prefeitura Municipal de Bento Gon�alves (PMBG). Bento Gon�alves, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: pribisognin@gmail.com ORCID: 0000-0002-4808-4552

[2] Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Uruguaiana, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: lisiealende@hotmail.com ORCID: 0000-0002-5151-0292

[3] Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Uruguaiana, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: rhayannaperez@hotmail.com ORCID: 0000-0003-2289-8141

[4] Centro Universit�rio de Pato Branco (UNIDEP). Pato Branco, Paran� (PR). Brasil (BR). E-mail: cleunir_candido@hotmail.com ORCID: 0000-0002-1266-5267

[5] Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florian�polis, Santa Catarina (SC). Brasil (BR). E-mail: laiswilhelm@gmail.com ORCID: 0000-0001-6708-821X

[6] Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Santa Maria, Rio Grande do Sul. Brasil (BR). E-mail: ma.denise2011@gmail.com ORCID: 0000-0002-4867-4990

 

Como citar: Bisognin P, Prates LA, Perez RV, Bortoli CFC, Wilhelm LA, Schimith MD. Saberes e pr�ticas de cuidado � sa�de no climat�rio. J. nurs. health. 2022;12(2):e2212220445. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v12i2.2232