ARTIGO original

Estado nutricional e condi��es de sa�de de Agentes Comunit�rios de Sa�de

Nutritional status and health conditions of Community Health Agents

Estado nutricional y condiciones de salud de los agentes comunitarios de salud

Alves, Julia de Souza;[1] Silva, Valdinete Mendes da;[2] Silvestre, Grasiela Cristina da Silva Botelho;[3] Rocha, Roseany Patr�cia Silva;[4] Gaiva, Fayanne Araujo;[5] Faria, N�mora Barros[6]

RESUMO

Objetivo: avaliar perfil sociodemogr�fico, medidas antropom�tricas e condi��es de sa�de dos Agentes Comunit�rios de Sa�de de um munic�pio do M�dio Norte de Mato Grosso. M�todo: estudo quantitativo, observacional do tipo descritivo, desenvolvido com 34 indiv�duos, selecionados por conveni�ncia. Dados coletados nos meses de fevereiro e mar�o de 2020, com instrumento sociodemogr�fico, condi��es de sa�de e medidas antropom�tricas. An�lise das vari�veis descritas por frequ�ncia absoluta e relativa. Resultados: os participantes dessa pesquisa eram predominantemente do sexo feminino, com idade vari�vel entre 23 e 61 anos. A maioria possu�a ensino m�dio completo e tinha renda familiar menor ou igual a dois sal�rios-m�nimos. A avalia��o antropom�trica revelou que 44,1% apresentavam Obesidade classe I, II ou III e 76,5% apresentavam risco elevado ou muito elevado para doen�as cardiovasculares. Conclus�es: a avalia��o indica que o excesso de peso e a obesidade abdominal foram os principais acometimentos � sa�de desses profissionais.

Descritores: Agentes comunit�rios de sa�de; Estado nutricional; N�veis de aten��o � sa�de

ABSTRACT

Objective: to evaluate the sociodemographic profile, anthropometric measures, and health conditions of Community Health Agents in a municipality in the Middle North of Mato Grosso. Method: this is a quantitative, observational, descriptive study, developed with 34 individuals, selected for convenience. Data collected in February and March 2020, with a sociodemographic instrument, health conditions and anthropometric measurements. Analysis of the variables described by absolute and relative frequency. Results: the participants in this research were predominantly female, aged between 23 and 61 years old. Most had completed high education and had a family income less than or equal to 2 minimum wages. Anthropometric assessment revealed that 44.1% had class I, II or III obesity and 76.5% had high or very high risk for cardiovascular disease. Conclusions: the evaluation indicates that overweight and abdominal obesity were the main health problems of these professionals.

Descriptors: Community health workers; Nutritional status; Health care levels

RESUMEN

Objetivo: evaluar el perfil sociodemogr�fico, medidas antropom�tricas y condiciones de salud de los Agentes Comunitarios de Salud en municipio del Medio Norte de Mato Grosso. M�todo: se trata de un estudio cuantitativo, observacional, descriptivo, desarrollado con 34 individuos, seleccionados por conveniencia. Datos recolectados en febrero y marzo de 2020, con instrumento sociodemogr�fico, condiciones de salud y medidas antropom�tricas. An�lisis de las variables descritas por frecuencia absoluta y relativa. Resultados: los participantes de esta investigaci�n fueron predominantemente mujeres, con edades comprendidas entre los 23 y los 61 a�os. La mayor�a hab�a completado la educaci�n secundaria y ten�a un ingreso familiar menor o igual a 2 salarios m�nimos. La evaluaci�n antropom�trica revel� que el 44,1% ten�a obesidad clase I, II o III y el 76,5% ten�a alto o muy alto riesgo de enfermedad cardiovascular. Conclusiones: la evaluaci�n indica que el sobrepeso y la obesidad abdominal fueron los principales problemas de salud de estos profesionales.

Descriptores: Agentes comunitarios de salud; Estado nutricional; Niveles de atenci�n de salud

INTRODU��O


Os Agentes Comunit�rios de Sa�de (ACS) exercem um papel essencial na promo��o e preven��o da sa�de da comunidade.� O ACS exerce diversas atividades na aten��o prim�ria a sa�de, tais como: acompanhar todas as fam�lias e indiv�duos sob seus cuidados por meio de visitas domiciliares; cadastrar todas as pessoas em sua micro�rea e manter os cadastros atualizados; desenvolver a��es que promovam a aproxima��o entre a Equipe de Sa�de da Fam�lia (ESF) e a comunidade e elaborar pr�ticas de promo��o da sa�de, de preven��o das doen�as e agravos e vigil�ncia � sa�de.�

Estudo realizado em Caraguatuba, S�o Paulo (SP) relatou a insatisfa��o dos ACS no ambiente de trabalho, relacionado as condi��es de trabalho, baixo valor que se atribuiu a profiss�o, falta de reconhecimento profissional, entre outros.2 O mundo do trabalho tende a ocupar muito tempo do trabalhador, ocasionando a redu��o da qualidade de vida, podendo afetar o conv�vio social, lazer e cuidados com a sa�de, o que o torna vulner�vel ao acometimento por algumas doen�as.�

O aparecimento de Doen�as Cr�nicas N�o Transmiss�veis (DCNT), tais como: Diabetes Mellitus (DM), Hipertens�o Arterial Sist�mica (HAS), Colesterol lipoprote�na de baixa densidade (LDL), e Doen�as Cardiovasculares (DC), est�o relacionadas diretamente com o h�bito de vida sedent�rio, falta de atividade f�sica e uma alimenta��o inadequada com alto teor cal�rico, al�m do consumo elevado de �lcool e tabaco.4 No Brasil, no ano de 2015, ocorreram 117 mil �bitos de pessoas devido a essas doen�as, sendo considerado um dos principais problemas de sa�de p�blica.5

Outro aspecto importante notado � o perfil nutricional dos ACS, atualmente na literatura existem poucos estudos realizados, destaca-se a pesquisa realizada com 163 ACS no estado da Para�ba, o qual constataram a preval�ncia de sobrepeso e obesidade entre os ACS, al�m de risco elevado (20,9%) e muito elevado (44,2%) para DC. Em termos de consumo alimentar, revelou consumo regular de leguminosas, cereais, carnes e ovos, frituras e embutidos, doces e bebidas, e falta de consumo de hortali�as, leite e derivados.6

Mediante esse cen�rio, no ano de 2019 no Brasil mais da metade da popula��o adulta (55,7%) foi identificada acima do peso, demonstrando assim um aumento de 67,5% de adultos eutr�ficos para obesos nos �ltimos treze anos.7 O excesso de peso e obesidade est� vinculado a v�rios determinantes, destacando-se o n�vel de conhecimento, o sedentarismo pela falta de tempo relacionado a carga hor�ria de trabalho, e ingest�o de alimentos com alto teor cal�rico e de fast-foods, entre outros.5

A alimenta��o � um determinante essencial na qualidade da sa�de, pois afeta o sujeito de v�rias maneiras, uma vez que os nutrientes s�o necess�rios para um bom funcionamento do organismo, e o consumo elevado de calorias podem ocasionar s�rios problemas.8 De acordo com a pesquisa realizada no ano de 2019 com 52.395 residentes das capitais do pa�s, constatou que os 45,5% dos entrevistados consomem bebidas alco�licas e refrigerante pelo menos uma vez na semana e que n�o tem o costume de consumir regularmente frutas e hortali�as.7

Nessa perspectiva, o estudo realizado no estado de Minas Gerais com 215 profissionais da aten��o prim�ria constatou que 47,9% n�o consomem legumes e cerca de 57,0% relataram ter consumido bebidas alco�licas na �ltima semana. Assim, sinalizaram que a pr�tica alimentar inadequada atinge grande parte dos brasileiros, inclusive profissionais da aten��o prim�ria, entre eles os ACS.8

Frente aos desafios deste cen�rio, devido aos dados crescentes de obesidade no Brasil e, diante da observa��o pela acad�mica de enfermagem aos profissionais de sa�de das ESF referente ao perfil de sa�de dos trabalhadores, dentre eles o profissional ACS, justifica-se a escolha pela tem�tica. Portanto, esse estudo teve como objetivo avaliar perfil sociodemogr�fico, medidas antropom�tricas e condi��es de sa�de dos ACS de um munic�pio do M�dio Norte de Mato Grosso.

MATERIAIS E M�TODO

Trata-se de um estudo quantitativo, observacional do tipo descritivo relacionado ao perfil sociodemogr�fico, condi��es de sa�de e medidas antropom�tricas dos ACS. Foi realizado nas 10 ESFs de um munic�pio do M�dio Norte de Mato Grosso (MT), Brasil.

A amostra do estudo foi composta por 34 ACS, selecionados por conveni�ncia, que aceitaram participar da pesquisa e estavam prontamente dispon�veis. Para defini��o da amostra, aplicou-se o crit�rio de inclus�o: atua��o nas ESFs e como crit�rio de exclus�o considerou os profissionais que estavam de f�rias, folga ou em afastamento no momento da coleta dos dados. Tr�s profissionais se recusaram a participar da pesquisa.

A coleta de dados foi realizada nos meses de fevereiro e mar�o do ano de 2020, por meio de aplica��o de um question�rio elaborado pelo pr�prio grupo de pesquisa e realizado por meio de entrevista individual. O instrumento foi disposto em tr�s blocos que avaliaram os aspectos sociodemogr�ficos (sexo, ra�a, idade, tempo de atua��o, renda familiar e escolaridade), condi��es de sa�de (se apresentava Hipertens�o arterial Sist�mica e/ou Diabetes Mellitus) e medidas antropom�tricas (peso, altura e circunfer�ncia abdominal).

Foi realizado previamente uma reuni�o com todos os ACS, para esclarecer os objetivos da pesquisa, finalidade da avalia��o do estado nutricional, os aspectos �ticos da pesquisa, seguido das orienta��es sobre o termo de consentimento livre e esclarecido.

Ap�s o aceite de cada participante, deu-se in�cio a entrevista individual e posteriormente foi realizado a verifica��o da aferi��o da press�o arterial seguida da coleta dos dados antropom�tricos que incluem: peso (kg), altura (cm) e Circunfer�ncia da Cintura (CC). Para avalia��o dos dados antropom�tricos foi utilizada uma balan�a antropom�trica, fita m�trica flex�vel de 200 cm, estetosc�pio, esfigmoman�metro e calculadora para o c�lculo do �ndice de Massa Corporal (IMC) e CC, dispon�vel em cada unidade.

Os dados coletados manualmente foram transportados e digitados para planilhas eletr�nicas em um banco de dados do programa Excel 2019. As vari�veis num�ricas foram descritas por estat�stica descritiva, por medidas de tend�ncia central e dispers�o. As vari�veis categ�ricas foram apresentadas por frequ�ncia absoluta e relativa.

Para defini��o da an�lise do perfil antropom�trico foi utilizado as f�rmulas para o c�lculo do IMC e valores de refer�ncia de acordo com orienta��es para a coleta e an�lise de dados antropom�tricos em servi�os de sa�de para pessoas com idade igual ou acima de 18 anos.9 O IMC � caracterizado como a divis�o do peso pela altura elevada ao quadrado, desta forma o peso corporal � expresso em kg e a altura em m�.10

O estudo cumpriu com as exig�ncias que regem as pesquisas com seres humanos de acordo com a Resolu��o de n�466/2012, sendo aprovado pelo Comit� de �tica em Pesquisa da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), sob o n�mero do Certificado de Apresenta��o para Aprecia��o �tica: 17865219.8.0000.5166.

RESULTADOS

Foram inclusos no estudo 34 ACS. Os dados mostraram que a maior parte eram mulheres (n=27; 79,4%). Quanto a ra�a, a maioria autodeclararam-se negros ou pardos (n=29; 85,2%). A idade variou entre 23 e 61 anos, sendo a m�dia 38 anos e a mediana de 37 anos. Em rela��o ao tempo de atua��o verificou-se varia��es de um a 20 anos, sendo que a m�dia foi de sete anos e a mediana de oito anos e meio. A respeito da renda familiar, 18 (53,0%) possu�am renda menor ou igual a dois sal�rios-m�nimos. Quanto a escolaridade, a metade conclu�ram o ensino m�dio (Tabela 1).

Tabela 1:Caracter�sticas sociodemogr�ficas dos Agentes Comunit�rios de Sa�de do Munic�pio de Diamantino (MT), 2020. n=34

Vari�veis

 

n (34)

%

Sexo

Masculino

07

20,6

Feminino

27

79,4

Ra�a

Branca

3

8,8

Negro

6

17,6

Pardo

23

67,6

Amarelo

01

3,0

Ind�gena

01

3,0

Idade

23 a 33 anos

10

29,4

34 a 44 anos

15

44,1

45 a 55 anos

08

23,5

56 anos ou mais

01

3,0

Tempo de atua��o

1 a 5 anos

09

26,5

6 a 10 anos

19

55,9

11 anos ou mais

06

17,6

Renda Familiar*

≤ 2 sal�rios-m�nimos

18

53,0

De 3 a 4 sal�rios-m�nimos

11

32,3

≥ 5 sal�rios-m�nimos

05

14,7

Escolaridade

Ensino Fundamental completo

02

5,9

Ensino M�dio completo

17

50,0

Ensino Superior completo

15

44,1

* SM � Sal�rio-m�nimo vigente no per�odo da coleta de dados era de R$1.045,00.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2020.

Na avalia��o das medidas antropom�tricas, segundo o do IMC, a maior parte apresentou algum grau de obesidade (n=15; 44,1%). Em rela��o ao sexo, nenhum dos homens e apenas 33,4% das mulheres se apresentavam eutr�ficas. Quanto a distribui��o central da gordura corporal, segundo a CC, a maior parte apresentou risco elevado ou muito elevado para DC (n=26; 76,5%), sendo que os homens apresentaram uma maior preval�ncia de risco, uma vez que todos estavam com risco elevado ou muito elevado para DC. Em rela��o as DCNT, oito (23,5%) relataram ter diagn�stico de HAS, sendo maior entre as mulheres do que entre os homens. Quanto a pr�tica de atividade f�sica, semanal 22 (64,7%) relataram que nunca ou raramente praticam alguma atividade f�sica. Essa falta de h�bito em se exercitar foi maior entre as mulheres do que entre os homens (Tabela 2).


Tabela 2 � Distribui��o dos dados antropom�tricos e condi��es de sa�de de acordo com o sexo dos Agentes Comunit�rios de Sa�de do munic�pio de Diamantino, Mato Grosso, 2020. n=34

Vari�veis

(n=34)

%

Feminino (n=27)

%

Masculino (n=07)

%

IMC

Eutr�fico

09

26,5

09

33,4

-

-

Sobrepeso

10

29,4

07

25,9

03

42,9

Obesidade de Classe I

08

23,5

07

25,9

01

14,2

Obesidade de Classe II

05

14,7

02

7,4

03

42,9

Obesidade de Classe III

02

5,9

02

7,4

-

-

CC

Normal

08

23,5

08

29,7

-

-

Risco Elevado

19

55,9

13

48,1

06

85,7

Risco Muito Elevado

07

20,6

06

22,2

01

14,3

Doen�as Cr�nicas n�o Transmiss�veis

HAS*

08

23,5

07

25,9

01

14,3

DM**

02

5,9

02

7,4

-

-

HAS e DM

01

3,0

01

3,7

-

-

Sem doen�as

23

67,6

17

63,0

06

85,7

Atividade F�sica

Nunca ou raramente

22

64,7

18

66,7

04

57,1

1 a 2x por semana

07

20,6

05

18,5

02

28,6

3 ou mais x por semana

05

14,7

04

14,8

01

14,3

*Hipertens�o Arterial Sist�mica **Diabetes Mellitus.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2020.

Quanto ao consumo semanal de bebidas, observou-se que, em rela��o as bebidas n�o alco�licas, 25 (73,5%) relataram o h�bito de ingerir pelo menos uma vez na semana o refrigerante e 23 (67,6%) consomem diariamente o caf�. Quando questionados sobre o consumo de bebidas que cont�m �lcool (cerveja, vinho e destilados) a maioria relatou que nunca ou raramente faziam uso, por�m o consumo da cerveja ao menos uma vez por semana teve a maior porcentagem de uso (n=12; 35,3%) (Figura 1).

Gr�fico, Gr�fico de barras

Descri��o gerada automaticamente

src="https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/JONAH/$$$call$$$/api/file/file-api/download-file?fileId=12412&revision=1&submissionId=2236&stageId=5" />

Figura 1: Percentual do consumo semanal de bebidas pelos Agentes Comunit�rios de Sa�de do munic�pio de Diamantino, Mato Grosso, 2020. n=34

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2020.

DISCUSS�O

Os ACS participantes desta pesquisa eram predominantemente do sexo feminino, assim como encontrado em pesquisa realizada no munic�pio de Tangar� da Serra-Mato Grosso e em outros munic�pios brasileiros.1,11-12 H� autores que afirmam que esse acontecimento vem ao encontro do contexto hist�rico do ACS no Brasil, tornando-se mulheres as pioneiras nessa profiss�o.13 Este fato � visto como positivo sabendo que a mulher, � principal usu�ria dos servi�os de sa�de, tanto para si, como intermediando acesso a fam�lia, consciente da necessidade de cuidados, refor�ando o estere�tipo da mulher como figura respons�vel pelo cuidado.

Quanta a ra�a/cor prevaleceu neste estudo a parda e a negra, apresentando certas semelhan�as com estudos realizados no Nordeste e em outro munic�pio do centro-oeste.11 O predom�nio das cores autodeclaradas parda e preta pode estar ligado �s caracter�sticas regionais relacionadas � miscigena��o racial, demonstrando certa disparidade com estudo realizado em Florian�polis-SC, em que a maioria se declarou branco.14

O Minist�rio da Sa�de preconiza que o ACS tenha idade acima de 18 anos, por�m n�o estabelece um limite m�ximo.15 Neste estudo, predominou indiv�duos com idade entre 23 e 56 anos, assim como em pesquisa realizada em Tangar� da Serra.11 Por�m demonstrou certa disparidade com alguns estudos onde a idade m�nima era de 20 anos e a m�xima de 45 anos.1,12

Nesse estudo, verificou-se que a grande maioria dos entrevistados relatou ter entre seis a 10 anos de trabalho na fun��o, assemelhando a um estudo realizado em Juazeiro na Bahia no ano de 2017, o qual teve como resultado de seis a 12 anos.1 A baixa rotatividade dos profissionais pode estar relacionada ao tipo do v�nculo empregat�cio, sendo evidenciada pelo fato de passarem quase todo o seu tempo no quadro efetivo municipal, conforme sugere a legisla��o.2 Visto a necessidade de vincula��o e a constru��o de la�os de confian�a no trabalho do ACS com a comunidade, esse � um ponto positivo para o desenvolvimento das suas atividades.

Ao analisar a renda familiar dos ACS mais da metade referiu ter renda mensal menor ou igual a dois sal�rios-m�nimos. Na literatura cient�fica foi observado certa semelhan�a com os nossos achados, uma vez que a preval�ncia da base salarial desses profissionais � inferior ou igual a dois sal�rios-m�nimos.1,11,16 Esses dados s�o justificados pela Lei 13.708 de 2018, no qual o piso salarial do profissional ACS no ano de 2020 foi fixado no valor de R$ 1.400,40. Importante ressaltar que o piso salarial desse grupo profissional vem sofrendo reajustes anualmente, obedecendo a lei do escalonamento salarial.15

Quanto a escolaridade, ap�s aprova��o da Lei n� 13.708, de 14 de agosto de 2018, que regulamentou a profiss�o dos ACS, a conclus�o do ensino fundamental passou a ser exig�ncia para atuar no cargo.15 Sendo assim, o n�vel de escolaridade encontrado nesse estudo pode ser considerado alto, uma vez que a maioria est� acima do m�nimo exigido. Este dado tamb�m foi confirmado em diversos trabalhos que tamb�m comprovou alto n�vel de escolaridade entre os profissionais ACS, destacando que a maioria tem ensino superior completo.1,11-12,16

Foi elevada a preval�ncia de sobrepeso e obesidade nessa pesquisa, principalmente nos homens, o que foi semelhante com estudo realizado com 163 ACS na Para�ba, no qual 37,5% estavam com sobrepeso e 33,7% com obesidade. Tamb�m em rela��o ao sexo, os homens apresentaram maior percentual de sobrepeso e obesidade quando comparado as mulheres.6 Elevadas taxas de obesidade tamb�m t�m sido observadas em diversos estados e cidades do pa�s, segundo o Inqu�rito Telef�nico para Vigil�ncia de Fatores de Risco e Prote��o para Doen�as Cr�nicas (VIGITEL) o excesso de peso no Brasil afeta 57,8% dos homens e 53,9% das mulheres; e na cidade de Cuiab� os dados encontrados s�o de 65,1% e 56,6% em homens e mulheres, respectivamente.7 Segundo estudo realizado em Alagoas, a escolaridade encontrou-se diretamente associada ao excesso de peso, a an�lise da renda revelou que indiv�duos com mais de um sal�rio-m�nimo mensal apresentaram maior preval�ncia de excesso de peso, contudo mostraram associa��es estatisticamente significativas apenas no sexo masculino.17

Com rela��o a obesidade abdominal, medida pela CC, mais de 75,0% dos ACS apresentou risco elevado ou muito elevado para o desenvolvimento de DC, diabetes, dislipidemias e s�ndrome metab�licas, assemelhando ao observado em estudo que avaliou a rela��o da CC ao risco de desenvolvimento de DC, em Jo�o Pessoa-PB.6 Em rela��o entre a CC e o sexo, nesta pesquisa os homens apresentaram uma maior preval�ncia de risco, todos obtiveram risco elevado ou muito elevado para DC, em encontro de cerca de 70,0% das mulheres, demonstrando certa disparidade com pesquisa j� realizada, no qual as mulheres apresentaram maiores preval�ncia de risco (69,6%), confrontado por metade dos homens.6

Frente as DCNT a popula��o estudada revelou que quase um ter�o dos ACS possu�am diagn�stico de HAS e/ou DM, sendo poss�vel verificar maiores �ndices dessas doen�as entre as mulheres. Achado semelhante ao encontrado pelo VIGITEL no qual frequ�ncia de diagn�stico de HAS e DM foi maior entre as mulheres do que entre os homens.7 Esse maior �ndice de diagn�stico entre as mulheres pode ser justificado, pelo fato de que as mulheres usam mais os servi�os, tanto em consultas quanto em interna��es, e relatam mais limita��es em decorr�ncia das DCNT.3

Entretanto a preval�ncia de HAS e DM encontradas entre os homens nesse estudo est�o inferiores dos achados na literatura cientifica, visto que o excesso de peso est� diretamente associado a maior preval�ncia de dessas doen�as.3,5 Assim, considerou-se que os achados desse estudo se mostraram contradit�rios ao encontrar alta preval�ncia de excesso de peso e obesidade abdominal e baixo n�meros de diagn�stico m�dico por HAS e DM.

Quanto a pr�tica de atividade f�sica a maior parte dos ACS relatou que nunca ou raramente praticaram alguma atividade f�sica no seu tempo livre. A n�o pr�tica de atividade f�sica nessa pesquisa foi maior entre as mulheres do que entre os homens o que apresentou, tamb�m semelhan�a com resultados do VIGITEL, onde 45,1% dos homens relataram realizar atividade f�sica semanalmente, contrapondo 35,8% das mulheres.7 Segundo pesquisa realizada com trabalhadores em todo territ�rio nacional os motivos alegados para a n�o pratica de atividades f�sicas, foram: falta de tempo; n�o gostar ou n�o querer; problemas financeiros; problemas de sa�de; falta de acesso �s atividades, falta de companhia ou outra causa n�o especificada.18

Quanto ao consumo semanal de bebidas, esse estudo observou que o caf� � consumido diariamente por mais de dois ter�os dos ACS o que � similar a pesquisa realizada em Joao Pessoa-PB, onde essa bebida apresentou maior �ndice de consumo pelos entrevistados.6 O caf� est� presente entre os alimentos mais consumidos diariamente, o que refor�a um h�bito incorporado ao padr�o alimentar brasileiro. Quanto ao consumo de refrigerante mais de 70,0% dos ACS dissertam ter o h�bito de ingerir pelo menos uma vez na semana. A frequ�ncia de consumo de refrigerantes identificada no presente estudo apresenta semelhan�a com pesquisa de an�lise temporal com consumo de bebidas a�ucaradas no Brasil, no qual pode-se perceber que 67,0% dos brasileiros entrevistados mantinham o costume de ingerir semanalmente o refrigerante.19

Assim, pode-se considerar que o consumo de bebidas a�ucaradas, pode ser um dos influenciadores no processo de sobrepeso/obesidade encontrados nessa pesquisa. Segundo a atualiza��o da Diretriz de Preven��o Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o consumo de refrigerantes, aumenta o risco de morte em adultos decorrente de uma s�rie de doen�as, como problemas cardiovasculares e alguns tipos de c�ncer.20

CONCLUS�O

Esse estudo evidenciou que o sobrepeso e a obesidade atingem diretamente os ACS, principalmente os homens, sendo que a atividade f�sica n�o se mostrou ser um costume di�rio entre eles. Tais fatores podem estar intimamente relacionadas com suas condi��es de trabalho e com os seus poss�veis h�bitos alimentares pouco saud�veis, como o consumo de refrigerantes, os quais tamb�m podem estar sendo influenciados por caracter�sticas como a renda.

Espera-se que as informa��es aqui expostas possam subsidiar a implementa��o de programas eficazes de promo��o da sa�de no local de trabalho, objetivando a preven��o da obesidade e outras DCNTs, combinando-se com estrat�gias de interven��o focadas nos profissionais ACS.

REFERENCIAS

1 Castro TA, Davoglio RS, Nascimento AAJ, Santos KJS, Coelho GMP, Lima KSB. Agentes comunit�rios de sa�de: perfil sociodemogr�fico, emprego e satisfa��o com o trabalho em um munic�pio do semi�rido baiano. Cad. sa�de colet., (Rio J.). 2017;25(3):294-301. DOI: https://doi.org/10.1590/1414-462X201700030190

2 Almeida MCS, Baptista PCP, Silva A. Workloads and strain process in community health agents. Rev. Esc. Enferm. USP. 2016;50(1):95-103. DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-623420160000100013

3 Malta DC, Bernal RTI, Lima MG, Ara�jo SSC, Silva MMA, Freitas MIF et al. Noncommunicable diseases and the use of health services: analysis of the National Health Survey in Brazil. Rev. sa�de p�blica (Online). 2017;51(1):4. DOI: https://doi.org/10.1590/S1518-8787.2017051000090

4 World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the global epidemic. Genebra: World Health Organization. 2000. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/42330

5 Martins APB. Obesity must be treated as a public health issue. Journal of Business Management. 2018;58(3):337-41. Available from: https://www.scielo.br/j/rae/a/RLQv6c8QghbDdXCt4hSxkhG/?format=pdf&lang=en

6 Barbosa, AM, Lacerda, DAL. Associa��o entre consumo alimentar e estado nutricional em agentes comunit�rios de sa�de. Rev. Bras. Ci�nc. Sa�de (Jo�o Pessoa, Online). 2017;21(3):189-96. DOI: http://dx.doi.org/10.4034/RBCS.2017.21.03.01

7 Minist�rio da Sa�de (BR). Vigil�ncia de fatores de risco e prote��o para doen�as cr�nicas por inqu�rito telef�nico: estimativa sobre frequ�ncia e distribui��o sociodemogr�fica de fatores de risco e prote��o para doen�as cr�nicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. 2019. Dispon�vel em: https://actbr.org.br/uploads/arquivos/Vigitel-Brasil-2018-completo.pdf

8 Siqueira FV, Reis DS, Souza RAL, Pinho S, Pinho L. Excesso de peso e fatores associados entre profissionais de sa�de da Estrat�gia Sa�de da Fam�lia. Cad. sa�de colet., (Rio J.). 2019;27(2):138-45. DOI: https://doi.org/10.1590/1414-462X201900020167

9 Minist�rio da sa�de (BR). Orienta��es para a coleta e analise de dados antropometricos em servi�os de saude. 2011. Dispon�vel em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_coleta_analise_dados_antropometricos.pdf

10 Pohl HH, Arnold EF, Dummel KL, Cerentini TM, Reuter EM, Reckziegel MB. Indicadores antropom�tricos e fatores de risco cardiovascular em trabalhadores rurais. Rev. bras. med. esporte. 2018;24(1):64-8. DOI: https://doi.org/10.1590/1517-869220182401158030

11 Cabral JF, Gleriano JS, Nascimento JDM. Perfil sociodemogr�fico e forma��o profissional de agentes comunit�rios de sa�de. Revista Interdisciplinar de Estudos em Sa�de. 2019;8(2):193-209. Dispon�vel em: https://periodicos.uniarp.edu.br/index.php/ries/article/view/1537/1065

12 Foga�a CA, Tombini K, Campos R. A valoriza��o profissional do agente comunit�rio de sa�de. Sa�de e meio ambiente: revista interdisciplinar. 2017;6(2):77-93. DOI: https://doi.org/10.24302/sma.v6i2.1471

13 Brito RS, Ferreira NEMS, Santos DL. A. Atividade dos agentes comunit�rios de sa�de no �mbito da Estrat�gia da Sa�de da Fam�lia: revis�o integrativa da literatura. ������� Sa�de transform. soc. 2014;5(1):16-21. Dispon�vel em:� http://pepsic.bvsalud.org/pdf/sts/v5n1/5n1a04.pdf

14 Lino MM, Lanzoni GMM, Albuquerque GL, Schveitzer MC. Perfil socioecon�mico, demogr�fico e de trabalho dos agentes comunit�rios de sa�de. Cogit. Enferm. (Online). 2012;17(1):57-64. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v17i1.26375

15 Brasil. Lei n� 13.708, de 14 de agosto de 2018. Normas que regulam o exerc�cio profissional dos Agentes Comunit�rios de Sa�de e dos Agentes de Combates �s Endemias. Di�rio Oficial da Uni�o. 15 ago 2018;Se��o 1:59. Dispon�vel em: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/203872157/dou-secao-1-15-08-2018-pg-59

16 Guimar�es MAS, Sousa MF, Mucari TB. Perfil sociodemogr�fico dos agentes comunit�rios de sa�de da Estrat�gia Sa�de da Fam�lia no munic�pio de Palmas-TO. Revista Desafios. 2017;4(3):60-72. DOI: https://doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2017v4n3p60

17 Barbosa JM, Cabral PC, Lira PIC, Flor�ncio TMMT. Fatores socioecon�micos associados ao excesso de peso em popula��o de baixa renda do Nordeste brasileiro. Arch. latinoam. nutr. 2009;59(1):22-9. Disponible en: http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-06222009000100004&lng=es

18 Silva AMR, Santos SVM, Lima CHF, Lima DJP, Robazzi MLCC. Fatores associados � pr�tica de atividade f�sica entre trabalhadores brasileiros. Sa�de debate. 2018;42(119):952-64. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-1104201811913

19 Epif�nio SOB, Silveira JAC, Menezes RCE, Marinho PM, Brebal KMM, Silva GL. An�lise de s�rie temporal do consumo de bebidas a�ucaradas entre adultos no Brasil: 2007 a 2014. Ci�nc. Sa�de Colet. 2020;25(7):2529-40. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020257.19402018

20 Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Atualiza��o da Diretriz de Preven��o Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2019. Dispon�vel em: http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2019/v11304/pdf/11304022.pdf

Recebido em: 24/08/2021

Aceito em: 18/05/2022

Publicado em: 11/08/2022



[1] Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Diamantino, Mato Grosso (MT). Brasil (BR). E-mail: julia.alves@unemat.br ORCID: 0000-0001-5085-5646

[2] Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Diamantino, Mato Grosso (MT). Brasil (BR). E-mail: valdinete.mendes@unemat.br ORCID: 0000-0003-3473-0207

[3] Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Diamantino, Mato Grosso (MT). Brasil (BR). E-mail: grasiela.silvestre@unemat.br ORCID: 0000-0001-5367-4648

[4] Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Diamantino, Mato Grosso (MT). Brasil (BR). E-mail: roseany.rocha@unemat.br ORCID: 0000-0002-2295-5321

[5] Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Diamantino, Mato Grosso (MT). Brasil (BR). E-mail:fayaraujo@hotmail.com ORCID: 0000-0002-2851-0710

[6] Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Diamantino, Mato Grosso (MT). Brasil (BR). E-mail:nemorabfaria@gmail.com ORCID: 0000-0002-7553-2525

 

Como citar: Alves JS, Silva VM, Silvestre GCSB, Rocha RPS, Gaiva FA, Faria NB. Estado nutricional e condi��es de sa�de de Agentes Comunit�rios de Sa�de. J. nurs. health. 2022;12(2):e2212221631. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v12i2.2236