Percep��es de pacientes com doen�a renal cr�nica sobre tratamento de hemodi�lise e assist�ncia de enfermagem
Perceptions of chronic renal patients about hemodialysis treatment and nursing care
Percepciones de pacientes renales cr�nicos sobre el tratamiento de hemodi�lisis y los cuidados de enfermer�a
Pereira, Lara Terezinha Cunha;[1] Ferreira, Marilaine Matos de Menezes[2]
RESUMO
Objetivo: descrever percep��es do paciente com doen�a renal cr�nica sobre tratamento de hemodi�lise e assist�ncia de enfermagem. M�todo: pesquisa qualitativa realizada com 20 pacientes, com 18 anos ou mais de idade, diagn�stico confirmado de doen�a renal cr�nica e tratamento regular de hemodi�lise, atrav�s de entrevistas semiestruturadas, no per�odo 17 a 20 de maio de 2021. Os dados foram tratados por an�lise de conte�do. Resultados: houve d�ficit de conhecimento dos participantes acerca da doen�a e do tratamento de hemodi�lise e das dificuldades vivenciadas como influenciadoras no enfrentamento da doen�a. Consideram a assist�ncia de enfermagem de boa qualidade, por�m n�o usufruem de uma boa educa��o em sa�de por parte da equipe. Conclus�es: a educa��o em sa�de n�o foi realizada sistematicamente durante a assist�ncia de enfermagem. Essa car�ncia pode acarretar dificuldades no tratamento de hemodi�lise e afetar a percep��o do indiv�duo sobre seu processo de sa�de e doen�a e qualidade de vida.�
Descritores: Insufici�ncia renal cr�nica; Di�lise renal; Assist�ncia centrada no paciente; Cuidados de enfermagem; Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
Objective: to describe the perceptions of patients with chronic kidney disease about hemodialysis treatment and nursing care. Method: qualitative research conducted with 20 patients, aged 18 years or older, confirmed diagnosis of chronic kidney disease and regular hemodialysis treatment, through semi-structured interviews, from May 17 to 20, 2021. Data were processed by analysis of content. Results: there was a lack of knowledge of the participants about the disease and hemodialysis treatment and the difficulties experienced as influencers in coping with the disease. They consider the nursing care to be of decent quality, but they do not enjoy good health education from the team. Conclusions: health education was not performed systematically during nursing care. This lack can lead to difficulties in hemodialysis treatment and affect the individual's belief of their health and disease process and quality of life.
Descriptors: Renal insufficiency, chronic; Renal dialysis; Patient-centered care; Nursing care; Qualitative research
RESUMEN
Objetivo: describir percepciones de pacientes con enfermedad renal cr�nica sobre tratamiento de hemodi�lisis y cuidados de enfermer�a. M�todo: investigaci�n cualitativa realizada con 20 pacientes, con edad igual o superior a 18 a�os, diagn�stico confirmado de enfermedad renal cr�nica y tratamiento regular de hemodi�lisis, a trav�s de entrevista semiestructurada, del 17 al 20 de mayo de 2021. El an�lisis fue de contenido. Resultados: hubo desconocimiento de los participantes sobre la enfermedad y el tratamiento de hemodi�lisis y las dificultades experimentadas como influenciadores en el enfrentamiento de la enfermedad. Consideran que los cuidados de enfermer�a son de calidad aceptable, pero no disfrutan de una buena educaci�n en salud por parte del equipo. Conclusiones: no se realiz� educaci�n en salud sistem�ticamente durante la atenci�n de enfermer�a. Esa carencia puede generar dificultades en el tratamiento de hemodi�lisis y afectar la percepci�n del individuo sobre su proceso de salud y enfermedad y calidad de vida.
Descriptores: Insuficiencia renal cr�nica; Di�lisis renal; Atenci�n dirigida al paciente; Cuidado de enfermera; Investigaci�n cualitativa
INTRODU��O
De acordo com as diretrizes da Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO), a Doen�a Renal Cr�nica (DRC) � caracterizada como a perda progressiva da fun��o renal e definida pela excre��o persistente e elevada de albumina na urina (30 mg/g ou 3 mg/mmol de creatinina), redu��o persistente estimada da Taxa de Filtra��o Glomerular (TFG) < 60ml/min/1,73m�, ou ambos, por mais de tr�s meses. Segundo a classifica��o KDIGO, existem 5 est�gios da doen�a e o �ltimo � caracterizado por uma TFG < 15ml/min/1,73m� com os candidatos a uma Terapia Renal Substitutiva (TRS).1�
De acordo com o Censo Brasileiro de Di�lise, um estudo comparativo entre os anos de 2009 e 2018, houve um aumento de 54,1% novos pacientes em di�lise em rela��o a 2009. Com rela��o ao tipo de terapia dial�tica, a hemodi�lise continua sendo predominante com 92% dos pacientes, um aumento de 3% em rela��o � d�cada anterior. J� em rela��o � di�lise peritoneal, houve uma redu��o de 10,5% para 7,8%, em 2009 e 2018, respectivamente, de pacientes submetidos a essa terapia. Dentre os pacientes em di�lise, 22,1% se encontravam em fila de transplante renal.2
A hemodi�lise consiste na remo��o de subst�ncias t�xicas e l�quidos em excesso no organismo, cuja dura��o leva de duas a quatro horas, necessitando que o paciente se desloque para a unidade de di�lise de duas a quatro vezes por semana para realizar esse procedimento.3 A experi�ncia de receber a not�cia de que ser� necess�rio realizar o tratamento hemodial�tico � vivenciada de forma negativa e dolorosa. Apesar da hemodi�lise impactar, na maioria das vezes, na melhora do quadro cl�nico do paciente renal, a percep��o do mesmo sobre ela ainda � negativa, pois traz sofrimento, ang�stia e medo.4
Al�m disso, o sentimento de nega��o se apresenta como uma barreira para algumas pessoas, por n�o compreenderem a magnitude e complexidade da doen�a, acabam vivenciando essa experi�ncia de forma negativa e desconhecida, necessitando de um maior acolhimento profissional com acompanhamento de suas necessidades reais e esclarecimento sobre seu processo de sa�de.5
Diante do quadro cl�nico do paciente renal cr�nico submetido � hemodi�lise e considerando que boa parte do seu tempo vivido � dentro da unidade de di�lise, cabe aos profissionais de sa�de a identifica��o e tratamento dos eventos decorrentes da terapia hemodial�tica. O conhecimento acerca da percep��o de cada paciente permite a implanta��o de m�todos assistenciais que visem atender melhor �s suas necessidades.6
Ante o exposto, � relevante para as pr�ticas de sa�de discutir sobre a qualidade da assist�ncia de enfermagem prestada aos pacientes com DRC, em tratamento de hemodi�lise, atrav�s da percep��o do paciente assistido. O conhecimento sobre a percep��o do paciente � de suma import�ncia para a melhoria da assist�ncia de enfermagem voltada � presta��o de servi�os, que vise contribuir com um tratamento digno e adequado para essas pessoas.
Portanto, o presente estudo teve por objetivo descrever percep��es do paciente com doen�a renal cr�nica sobre tratamento de hemodi�lise e assist�ncia de enfermagem. Considerando que a concep��o do paciente sobre seu processo de sa�de e doen�a e as dificuldades relacionadas � ades�o ao tratamento contribuem para constru��o da percep��o do indiv�duo sobre a assist�ncia de sa�de, o estudo trouxe de forma espec�fica contribui��es sobre o assunto com �nfase na assist�ncia de enfermagem.
MATERIAIS E M�TODO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e explorat�ria. A investiga��o foi desenvolvida em uma unidade de di�lise de um hospital estadual de Salvador-Bahia (BA) que disponibiliza o tratamento hemodial�tico para adultos. No per�odo da coleta de dados, entre 17 e 20 de maio de 2021, havia o registro de 162 pacientes em tratamento na unidade de di�lise. Os crit�rios de inclus�o para sele��o da amostra foram pacientes com idade maior ou igual a 18 anos, com diagn�stico confirmado de DRC e que estivessem em tratamento regular (maior que tr�s meses) de hemodi�lise na institui��o. A amostra da pesquisa foi composta por 20 pacientes adultos entre 18 e 73 anos, com diagn�stico confirmado de DRC, em hemodi�lise h� mais de tr�s meses na institui��o. O encerramento da coleta de dados baseou-se na satura��o te�rica das respostas fornecidas.7
N�o houve abandono do tratamento, transfer�ncias para outra unidade, falecimentos ou recusas para responder o question�rio completo durante a coleta de dados que justificassem a exclus�o de pacientes da pesquisa. A coleta foi realizada presencialmente por uma das autoras, capacitada, com bacharel em enfermagem, utilizando uma linguagem acess�vel e compat�vel com o grau de forma��o dos participantes. A entrevistadora se identificou e apresentou os objetivos da pesquisa antes da realiza��o da entrevista.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, contendo vari�veis que se direcionam ao perfil dos pacientes e a sua percep��o sobre a assist�ncia de enfermagem, com realiza��o durante o procedimento de hemodi�lise na unidade de tratamento, atrav�s de um instrumento confeccionado pelas autoras que abordou: o perfil sociodemogr�fico (g�nero, idade, escolaridade, renda e moradia); sa�de (16 perguntas sobre a doen�a, o tratamento hemodial�tico, o acesso � unidade de tratamento e a assist�ncia de enfermagem no tratamento hemodial�tico).
Devido �s condi��es pand�micas relacionadas � Coronavirus Disease 2019 (Covid-19) que perduravam no per�odo da coleta de dados, as entrevistas foram realizadas durante o procedimento de hemodi�lise, individualmente, respeitando as medidas de distanciamento, higiene das m�os com �lcool a 70% e com o uso adequado de m�scaras de prote��o, tanto a pesquisadora, quanto o paciente entrevistado. As estrat�gias realizadas para coleta de dados visaram a garantia da confidencialidade e a privacidade dos participantes, assim como a seguran�a do paciente contra a Covid-19.
As entrevistas foram realizadas de forma individual com pessoas adultas em tratamento de hemodi�lise, que se enquadraram nos crit�rios estabelecidos, as quais foram identificadas na pesquisa por c�digos alfanum�ricos (L01 a L20). O instrumento utilizado serviu apenas como guia para a coleta de dados, sendo necess�rio um gravador e que a pesquisadora utilizasse de uma escuta ativa para interpreta��o fidedigna das informa��es obtidas e posteriormente document�-las para a pesquisa. Cada entrevista durou em m�dia de dez a 15 minutos.�
Os dados obtidos foram tratados por meio do m�todo de an�lise de conte�do,8 seguindo suas tr�s fases: pr�-an�lise, explora��o do material e tratamento dos resultados, infer�ncia e interpreta��o. As informa��es foram interpretadas e classificadas em tr�s categorias.
A pesquisa obedeceu a Resolu��o n�466/2012 no Conselho Nacional de Sa�de, submetida � aprova��o pelo Comit� de �tica em Pesquisa (CEP) sob o n�mero 4.023.678. A coleta de dados somente iniciou ap�s a aprova��o do projeto pelo CEP e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes, conforme a disponibilidade dos mesmos e da unidade de hemodi�lise.
RESULTADOS E DISCUSS�O
Dentre os 20 participantes, 19 residiam no munic�pio de Salvador e regi�o metropolitana, todos em zona urbana, a maioria do g�nero masculino (n=13). Com idade entre 58 e 65 anos (n=8); com ensino fundamental completo (n=7) e tendo como renda principal, a aposentadoria (n=13). O perfil encontrado relacionado a preval�ncia do g�nero masculino e baixa escolaridade � similar com o de outros estudos encontrados na literatura.9-11
Os outros participantes apresentam as caracter�sticas de: g�nero feminino (n=7); faixas et�rias de 66 a 73 anos (n=4), 42 a 49 anos (n=3), 18 a 25 anos (n=2), 50 a 57 anos (n=2) e 34 a 41 anos (n=1); escolaridades de ensino m�dio completo (n=7), ensino m�dio incompleto (n=2), ensino fundamental incompleto (n=2), ensino superior completo (n=1); e outras rendas (n=5), sustentados(as) por algum familiar (n=1) e bolsa fam�lia (n=1).
As tr�s categorias emergidas ap�s a interpreta��o dos resultados foram: conhecimento de pacientes sobre a doen�a e o tratamento de hemodi�lise; dificuldades vivenciadas pelos pacientes em tratamento de hemodi�lise; percep��o do paciente sobre a assist�ncia de enfermagem durante o tratamento de hemodi�lise.
Conhecimento de pacientes sobre a doen�a e o tratamento de hemodi�lise
A DRC se caracteriza como um grande problema de sa�de p�blica no Brasil, devido a sua alta incid�ncia e as altas taxas de mortalidade.12 A doen�a compromete a fun��o renal atrav�s de les�o renal de forma gradual e irrevers�vel.13
Um dos principais tratamentos para DRC � a hemodi�lise, que � realizada por meio da filtra��o sangu�nea atrav�s de uma membrana semiperme�vel, dialisador, no qual ocorrem as trocas dos l�quidos, eletr�litos e produtos do metabolismo, entre o sangue e o dialisato, e � um tratamento para a vida toda at� que os pacientes sejam submetidos ao transplante renal, se assim desejarem.14-15
O conhecimento acerca do pr�prio processo de sa�de e doen�a � fundamental para melhoria da qualidade de vida dos pacientes, assim como para aceita��o desta condi��o. Cerca de 50% dos pacientes alegam n�o saber o que � a DRC e o tratamento de hemodi�lise, o que possibilita um questionamento sobre quais informa��es e de que forma s�o transmitidas aos pacientes, pois a maioria se encontra em uma faixa et�ria de 58 a 65 anos com um grau de escolaridade de ensino fundamental completo. Declara��es sobre a doen�a:
N�o [sabe sobre a doen�a]. Eu fui fazer uns exames de rotina e a� a m�dica me encaminhou para ficar fazendo hemodi�lise. Eu estava bem, mas ela disse que eu tinha que vir. (L12)
N�o sei, n�o [sobre a doen�a]. (L14)
N�o tenho certeza [sobre a doen�a]. (L02)
Devido � doen�a ser assintom�tica no in�cio, h� uma dificuldade na identifica��o precoce do diagn�stico, dificultando o manejo do tratamento. Al�m disso, as altera��es decorrentes da diminui��o progressiva da taxa de filtra��o glomerular acarretam comorbidades al�m da DRC, aumentando a chance de mortalidade precoce.14 Com rela��o ao tratamento, alguns pacientes afirmam:
Estou aqui fazendo, mas n�o sei n�o [sobre o tratamento]. (L12)
N�o [sabe sobre o tratamento], eu estou vendo agora que estou fazendo hemodi�lise, mas eu nunca tive nada. E me quebrou todo, n�o consigo andar direito, quase caindo, as pernas est�o bambas. (L14)
Dentre os pacientes que afirmam conhecer sobre a doen�a e o tratamento, a maioria apresenta um grau de escolaridade de ensino m�dio completo. Outro ponto � a faixa et�ria bem variada entre 18 e 73 anos. Por conseguinte, pode-se estabelecer uma rela��o entre o grau de escolaridade e o conhecimento acerca do processo de sa�de e doen�a. Como elucidado em pesquisas anteriores,11,16 a baixa escolaridade pode interferir na realiza��o adequada do tratamento, assim como na qualidade de vida, pelo comprometimento da educa��o em sa�de devido as dificuldades no entendimento das orienta��es fornecidas pelos profissionais. Declaram sobre a doen�a:
� o problema dos rins, para [cessa] de funcionar. (L07)
Sei que � a defici�ncia do rim, o rim deficiente. (L09)
� porque o rim para [cessa] de funcionar. (L13)
E sobre o tratamento:
� um tratamento para tirar as impurezas que o rim trabalhava no lugar e agora quem tira � a m�quina. (L07)
Embora estas informa��es sobre o que � a doen�a e o tratamento estejam interligadas, alguns pacientes alegam que tem conhecimento sobre a doen�a e n�o tem sobre o tratamento ou o inverso. Como exemplos:
Sim [sobre a doen�a]. N�o sei [sobre o tratamento]. (L11)
N�o sei. Eu acho que n�o [sobre a doen�a]. Sei por que eu estou fazendo, inclusive eu melhorei um pouco, porque eu tinha o problema de press�o [alta] e agora eu n�o tenho mais, a press�o baixou [sobre o tratamento]. (L16)
Esta contradi��o tamb�m possibilita o questionamento sobre a qualidade das informa��es passadas para os pacientes, pois estes nem sempre conseguem associar a condi��o patol�gica ao tratamento realizado, ainda que tenham consci�ncia de que precisam realizar o tratamento para evitar complica��es maiores.
Os profissionais de sa�de, principalmente os de enfermagem, devem estar atentos para a comunica��o com os pacientes e fam�lia, considerando as individualidades e a capacidade de compreens�o das informa��es transmitidas.11
Outra quest�o � a forma como � interpretada a doen�a renal cr�nica e como estes consideram que sabem ou n�o a respeito da doen�a. Apesar de alguns pacientes afirmarem que sim, quando questionados apresentam concep��es vagas ou inseguras a respeito do que entendem. Como exemplos:
Eu sei que � esse processo aqui que a gente faz para durar mais uns dias [sobre o tratamento]. (L09)
Hoje eu venho para a m�quina achando que sei, dessa forma que estou fazendo hoje, mas n�o sei dizer o que significa nada, n�o vou mentir para voc� [sobre o tratamento]. (L20)
Devido �s repercuss�es da doen�a e por falta de orienta��o adequada, alguns abandonam o tratamento ou param de se atentar constantemente �s condi��es em que devem se submeter para o equil�brio do tratamento e do curso da doen�a. Diante disso, a educa��o em sa�de com o incentivo aos pacientes a adaptarem ao novo estilo de vida � imprescind�vel para que estes compreendam o papel que dever�o desempenhar no controle da doen�a e de sua vida.17
Dificuldades vivenciadas pelos pacientes em tratamento de hemodi�lise
Tratando-se de dificuldades para realiza��o do tratamento de hemodi�lise, a maioria dos pacientes alegam que n�o t�m dificuldades. Entre estes, alguns utilizam a F�stula Arteriovenosa (FAV) funcionante ou ainda n�o utilizaram a FAV e fazem uso do cateter.
Tenho f�stula, mas n�o estou usando ainda. (L16)
N�o fiz a f�stula ainda n�o, eu uso cateter. (L20)
Agora com a f�stula n�o, mas quando era no cateter tinha. (L12)
Tenho f�stula e gra�as a Deus est� �tima. (L19)
Alguns pacientes relatam que a FAV n�o funcionou ou que apresentam alguma complica��o, tamb�m alegam n�o ter dificuldades, embora em suas falas apresentem condi��es que dificultam o procedimento de di�lise.
N�o tenho o que dizer, s� que isso aqui incomoda. Ficar levando furada, ningu�m gosta. (L05)
Eu fiz a f�stula, mas n�o deu certo. (L18)
N�o [sobre ter dificuldades], mas a f�stula n�o funcionou. (L01)
Entre os que dizem ter dificuldades, a maioria relata que n�o utilizam a f�stula por n�o ter funcionado ou por ter parado de funcionar, sendo necess�rio a utiliza��o de cateter para a realiza��o da di�lise.
Colocou a f�stula e ficou quase um ano sem funcionar, tentou em outros lugares, mas n�o deu certo. Agora que colocou esse cateter aqui, gra�as a Deus deu certo. (L03)
A f�stula parou. (L06)
Eu uso permcath, j� fiz a f�stula j� e no mesmo dia perdeu. (L09)
Eu fiz a f�stula e perdi. (L10)
Para a realiza��o da hemodi�lise � necess�rio confeccionar um acesso vascular, geralmente um Cateter Venoso Central (CVC) ou uma FAV. Esta �ltima para ser utilizada necessita de um per�odo inativo para sua matura��o, fazendo com que os pacientes com f�stula imatura necessitem passar um per�odo utilizando o cateter, por este se tratar de um acesso que permite a utiliza��o de maneira imediata.18
Como via alternativa para realiza��o da hemodi�lise, o CVC tamb�m � utilizado para pacientes que t�m complica��es com a f�stula e n�o conseguem utiliz�-la, situa��o de muitos dos participantes da pesquisa, por�m, o tempo de perman�ncia de um CVC depende do tipo (de curta perman�ncia ou longa perman�ncia) e do surgimento de complica��es associadas a este acesso como: infec��es e obstru��o do cateter.18
Apesar de a FAV ser o acesso vascular mais indicado, ela tamb�m pode apresentar complica��es que podem dificultar o tratamento como o surgimento de infec��es, trombose, aneurismas, al�m de redu��o do fluxo sangu�neo, edema em membro da f�stula e aumento da demanda card�aca. Para prevenir complica��es e contribuir para o funcionamento da FAV, o autocuidado precisa der adequado.19
A maioria dos pacientes dizem ter f�cil acesso a unidade de di�lise, embora aqueles que dizem n�o ter f�cil acesso referem-se � sintomatologia da doen�a e ao hor�rio dispon�vel para realiza��o do seu tratamento, pois alguns pacientes realizam Tratamento Fora do Domic�lio (TFD) e dependem dos hor�rios dos transportes disponibilizados pelas prefeituras:
Eu venho de Uber [aplicativo de compartilhamento de viagem que conecta passageiros com motoristas], porque eu sinto muitas dores nas pernas, venho de Uber por necessidade. (L05)
Por causa do hor�rio, esse hor�rio para voltar � ruim. (L12)
A sintomatologia caracter�stica da DRC como incha�o, fadiga, falta de ar, hipertens�o, dorm�ncia, c�ibras e fortes dores nos membros inferiores, dores renais e no abd�men, s�ncope, v�mitos, diarreia, implicam na qualidade de vida e percep��o da pessoa com DRC, pois restringe algumas atividades que antes seriam consideradas simples, mas que agora exigem uma aten��o maior e aux�lio para realiz�-las, como o pr�prio deslocamento para a unidade de di�lise.20
Devido o momento de coleta dados coincidir com a pandemia do novo coronav�rus (Sars-Cov-2), um paciente tamb�m relatou sentir dificuldade para acesso devido as condi��es pand�micas:
Antes da pandemia eu vinha de �nibus, agora eu venho de carro. (L09)
A maioria dos pacientes se deslocam de carro e demoram menos de 30 minutos para chegarem � unidade, por�m, existe uma parcela quase equivalente que leva entre 60 e 90 minutos nesse deslocamento.
Uma maior parcela dos pacientes declara ter conseguido aderir ao tratamento com facilidade, dentre estes, os que afirmam ter recebido apoio de um profissional alegam que foram de m�dicas ou m�dicos, em maioria, e de psic�logas ou psic�logos.
A m�dica que me acompanha me ajudou. (L03)
Conversando e esclarecendo as coisas, a m�dica. (L19)
Sim, psic�logo. (L01)
Aqueles que informam n�o ter conseguido aderir a terap�utica com facilidade, quando se referem a profissionais que contribu�ram para que esse processo fosse mais f�cil ou participaram do processo, citam m�dicos e m�dicas.
Disseram que eu ia ter que dialisar sen�o eu ia morrer. A gente fica assim meio [...], mas tem que fazer. (L09)
Assim, eu senti mal em 2018, a� fui para UPA [Unidade de Pronto Atendimento] e de l� vim para c�, j� para a hemodi�lise. Eu fiquei ruim, ruim mesmo, a� a m�dica disse que eu ia ter que voltar para continuar o tratamento. (L17)
J� L13 acredita que contribuem para que se torne mais f�cil essa ades�o:
Todos que conversam com a gente. (L03)
A perda de identifica��o do profissional de enfermagem como educador, orientador e participativo nas medidas de apoio e suporte emocional do paciente durante o tratamento de hemodi�lise � um fator importante a ser considerado, j� que como membro da equipe multiprofissional deve desempenhar e garantir essa assist�ncia, assim como categoria de enfermagem que deve acompanhar o paciente de perto durante todo o tratamento.
Al�m disso, � de responsabilidade dos enfermeiros e enfermeiras desenvolverem a��es que promovam um maior reconhecimento da profiss�o, explorando a necessidade dos membros da equipe de enfermagem se identificarem no momento da presta��o de cuidados e participarem ativamente da assist�ncia ao paciente.21
As enfermeiras e enfermeiros juntos a equipe de enfermagem s�o imprescind�veis para aceita��o da doen�a pelo paciente e ades�o ao tratamento, por meio de um v�nculo estabelecido e um apoio constante, al�m de um investimento no processo educativo com objetivo de preparar, fortalecer e desenvolver mecanismos para lidar com a nova realidade vivida, principalmente estimulando o autocuidado.11
A maioria daqueles que dizem ter conseguido se adaptar a rotina da di�lise de forma f�cil, alega que os profissionais de enfermagem contribuem para isso:
Consegui, aceitei facilmente. Sim, aqui � todo mundo maravilhoso. (L19)
Eles s�o muito bons, n�o tenho nada o que dizer daqui. (L03)
Sim, n�o tenho nada contra, � tudo a favor. (L14)
Tem um tratamento legal aqui. (L17)
Apesar de a maioria dos participantes alegarem ter conseguido aderir a rotina com facilidade, alguns destes depoimentos demonstram o contr�rio:
Eu bebo um pingo de �gua assim e a� dizem que � muito a �gua que eu tomo. O caf� � um pinguinho assim, e os rem�dios, hoje mesmo eu tomei um, nem botei �gua, engoli no seco. (L04)
No in�cio foi dif�cil, depois foi que eu me acostumei mais. (L11)
� chato, mas a gente tem que vir. (L09)
Eu estou me acostumando. (L16)
Aceitei, porque eu preciso fazer. Se eu n�o vier, eu vou inchar e eu n�o quero isso, quero minha sa�de. (L05)
Dentre os que alegam n�o ter conseguido aderir de forma f�cil, exp�e:
At� hoje � muito dif�cil, eu tinha uma vida muito corrida e agora eu acordo e tenho que vir para o hospital [...]. A gente sabe que todo mundo um dia vai morrer, mas a gente vai morrer mais r�pido. Estamos disputando aqui um rim, enquanto trocamos um rim pela m�quina. Se a gente n�o vir, a� vai morrer mais r�pido ainda [...]. Sim, todo mundo gente boa [sobre a assist�ncia]. (L20)
As pessoas em tratamento hemodial�tico podem permanecer anos submetidos a esta terapia, necessitando comparecer a hospitais ou cl�nicas especializadas de duas a tr�s vezes por semana, onde permanecem por um per�odo de duas a quatro horas para a troca de l�quidos. Al�m da terapia de substitui��o, � necess�rio uma terapia medicamentosa e o controle rigoroso em dietas adequadas ao perfil do paciente.12
O paciente renal cr�nico vivencia uma mudan�a s�bita em sua vida devido �s limita��es da doen�a e o tratamento doloroso, como a hemodi�lise, que podem levar a pensamentos sobre morte que intercalam com a possibilidade de realizar um transplante renal, criando expectativas e desilus�es de melhorar a sua qualidade de vida.17
Al�m disso, acerca da contribui��o da enfermagem nesse processo as opini�es s�o diversas. Alguns consideram que os profissionais de enfermagem n�o contribuem para que se torne mais f�cil, outros consideram que sim ou que alguns contribuem.
N�o [contribuem]. (L04)
Alguns [contribuem]. (L11)
Sim [contribuem]. (L09)
Sempre ajudam. (L16)
Se tiver alguma coisa me incomodando, eles me atendem. Gra�as a Deus eu n�o tenho o que dizer, daqui n�o. (L05)
Cerca de 19 pacientes alegaram que foram orientados acerca dos cuidados necess�rios com a f�stula e/ou cateter.
Foi, eu fui bem orientado mesmo. (L16)
Esclareceram tudo direitinho. (L19)
Destes pacientes, 18 informaram que essas orienta��es foram suficientes e apenas um paciente utilizou de outros meios para obten��o de informa��o. A maioria dos pacientes utilizam a f�stula para di�lise.
Minha mulher pesquisou na internet e me disse o que tinha que fazer. (L11)
Embora os pacientes em maioria alegarem terem sido esclarecidos acerca dos cuidados necess�rios com a f�stula, a baixa escolaridade destes pacientes pode interferir na compreens�o destes cuidados e comprometer a realiza��o de pr�ticas adequadas.19 Portanto, a verifica��o constante do grau de conhecimento possibilita garantir que os pacientes sejam suficientemente informados e possam aderir aos cuidados necess�rios.
A pessoa com DRC, al�m da equipe de sa�de, tamb�m � respons�vel pelo seu tratamento e precisa ser adequadamente orientada sobre autocuidado do acesso vascular na sua confec��o e essas informa��es devem ser refor�adas durante o curso do seu tratamento.19
Percep��o do paciente sobre a assist�ncia de enfermagem durante o tratamento de hemodi�lise
O Processo de Enfermagem (PE) consiste em um m�todo assistencial que busca atender a essa proposta. Ele configura-se como um modelo de assist�ncia, que auxilia na execu��o profissional da enfermagem, podendo ser composto por cinco etapas: coleta dos dados, Diagn�stico de Enfermagem (DE), planejamento do cuidado, implementa��o e avalia��o. Na realiza��o das terapias de renais substitutivas, o PE, atrav�s da etapa de estabelecimento dos DEs, constitui-se um mecanismo fundamental para orientar a realiza��o do tratamento e buscar atender as necessidades individuais.14
Quase todos os pacientes declararam que os profissionais de enfermagem os acompanham durante todo o processo de di�lise, apenas dois disseram que estes os acompanham de duas a tr�s vezes ou n�o sabe dizer.
A diferen�a entre os participantes que referem conhecer os profissionais de enfermagem respons�veis pelo seu tratamento e os que conhecem apenas alguns � m�nima.
Sim [conhece] e gra�as a Deus todas me atendem bem. (L05)
Essa aqui mesmo eu conhe�o, mas tem outras que n�o conhe�o, porque as vezes muda. (L11)
Identificada como melhor estrat�gia de cuidados, o cuidado centrado na pessoa prev� a integra��o de cuidados dos profissionais de sa�de e paciente/familiar/cuidador voltados para as necessidades individuais de cada pessoa e contexto inserido, com respeito e dignidade, tornando-a o centro do cuidado, por meio de um v�nculo e comunica��o efetivos, em que o paciente � um sujeito ativo no seu processo de cuidados.22 A identifica��o dos profissionais de enfermagem para os pacientes como parceiros no cuidar da pessoa com doen�a renal cr�nica � fundamental para garantir uma assist�ncia digna e humanizada.
A maioria diz que j� tiveram complica��es durante o procedimento e que os profissionais de enfermagem souberam conduzir a situa��o para sua estabiliza��o hemodin�mica. Dentre as complica��es relatadas est�o: hipotens�o, hipertens�o, s�ncope, dores em membros inferiores, v�mitos, hipoglicemia, tosse, taquicardia, infec��o e parada card�aca.
Sim, dores nas pernas e nos p�s. Eles trouxeram aqueceram os meus p�s. (L03)
Sempre tem, minha press�o baixa. Eles colocaram soro. (L07)
J�, j� vomitei, desmaiei, j� fiquei tonto [...], mas por minha culpa mesmo, eu sei que exagerei na comida, bebida. A gente se tiver problema aqui, eles resolvem. (L09)
O a��car diminui, a press�o sobe. Conseguiram controlar. (L13)
J� porque eu sou diab�tico, a� sempre minha glicemia baixa. Eles me davam glicose. (L15)
J� tive umas duas vezes. Porque eu tive tosse, a� eles vieram aqui e ajustaram para melhorar. (L16)
A minha press�o baixa e agora no finalzinho da di�lise, meu cora��o come�a a bombar mais forte, a� elas diminuem o fluxo. (L19)
J� tive uma parada card�aca aqui e me levaram para sala vermelha, quando eu acordei j� estava l� na sala vermelha. Quando o cateter era no pesco�o j� inflamou, tive que tomar rem�dio j�, antibi�tico, umas duas, tr�s vezes. A equipe ajuda sempre. (L20)
Uma parte consider�vel dos pacientes alegam que n�o tiveram nenhuma complica��o na unidade de di�lise ou que nunca tiveram complica��es:
N�o nessa unidade. (L01)
Nunca tive nada. (L14)
Durante o tratamento hemodial�tico se observa com certa frequ�ncia sinais e sintomas como a altera��o da press�o arterial (hipotens�o ou hipertens�o), cefaleia, n�useas e v�mitos, s�ndrome de desequil�brio, vasoconstri��o, c�ibras, prurido, e at� dor tor�cica e lombar.14
Diante do complexo quadro cl�nico dos pacientes dial�ticos, cabe ao profissional de sa�de, incluindo o enfermeiro, identificar e tratar os fen�menos decorrentes da terapia hemodial�tica, elaborando medidas estrat�gicas para a assist�ncia, visando um acompanhamento hol�stico do paciente, em que todas as suas necessidades sejam supridas.14
Grande parte dos pacientes relatam que os profissionais de enfermagem sempre escutam suas necessidades e fazem orienta��es acerca do tratamento de di�lise. Por�m, alguns dizem que os profissionais escutam as necessidades, mas que n�o fazem orienta��es ou s� fazem orienta��es se eles questionarem algo.
N�o faz orienta��o n�o, s� mexe na m�quina mesmo. (L11)
Se pergunta, eles respondem. (L12)
Para alguns autores a comunica��o � vista como um instrumento de cuidado, portanto cabe aos profissionais de sa�de, principalmente a enfermagem, estabelecer rela��es com pacientes, fam�lias e cuidadores para compreens�o de suas necessidades e esclarecimento de suas d�vidas.23 Al�m disso, � imprescind�vel um di�logo aberto com o paciente, para que este se sinta confort�vel em falar sobre suas expectativas, saber interpretar as suas demandas e de seus familiares de acordo com seus valores pessoais, culturais, e cren�as e compreender o cuidador como um parceiro/auxiliar, envolvendo-os na assist�ncia ao paciente.
Muitos pacientes declararam que os profissionais de enfermagem se demonstram empenhados para a melhoria de seus tratamentos, outros relatam que apenas alguns fazem isso.
Muito, muito, demais [sobre o empenho dos profissionais de enfermagem]. (L07)
Toda a assist�ncia aqui � �tima. (L19)
Sempre ajudam a incentivar coisas boas, sempre, sempre. (L20)
Tem umas que n�o, mas tem umas que sim [sobre o empenho dos profissionais de enfermagem]. (L11)
Uma boa comunica��o entre profissionais de sa�de e pacientes pode ser significativa nos resultados dos cuidados ofertados, desde o esclarecimento sobre a sua quest�o de sa�de at� uma tomada de decis�o que vai interferir no planejamento do seu cuidado, nos resultados cl�nicos e na sua percep��o sobre a experi�ncia vivenciada.23
Torna-se importante ressaltar a relev�ncia dos profissionais de enfermagem no cuidado individual, assim como no planejamento adequado para a assist�ncia, tendo em vista que a garantia da qualidade da aten��o � sa�de � poss�vel se a assist�ncia for realizada seguindo os crit�rios estabelecidos durante o planejamento de enfermagem.24-25
Um estudo realizado em um hospital universit�rio na Gr�cia em 2016 com pacientes em tratamento de hemodi�lise relacionou principais temas de preocupa��o no cuidado da enfermagem ao paciente em hemodi�lise, dentre eles est�o o cuidado f�sico, apoio emocional/psicol�gico e educa��o em sa�de. A pesquisa enfatiza que os pacientes dial�ticos apresentam sofrimento emocional desde os primeiros est�gios da doen�a, necessitando de uma boa comunica��o nem sempre alcan�ada pela equipe de enfermagem.26
Somado a isso, a educa��o em sa�de era negligenciada, cabendo ao paciente o esfor�o para adquirir o conhecimento necess�rio e o enfrentamento di�rio para se adequar ao tratamento.26 No presente estudo, a educa��o deficiente tamb�m pode acarretar sentimentos negativos com rela��o a doen�a e a enfermagem deve participar na mudan�a desse cen�rio.�
Quando questionados sobre a avalia��o acerca da assist�ncia de enfermagem na unidade de hemodi�lise, a maioria diz ser excelente, dentre os principais motivos est�o o bom relacionamento entre os profissionais e os pacientes, al�m da aten��o ofertada durante o procedimento.
Porque eles t�m cuidado e gostam da profiss�o. (L01)
Pelo apoio que eles d�o. (L04)
Principalmente vindo das t�cnicas, todo mundo aqui trata a gente super bem. (L07)
Porque eu me sinto bem com a galera [o pessoal], isso � bom demais. (L09)
Teve um dia que cochilei aqui e a� vieram me perguntar 'Est� tudo bem?'. (L10)
Pelo tratamento, porque se preocupa com seu bem-estar quando voc� vem aqui. (L16)
As meninas aqui me d�o aten��o, elas v�m quando chama, � excelente. (L19)
Alguns pacientes dizem que a assist�ncia � boa, pois se sentem bem e acolhidos com o tratamento, entretanto acreditam que poderiam melhorar nas orienta��es acerca do tratamento:
Eles colocam a gente aqui na m�quina, n�o tem como reclamar, todo mundo bem. (L03)
Porque me tratam bem. (L05)
Eu acho que se eu procurar orienta��o deles, eles me explicam, mas se eu n�o procurar, eles tamb�m n�o falam nada. Poderia melhorar. (L12)
Porque s�o tudo legal, educado, atencioso. (L17)
Porque pelo que eu vejo, pelo que eu observo, eu me sinto acolhida. (L18)
Outros que acham a assist�ncia � regular, pois alegam que precisam melhorar:
Porque das tr�s vezes que desmaiei aqui ningu�m viu. (L02)
Porque precisa melhorar, n�. (L11)
Deixam a desejar [s�o insuficientes], porque assunto de trabalho � de trabalho e assunto de casa � de casa. Tem que saber separar as coisas. (L13)
A DRC e a TRS podem levar a perdas e mudan�as que acarretam altera��es na integridade f�sica e emocional tanto para o portador quanto para os familiares, as quais impactam na percep��o do paciente sobre a sua experi�ncia, portanto, uma assist�ncia de qualidade � imprescind�vel para contribuir com a redu��o dos impactos causados.24-25
Quase todos os pacientes n�o quiseram acrescentar algo relacionado � assist�ncia de enfermagem al�m das perguntas do formul�rio aplicado, apenas dois participantes quiseram apresentar outras opini�es.�
�s vezes demora um pouco para tirar a press�o, ver o a��car, mas n�o tem como reclamar n�o, porque tem outros para atender. (L03)
� tanta coisa, a melhoria de tudo aqui dentro, eu acho que n�o � s� aten��o, � responsabilidade [...]. Tem que ser melhorado muita coisa aqui dentro, principalmente a assist�ncia, m�dico, mais voltada para as pessoas que fazem di�lise [...]. Eu estava falando esses dias, se tivesse uma reuni�o e tirasse um de cada grupo, ou dois, por exemplo: um paciente, um enfermeiro, um m�dico, um t�cnico, para encontrar uma melhoria, eles iam falar a parte deles e a gente ia falar o nosso. (L13)
Os servi�os de sa�de que atendem pacientes renais cr�nicos n�o se encontram devidamente preparados para uma assist�ncia integral, humana e que possibilite uma experi�ncia positiva e de qualidade. � necess�rio que os profissionais respons�veis pelos servi�os reconhe�am a realidade e as particularidades da DRC em seus pacientes, visando assegurar uma melhor qualidade do atendimento ofertado com a adequa��o dos procedimentos realizados, promovendo assim benef�cios diretos para o portador e fam�lia.25
A narrativa de L13 revela uma necessidade que deve ser destacada: a possibilidade de realiza��o de encontros entre os profissionais envolvidos no processo de hemodi�lise e os pacientes, com a finalidade de discutir os pontos de melhoria. Este momento pode trazer benef�cios a qualidade da assist�ncia e permitir que as demandas dos pacientes sejam conhecidas, al�m de favorecer o fortalecimento do v�nculo entre os envolvidos, quando esclarecidas as dificuldades de ambas as partes e o que pode ser feito para promo��o de melhorias significativas, atrav�s de metodologias possibilitem aos envolvidos expressarem suas opini�es e discutirem de forma democr�tica.27-29
Um estudo realizado na Su��a com enfermeiros e pacientes de 10 cl�nicas de hemodi�lise buscou comparar percep��es deles em rela��o � assist�ncia de enfermagem. Ambos percebem a assist�ncia de enfermagem como de alta qualidade, com exce��o da espiritualidade, o que pode ser justificado pela tem�tica ser considerada delicada no pa�s e particular de cada indiv�duo, dificultando essa abordagem. A espiritualidade � uma dimens�o importante para compreens�o do paciente assistido para melhor atender suas necessidades e complexidades.30
Este estudo apresenta limita��es com rela��o � espiritualidade dos participantes, n�o mencionada durante a pesquisa. Al�m disso, o estudo buscou apenas descrever o cen�rio a partir do olhar do paciente em tratamento de hemodi�lise, n�o apresentando vi�s pr�tico, tornando-se necess�rio novos estudos com aplica��o de outras metodologias, como as rodas de conversa para paciente dial�ticos, com o objetivo de analisar e buscar a melhoria do cen�rio apresentado.
CONSIDERA��ES FINAIS
O estudo demonstrou que muitos pacientes n�o conhecem sobre a doen�a e o tratamento, que est�o realizando. Alguns pacientes realizam a hemodi�lise sem saber exatamente o que t�m ou para que serve este tratamento, levando a uma transfer�ncia de responsabilidade maior para os profissionais de sa�de e de enfermagem.
Embora a maioria dos pacientes relatarem n�o ter dificuldades e uma f�cil ades�o � hemodi�lise, essas informa��es s�o conflitantes com a compreens�o deficiente deles acerca da doen�a e tratamento, o que dificulta para os indiv�duos ter uma percep��o clara do tratamento que est�o recebendo.
A baixa escolaridade afeta consideravelmente a percep��o do indiv�duo sobre a doen�a, o que tamb�m ocorreu no estudo presente. Devida � dificuldade no entendimento das informa��es fornecidas associada � aus�ncia de orienta��es pelos profissionais, essas desinforma��es se repetem.
Embora a maioria dos pacientes considerem a assist�ncia de enfermagem na hemodi�lise como excelente, existe uma defici�ncia que n�o pode ser desconsiderada na educa��o em sa�de, a qual pode comprometer o tratamento e a percep��o destes sobre o seu processo de sa�de e doen�a, assim como a qualidade de suas vidas. O profissional de enfermagem, por ter tamb�m o papel de educador em sa�de, deve se empenhar em garantir que os pacientes renais cr�nicos recebam o melhor esclarecimento sobre a doen�a e o seu tratamento.
Como recomenda��o, neste estudo se traz as rodas de conversa como uma estrat�gia relevante a ser considerada, por proporcionar encontros entre profissionais de sa�de e pacientes para discuss�o de melhorias na assist�ncia. Ademais, a roda de conversa tamb�m pode ser utilizada como proposta educativa, favorecendo o conhecimento e a promo��o de melhoria no autocuidado da pessoa com DRC.
REFER�NCIAS
1 Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) Diabetes Work Group. KDIGO 2020 Clinical Practice Guideline for Diabetes Management in Chronic Kidney Disease. Kidney Int. 2020;98(4S):S1-S115. DOI: https://doi.org/10.1016/j.kint.2020.06.019
2 Neves PDMM, Sesso RCC, Thom� FS, Lugon JR, Nasicmento MM. Censo Brasileiro de Di�lise: an�lise de dados da d�cada de 2009-2018. J. bras. nefrol. 2020;42(2):191-200. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2175-8239-JBN-2019-0234
3 Thomas CV, Alchieri JC. Qualidade de vida, depress�o e caracter�sticas de personalidade em pacientes submetidos � hemodi�lise. Aval. psicol. 2005;4(1):57-64. Dispon�vel em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v4n1/v4n1a07.pdf
4 Castro RVR de S, Rocha RLP, Araujo BFM, Prado KF do, Carvalho TFS de. Chronic renal patient perception on experience in hemodialysis. Rev. enferm. Cent.-Oeste Min. 2018;8:e2487. DOI: https://doi.org/10.19175/recom.v8i0.2487
5 Cunha GLS, Alves TF, Quadros DCR, Giorgi MDM, de Paula DM. The person�s perception about its condition as a chronic renal patient in hemodialysis. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online). 2021;12:636-41. DOI: https://doi.org/10.9789/2175-5361.rpcfo.v12.9086
6 Oliveira AC, Rocha ASC, Soares AHS, Alves AKS, Sousa CKL, Costa CBS, et al. O papel do enfermeiro no cuidado ao paciente em tratamento hemodial�tico. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. 2020;31(1):90-4. Dispon�vel em: https://www.mastereditora.com.br/periodico/20200606_164826.pdf
7 Fontanella BJB, Ricas J, Turato ER. Amostragem por satura��o em pesquisas qualitativas em sa�de: contribui��es te�ricas. Cad. Sa�de P�blica (Online). 2008; 24(1):17-27. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000100003
8 Sousa JR, Santos SCM. An�lise de conte�do em pesquisa qualitativa: modo de pensar e de fazer. Pesquisa e Debate em Educa��o. 2020;10(2):1396-41. DOI: https://doi.org/10.34019/2237-9444.2020.v10.31559
9 Oliveira LC, Lira GG, Fernandes FECV, Ornelas D, Mattos RM. Avalia��o da ades�o � hemodi�lise pelo doente renal cr�nico. Enfermagem Brasil. 2020;19(5):372-80. DOI: https://doi.org/10.33233/eb.v19i5.3672
10 Piccin C, Girardon-Perlin NO, Coppetti LC, Cruz TH, Beuter M, Burg G. Sociodemographic and clinical profile of chronic kidney patients in hemodialysis. Rev. enferm. UFPE on line. 2018;12(12):3212-20. DOI: http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963-v12i12a234669p3212-3220-2018
11 Marinho CLA, Oliveira JF, Borges JES, Silva RS, Fernandes FECV. Quality of life of chronic renal patients undergoing hemodialysis. Rev Rene (Online). 2017;18(3):396-403. DOI: https://doi.org/10.15253/2175-6783.2017000300016
12 Cruz VFES, Tagliamento G, Wanderbroocke AC. A manuten��o da vida laboral por doentes renais cr�nicos em tratamento de hemodi�lise: uma an�lise dos significados do trabalho. Sa�de Soc. 2016;25(4):1050-63. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-12902016155525
13 Jesus NM, Souza GF, Mendes-Rodrigues C, Neto OPA, Rodrigues DDM, Cunha CM. Quality of life of individuals with chronic kidney disease on dialysis. J. bras. nefrol. 2019;41(3):364-74. DOI: https://doi.org/10.1590/2175-8239-JBN-2018-0152
14 Debone MC, Pedruncci ESN, Candido MCP, Marques S, Kusumota L. Nursing diagnosis in older adults with chronic kidney disease on hemodialysis. Rev. bras. enferm. 2017;70(4):800-5. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0117
15 Gesualdo GD, Menezes LC, Rusa SG, Napole�o AA, Figueiredo RM, Melhado VR et al. Factors associated with the quality of life of patients undergoing hemodialysis. Texto & contexto enferm. 2017;26(2):e05600015. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-07072017005600015
16 Clementino DC, Souza AMQ, Barros DCC, Carvalho DMA, Santos CR, Fraga SNF. Hemodialysis patients: the importance of self-care with the arteriovenous fistula. Rev. enferm. UFPE on line. 2018;12(7):1841-52. DOI: http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963-v12i7a234970p1841-1852-2018
17 Barata NERRC. Dyadic relationship and quality of life patients with chronic kidney disease. J. bras. nefrol. 2015;37(3):315-22. DOI: https://doi.org/10.5935/0101-2800.20150051
18 Schwanke AA, Danski MTR, Pontes L, Kusma SZ, Lind J. Central venous catheter for hemodialysis: incidence of infection and risk factors. Rev. bras. enferm. 2018;71(3):1115-21. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0047
19 Santana NF, Nobre VNN, Luz LKT. Autocuidado com f�stula arteriovenosa em terapia renal substitutiva. Revista cient�fica de enfermagem. 2019;9(26):60-7. DOI: http://dx.doi.org/10.24276/rrecien2358-3088.2019.9.26.60-67
20 Cruz MRF, Salimena AMO, Souza IEO, Melo MCSC. Discovery of chronic kidney disease and everyday of hemodialysis. Ci�nc. cuid. sa�de. 2016;15(1):36-43. DOI: https://doi.org/10.4025/ciencuidsaude.v15i1.25399
21 Amorim LKA, Souza NVDO, Pires AS, Ferreira ES, Souza MB, Vonk ACRP. The nurse�s role: recognition and professional appreciation in the user�s view. Rev. enferm. UFPE on line. 2017;11(5):1918-25. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/23341/18945
22 Rodrigues JLSQ, Portela MC, Malik AM. Agenda for patient-centered care research in Brazil. Cien Saude Colet. 2019;24(11):4263-75. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.04182018
23 Silva GL, Lemos KCR, Barbosa AO, Santos GMR. Perception of chronic kidney patients undergoing hemodialysis, about kidney transplantation. Rev. enferm. UFPE on line. 2022;14:e244498. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963.2020.244498
24 Ottaviani AC, Betoni LC, Pavarini SCI, Say KG, Zazzetta MS, Orlandi FS. Association between anxiety and depression and quality of life of chronic renal patients on hemodialysis. Texto & contexto enferm. 2016;25(3):e00650015. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-07072016000650015
25 Ara�jo RCS, Silva RAR, Ara�jo AEV, Bezerra MX, Onofre MS, Silva KMP. Therapeutic itinerary of patients with chronic renal failure under dialytic treatment. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online). 2014;6(2):525-38. DOI: https://doi.org/10.9789/2175-5361.2014.v6i2.525-538
26 Delmas P, Antonini M, Berthoud L, O�Reilly L, Cara C, Brousseau S, et al. A comparative descriptive analysis of perceived quality of caring attitudes and behaviours between haemodialysis patients and their nurses. Nursing Open. 2020;7:563�570. DOI:https://doi.org/10.1002/nop2.42
27 Dias ESM, Rodrigues ILA, Miranda HR, Corr�a JA. Conversation wheel as education strategy in health for nursing. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online). 2018;10(2):379-84. DOI: https://doi.org/10.9789/2175-5361.2018.v10i2.379-384
28 Silva KMM, Vasconcelos VO. As rodas de conversa como instrumento metodol�gico na educa��o de jovens e adultos. EJA em Debate. 2019;8(13):1-11. Dispon�vel em: https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/EJA/article/view/2557
29 Adamy EK, Zocche DAA, Vendruscolo C, Santos JLG, Almeida MA. Validation in grounded theory: conversation circles as a methodological strategy. Rev. bras. enferm. 2018;71(6):3121-6. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0488
30 Stavropoulou A, Grammatikopoulou MG, Rovithis M, Kyriakidi K, Pylarinou A, Markaki AG. Through the Patients� Eyes: The Experience of End-Stage Renal Disease Patients Concerning the Provided Nursing Care. Healthcare. 2017;5(3):36. DOI: https://doi.org/10.3390/healthcare5030036
Recebido em: 23/10/2021
Aceito em: 26/10/2022
[1] Escola Bahiana de Medicina e Sa�de P�blica (EBMSP). Salvador, Bahia (BA). Brasil (BR). E-mail: laracunha29@gmail.com ORCID: 0000-0002-8957-5120
[2] Escola Bahiana de Medicina e Sa�de P�blica (EBMSP). Salvador, Bahia (BA). Brasil (BR). E-mail:marilaine.menezes@hotmail.com ORCID: 0000-0002-0562-5523
Como citar: Pereira LTC, Ferreira MMM. Percep��es de pacientes com doen�a renal cr�nica sobre tratamento de hemodi�lise e assist�ncia de enfermagem. J. nurs. health. 2022;12(2):e2212221884. Dispon�vel em: https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/JONAH/article/view/4424