ARTIGO original

Gravidez na adolescência no Nordeste brasileiro

Adolescent pregnancy in the Brazilian Northeast region

Embarazo adolescente en el noreste de Brasil

Oliveira, Hernandes Flanklin Carvalho;[1] Máximo, Luan Wesley Marques;[2] Sousa, Sandy Soares de;[3] Araujo Filho, Augusto Cezar Antunes de;[4] Ibiapina, Aline Raquel de Sousa;[5] Silva, Andréa Pereira da[6]

RESUMO

Objetivo: descrever o perfil epidemiológico da gravidez na adolescência no Nordeste brasileiro entre os anos de 2008 e 2017. Método: estudo observacional, descritivo, com abordagem quantitativa, realizado com os 1.835.195 registros de nascidos vivos de mulheres adolescentes residentes nos Estados do Nordeste brasileiro, no período entre os anos de 2008 e 2017. Resultados: verificou-se redução de 20,8% de nascidos vivos entre mães adolescentes. 57,3% fizeram menos que sete ou nenhuma consulta de pré-natal. Quanto aos recém-nascidos, houve predomínio do sexo masculino, cor parda, com Apgar no 1º e 5º minutos de vida entre 8 e 10, normopesos e sem anomalia congênita. Conclusões: observou-se redução de nascimentos entre mães adolescentes, mas ressalta-se o reforço de ações para adolescentes na atenção básica, a fim de reduzir esses casos.

Descritores: Gravidez na adolescência; Nascido vivo; Perfil de saúde

ABSTRACT

Objective: to describe the epidemiological profile of adolescent pregnancy in Northeast Brazil between 2008 and 2017. Method: observational, descriptive study with a quantitative approach, carried out with 1,835,195 records of live births of adolescent women residing in the Northeastern States Brazilian population, between 2008 and 2017. Results: there was a 20.8% reduction in live births among adolescent mothers. 57.3% had less than seven or no prenatal consultations. As for newborns, there was a predominance of males, mixed race, with Apgar scores in the 1st and 5th minutes of life between 8 and 10, normal weight and without congenital anomaly. Conclusions: there was a reduction in births among adolescent mothers, but the reinforcement of actions for adolescents in primary care is highlighted, to reduce these cases.

Descriptors: Pregnancy in adolescence; Live birth; Health profile

RESUMEN

Objetivo: describir el perfil epidemiológico del embarazo adolescente en el Nordeste brasileño entre 2008 y 2017. Método: estudio observacional, descriptivo con abordaje cuantitativo, realizado con 1.835.195 registros de nacidos vivos de mujeres adolescentes residentes en los Estados del Nordeste brasileño, entre 2008 y 2017. Resultados: hubo una reducción del 20,8% de nacidos vivos entre las madres adolescentes. El 57,3% tuvo menos de siete o ninguna consulta prenatal. En cuanto a los recién nacidos, hubo predominio del sexo masculino, mestizo, con puntajes de Apgar en el 1° y 5° minutos de vida entre 8 y 10, peso normal y sin anomalía congénita. Conclusiones: hubo una reducción de los nacimientos entre las madres adolescentes, pero se destaca el refuerzo de las acciones para las adolescentes en la atención primaria, con el fin de reducir estos casos.

Descriptores: Embarazo en adolescencia; Nacimiento vivo; Perfil de salud

INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização de Saúde (OMS), o período compreendido entre 10 e 19 anos de idade é considerada a fase da adolescência,1 na qual o indivíduo passa por diversas transformações de natureza física, psicológica e social. Também acontece o desenvolvimento e amadurecimento do aparelho reprodutor e da sexualidade, devido a puberdade presentar um declínio considerável em meninas de 12 e 13 anos atualmente, o que corresponde a uma idade fértil e o despertar sexual em meninas de menor idade.2

Com o início da prática sexual, consequências inconvenientes podem ocorrer nas fases iniciais, como adolescentes expostos a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), gravidez precoce, gravidez indesejada e até o aborto espontâneo, os quais estão diretamente relacionados à pouca ou total falta de conhecimento acerca dos métodos contraceptivos utilizados para evitar esses problemas.3

A gravidez na adolescência teve um declínio acentuado nos últimos anos a nível mundial. Entretanto, essa redução não é igualitária entre os países, o que pode estar relacionado diretamente à baixa condição socioeconômica de alguns países, que impede ou dificulta a elaboração de estratégias de implementação e manutenção que controle essa problemática.4

A gravidez precoce tem um impacto negativo as questões que norteiam o ser, como na educação e nas questões econômicas, podendo levar a uma sobrecarga psicológica, emocional e social no que tange o processo de desenvolvimento dos adolescentes, além de  complicações associadas à experiência de gravidez na adolescência  que são: tentativas de abortamento, anemia, desnutrição, sobrepeso, hipertensão e depressão pós-parto.5 As principais consequências da gravidez precoce na vida da adolescente estão relacionadas a alguns fatores, incluindo conflitos familiares, dependência financeira, defasagem no aprendizado em decorrência do comprometimento dos estudos e redução na oportunidade de se qualificar para o mercado profissional, o que dificulta ainda mais a inserção no ambiente laboral.6

Levando em consideração os aspectos biológicos, as adolescentes grávidas estão mais passíveis a desenvolver diversas consequências, como maiores incidências de síndrome hipertensiva na gravidez, diabetes gestacional, intercorrências no parto e anemia, o que levar à mortalidade materno-infantil. A respeito do recém-nascido, a gravidez na adolescência traz consigo problemas para o bebê no que se refere ao aumento das taxas baixo peso ao nascer, parto pré-termo, doenças de cunho respiratório, além de uma maior incidência de complicações para o neonato, que podem resultar na mortalidade infantil.3

No Brasil, mesmo com a diminuição no número de casos de adolescentes grávidas, os índices continuam bastante elevados, o que representava, em 2015, 18% dos três milhões de nascidos vivos no país, trazendo consigo fatores associados.7 A identificação de tais fatores, ao longo de um determinado período permite analisar de forma dinâmica o evento em questão, resultando em dados que mostram a real situação e servem de subsídios para o planejamento das ações efetivas necessárias para a queda no número de gravidez na adolescência.8

O enfermeiro tem papel fundamental na criação de medidas que atenuem esses problemas, pois detém subsídios imprescindíveis para o desenvolvimento de estratégias e ações de natureza educativa, através da humanização, com o auxílio de métodos científicos que viabilizam a prevenção da gravidez na adolescência. Portanto, é necessário que haja uma parceria com o ambiente que esses jovens estão inseridos, como em escolas ou na própria comunidade, com a efetivação de estratégias educativas que corroborem com a promoção de saúde e que objetivem a prevenção de gravidez precoce.

Desse modo, se faz necessário um estudo que analise o perfil epidemiológico da gravidez na adolescência com base nos nascidos vivos, tendo em vista que analisar o perfil materno-infantil neste cenário possibilita melhorar a elaboração de estratégias com o intuito de promover a saúde e diminuir doenças e agravos na saúde materno-infantil. Com base nisso, este estudo tem como questão de pesquisa: “Qual o perfil epidemiológico de gravidez na adolescência no Nordeste brasileiro?” e possui o objetivo de descrever o perfil epidemiológico da gravidez na adolescência no Nordeste brasileiro entre os anos de 2008 e 2017.

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de estudo observacional, descritivo, com abordagem quantitativa, realizado por meio de dados secundários do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), referentes ao período de 2008 a 2017, os quais foram extraídos do site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Torna-se importante ressaltar que apenas o período supracitado encontrava-se disponível no período de coleta de dados no DATASUS, por isso foi escolhido para este estudo.

 A população deste estudo abarcou os 1.835.195 registros de nascidos vivos de mulheres adolescentes residentes nos Estados do Nordeste brasileiro, no período entre os anos de 2008 e 2017. Ressalta-se que os dados são referentes à região Nordeste do Brasil, composta por nove Estados federativos, que são: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

A coleta dos dados ocorreu da seguinte forma: primeiro, foi acessado o site do DATASUS e, em seguida, a aba “Informações de Saúde (TABNET)”. Após isso, foi selecionado o tópico “Estatísticas Vitais” e, posteriormente, escolhida a opção “Nascidos Vivos – desde 1994”. Logo após, selecionou-se o tópico “Nascidos vivos”. A seguir, com o auxílio da ferramenta TABNET, foram realizadas as seleções da seguinte forma: nas colunas, escolheu-se as faixas etárias das adolescentes (10 a 14 anos e 15 a 19 anos), nas linhas, as variáveis a serem estudadas, e, no período disponível, selecionou-se de 2008 a 2017.

As variáveis investigadas foram número de consultas pré-natal; tipo e duração da gravidez; ano de parto e nascimento; local de ocorrência do parto/nascimento; faixa etária materna; escolaridade materna; estado civil materno; sexo da criança; cor ou raça; peso ao nascer; escore de Apgar no primeiro e quinto minuto; e, anomalia congênita.

Em relação à análise, os dados foram exportados e agrupados no Microsoft Excel®, no qual foi realizada a análise estatística descritiva (frequência absoluta e relativa). A variação percentual foi calculada da seguinte forma: primeiro realizou-se uma subtração entre o número de nascidos vivos de mães adolescentes, em 2018, e o número de nascidos vivos de mães adolescentes, em 2007. O valor encontrado pela subtração foi dividido pelo número de nascidos vivos de mães adolescentes em 2007, resultando, assim, na variação percentual do período. Os achados foram apresentados sob o formato de gráficos e/ou tabelas e a discussão deles foi realizada à luz da literatura produzida, nos últimos cinco anos, acerca da temática.

Este estudo fez uso de dados secundários, que estão disponíveis de forma online e gratuita.

RESULTADOS

No período investigado, verificou-se uma redução de 20,8% no número de nascidos vivos entre mães adolescentes no Nordeste brasileiro. Observou-se queda de casos entre as duas faixas etárias, mas houve maior redução entre aquelas adolescentes que possuem 15 a 19 anos, com uma diminuição de 20,9% (Tabela 1).

Tabela 1: Análise da variação percentual dos Nascidos Vivos de mães adolescentes no período de 2008 a 2017, Floriano, Piauí, Brasil, 2021.

Faixa etária (anos)

Variação percentual no período

10 a 14

-18,48

15 a 19

-20,93

10 a 19

-20,81

Fonte: DATASUS, 2021.

Em relação às características individuais, a maior parte tinha entre 15 e 19 anos; escolaridade abaixo de 12 anos de estudo e se descreveram como sem companheiro. Embora 41,8% das adolescentes tenham realizado sete ou mais consultas de pré-natal, torna-se importante evidenciar que 57,3% fizeram menos que sete ou nenhuma consulta de pré-natal (Tabela 2).

Tabela 2: Perfil sociodemográfico e obstétrico-gestacional de mães adolescentes, conforme faixa etária, no período de 2008 a 2017, Floriano, Piauí, Brasil, 2021. (n=1.835.195)

Variáveis

10 a 14 anos

15 a 19 anos

Total

n

%

n

%

n

%

Escolaridade materna

 

 

Nenhuma

762

0,8

9528

0,5

10290

0,5

1 a 3 anos

8273

8,2

98892

5,4

107165

5,6

4 a 7 anos

69119

68,2

766331

41,9

835450

43,2

8 a 11 anos

20329

20,0

869961

47,5

890290

46,1

12 ou mais

107

0,1

37214

2,0

37321

1,9

Ignorado

2697

2,7

49703

2,7

52400

2,7

Estado civil materno

 

 

 

 

 

 

Solteira/Separada/Viúva

77169

76,2

1120868

64,7

1198037

65,2

Casada/União Consensual

21773

21,5

581254

33,5

603027

32,9

Ignorado

2353

2,3

31786

1,8

34139

1,9

Consulta de pré-natal

 

 

 

 

 

 

Nenhuma

3630

3,6

53654

3,1

57284

3,1

1 a 3 consultas

15281

15,1

211907

12,2

227188

12,4

4 a 6 consultas

43941

43,4

722882

41,7

766823

41,8

7 ou mais consultas

37434

36,9

729510

42,1

766944

41,8

Ignorado

1001

1,0

15955

0,9

16956

0,9

Tipo de gravidez

 

 

 

 

 

 

Única

100047

98,8

1709735

98,6

1809782

98,6

Dupla ou mais

968

0,9

19471

1,1

20439

1,1

Ignorada

272

0,3

4702

0,3

4974

0,3

Duração da gestação

 

 

 

 

 

 

< 37 semanas

15275

15,1

186493

10,8

201768

11,0

> 37 semanas

80606

79,6

1470965

84,8

1551571

84,5

Ignorado

5406

5,3

76450

4,4

81856

4,5

Tipo de parto

 

 

 

 

 

 

Vaginal

64688

63,9

1126773

65,0

1191461

65,0

Cesário

36371

35,9

603016

34,8

639387

34,8

Ignorado

228

0,2

4119

0,2

4347

0,2

Local de ocorrência do parto

 

 

 

 

 

 

Hospital

99351

98,1

1695934

97,8

1795285

97,8

Outro Estabelecimento de Saúde

1068

1,0

22461

1,3

23529

1,3

Domicílio

686

0,7

13141

0,8

13827

0,8

Ignorado/Outro

182

0,2

2372

0,1

2554

0,1

Fonte: DATASUS, 2021.

Com relação ao perfil dos Recém-Nascidos (RNs) de mães adolescentes nordestinas, verificou-se predominância do sexo masculino, de raça/cor parda, com Apgar no 1º e 5º minutos de vida entre 8 e 10, normopesos e sem a presença de anomalia congênita (Tabela 3).

Tabela 3: Perfil dos recém-nascidos de mães adolescentes, segundo faixa etária, no período de 2008 a 2017, Floriano, Piauí, Brasil, 2021. (n=1.835.195)

Variáveis

10 a 14 anos

15 a 19 anos

Total

n

%

n

%

n

%

Sexo da criança

Masculino

51980

51,3

889380

51,3

941360

51,3

Feminino

49288

48,7

844153

48,7

893441

48,7

Ignorado

19

0,02

375

0,02

394

0,02

Cor ou raça

Branca

9519

9,4

188749

10,9

198268

10,8

Preta

3442

3,4

57461

3,3

60903

3,3

Amarela

220

0,2

4412

0,2

4632

0,2

Parda

81238

80,2

1374212

79,3

1455450

79,3

Indígena

987

1,0

7490

0,4

8477

0,5

Ignorado

5881

5,8

101584

5,9

107465

5,9

Apgar 1º minuto

 

 

 

 

 

 

0 a 2

1250

1,2

15019

0,9

16269

0,9

3 a 5

4292

4,2

56858

3,3

61150

3,3

6 a 7

13129

13,0

204258

11,8

217387

11,9

8 a 10

75712

74,8

1339292

77,2

1415004

77,1

Ignorado

6904

6,8

118481

6,8

125385

6,8

Apgar 5º minuto

 

 

 

 

 

 

0 a 2

521

0,5

6119

0,4

6640

0,4

3 a 5

891

0,9

10259

0,6

11150

0,6

6 a 7

3055

3,0

39892

2,3

42947

2,3

8 a 10

89719

88,6

1555295

89,7

1645014

89,6

Ignorado

7101

7,0

122343

7,0

129444

7,1

Peso ao nascer

 

 

 

 

 

 

< 2.500g

13310

13,1

154083

8,9

167.393

9,1

2.500 3.999g

85557

84,5

1.511.768

87,2

1.597.325

87,0

≥ 4.000g

2359

2,3

66782

3,8

69141

3,8

Ignorado

61

0,1

1275

0,1

1336

0,1

Anomalia congênita

 

 

 

 

 

 

Sim

756

0,7

12413

0,7

13169

0,7

Não

97208

96,0

1660331

95,8

1757539

95,8

Ignorado

3323

3,3

61164

3,5

64487

3,5

Fonte: DATASUS, 2021.

DISCUSSÃO

Neste estudo, observou-se variação percentual de queda entre os anos investigados, achados que se assemelham ao de estudo realizado em Maringá-PR,4 no qual observou-se tendência de queda na taxa de gravidez na adolescência. Essa redução é o conjunto de várias ações, como a expansão do Estratégia Saúde da Família, que aproxima os adolescentes aos profissionais da saúde. O Programa Saúde na Escola oferece informações de educação em saúde, por meio de palestras, rodas de conversas e grupos operativos em ambientes nos quais os adolescentes estão inseridos, e acesso menos burocrático a métodos contraceptivos. Apesar disso, percebe-se a necessidade de fortalecer os programas e políticas de saúde existentes com o intuito de aproximar o vínculo e aperfeiçoar o diálogo entre os profissionais de saúde e os adolescentes, bem como melhorar o acesso dos adolescentes aos serviços de saúde.4

Em relação à escolaridade, este estudo apresentou resultado semelhante com estudo realizado em Alvorada-RS,9 no qual a maioria das adolescentes possuía escolaridade inferior a oito anos de estudo. A escolaridade menor que oito anos foi considerado fator associado à gravidez na adolescência em estudo realizado em Maringá-PR.4 A taxa de fecundidade aumenta com a menor a escolaridade, o que predispõe as adolescentes a gravidezes recorrentes.10 Além disso, ressalta-se que, com o aumento nos anos de estudo, as adolescentes melhoram a sua percepção em relação ao controle da reprodução precoce.11

Neste estudo, a maioria das mães adolescentes é solteira, separada ou viúva, ou seja, desprovida de companheiros, assim como em estudos realizados em outros contextos.4,9,12 O fato de não ser casada se configurou como fator associado à maior ocorrência de não planejamento de gravidez, em estudo realizado com adolescentes em Teresina-PI.13 A ausência de companheiros impacta tanto a mãe adolescente quanto a criança. No que se refere às mães, elas terão que se responsabilizar sozinhas pelo filho, o que pode repercutir em dificuldades financeiras. Em relação à criança, isso pode afetar o desenvolvimento infantil, bem como aflorar sentimentos negativos relacionados à ausência paterna, como a desvalorização, a culpa e outros.14

Quanto ao número de consultas pré-natal, destaca-se que 57,3% fizeram menos que sete ou nenhuma consulta de pré-natal, achado que corrobora com estudo realizado em Teresina-PI,15 no qual a maioria das gestantes adolescentes se consultaram menos de sete vezes durante o pré-natal. Estudo demonstrou que o número de consultas de pré-natal menor que sete esteve associado à gravidez na adolescência.4 Apesar do Brasil apresentar ampla cobertura de pré-natal,16 observou-se, neste estudo, que poucas adolescentes receberam assistência adequada durante a gravidez, assim como em estudo realizado com dados da pesquisa Nascer Brasil.17 Ressalta-se que isso se deve à baixa escolaridade para a idade, falta de conhecimento e baixo poder aquisitivo, o que deixa claro o quadro de desvantagem social para essas mulheres.17

Os achados deste estudo corroboram com estudo realizado em Maceió-AL, no qual o tempo médio de gestação foi de 37,6 semanas.18 Com relação à predominância de partos vaginais e de gestações a termo pode estar relacionada à forte política do Sistema Único de Saúde voltada à redução de partos operatórios, corroborando com estudo realizado em Macapá-AP.19 O fato de ser adolescente aumenta a probabilidade em 2,2 para ocorrência de parto normal.10 Estudo, realizado em Minas Gerais, ressalta a relação entre a maior chance de parto vaginal e o menor o tempo de estudo, destacando quanto maior a quantidade de anos escolares, maior a prevalência de parto cesáreo.20 No que se refere ao tipo de gravidez, foi prevalente a gravidez do tipo única, achado que corrobora com estudo realizado em município paranaense.4

Com relação ao perfil dos recém-nascidos de mães adolescentes nordestinas, verificou-se que a maioria era do sexo masculino (51,30%) e de raça ou cor parda (79,3%). Quanto ao Apgar no 1º e 5º minutos de vida, os recém-nascidos obtiveram, em sua maioria, a pontuação de 8 a 10. Destaca-se que achados semelhantes foram registrados em estudo teresinense, tendo em  vista que a maioria obteve Apgar entre 8 e 10.15 No que se refere ao peso ao nascer, 87,0% apresentaram peso entre 2500 e 3999 gramas, ou seja, apresentaram normopeso ao nascer. Esse achado encontra-se de acordo com outros estudos.4,15,19 Destaca-se que esses achados divergem da literatura, tendo em vista que a gravidez na adolescência possui associação com recém-nascidos de baixo peso ou peso insuficiente.3,10,21 Quanto à presença de anomalia congênita, a maioria dos recém-nascidos não apresentou.

CONCLUSÕES

Este estudo possibilitou traçar o perfil sociodemográfico e gestacional de mães adolescentes e de seus RNs nos Estados nordestinos. Observou-se redução dos nascimentos entre mães adolescentes, sobretudo, entre aquelas na faixa etária entre 15 e 19 anos. Ademais, as adolescentes tinham escolaridade inferior a 12 anos de estudo e eram desprovidas de companheiro. Quanto ao pré-natal, destaca-se que a maioria das mães adolescentes realizou menos que sete consultas. Com relação ao perfil dos recém-nascidos, observou-se que a maioria era do sexo masculino, da raça parda, normopeso, sem anomalias e com Apgar entre 8 e 10, no primeiro e quinto minuto.

Apesar da redução nos casos de gravidez na adolescência, ressalta-se que é de suma importância reforçar as ações na atenção primária à saúde voltadas aos adolescentes, as quais devem promover a conscientização sobre o uso de métodos contraceptivos, a fim de reduzir ainda mais casos, tendo em vista os impactos negativos da gravidez na adolescência, sobretudo, para a adolescente mãe. Além disso, destaca-se a necessidade de melhorar o rastreamento dos casos de gravidez na adolescência, tendo em vista que a maioria das gestantes adolescentes realizou menos de sete consultas de pré-natal. Tal ação possui o intuito de iniciar o pré-natal de maneira precoce, e, assim, prevenir desfechos desfavoráveis na saúde materno-infantil.

As limitações deste estudo estão relacionadas ao fato de utilizar dados secundários, que não foram coletados pelo próprio pesquisador e, por isso, muitas variáveis não são adequadamente, ou nem são registradas, o que impede uma melhor descrição do perfil epidemiológico.

REFERÊNCIAS

1 Lima RAF, Guimarães MJB, Silva MDP, Carneiro RM. Gravidez na adolescência e condição de vida: diferenciais na distribuição espacial. Rev. baiana saúde pública. 2015; 39(2):278-94. DOI: https://doi.org/10.22278/2318-2660.2015.v39.n2.a719

2 Carpio-Deheza G, Vargas-Vega AL. Análisis clínico-epidemiológico sobre factores de riesgo en adolescentes con embarazo a término. Revista Médico-Científica "Luz y Vida". 2015;6(1):21-5. Disponíble en: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=325055935005

3 Devi OS, Reddy KM, Samyukta BSCN, Sadvika P, Betha K. Prevalence of teenage pregnancy and pregnancy outcome at a rural teaching hospital in India. International Journal Of Reproduction, Contraception, Obstetrics And Gynecology. 2019; 8(2): 613-616 DOI: https://dx.doi.org/10.18203/2320-1770.ijrcog20190293

4 Lopes MCL, Oliveira RR, Silva MAP, Padovani C, Oliveira NLB, Higarashi IH. Temporal trend and factors associated to teenage pregnancy. Rev. Esc. Enferm. USP. 2020;54:e03639. DOI: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2019020403639

5 Rodrigues ARF, Barros WM, Soares PDFL. Reincidência da gravidez na adolescência: percepções das adolescentes. Enferm. foco (Brasília). 2016;7(3/4):66-70. DOI: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2016.v7.n3/4.945

6 Taborda JA, Silva FC, Ulbricht L, Neves EB. Consequências da gravidez na adolescência para as meninas considerando-se as diferenças econômicas entre elas. Cad. saúde colet., (Rio J.). 2014;22(1):16-24. DOI: https://doi.org/10.1590/1414-462X201400010004

7 Ministério da Saúde (BR). Gravidez na adolescência tem queda de 17% no Brasil. [Internet]. Brasília; 2017. Disponível em: https://www.canalsaude.fiocruz.br/noticias/noticiaAberta/gravidez-na-adolescencia-tem-queda-de-17-no-brasil-2017-05-10

8 Gama SGN, Viellas EF, Schilithz AOC, Theme Filha MM, Carvalho ML, Gomes KRO et al. Factors associated with caesarean section among primiparous adolescents in Brazil, 2011-2012. Cad. Saúde Pública (Online). 2014;30(Suppl1):S117-27. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102- 311X00145513

9 Comin GEC, Riegel F, Cicolella DA, Mariot MDM. Perfil de adolescentes gestantes e de seus recém-nascidos em município do sul do Brasil. Revista Enfermagem Contemporânea. 2020;9(2):177-84. DOI: http://dx.doi.org/10.17267/2317-3378rec.v9i2.2846

10 Dias BF, Antoni NM, Vargas D. Perfil clínico e epidemiológico da gravidez na adolescência: um estudo ecológico. Arquivos Catarinenses de Medicina (Impresso). 2020;49(1):10-22. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/05/1096059/596-2182-4-rv-ok.pdf

11 Rosaneli CF, Costa NB, Sutile VM. Proteção à vida e à saúde da gravidez na adolescência sob o olhar da Bioética. Physis (Rio J.). 2020;30(1):1-12. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312020300114

12 Campos FJSS, Silva ABP, Silva DFA, Pinto DS, Cunha KC. Análise dos casos de gravidez na adolescência no estado do Pará, Brasil. Adolesc. Saúde (Online). 2020;17(3):96-104. Disponível em: t: https://www.researchgate.net/publication/349733800

13 Araujo AKL, Nery IS. Conhecimento sobre contracepção e fatores associados ao planejamento de gravidez na adolescência. Cogitare Enferm. (Online). 2018;23(2):e55841. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v23i2.55841

14 Miura PO, Tardivo LSLPC, Barrientos DMS. O desamparo vivenciado por mães adolescentes e adolescentes grávidas acolhidas institucionalmente. Ciênc. Saúde Colet. (Impr.). 2018;23(5):1601-10. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232018235.14152016

15 Amaral JV, Arrais KR, Almeida PD, Arrais KR, Coelho BRP, Araujo Filho ACA. Sociodemographic and gestational characteristics of adolescent mothers. Rev. Prev. Infecç. Saúde. 2022;8:2231. DOI: https://doi.org/10.26694/repis.v8i.2231

16 Viellas EF, Domingues RMSM, Dias MAB, Gama SGN, Theme Filha MM, Costa JV et. al. Prenatal care in Brazil. Cad. Saúde Pública (Online). 2014;30(Suppl):S85-S100. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00126013

17 Almeida AHV, Gama SGN, Costa MCO, Viellas EF, Martinelli KG, Leal MC. Economic and racial inequalities in the prenatal care of pregnant teenagers in Brazil, 2011-2012. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant. (Online). 2019;19(1):43-52. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-93042019000100003

18 Carvalho RV, Miranda IC, Moraes ACR, Alvim RG. Gravidez na adolescência: uma análise do perfil das adolescentes assistidas em hospital escola na cidade de Maceió-AL. Rev. Ciênc. Plur. 2021;7(3):100-20. DOI: https://doi.org/10.21680/2446-7286.2021v7n3ID23845

19 Silva NND, Chaves LN, Chaves LN, Rêgo AD, Araújo DB. Análise de partos em adolescentes e repercussões perinatais em uma maternidade pública na Amazônia. Adolesc. Saúde (Online). 2018;15(1):50-7. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/adolescenciaesaude.com/pdf/v15n1a07.pdf

20 Ribeiro ME, Pillon SC, Gradim CVC. Gravidez em adolescentes: análise da macrorregião do sul/sudoeste de Minas Gerais, Brasil. Adolesc. Saúde (Online). 2018;15(3):60-8. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/adolescenciaesaude.com/pdf/v15n3a08.pdf

21 Wong SPW, Twynstra J, Gilliland JA, Cook JL, Seabrook JA. Risk Factors and Birth Outcomes Associated with Teenage Pregnancy: a Canadian Sample. J. pediatr. adolesc. gynecol. 2020;33:153-9. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jpag.2019.10.006

Recebido em: 26/09/2021

Aceito em: 18/10/2022

Publicado em: 25/10/2022



[1] Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Floriano, Piauí (PI). Brasil (BR). E-mail: franklin.oliveira@yahoo.com ORCID: 0000-0003-0498-0600

[2] Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Floriano, Piauí (PI). Brasil (BR). E-mail: luanwesleymarque@gmail.com ORCID: 0000-0003-3718-5283

[3] Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Floriano, Piauí (PI). Brasil (BR). E-mail: soaressandy21@gmail.com ORCID: 0000-0003-0712-6194

[4] Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Teresina, Piauí (PI). Brasil (BR). E-mail:araujoaugusto@hotmail.com ORCID: 0000-0002-3998-2334

[5] Universidade Federal do Piauí (UFPI). Teresina, Piauí (PI). Brasil (BR). E-mail:alineraquel8@hotmail.com ORCID: 0000-0003-1373-3564

[6] Universidade Federal do Piauí (UFPI). Teresina, Piauí (PI). Brasil (BR). E-mail: andrea.persi01@gmail.com ORCID: 0000-0001-6053-1338

 

Como citar: Oliveira HFC, Máximo LWM, Sousa SS, Araujo Filho ACA, Ibiapina ARS, Silva AP. Gravidez na adolescência no Nordeste brasileiro. J. nurs. health. 2022;12(2):e2212221802. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v12i2.3532