Viv�ncia de professores com educa��o em sa�de para crian�as em idade escolar
Experience of teachers with health education for school-age children
Experiencia de docentes con educaci�n en salud para ni�os en edad escolar
Bubadu�, Renata de Moura;[1] Ferreira, J�lia Dourado[2]
RESUMO
Objetivo: analisar a viv�ncia de professores da rede p�blica de ensino sobre educa��o em sa�de para crian�as de seis a 12 anos. M�todo: pesquisa qualitativa com 10 professores que atuam na rede p�blica h� mais de um ano. A entrevista semiestruturada online foi utilizada e a an�lise do discurso de Orlandi. Estudo aprovado pelo Comit� de �tica em Pesquisa da institui��o proponente sob o parecer: 4.260.595. Resultados: as viv�ncias dos professores foram organizadas em quatro temas, que desvelou: significado da educa��o em sa�de; temas relevantes para a educa��o em sa�de com crian�as; estrat�gias adotadas na escola para educa��o em sa�de e; import�ncia do enfermeiro na escola. Conclus�o: apesar dos professores reconhecerem a import�ncia do Enfermeiro na Escola, suas narrativas s�o orientadas pelo paradigma biom�dico, com foco nas doen�as prevalentes na faixa et�ria das crian�as e n�o na crian�a em si.
Descritores: Educa��o em sa�de; Educa��o em enfermagem; Enfermagem
ABSTRACT
Objective: to analyze the experience of public-school teachers on health education for children from six to twelve years old. Method: qualitative research with 10 teachers who works in the public network for over a year. The online semi-structured interview was used and Orlandi's speech analysis. Study approved by the Research Ethics Committee of the proposing institution under opinion: 4,260,595. Results: the teachers' experiences were organized into four themes, which revealed the meaning of health education; topics relevant to health education with children; strategies adopted at school for health education and; importance of nurses at school. Conclusion: although teachers recognize the importance of Nurses at School, their narratives are guided by the biomedical paradigm, focusing on diseases prevalent in children's age group and not on the child itself.
Descriptors: Health education; Education, nursing; Nursing
RESUMEN
Objetivo: analizar la experiencia de docentes de escuelas p�blicas sobre la educaci�n en salud de ni�os de seis a doce a�os. M�todo: investigaci�n cualitativa con 10 docentes que trabajaron en la red p�blica durante m�s de un a�o. Se utiliz� la entrevista semiestructurada en l�nea y el an�lisis del discurso de Orlandi. Estudio aprobado por el Comit� de �tica de la instituci�n proponente bajo dictamen: 4.260.595. Resultados: los datos se organizaron en cuatro temas: significado de la educaci�n en salud; temas relevantes para la educaci�n en salud con los ni�os; estrategias adoptadas en la escuela para la educaci�n en salud y; importancia del enfermero en la escuela. Conclusi�n: aunque los docentes reconocen la importancia de la Enfermera en la Escuela, sus narrativas se gu�an por el paradigma biom�dico, enfoc�ndose en las enfermedades prevalentes en la franja etaria de los ni�os y no en el propio ni�o.
Descriptores: Educaci�n en salud; Educaci�n en enfermer�a; Enfermer�a
INTRODU��O
A educa��o em sa�de � um processo intencional, em que educando (cliente) e o educador (profissional da sa�de) constroem o conhecimento no encontro terap�utico. No campo da Enfermagem em Sa�de da Crian�a, tem sido descrita como um conjunto de pr�ticas promotoras de autonomia do cuidado de si. O(A) Enfermeiro(a) implementa conhecimentos e pr�ticas adquiridos em sua forma��o no cotidiano do cuidado da crian�a e sua fam�lia na escola, tendo a Aten��o Prim�ria em Sa�de (APS) como refer�ncia de a��es de prote��o, promo��o e preven��o de agravos.1
No Brasil, o Programa Sa�de na Escola (PSE), foi implementado em 5.211 munic�pios, apresenta diretrizes que determinam que a escola � o local ideal para promo��o da sa�de � crian�a. A intersec��o do Minist�rio da Educa��o e do Minist�rio da Sa�de ocorre em �mbito program�tico e reflete no encontro de crian�as, profissionais de sa�de e profissionais da educa��o na microestrutura das rela��es sociais nos espa�os da escola, da comunidade e do servi�o da APS.2
Nesse sentido, a presen�a do PSE nas escolas amplia o papel social que estas exercem. Se antes a escola era vista como um espa�o de educa��o formal e socializa��o entre pares, hoje, esta � vista como um local de desenvolvimento de pessoas com valores e possibilidade de reflex�o cr�tica sobre si e o contexto que se inserem. Com isso, a escola assume um papel fundamental na constru��o de conhecimentos que oferecem compet�ncias para que a crian�a sustente uma postura de autonomia ao longo de sua vida.3
A autonomia est� relacionada � capacidade de as crian�as tomarem suas pr�prias decis�es. Apesar de n�o terem autonomia legal para decidir por tratamentos sem o consentimento dos pais, elas podem, quando informadas, decidir pelas melhores formas do cuidado de si.4 A capacidade das crian�as em obter e processar informa��es de sa�de j� tem sido estudada no campo da liter�cia em sa�de e demonstram que crian�as em idade escolar t�m capacidade cognitiva e intelectual para isso.5-7
A educa��o em sa�de na escola, mediada pelo Enfermeiro, surge como uma maneira de construir conhecimento e adquirir informa��es seguras para isso. Estudos apontam que a presen�a do PSE desencadeia essas a��es e contribuem para a qualidade de vida das crian�as. No entanto, esta realidade n�o � presente na maioria das escolas p�blicas do pa�s.2-8
Diante disso, professores tornam-se respons�veis por abordar temas que tangem a sa�de das crian�as no contexto escolar. No entanto, h� poucos estudos que exploram sua viv�ncia no desempenho desse papel e como significam a presen�a do/a enfermeiro/a na escola. Portanto, tem-se como objetivo do artigo: analisar a viv�ncia de professores da rede p�blica de ensino com a educa��o em sa�de em crian�as de seis a 12 anos.
Compreender a vis�o dos professores da rede p�blica de ensino do interior de Goi�s pode auxiliar a identificar aspectos relevantes para a implementa��o de a��es de Enfermagem no �mbito do Programa de Sa�de na escola, mesmo que o enfermeiro n�o esteja fisicamente no ambiente escolar. Conhecer a vis�o das professoras pode favorecer a aproxima��o do enfermeiro da Estrat�gia da Sa�de da Fam�lia e identificar lacunas de cuidado � popula��o infantil e adolescente neste espa�o.
MATERIAIS E M�TODO
Pesquisa qualitativa com abordagem explorat�ria,9-10 cuja produ��o de dados se deu por Entrevista semiestruturada11 com seis perguntas abertas que abordaram as viv�ncias do/as professore/as com a educa��o em sa�de com a crian�a na escola. Sendo as perguntas feitas aos participantes: 1) O que � educa��o em sa�de e qual sua import�ncia? 2) Na sua concep��o, o que deveria ser abordado com as crian�as sobre sa�de? 3) Como os assuntos que voc� citou na quest�o anterior s�o abordados no �mbito escolar? 4) Quais os principais problemas de sa�de voc�s identificam no cotidiano de sala de aula? 5) Voc� conhece o Programa Sa�de na Escola? 6) Voc� gostaria de ter um enfermeiro na sua escola? Por qu�?
Originalmente, a pesquisa foi desenhada para ocorrer presencialmente.� Devido a Coronavirus Disease (COVID-19),12 essa entrevista foi realizada pela plataforma do Google Forms. Estudos apontam que o uso da Plataforma Google tem sido utilizado nos estudos qualitativos da Enfermagem Pedi�trica com popula��o de familiares, profissionais de sa�de e crian�as;13-15 demonstrando resolutividade durante o per�odo de implementa��o do distanciamento social.
Para a capta��o dos participantes e aplica��o da entrevista, entrou-se em contato com a diretora da escola Municipal Professor Sebasti�o Machado de Ara�jo, de Luzi�nia-Goi�s pelo aplicativo de troca de mensagens instant�neas WhatsApp em outubro 2020, a qual forneceu contato de 10 professores que preenchiam o crit�rio de inclus�o: trabalhar na rede p�blica de ensino �s crian�as por mais de um ano. Todos aceitaram participar da pesquisa. As participantes eram do sexo feminino, sendo a mais jovem com 25 anos e a mais velha 49 anos de idade. Os crit�rios de exclus�o foram: estar licen�a ou com afastamento da atividade laboral durante o per�odo de produ��o de dados.
An�lise de discurso de Orlandi,16 que consiste em aprofundar o discurso. Trabalha-se com o sentido produzido por meio da linguagem, hist�ria e ideologia. A linguagem constitui a materialidade do texto, gerando �pistas� do sentido que o sujeito pretende dar, enquanto a hist�ria � representada pelo conte�do s�cio-hist�rico e a ideologia � compreendida como um posicionamento inconsciente do sujeito ao se filiar a um discurso.
Neste estudo, o movimento anal�tico foi organizado em quadros divididos por cores. Essa organiza��o se deu em etapas: a) dessuperficializa��o do corpus textual, identifica��o dos objetivos discursivos e buscas de pistas de linguagem para identificar a forma��o discursiva ideol�gica que determina a constru��o discursiva das participantes.16
O projeto foi submetido ao Comit� de �tica em Pesquisa da institui��o de ensino superior � qual � vinculado sob o protocolo de Certificado de Apresenta��o e Aprecia��o �tica: 37122620.3.0000.5595. Obteve-se aprova��o sob o parecer n� 4.260.595 em 04 de setembro de 2020. Todas as participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, revisitando seu direito de encerrar a participa��o na pesquisa a qualquer momento. Informar o codinome dos participantes para garantia de anonimato
RESULTADOS
A partir da an�lise do corpus textual, foram identificadas quatro categorias: a) Significado da Educa��o em Sa�de; b) Temas relevantes para a educa��o em sa�de com crian�as; c) Estrat�gias adotadas na escola para educa��o em sa�de e d) Import�ncia do Enfermeiro na Escola.
Significado da educa��o em sa�de
Para o(as)professore(as), a educa��o em sa�de adquire um significado alinhado ao modelo assistencial de cuidado. Suas falas destacam a educa��o em sa�de como um conjunto de a��es que exige preocupa��o, planejamento, execu��o. Destacam a intencionalidade do processo, tendo a para preven��o e redu��o de doen�as; e suprir car�ncias da popula��o. Para eles, a educa��o em sa�de exerce uma fun��o de preenchimento de lacuna de elementos sanit�rios e relacionados �s doen�as.
� preocupar com o bem-estar e cuidar da sa�de. (P10)
Educa��o em sa�de � planejamento de atividades que visam a preven��o de doen�as. (P8)
Consiste na execu��o de atividades que visam prevenir doen�as e suprir car�ncias das popula��es com pr�ticas adequadas de higiene. (P9)
Ao relacionar a sa�de com a doen�a, n�o mencionando demais fatores que envolvem a promo��o da sa�de. O(as) professore(as) revelam um discurso constru�do a partir da ideologia biom�dica. Assim, a educa��o em sa�de incorpora um significado de estrat�gia para a manuten��o da sa�de por meio da aus�ncia ou redu��o de doen�as.
Forma de preven��o (de doen�as) e (realiza��o de) cuidados (da sa�de). (P2)
� a preven��o e redu��o de doen�as. (P7)
A partir dessa ideologia, refor�am a ideia de que a educa��o est� relacionada com a��es que objetivam a transmiss�o da informa��o, n�o a constru��o do conhecimento. Esse tipo de linguagem demonstra a forma como o(as) professore(as) se relacionam com as crian�as no processo de ensino.�
H� �nfase no verbo �levar� em uma das falas, o que demonstra que a orienta��o ideol�gica do(a) participante da pesquisa ainda considera a crian�a como um dep�sito de saber, enquanto o adulto � produtor dele. N�o h� a reflex�o do que � sa�de para as crian�as e como seu conhecimento pode contribuir no processo. H� apenas o adulto que educa e a crian�a que recebe a educa��o, sendo que essas atividades foram descritas como forma modular comportamento da crian�a para que ela subscreva a pr�ticas que o adulto julga melhor para a sa�de dela.
[...] ensinamentos que se relacionam � boa sa�de no geral. (P4)
� levar �s crian�as o conhecimento da import�ncia da sa�de e o que deve ser feito para termos uma boa sa�de (P6)
[...] levar meios para a crian�a reconhecer os melhores comportamentos (que ela deve ter) para ter uma boa sa�de. (P2)
A partir dessa ideologia verticalizada e biom�dica da educa��o em sa�de, emergiu a categoria seguinte, onde s�o abordados temas que o(as) professore(as) julgam importantes no cen�rio da escola.
Temas relevantes para a educa��o em sa�de com crian�as
A diversidade de temas que surgiram revela a complexidade da educa��o em sa�de com crian�as em idade escolar. Os discursos apontaram maior recorr�ncia em temas relacionados a doen�as, tendo a experi�ncia profissional na escola como plano de fundo para cit�-las.
[...] Verminoses, piolhos. (P1)
[...] Baixa imunidade e obesidade. (P3)
Febre, anemia, v�mito e outros. (P9)
Febre, dor de garganta, crian�as an�micas. (P6)
A influ�ncia da condi��o cl�nica da crian�a com o processo de aprendizagem emergiu associada aos diagn�sticos de sa�de mental e condi��es que interferem na capacidade da crian�a se moldar ao sistema educacional tradicional.
Ver deslocamento adicional que tem aqui Dist�rbios ligados ao processo de aprendizagem. (P2)
Dist�rbios como: hiperatividade, d�ficit de aten��o, discalculia, disgrafia e dislexia. Esses fatores influenciam muito na aprendizagem da crian�a. (P8)
Um professor emanou uma ideologia de g�nero de que a preven��o da gravidez precoce � responsabilidade da menina, quando associa a a��o apenas ao g�nero feminino. Na fala, n�o refer�ncia a responsabilidade de meninos quanto ao sexo seguro, quanto � preven��o de infec��es sexualmente transmiss�veis, mas demarca a gravidez como um problema feminino.
Prevenir as meninas de uma gravidez precoce (P9)
O discurso orientado pelo modelo assistencial e paradigma biom�dico permanece mesmo quando o(a) professore(as) incorporam temas que convergem com uma perspectiva ampliada de sa�de. O desencadeamento de quest�es como h�bitos saud�veis, tipos de higiene e sa�de mental ocorre a partir de um olhar focado nas doen�as citadas previamente. Nesse sentido, a amplitude do tema � mobilizada por uma vis�o secular e focada em doen�as espec�ficas.
A forma que o discurso � constru�do se d� a partir da apresenta��o da doen�a e de temas que poderiam evit�-la ou manej�-la. A medida que o(as) participantes se expressam, eles relacionam obesidade com a necessidade de educa��o em sa�de sobre h�bitos alimentares e pr�tica de exerc�cios f�sicos; e dist�rbios de aprendizagem com aspectos globais, citando os tipos de higiene como informa��o relevante para isso.
� importante destacar que, ao apontar todos esses temas, o(as) participantes reconhecem a crian�a como uma pessoa capaz de reter essas informa��es, uma vez que nos seus discursos, a crian�a � receptora de conhecimento.
No entanto, o fato de existir esse reconhecimento oferta uma janela de possibilidade de di�logo, sendo essa fenda um lugar de atua��o do(a) enfermeiro(a) com esse(as) professore(as).
[...] os tipos de higiene, mental, social e corporal. (P1)
Pr�ticas adequadas de higiene no �mbito geral e alimenta��o saud�vel. (P8)
Cuidados necess�rios para uma vida saud�vel [...] Conhecimento de alimenta��o saud�vel, h�bitos de atividades f�sicas e sa�de mental. (P3)
Estrat�gias adotadas pela escola para educa��o em sa�de
Na escola do estudo, as demandas de educa��o em sa�de s�o absorvidas pelos professores. Tendo como estrat�gias, abordagens que convergem com a forma��o ideol�gica de uma educa��o verticalizada e transmissiva.
Al�m disso, as estrat�gias adotadas ocorrem de maneira pontual e desorganizada e verticalizada. Pontual, quando relatam que ocorre de maneira isolada e n�o cont�nua; desorganizada, uma vez que n�o h� sistematiza��o na implementa��o de a��es a longo prazo; e verticalizada, pois apontam m�todos tradicionais de transfer�ncia de conhecimento por meio de palestras e v�deos explicativos. A conversa, que pressup�e o di�logo participativo e horizontal, emerge em car�ter de exce��o na fala de um professor.
De forma n�o sistem�tica, [...] isolada nas aulas de ci�ncias. (P1)
V�deos explicativos. (P5)
Conversas, palestras, v�deos explicativos. (P7)
Palestras. (P8)
No que tange, a forma de abordagem dos temas relativos � sa�de na escola na atualidade, os professores enfatizaram a superficialidade e fragilidade por falta de recursos humanos aptos para a atividade. Na compreens�o de um professor, o discurso centrado na doen�a ressurge como maneira de explicar a falta de conhecimento para tratar de sa�de. Com isso, a ideologia biom�dica mais uma vez se faz presente em seus discursos.
Muito fraco. (P6)
Muito fraco porque em sala de aula nem todos os tipos de doen�as o professor est� pronto para abordar o assunto. (P6)
De forma superficial, at� mesmo por falta de especialistas no assunto. (P3)
Com bastante superficialidade. (P4)
Import�ncia do enfermeiro na escola
A estrutura da entrevista orienta para a discuss�o do tema da educa��o em sa�de, por�m n�o relacionam sobre a presen�a do enfermeiro com essa pr�tica. O(a) enfermeiro(a) surgiu como um profissional capaz de atender �s demandas das crian�as no �mbito escolar. Orientados pelo imagin�rio de que o(a) enfermeiro(a) t�m fun��o assistencial e curativa associam a presen�a desse profissional na escola como uma pessoa resolutiva diante de imprevistos, acidentes e quest�es de sa�de. Esse profissional al�m de atender os alunos em casos de necessidade pode tamb�m contribuir com palestras para alunos, professores e comunidade, como forma de preven��o de doen�as e acidentes.
Uma enfermeira ajudaria nos acidentes e na orienta��o para uma boa sa�de. (P1)
[...] seria bom para atender os imprevistos em rela��o a sa�de das crian�as de forma correta. (P3)
[...] acompanhar e detectar doen�as na crian�a. (P5)
[...] poderia medicar crian�as em casos de sintomas leves surgidos no decorrer da aula. (P10)
No entanto, um(a) professor(a) relacionou a atua��o do(a) enfermeiro(a) com a efetiva��o do Programa Sa�de na Escola, abordando temas complexos como a sa�de integral.
Com a atua��o do enfermeiro na escola, o PSE cumprir� sua finalidade de prestar aten��o integral � sa�de de todos aqueles inseridos na rede p�blica de ensino. (P8)
DISCUSS�O
O PSE visa fortalecer as a��es de sa�de dos alunos de escolas p�blicas, tendo como premissa b�sica o envolvimento de pessoas e a inclus�o de atividades para a melhora da qualidade de vida dos estudantes. Esse programa aborda as vulnerabilidades que afetam o desenvolvimento global de crian�as e adolescentes na rede p�blica de ensino, promovendo o desenvolvimento integral dos alunos por meio da promo��o, preven��o e bem-estar.17
A aus�ncia do programa na escola em que foi desenvolvida a pesquisa foi vista como uma fragilidade do ponto de vista assistencial e preventivo de sa�de. O(A)s professores(as) foram orientados por uma vis�o biom�dica centrada na doen�a, quando destacam a presen�a do enfermeiro na escola numa perspectiva curativa e de preven��o de agravos espec�ficos.
No �mbito do SUS, a sa�de da fam�lia � considerada reestrutura��o da Aten��o B�sica. A Estrat�gia Sa�de da Fam�lia (ESF) investi na a��o coletiva e reconstr�i com base na gest�o interdisciplinar e interdepartamental de regi�es espec�ficas. As a��es do PSE devem, em todos os aspectos, ser integradas ao programa de ensino pol�tico da escola, levando em considera��o o respeito � capacidade administrativa e pol�tica dos governos estaduais e municipais, a diversidade sociocultural das diferentes regi�es nacionais e autonomia de educadores e equipes docentes. A import�ncia do apoio dos gestores estaduais e municipais nas �reas de educa��o e sa�de tamb�m � destaque de melhoraria para a qualidade da educa��o e sa�de dos alunos, e que ter� como base compromissos e acordos estabelecidos em ambos os setores.18
Apesar de existirem grandes demandas relativas � educa��o sexual, transtornos de aten��o e aprendizagem e doen�as comuns na inf�ncia, estudos apontam que os temas a serem tratados na escola n�o se esgotam nos supracitados. H� estudos que envolvem quest�es sociais e de sa�de nesse cen�rio, como abordagem de g�nero, manejo da epilepsia e acessibilidade.18
A aus�ncia do enfermeiro na escola suscita no ac�mulo de fun��o do professor, cuja abordagem se restringe ao ambiente da sala de aula na disciplina de ci�ncias. Com isso, a educa��o em sa�de no cen�rio pesquisado se restringe � did�tica tradicional verticalizada na modalidade de palestras, onde a crian�a ouve enquanto o adulto fala. No entanto, esse dispositivo pedag�gico demonstra-se insuficiente para atender �s demandas das crian�as na atualidade.
Estrat�gias l�dicas t�m emergido como uma alternativa resolutiva no que tange a literalidade em sa�de em diversos p�blicos, o qual inclui o infantil. Onde discorrem sobre o uso de gibis para a educa��o alimentar de crian�as em ambiente escolar.19 Destacam tamb�m a import�ncia do uso da arte e da brincadeira no contexto da sa�de coletiva.20
Diante disso, a presen�a do enfermeiro na escola facilitaria o acesso � informa��o e conhecimentos para a efetividade da educa��o em sa�de, seja por meio de a��es realizadas por esse profissional ou pela instrumentaliza��o de professores para ampliarem a rede de temas e as suas formas de conversar sobre eles.
A efetividade da sa�de escolar exige coordena��o e planejamento multiprofissional, iniciativa a partir de diagn�sticos realizados de acordo com a realidade do local, com defini��o de problemas reais e de solu��es vi�veis em cada escola, objetivando a autonomia dos educandos.21 As a��es de promo��o em sa�de e sa�de escolar devem ser desenvolvidas e cultivadas de forma cont�nua. Com isso, aumenta-se a possibilidade de propor mudan�as e intera��es no contexto.22-24
Como um profissional capacitado para realizar e integrar de forma abrangente aspectos de educa��o em sa�de, o enfermeiro possui capacidade e compet�ncia para contribuir na transforma��o da realidade por meio da implementa��o do discurso transformador com abordagens de letramento em sa�de que promovam inclus�o da crian�a no processo de constru��o do conhecimento.
CONSIDERA��ES FINAIS
Para os participantes da pesquisa, a educa��o em sa�de � um processo que envolve a preocupa��o, o planejamento e a execu��o de a��es com objetivos espec�ficos e claros coerentes com as pol�ticas p�blicas de sa�de do Sistema �nico de Sa�de e com abordagem sanitarista que compreende a sa�de alinhada com pr�ticas de higiene. O ato de preocupar-se denota um car�ter emocional �s quest�es de sa�de, uma vez que consiste em reconhecer a relev�ncia e import�ncia do tema. J� o planejar e executar imprimem um valor de resolutividade na educa��o em sa�de.
Identificou-se que o modelo hegem�nico centrado na doen�a se faz presente no discurso das professoras que atuam com crian�as em idade escolar de uma escola no interior de Goi�s. No entanto, essas reconhecem o enfermeiro como um profissional de sa�de capacitado e importante para o ambiente escolar, fazendo desta uma janela de possibilidade de integra��o desse profissional com a escola.
Como limita��o do estudo, t�m-se sua aplicabilidade ao contexto p�blico de uma cidade do interior do centro-oeste do Brasil e a impossibilidade de aprofundar algumas quest�es devido ao uso da ferramenta online de produ��o de dados. Nesse sentido, � necess�rio investir em pesquisas com abordagens quantitativas e qualitativas na �rea para contribuir com o avan�o do campo de conhecimento da Enfermagem Pedi�trica e formas de implementar a��es do PSE na microestrutura e macroestrutura das rela��es que permeiam o cuidado em sa�de �s crian�as no contexto da escola.
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Recebido em: 30/06/2021
Aceito em: 23/11/2022
[1] Faculdade de Ci�ncias e Educa��o Sena Aires (FACESA). Valpara�so de Goi�s (GO). E-mail:renatabubadue@gmail.com ORCID: 0000-0001-8121-1069
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Como citar: Bubadu� RM, Ferreira JD. Viv�ncia de professores com educa��o em sa�de para crian�as em idade escolar. J. nurs. health. 2022;12(2):e2212221351. Dispon�vel em: https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/JONAH/article/view/4311