ARTIGO ORIGINAL

Saberes e estrat�gias preventivas de m�es e cuidadoras sobre inj�rias n�o intencionais na inf�ncia

Knowledge and preventive strategies of mothers and carriers about unintentional injuries in childhood

Conocimiento y estrategias preventivas de madres y cuidadores sobre lesiones no intencionales en la infancia

Coriolano-Marinus, Maria Wanderleya de Lavor;[1] Pacheco, Isabella Cristina Oliveira;[2] Sette, Gabriela Cunha Schechtman;[3] Studart-Pereira, Luciana Moraes;[4] Soares, Adelia Karla Falc�o;[5] Barros, Mirelly da Silva[6]

RESUMO

Objetivo: compreender, na perspectiva de m�es e cuidadoras adstritas � uma Unidade de Sa�de da Fam�lia, saberes e estrat�gias adotados na preven��o de inj�rias n�o intencionais na primeira inf�ncia. M�todos: estudo descritivo, explorat�rio, com abordagem qualitativa. Para a coleta de dados, foram realizados nove grupos focais, os quais contemplaram 34 participantes. Resultados: as participantes reconheceram situa��es de risco para inj�rias n�o intencionais, relacionadas � crian�a, como a limitada percep��o de risco, comportamentos ligados ao adulto cuidador e ao ambiente no qual vivem. Estrat�gias de cuidado baseadas na identifica��o dos principais riscos foram compartilhadas em grupo. Conclus�es: aponta-se a necessidade de estrat�gias de educa��o em sa�de para a preven��o de inj�rias n�o intencionais baseadas na realidade da comunidade e nos saberes de m�es e cuidadoras.

Descritores: Acidente; Preven��o de acidentes; Cuidado da crian�a; Educa��o em sa�de; Grupos focais

ABSTRACT

Objective: to understand, from the perspective of mothers and caregivers assigned to a Family Health Unit, knowledge and strategies adopted in the prevention of unintentional injuries in early childhood. Methods: descriptive, exploratory study with a qualitative approach. For data collection, nine focus groups were carried out, which included 34 participants. Results: the participants recognized situations of risk for unintentional injuries, related to the child, such as limited risk perception, behaviors related to the adult caregiver and the environment in which they live. Care strategies based on identifying the main risks were shared in the group. Conclusions: there is a need for health education strategies to prevent unintentional injuries based on the reality of the community and on the knowledge of mothers and caregivers.

Descriptors: Accidents; Accident prevention; Child care; Health education; Focus groups

RESUMEN

Objetivo: comprender, en la perspectiva de madres y cuidadoras adscritas a una Unidad de Salud de la Familia, conocimientos y estrategias adoptadas en la prevenci�n de lesiones no intencionales en la primera infancia. M�todos: estudio descriptivo, exploratorio con abordaje cualitativo. Para la recolecci�n de datos, se realizaron nueve grupos focales, que incluyeron 34 participantes. Resultados: los participantes reconocieron situaciones de riesgo para lesiones no intencionales, relacionadas con el ni�o, como percepci�n limitada de riesgo, comportamientos relacionados con el adulto cuidador y el ambiente en el que viven. En el grupo se compartieron estrategias de atenci�n basadas en la identificaci�n de los principales riesgos. Conclusiones: existe la necesidad de estrategias de educaci�n en salud para prevenir lesiones no intencionales basadas en la realidad de la comunidad y en el conocimiento de las madres y cuidadores.

Descriptores: Accidentes; Prevenci�n de accidentes; Cuidado del ni�o; Educaci�n en salud; Grupos focales

INTRODU��O

As inj�rias n�o intencionais (INI) caracterizam-se por serem agravos em que n�o h� intencionalidade para a ocorr�ncia e que podem ser previstas e prevenidas quando medidas apropriadas s�o tomadas, diferindo se de acidentes. Podem gerar les�es f�sicas e/ou ps�quicas � v�tima.1-2

No Brasil, no ano de 2015, as INI foram respons�veis por 3.886 mortes de crian�as e adolescentes, cerca de 10 �bitos infantis por dia, decorrentes de causas acidentais com destaque para os acidentes de tr�nsito e afogamentos em crian�as de 0 a 14 anos. Al�m disso, foram contabilizados 117.000 atendimentos hospitalares por causas n�o intencionais.3 Essas inj�rias j� ultrapassam a ocorr�ncia de doen�as respirat�rias, gastrintestinais e desnutri��o.4

O per�odo da inf�ncia torna as crian�as mais suscept�veis � ocorr�ncia de INI, devido � necessidade de explora��o de descobertas e cont�nuo aprendizado, necessidade de implementa��o de medidas de seguran�a e supervis�o por parte dos cuidadores respons�veis e pr�ticas parentais sens�veis para oferecer um ambiente seguro.1,5 As principais inj�rias domiciliares s�o as quedas, queimaduras e envenenamentos. Tais agravos n�o afetam apenas as crian�as, mas tamb�m as fam�lias e a sociedade.6-7

Dentre os fatores de riscos individuais, destacam-se a idade da crian�a. Em rela��o aos fatores familiares, sobressaem-se a baixa condi��o socioecon�mica, pr�ticas parentais, m�es solteiras e jovens, baixo n�vel de instru��o materna, desemprego, habita��o pobre, fam�lias numerosas e uso de �lcool e drogas pelos pais.8 Al�m dos fatores supracitados, o contexto social, econ�mico e familiar que a crian�a est� inserida tamb�m pode contribuir no modo de entendimento do risco e na realiza��o de estrat�gias preventivas.7-9

A educa��o em sa�de voltada para este tema deve sensibilizar pais e cuidadores sobre os riscos do ambiente domiciliar de acordo com as experi�ncias e condi��es de vida envolvidas no cuidado com a crian�a, para a partir de ent�o, proporcionar aos cuidadores, a reflex�o sobre a tomada de decis�o na perspectiva da supervis�o cont�nua, ades�o �s medidas de seguran�a e fortalecimento de pr�ticas parentais sens�veis, para que se minimizem os riscos do ambiente dom�stico. Sabe-se que educar, tal qual cuidar, � um desafio, porque se relaciona a intera��es humanas entre seres singulares, com demandas e problemas diversos.10 Para explorar a tem�tica, na perspectiva de considerar a realidade socioecon�mica das fam�lias e a import�ncia da aprendizagem experiencial a partir de a��es educativas em sa�de.

A aprendizagem experiencial � o processo pelo qual o conhecimento � criado por meio da transforma��o da experi�ncia. Envolve a combina��o da experimenta��o da apreens�o e transforma��o, por meio da dial�tica entre a apreens�o da experi�ncia- Experi�ncia Concreta (EC) e Conceitua��o Abstrata (CA) e dois modos dial�ticos de transformar a experi�ncia, por meio da Observa��o Reflexiva (OR) e Experimenta��o Ativa (EA).11 O estudo teve o objetivo de compreender, na perspectiva de m�es e cuidadoras adstritas � uma Unidade de Sa�de da Fam�lia, os saberes e estrat�gias adotados na preven��o de inj�rias n�o intencionais na primeira inf�ncia.

MATERIAIS E M�TODO

Estudo descritivo, explorat�rio, com abordagem qualitativa. Teve como cen�rio uma Unidade de Sa�de da Fam�lia, localizada na cidade do Recife, capital de Pernambuco. O recrutamento das participantes ocorreu durante a sala de espera para consultas de puericultura em uma Unidade de Sa�de da Fam�lia (USF). As participantes eram convidadas a participarem de um grupo focal que abordava a preven��o de inj�rias n�o intencionais em crian�as na primeira inf�ncia.

Este estudo seguiu as recomenda��es do Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ), o qual cont�m itens espec�ficos que devem ser descritos em estudos qualitativos.12 Os crit�rios de inclus�o utilizados para participa��o na pesquisa foram m�es ou cuidadoras de crian�as na faixa et�ria de zero a tr�s anos de idade, que eram cadastradas e acompanhadas na USF. Os crit�rios de exclus�o foram as m�es e cuidadoras que apresentavam dificuldades ou incapacidades de participar da discuss�o em grupo, devido a problemas mentais e/ou na comunica��o.

O estudo envolveu nove Grupos Focais (GF), os quais tiveram a participa��o de 31 m�es e tr�s cuidadoras familiares (duas av�s e uma tia). Houve oito recusas. Os dados foram coletados de janeiro a outubro de 2017, durante coleta de dados de uma Pesquisa de Mestrado.

A t�cnica utilizada para coletar os dados foi o GF, fundamentado na intera��o grupal para produzir dados e insights que seriam dificilmente conseguidos fora do grupo.13 Os grupos foram conduzidos por uma moderadora e tr�s observadoras. Esta equipe de pesquisa foi composta por enfermeiras, sendo que tr�s eram mestrandas e uma docente do Programa de P�s-gradua��o em Sa�de da Crian�a e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco. Todos os pesquisadores obtiveram treinamento te�rico-pr�tico com pesquisas qualitativas e GFs.

Durante a discuss�o, a moderadora conduziu os grupos a partir de um roteiro que abordava os seguintes t�picos: experi�ncias pessoais de INI com filho(s), sentimentos vivenciados, experi�ncias com INI com outras crian�as do seu conv�vio social, identifica��o dos principais fatores relacionados � ocorr�ncia de INI (ambiente, crian�a, cuidadores), estrat�gias preventivas para a redu��o dos riscos na ocorr�ncia da INI. Tal metodologia foi ancorada no referencial da aprendizagem experiencial de David Kolb, por meio da integra��o entre Experi�ncia Concreta (EC), Observa��o Reflexiva (OR), Conceitua��o Abstracta (CA) e Experi�ncia Ativa (EA).11

O recrutamento das participantes se deu atrav�s de convite individual, cada participante participou de apenas um grupo, cuja composi��o variou de tr�s a seis participantes, de acordo com a quantidade de participantes presentes na Unidade de sa�de. Os GFs foram gravados em �udio e v�deo, al�m do registro de observa��es pelas observadoras, que serviu para embasar a discuss�o

Os dados produzidos pelos GFs foram transcritos na �ntegra e formaram o corpus da an�lise. A explora��o do material seguiu o ciclo de cinco fases descrito por Yin.13 Inicialmente, os dados foram compilados em uma base de dados no programa Microsoft Word (2010). Depois, decompostos repetidas vezes em elementos menores chamados de decomposi��o e nomea��o de c�digos. A terceira fase foi considerada um procedimento de recomposi��o, onde os textos s�o recombinados e representados em tabelas ou quadros. Na quarta fase, foi feita a interpreta��o, momento que se inicia a parte anal�tica do manuscrito. A quinta e �ltima fase foi a conclus�o, que foi relacionada com a interpreta��o e com todas as outras fases.13

Para auxiliar no processo de decomposi��o, recomposi��o e posteriormente na interpreta��o e conclus�o dos achados, utilizou-se o software Atlas.TI for Windows (vers�o 8.0) para an�lise de dados qualitativos. Para a garantia do anonimato das participantes, as falas foram identificadas em: GF- Grupo Focal, CM- Cuidadora Materna, CA-Cuidadora Av� e CT: Cuidadora Tia. As pausas nos depoimentos foram expressas por aspas [...] e as letras mai�sculas foram utilizadas quando as participantes davam �nfase nas falas e alteravam o tom de voz durante as discuss�es. As falas das participantes com similaridades foram agrupadas em um trecho de fala que expressasse a ideia emitida por um ou mais membros do grupo.

A realiza��o da pesquisa foi efetuada de acordo com as Diretrizes e Normas de pesquisa em seres Humanos, atrav�s da Resolu��o do CNS/MS n�. 466, de 12 de dezembro de 2012. A coleta de dados foi realizada ap�s aprova��o do Comit� de �tica em Pesquisa sob parecer de n�mero 1.851.951.

RESULTADOS

Caracteriza��o sociodemogr�fica das participantes

Participaram da pesquisa 34 participantes, 31 m�es, duas av�s e uma tia. Todas foram consideradas cuidadoras prim�rias visto que eram membros da fam�lia e prestavam cuidados �s crian�as menores de tr�s anos. A m�dia de idade das participantes foi de 26 anos (variando entre 17 e 40 anos). Todas as participantes eram do sexo feminino e referiram ter vivenciado ou conhecerem alguma crian�a que j� sofreu alguma inj�ria n�o intencional.

No que diz respeito � escolaridade, 20 participantes conclu�ram o ensino m�dio, as demais participantes haviam terminado o ensino fundamental, incompleto, ensino m�dio incompleto e apenas uma participante tinha ensino superior incompleto. Quanto � ocupa��o, 24 participantes eram do lar e 11 mulheres exerciam alguma atividade remunerada fora do domic�lio. Nos casos em que a m�e trabalhava fora do lar, os cuidados das crian�as eram transferidos principalmente para as av�s e creches. Em rela��o � carga hor�ria de trabalho, variava entre oito a 44 horas/semanais. Todas as participantes eram naturais e provenientes de Recife ou Regi�o Metropolitana.

Em rela��o �s condi��es de moradia, 28 participantes moravam em casa pr�pria. Quanto ao n�mero de c�modos no domic�lio, variou de tr�s a oito c�modos. O recebimento de programa social, como o Bolsa Fam�lia, beneficiava 13 participantes. Quanto � renda mensal houve o predom�nio de um sal�rio-m�nimo referido por 14 participantes, variando de menos de um sal�rio at� seis sal�rios-m�nimos.

A partir da an�lise dos dados qualitativos, emergiram tr�s categorias anal�ticas: 1- Ocorr�ncia das inj�rias n�o intencionais e papel das m�es e cuidadores; 2- Riscos envolvidos nas inj�rias n�o intencionais e 3- Estrat�gias preventivas direcionadas �s inj�rias n�o intencionais.

Categoria 1: Ocorr�ncia das inj�rias n�o intencionais e papel das m�es e cuidadores

No quadro 1 est�o descritos os c�digos sobre a ocorr�ncia das inj�rias n�o intencionais a partir da vis�o das m�es e cuidadoras.

Quadro 1- C�digos descritivos sobre a ocorr�ncia das inj�rias n�o intencionais a partir da vis�o das m�es e cuidadoras. Recife, 2017.

Temas

C�digos descritivos

Ocorr�ncia das INI

Compreens�o sobre as INI

-fatalidade

-evento evit�vel

Saberes e estrat�gias preventivas

Estrat�gia preventiva te�rica

-recebimento de orienta��es preventivas

Estrat�gia preventiva pr�tica

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A rela��o entre cuidadores e crian�as foi abordada nos relatos das participantes. Os fatores que expuseram a crian�a a riscos de INI foram decorrentes do cansa�o, descuido, excesso de atividades dom�sticas, uso de dispositivos de m�dia.

Meu filho j� caiu da cama novinho, eu fiquei louca, eu peguei no sono, n�? Voc� amamenta e acaba pegando no sono. Dormiu, eu e meu esposo, [...]nesse dia eu n�o sei o que deu, eu t�o cansada, que eu me virei ao contr�rio e eu s� vi o (BUM) da cabe�a dele no ch�o. Eu disse meu Deus, matei meu filho! Mas, gra�as a Deus n�o teve nada. Foi s� a queda mesmo, o susto! [...] A minha filha tinha 1 anos quando caiu do andador no trabalho da minha irm�, um descuido de nada, que ela vai ligeiro na cer�mica, quando eu pensei que n�o, s� escutei o barulho. Ela foi r�pido, ela s� anda correndo, ai caiu do batente e cortou s� um pouquinho a testa. (CM; CM25)

Ontem mesmo, quando minha filha de 8 meses caiu, ela caiu porque eu tava no Whatsapp, se eu n�o tivesse no whatsapp eu tinha evitado a queda dela. [...]. (CM 9; CM18; CM 26; CM30)

As participantes relataram epis�dios em que os pais demonstravam atitudes de descuido diante do cuidado com o filho, por n�o reconhecer as consequ�ncias das inj�rias, al�m de acreditar que os agravos fazem parte do crescimento �normal� da crian�a.

Meu marido, eu brigo todos os dias, porque ele vai passar a roupa dele e deixa o ferro quente em cima das coisas. O meu marido diz que se acontecer algum acidente � pra nosso filho se acostumar. A� eu digo, se tu cair com a testa no ch�o � pra se acostumar? (risos) (CM 15; CA 1;CM)

Foi referido pelas m�es e cuidadoras que independente de ter ou n�o um companheiro, os riscos de INI podem ser mais frequentes para cuidadores que vivem com problemas psicol�gicos p�s-separa��o, fato que poderia reduzir a supervis�o do cuidado e elevar os riscos de acidentes.

[...] eu acho que depende da m�e, se a m�e tiver com o psicol�gico afetado porque est� sozinha acho que ela vai deixar a desejar, mas se ela tiver com foco no filho, no cuidado do filho eu acho que depende do estado que ela esteja). (CM 17; CM 21)

As m�es e cuidadoras acreditavam que n�vel educacional materno n�o tinha rela��o com a INI, visto que suas av�s nunca estudaram ou tiveram nenhuma instru��o formal, mas conseguiram desempenhar o cuidado dos filhos e netos atrav�s de orienta��es transmitidas entre gera��es.

Minha av� n�o tem grau de estudo nenhum e sempre pareceu que tem olhos em toda parte da cabe�a, que sempre cuidou de todos e nenhum acidente aconteceu, [...]. (CT)

Apenas uma das participantes acreditava que as m�es que tinham maior grau de escolaridade iriam saber identificar e prevenir mais facilmente os riscos de inj�rias n�o intencionais quando comparadas �s m�es que n�o possu�a nenhum grau de instru��o.

Eu acho que uma m�e que tem mais esclarecimento, eu acho que ela procura ter mais cuidado, ela vai ter mais no��o do risco[...]. (CT 1; CM 14)

As m�es e cuidadoras acreditavam que o fato das m�es trabalharem fora do lar n�o tem rela��o com o aumento do risco de ocorr�ncia de INI, visto que as m�es que trabalhavam relataram deixar seus filhos com algum cuidador respons�vel, seja parente ou n�o.

Eu acho que n�o aumenta o risco, eu trabalhei fora e por incr�vel que pare�a a menina que ficava com minhas filhas parecia que tinha mais cuidado do que eu mesma [...]. (CM 23)

Foram relatados sentimentos diversos diante da identifica��o de riscos e a ap�s a ocorr�ncia da INI. Tais sentimentos estavam diretamente relacionados com culpa, preocupa��o, medo, desespero e a responsabilidade dos adultos em prevenir a ocorr�ncia das inj�rias n�o intencionais.

[...] Voc� se sente p�ssima, totalmente culpada! Por que voc� diz: Poxa, eu n�o poderia ter deixado ela s�, mesmo tendo tanta gente ao redor, mas � aquela hist�ria, ningu�m t� observando muito. [...] eu senti desespero, eu chorei junto com ela, eu fiquei nervosa e comecei a chorar ai quem acudiu ela foi minha tia, por que eu fiquei sem a��o na hora. (CM 16; CM 14; CM 1)

A compreens�o das INI pelas m�es e cuidadoras esteve relacionada a eventos decorrentes do acaso, por�m reconheciam tamb�m o car�ter preventivo das INI.

Acidente s�o coisas, intercorr�ncias que acontecem no dia a dia, � gente t� ali e n�o t� prevenindo, n�o t� prevendo o que vem a acontecer, mas acontece. �s vezes a gente t� de olho ai d� as costas, e num instante [...]. (CM 6; CM 17; CM 21)

Pode ser prevenido, porque �s vezes a gente ver alguma coisa f�cil pra crian�a pegar ou pra crian�a beber e �s vezes a gente pensa que ela vai saber distinguir, mas a crian�a n�o sabe distinguir. (CM 14; CM 17; CM27)

As m�es e cuidadoras referiram n�o terem conhecimentos adequados para os primeiros socorros, por causa do nervosismo. Outras participantes afirmaram que agiam rapidamente, mesmo sem ter o conhecimento t�cnico adequado para a situa��o. As participantes afirmaram que suas atitudes foram influenciadas por cren�as e pr�ticas populares, a exemplo de dar leite para crian�a em caso de intoxica��o ex�gena.

A perna treme e a gente fica muito nervosa e que n�o sabe nem o que fazer naquela hora, entendeu? [...] Uma vez, minha sobrinha bebeu �gua sanit�ria e daqui a pouco tava a menina vomitando. A� a gente o que ela tava fazendo? Ela disse: � que eu bebi e apontou pra garrafa de �gua sanit�ria. Meu Deus do C�u! J� vai a gente fazer um copo de leite [...]. (CM 6; CM12;CM21;CM27)

Categoria 2: Riscos envolvidos nas inj�rias n�o intencionais

No quadro 2 est�o descritos os c�digos sobre os riscos envolvidos nas INI a partir da vis�o das m�es e cuidadoras.

Quadro 2 � C�digos descritivos sobre riscos envolvidos nas INI a partir da vis�o das m�es e cuidadoras. Recife, 2017.

Temas

C�digos descritivos

Compreens�o das m�es e cuidadoras

Ambiente domiciliar

-cozinha

-banheiro

 

Fatores intrapessoais

-comportamento explorat�rio da crian�a, idade e g�nero

Fatores interpessoais

-pouca aten��o materna

-idade do cuidador

-n�vel de escolaridade

-situa��o marital

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A compreens�o das m�es e cuidadoras quanto aos riscos envolvidos na ocorr�ncia de inj�rias n�o intencionais (INI) contemplou quest�es relacionadas ao domic�lio, ao comportamento explorat�rio da crian�a e a rela��o entre cuidador e crian�a.

Com rela��o ao ambiente domiciliar, os c�modos cozinha e banheiro foram reconhecidos como locais que ofereciam maior risco para as crian�as.

[...] Na cozinha tem eletrodom�stico, tem o forno, a geladeira, tem arm�rio, gosta de t� mexendo, [...] O banheiro, porque no banheiro meu filho gosta muito de t� l� brincando com a �gua, eu tenho medo dele se afogar dentro de um balde, acontecer alguma coisa [...]. (CM11;CM12;CM13)

As m�es e cuidadoras reconheceram que o comportamento explorat�rio e imprevis�vel da crian�a � inerente ao desenvolvimento infantil, e que h� a necessidade do cuidado cont�nuo.

� a crian�a que � curiosa, que � esperta, que � levada, ela sempre vai acontecer mais acidente com ela, [...]. [...] crian�a cega � gente, por mais cuidado que voc� tenha, imagina se n�o ficar ligada no que eles est�o fazendo [...]. (CM29; CM 30)

Em rela��o � percep��o de risco na inf�ncia, n�o houve um consenso entre as participantes, algumas enfatizaram que a faixa et�ria de zero a tr�s anos tem pouca ou nenhuma percep��o de risco. Outras participantes acreditavam que a idade de compreens�o das crian�as sobre os riscos se dava em torno dos tr�s aos 10 anos de idade. Em contrapartida, as duas av�s acreditavam que as crian�as ainda n�o estavam aptas para desenvolverem a adequada percep��o de risco.

�s vezes a crian�a com 6 meses, j� entende que �isso aqui� � errado. Se voc� ficar n�o, n�o pode! Quando ele vai pegar, ele j� olha pra voc�. E j� sabe que aquilo n�o pode! [...]. (CA2)

Crian�a mesmo n�o tem a no��o de perigo, at� minha neta de 10 anos foi botar um beliro no buraco da energia(tomada), me diz mesmo que no��o? A sorte � que eu tinha desligado. (CM14)

As m�es e cuidadoras percebem que com o aumento da idade, as crian�as adquirem novas habilidades e desenvolvem a capacidade de realizar atividades motoras mais complexas, como andar e correr e, consequentemente, se exp�em mais aos riscos.

Quando a crian�a vai crescendo ela vai ficando mais espertinha, mais sabidinha, ela vai querendo a independ�ncia que n�o tem, come�ando a andar, a engatinhar, a mexer nas coisas, abrindo as coisas, ai o perigo dobra [...]. (CM 12; CM17; CM 22)

As m�es e cuidadoras afirmaram n�o haver predom�nio de g�nero em rela��o � ocorr�ncia das inj�rias. Os epis�dios de INI envolvem as caracter�sticas individuais e de temperamento de cada crian�a, n�o relacionada exclusivamente com g�nero.

N�o tem esse neg�cio de menino ou menina n�o, vai pela crian�a. Porque eu tinha uma menina que era fogo, at� fogo no colch�o ela colocou. (risos). Meu menino era um santo, sentava perto da televis�o e passava o dia todinho. [...]. �, vai do menino mesmo, n�o tem isso de sexo n�o). (CA 2; CM18)

Apenas uma m�e justificou que o sexo masculino tem maior risco para a ocorr�ncia devido �s normas de condutas impostas pela sociedade na cria��o e educa��o infantil.� Ela tamb�m referiu a import�ncia de educar a crian�a para desconstruir as rela��es desiguais entre os g�neros. Dessa forma, surgiu uma reflex�o sobre a influ�ncia das brincadeiras para a constru��o da identidade da crian�a e das rela��es familiares.

Eu acho que os meninos sofrem mais acidentes, por que socialmente, assim eu acho que menina se pegar uma menina subindo numa �rvore faz: �Menina, sa� da�! Olha as pernas!�. O menino n�o: �deixa o menino, � normal! Deixa o menino brincar!�. O menino � mais de carro, de avi�o, porque antigamente eram as profiss�es que homem trabalhava mais e a menina cuidava mais da casa. Sabe, o s�culo XXI eu acho que hoje em dia a gente tem que estudar mais sobre onde est�o colocando os seus filhos. (CM 26)

Categoria 3: Estrat�gias preventivas direcionadas �s inj�rias n�o intencionais

No quadro 3 est�o descritos os c�digos a respeito das estrat�gias preventivas para minimizar as INI a partir da vis�o das m�es e cuidadoras.

Quadro 3- C�digos descritivos sobre as estrat�gias preventivas para minimizar as INI a partir da vis�o das m�es e cuidadoras. Recife, 2017.

Tema

C�digos descritivos

Saberes e estrat�gias preventivas

Estrat�gias preventivas te�ricas

 

Estrat�gias preventivas pr�ticas

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

As participantes puderam compartilhar no grupo, estrat�gias de cuidado voltadas para a preven��o das INI. Estas foram denominadas, de estrat�gias preventivas te�ricas (EPT) e estrat�gias preventivas pr�ticas (EPP).

As estrat�gias preventivas te�ricas, remetem ao conhecimento pr�vio das participantes sobre situa��es de risco para inj�rias n�o intencionais e ao processo reflexivo vivenciado nos grupos focais. M�es e cuidadoras referiram como principal estrat�gia preventiva a supervis�o cont�nua. Al�m disso, EPT tamb�m foi considerada nos casos em que as participantes reconheceram que a INI poderia ter sido evitada por meio de atitude preventiva imediata.

Tem que ter aten��o, cuidado que � um ser que precisa d� gente e que a gente tem que cuidar, tem que amar, tem que observar em todos os sentidos, que depende [...].� � 24 horas ligada mesmo, como os olhos nela, � mesmo voc� botando um comida no fogo e nela [...]. (CM 6;CM10;CM11;CM 27;CM31)

No que diz respeito �s estrat�gias preventivas pr�ticas, as participantes relataram ter "agido", ou seja, tiveram atitude preventiva na tentativa de evitar as INI na inf�ncia, utilizando recursos dispon�veis no domic�lio.� As participantes referiram que sempre procuravam observar as crian�as e intervirem sobre os riscos atrav�s de atitudes preventivas ou orienta��es verbais.

[...] � evitar deixar a panela com o cabo pra fora do fog�o. E quando a gente t� fazendo comida n�o deixo eles chegarem perto do fog�o, de jeito nenhum, [...] eu mermo arrumei uma t�bua e coloquei na cozinha e j� resolvi meu problema do meu filho entrar na cozinha. [...]. Eu troquei a cer�mica do banheiro l� de casa por uma cer�mica antiderrapante, por que escorregava muito. (CM1; CM 14; CT 1)

Algumas m�es e cuidadoras referiram � utiliza��o de informa��es que foram adquiridas atrav�s da internet, programas de televis�o e panfletos para tornar o ambiente dom�stico mais seguro.

Hoje em dia, a gente � t�o inteligente e a internet ensina tanta coisa que voc� mesmo dentro de casa consegue prevenir com simples mudan�as. Voc� vai aprendendo e adaptando com o que tem, se eu n�o tenho um quadrado pra meu filho bagun�ar, � s� colocar um colch�o no ch�o. (CM1)

Em rela��o �s orienta��es preventivas sobre INI, as m�es e cuidadoras referiram fontes variadas de informa��es como orienta��es de familiares e pessoas pr�ximas, profissionais de sa�de, como a enfermeira da USF e da maternidade. Tr�s participantes referiram nunca terem sido orientadas por profissionais de sa�de e apenas uma participante relatou que adquiriu o conhecimento a partir de familiares e da experi�ncia com a maternidade.

Aprendi com minha v�, ela sempre orientava e� fez isso que todas as netas,[...]Eu aprendi com a enfermeira na Maternidade, antes de ter a crian�a ela j� previne a pessoa, ela d� uma palestra e d� um livrinho e nesse livro t� indicando como a m�e deve evitar o acidente, como amamentar, [...]Comigo foi a agente de sa�de, assim que engravidei, ela j� come�ou a falar um monte de coisa, falou em rela��o ao aleitamento, ai depois que o nen�m nascesse os cuidados que eu deveria ter, de cada fase[...]. (CM 15; CM 28;CM 22)

DISCUSS�O

O processo educativo vivenciado nos grupos focais favoreceu a integra��o entre as viv�ncias pr�ticas das participantes, o processo reflexivo sobre as INI, o compartilhamento de informa��es e viv�ncias no grupo para elabora��o de novos conhecimentos e poss�veis implica��es no cotidiano das m�es e cuidadoras no que se refere �s estrat�gias de preven��o �s INI. Ao considerar os saberes e estrat�gias preventivas das m�es e cuidadoras sobre as inj�rias n�o intencionais na inf�ncia, os saberes das participantes estiveram atrelados aos saberes populares e culturais. Tamb�m foram citadas fontes como a m�dia, e a rela��o com o conhecimento cient�fico dialogado com profissionais de sa�de que os assistem.

As Experi�ncias Concretas (EC) com INI estiveram ligadas �s situa��es que envolveram seus pr�prios filhos, particularmente crian�as mais jovens, com quedas decorrentes de motivos como o cansa�o materno ou a distra��o em m�dias sociais. Os sentimentos envolvidos, como a culpa e o medo dos danos provenientes para o bem-estar de seus filhos foram compartilhados.

Durante as discuss�es, as participantes compartilharam os sentimentos de culpa, preocupa��o, medo, desespero e a responsabilidade diante da identifica��o dos riscos e ap�s a ocorr�ncia da inj�ria. Tais sentimentos tamb�m foram semelhantes a outros estudos, onde os familiares expressaram medo, culpa e arrependimento, protesto e resigna��o do destino e da vontade de Deus diante da inj�ria sofrida pela crian�a.7

Embora estudos apontem que fatores como a pobreza e a priva��o estejam intimamente ligadas � les�o n�o intencional, com aumento da exposi��o a ambientes perigosos e disponibilidade limitada de equipamentos de seguran�a, aconselhamento e a��es de educa��o em sa�de, podem implicar em redu��o do risco de les�es a partir do fortalecimento da supervis�o dos pais e apoio social.14 Estrat�gias que foquem no fortalecimento das fam�lias devem capacitar os pais e cuidadores a participarem na preven��o de les�es, o que inclui fornecer aos pais as informa��es para que eles tomem seus pr�prios passos a partir da sua realidade de vida e adotem estrat�gias de preven��o compartilhadas com profissionais de sa�de.14

Na fase de Conceitua��o Abstrata (CA), as participantes reconheceram no ambiente dom�stico, os c�modos que poderiam oferecer maiores riscos para a crian�a, a exemplo da cozinha e banheiro, por serem ambientes que disp�em de v�rios objetos que podem facilmente, gerar graves inj�rias �s crian�as, desde queimadura, perfura��o e queda, al�m das rela��es entre adultos e crian�as, por meio da vigil�ncia e supervis�o. O reconhecimento de riscos no ambiente favoreceu a reflex�o sobre medidas que podem ser implementadas diante da realidade vivenciada, na qual lidam com o ac�mulo de atividades dom�sticas, cuidado a v�rias crian�as e limita��es na aquisi��o de itens de seguran�a.

A inf�ncia � uma fase de vulnerabilidade, pois as crian�as se encontram em processo de crescimento e desenvolvimento, al�m de possu�rem limita��es na aptid�o motora, reduzida coordena��o do sistema nervoso e pouca percep��o de risco para evitar situa��es de perigo.� As crian�as menores de sete anos ainda n�o s�o capazes de reagir a v�rios est�mulos, distraem-se facilmente e t�m atitudes imprevis�veis.14

Em estudo realizado com m�es em acampamentos, �reas rurais e urbanas no distrito de Ramallah, na Palestina, as abordagens preventivas das m�es eram semelhantes �s encontradas neste estudo, como remo��o de perigos, supervis�o de crian�as, orienta��o de crian�as e busca de diferentes fontes de informa��o para aumentar sua pr�pria consci�ncia para evitar ferimentos em casa.15-16 No que se refere � percep��o de risco pela crian�a, esta s� ser� capaz de desenvolver a habilidade de percep��o de risco ap�s os sete anos de idade. Antes dos quatro anos, ela tem comportamentos explorat�rios e reproduzem o comportamento do irm�o mais velho ou do adulto.17

Na fase de Observa��o Reflexiva (OR), as participantes discutiram quest�es relacionadas ao comportamento, idade e g�nero das crian�as. As m�es e cuidadoras perceberam a associa��o entre algumas inj�rias n�o intencionais e a faixa et�ria da crian�a. A faixa et�ria da crian�a est� diretamente relacionada com a gravidade do trauma, a exemplos dos lactentes que t�m capacidade motora muito limitada e est�o sujeitos a riscos impostos por terceiros.18

Com rela��o ao g�nero da crian�a, algumas participantes afirmaram n�o perceberem maior predom�nio de g�nero em rela��o � ocorr�ncia das inj�rias n�o intencionais. Entretanto, uma m�e justificou que meninos tem maior riscos para a ocorr�ncia de inj�rias n�o intencionais devido �s normas de condutas impostas pela sociedade na cria��o e educa��o infantil.

V�rios estudos corroboraram com a rela��o entre maior exposi��o de meninos aos riscos envolvidos na ocorr�ncia de INI, haja vista que, por serem mais proativos, terem atitudes mais agressivas, executarem tarefas arriscadas, serem menos prudentes e por se exporem mais aos perigos em compara��o com as meninas.18-21 Assim disso, o g�nero masculino � mais vulner�vel a ocorr�ncia de INI, devido a aceita��o social da exposi��o da crian�a a brincadeiras e comportamentos de risco.

Sabe-se que as meninas e os meninos n�o t�m concep��es predeterminadas, ou predefinidas sobre o que � brinquedo ou brincadeira de menina e de menino, a sociedade define e fragmenta as quest�es de g�nero que perpassam o desenvolvimento infantil.21 As rela��es entre adultos cuidadores e crian�as foram verbalizadas como quest�es que podem interferir na ocorr�ncia de INI. Situa��es que envolviam o ac�mulo de tarefas maternas e descuido expuseram a crian�a a riscos de INI. Atitudes que denotam pequenos descuidos, pode resultar em acidentes graves no domic�lio. A aus�ncia de supervis�o ou cuidado repercute no desenvolvimento emocional e intelectual da crian�a.22

No aspecto socioecon�mico, as participantes n�o perceberam a rela��o entre a ocorr�ncia de inj�ria n�o intencional e baixo n�vel socioecon�mico. Tais achados corroboram com estudo,18 que concluiu que as ocorr�ncias de INI acontecem independentemente do n�vel socioecon�mico ou educacional da popula��o, pois os pais continuam a reproduzir comportamentos que colocam em risco a integridade f�sica das crian�as.

Quanto ao n�vel de escolaridade materna, a maioria das m�es e cuidadoras conclu�ram o ensino m�dio e acreditavam que a escolaridade n�o seria um fator de risco para o aumento da ocorr�ncia de INI. Apenas duas participantes discordaram, afirmando que o grau de escolaridade facilitava na agilidade em intervir diante do risco. O conhecimento sobre os riscos e as precau��es de seguran�a n�o est�o diretamente associados � escolaridade materna,22 por�m pais com maior escolaridade, possivelmente, poderiam compreender mais facilmente as informa��es e orienta��es transmitidas pelos profissionais de sa�de, al�m de viverem em ambientes com menor carga de fatores de risco ambientais.23-24

Em rela��o � situa��o conjugal das m�es e cuidadoras, as participantes acreditavam que o fato de ter ou n�o um companheiro n�o teria rela��o com a ocorr�ncia de INI, exceto nos casos de dist�rbios psicol�gicos que poderiam reduzir a supervis�o materna ou do cuidador e elevar os riscos de acidentes. Sabe-se que a responsabilidade materna perante os cuidados � crian�a � uma fun��o culturalmente imposta pela sociedade. S�o as mulheres que desempenham, quase exclusivamente, a realiza��o dos cuidados com os filhos e consequentemente s�o respons�veis pela preven��o direta dos acidentes na inf�ncia.25 A m�e ao assumir a responsabilidade, quase que exclusiva, sobre o cuidado com a crian�a, ocasiona mudan�as no cotidiano no qual a fun��o da maternidade tem que ser compartilhada com os afazeres dom�sticos.26

Por�m, relatos que abordavam a aus�ncia da percep��o paterna diante dos riscos para INI foram expressos. As participantes tamb�m relataram que, seus c�njuges acreditavam que os epis�dios de inj�rias n�o intencionais faziam parte do crescimento �normal� da crian�a. Achados que corroboram com estudo que tamb�m relacionou as INI como �fazendo parte do crescimento�, sugere uma maior gravidade para les�es em crian�as cujos pais possuem tal percep��o.

Na fase de Experimenta��o Ativa (EA), as m�es e cuidadoras demonstraram compreens�o ambivalente sobre a preven��o das INI. Algumas compreendiam que as inj�rias eram pass�veis de preven��o e em outros momentos acreditavam que eram intercorr�ncias do cotidiano. A literatura n�o define um consenso a ser adotado, assim a defini��o das INI tem rela��o direta com o momento hist�rico, pol�tico e social em que o conceito est� sendo constru�do.22

As participantes puderam compartilhar a��es preventivas associadas � adapta��o de barreiras f�sicas que impediram o livre acesso da crian�a para os ambientes considerados de maior risco. Estas condutas s�o relevantes para a cria��o de solu��es adequadas aos recursos existentes em cada situa��o familiar. A partir da viv�ncia em grupo, as participantes puderam refletir sobre as suas viv�ncias pessoais em situa��es concretas, envolvendo riscos ou ocorr�ncias de INI e ainda, puderam compartilhar aprendizados com outras cuidadoras que convivem com problemas semelhantes. A oportunidade propiciou tamb�m a reflex�o sobre estrat�gias pr�ticas e de baixo custo que podem contribuir para uma maior prote��o das crian�as.

Alguns fatores que podem impedir as m�es em adotarem condutas de preven��o �s inj�rias n�o intencionais nos domic�lios, incluindo fatores relacionados aos profissionais de sa�de, como falta de treinamento para lidarem com esse tema, al�m de fatores interpessoais dos cuidadores, como o baixo status socioecon�mico, falta de suporte, al�m de fatores ambientais, como tamanho das casas, baixa prioriza��o por pol�ticas p�blicas.27 Ressalta-se que a tem�tica de interven��es educativas voltadas para a redu��o de inj�rias n�o intencionais no domic�lio apresenta lacunas n�o apenas na realidade brasileira, mas em outros pa�ses. Uma revis�o sistem�tica em 2020, encontro quatro estudos, dos quais os perigos totais (queda por envenenamento e queimaduras) n�o apresentaram diferen�as significativas, ao se comparar os grupos interven��o e controle. A falta de efetividade pode estar relacionada aos m�ltiplos fatores discutidos, os quais envolvem o pr�prio desenvolvimento da crian�a e sua necessidade de explora��o, combinados com caracter�sticas dos cuidadores e do ambiente ao seu entorno, particularmente riscos do ambiente domiciliar.28

Tendo em vista as m�ltiplas causas das INI na inf�ncia e a sua complexidade, tendo em vista fatores intrapessoais, interpessoais e ambientais, a participa��o familiar de forma ativa e reflexiva contribui para direcionar processos de educa��o em sa�de problematizadora, considerando as experi�ncias concretas dos usu�rios, o potencial reflexivo e estrat�gias de cuidado compat�veis com a realidade sociocultural.

CONSIDERA��ES FINAIS

Os saberes e as estrat�gias preventivas de m�es e cuidadoras por meio dos cuidados para prote��o da crian�a foram compartilhados em grupo e refletivos, na perspectiva de propostas de preven��o. Os conhecimentos das m�es e cuidadoras estiveram atrelados aos saberes populares, culturais e provenientes de pr�pria experi�ncia e de fontes como a m�dia. Entretanto, em menor propor��o tamb�m foi percebido o compartilhamento de informa��es preventivas oriundas de profissionais de sa�de respons�veis por assistir tal popula��o.

As estrat�gias preventivas devem emergir da necessidade de educar a popula��o com abordagem ampliada sobre as precau��es de seguran�a e cuidados parentais sens�veis e n�o apenas conscientizar a partir do cumprimento de regras de comportamentos seguros. � necess�rio o reconhecimento da realidade vivenciada pelas fam�lias para a proposi��o de cuidados e estrat�gias apropriadas nas a��es educativas.

Como limita��es do estudo, destaca-se que os participantes estiveram em apenas um grupo focal. Devido ao fato de alguns questionamentos utilizados na pesquisa requererem informa��es retrospectivas sobre as viv�ncias da ocorr�ncia de inj�ria n�o intencional na inf�ncia, uma das limita��es foi o vi�s de mem�ria porque os achados podem ter sido prejudicados por depender da mem�ria das m�es e cuidadoras.

Sugerem-se, novos estudos que abordem a fun��o parental paterna diante da preven��o de INI para que se tenha a compreens�o ampliada sobre os saberes e as pr�ticas preventivas direcionadas as inj�rias n�o intencionais na inf�ncia. � necess�ria a cria��o de novas estrat�gias para a promo��o da sa�de e preven��o baseadas na realidade da comunidade, efetiva��o de pr�ticas educativas, al�m de qualificar a pr�tica cl�nica dos profissionais da �rea de sa�de que trabalham com esta popula��o.

AGRADECIMENTOS

� Coordena��o de Aperfei�oamento de Pessoal de N�vel Superior, pela Bolsa de Mestrado.

REFER�NCIAS

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Recebido em: 04/06/2021

Aceito em: 28/11/2022

Publicado em: 21/04/2023



[1] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco (PE). Brasil (BR). E-mail: mariawanderleya.coriolano@ufpe.br ORCID: http://orcid.org/0000-0001-7531-2605

[2] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco (PE). Brasil (BR). E-mail: isabella7pacheco@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0003-3456-0607

[3] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco (PE). Brasil (BR). E-mail: gabrielacssette@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7200-8381

[4] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco (PE). Brasil (BR). E-mail: luciana.studart@uol.com.br ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0030-1463

[5] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco (PE). Brasil (BR). E-mail: adelia.falcao@ufpe.br ORCID: http://orcid.org/0000-0003-2030-4207

[6] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco (PE). Brasil (BR). E-mail: mirelly.barros2012@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-5205-0144

 

Como citar: Coriolano-Marinus MWL, Pacheco ICO, Sette GCS, Studart-Pereira LM, Soares AKF, Barros MS. Saberes e estrat�gias preventivas de m�es e cuidadoras sobre inj�rias n�o intencionais na inf�ncia. J. nurs. health. 2023;13(1):e1316363. Dispon�vel em: https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/JONAH/issue/view/6363