J. nurs. health. 2024;14(1):e1426636

ISSN 2236-1987 Faculdade de Enfermagem UFPEL

 

EDITORIAL

Técnica de amostragem “bola de neve virtual” na captação de participantes em pesquisas científicas

Virtual snowball" technique for recruiting participants in scientific research

Técnica de "bola de nieve virtual" para reclutar participantes en investigaciones científicas

Ribeiro, Juliane Portella;[1] Maliszewski, Lenise Szczecinski;[2] Martins, Erivanda De Sá Luz[3]

A crescente acessibilidade à internet nas décadas de 1990 e o surgimento das redes sociais virtuais (RSV) revolucionaram a forma com que as pessoas e empresas se comunicam e interagem, estabelecendo uma nova linguagem digital. A interconexão de várias redes foi comprovada em uma comunicação mais ampla, permitindo que pessoas de diferentes lugares interajam e compartilhem informações de todo tipo. A internet está presente tanto para a vida pessoal quanto profissional, principalmente as RSV.1

Essa transformação também teve um impacto significativo no campo da pesquisa científica. A internet não só facilita a divulgação de estudos, mas também permite a comunicação entre diferentes grupos sociais, incluindo pesquisadores e participantes. Facilitando a troca de informações entre cientistas e acadêmicos, a discussão de tópicos de estudo, as orientações para pesquisas, a coleta de dados, a divulgação de resultados e a propagação de conhecimento.

Especialmente no período da pandemia da COVID-19, a interconexão propiciada pela internet e RSV alavancaram a utilização da técnica de amostragem em bola de neve virtual no desenvolvimento das pesquisas; devido à necessidade de um recrutamento que garantisse a segurança de participantes e pesquisadores. Tal técnica, configura-se como amostragem não probabilística, cuja abordagem se baseia na recomendação de novos informantes pelos participantes iniciais da pesquisa.2

A recomendação não se dá de forma aleatória, o estabelecimento de critérios é fundamental para garantir o bom resultado da pesquisa. Por essa razão, para dar início ao processo de bola de neve, o pesquisador escolhe o(s) “informante(s)-chave”, indivíduo que possui características semelhantes e/ou fazem parte do grupo a ser pesquisado.3

A técnica se baseia na ideia de que os membros da população em estudo estão conectados por possuírem interesses em comum. Por essa razão, o pesquisador solicita ao informante-chave que recomende novos informantes.

Logo, caracterizando-se como uma estratégia viral, em que os participantes compartilham, voluntariamente, a pesquisa com seus contatos, criando uma rede de participantes que atendem aos critérios desejados. Tal qual como numa epidemia, a mensagem se espalha através da rede, até que o número de participantes ou o prazo para coleta de dados, sejam atingidos.1

Dentre os motivos pelo qual a técnica vem se disseminando e ganhando reconhecimento é por ser econômica e eficaz, atingindo atores sociais que estão geograficamente distantes do pesquisador. Mas, também por abarcar vantagens relacionadas a sua capacidade de penetrar em situações difíceis, que envolvam temas sensíveis (aborto, violência, ideologia de gênero), ou grupos de difícil acesso, especialmente aqueles com características sensíveis ou que desejam manter sua condição em sigilo.3

Apesar de ter ganho visibilidade na pandemia da COVID-19, a técnica segue despertando o olhar dos pesquisadores sobre as tendências sociais e utilização de plataformas digitais e redes sociais virtuais como forma de atingir atores sociais envolvidos em temas sensíveis e/ou que estão geograficamente distantes do pesquisador.

No entanto, deve-se atentar às desvantagens que a técnica bola de neve virtual pode apresentar, tal como semelhança nas opiniões e argumentações dos participantes; uma vez que esses emergem predominantemente do mesmo ciclo social. Podendo haver, também, o baixo índice de respostas ou retornos dos questionários online.2

Como técnica promissora para o recrutamento de participantes de pesquisas na área da saúde, esse tipo de amostragem bola de neve requer o entendimento sobre o tema a ser pesquisado e das complexidades que envolvem a sua execução, incluindo a compreensão acerca das características da rede social ou plataforma em que a pesquisa será conduzida.

REFERÊNCIAS                                                                                                    

1 Costa BRL. Bola de Neve Virtual: O Uso das Redes Sociais Virtuais no Processo de Coleta de Dados de uma Pesquisa Científica. Revista Interdisciplinar de Gestão Social. 2018;7(1):15-37. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/rigs/article/view/24649

2 Bockorni BRS, Gomes AF. A amostragem em snowball (bola de neve) em uma pesquisa qualitativa no campo da administração. Revista de Ciências Empresariais da UNIPAR. 2021;22(1):105-17. DOI: https://doi.org/10.25110/receu.v22i1.8346

3 Siddiqui NA, Rabidas VN, Sinha SK, Verma RB, Pandey K, Singh VP, et al. Snowball VS. House-to-House Technique for Measuring Annual Incidence of Kala-azar in the Higher Endemic Blocks of Bihar, India: Comparison. Plos negl. trop. dis. 2016;10(9):e0004970. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0004970

Descritores: Pesquisa qualitativa; Amostragem; Enfermagem

Descriptors: Qualitative Research; Sampling Studies; Nursing

Descriptores: Investigación Cualitativa; Muestreo; Enfermería

Recebido em: 21/03/2024

Publicado em: 26/04/2024



[1] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: ju_ribeiro1985@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1882-6762

[2] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: lenise2001m@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0009-0005-8907-830X

[3] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: erivandadesa@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-5842-8806

 

Como citar: Portella JR, Maliszewski LS, Martins ESL. Técnica de amostragem “bola de neve virtual” na captação de participantes em pesquisas científicas. J. nurs. health. 2024;14(1):e1426636. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v14i1.26636