NEOLIBERALISMO COMO SIMBIOSE DE POLÍTICAS APARENTEMENTE CONTRADITÓRIAS: AS PENAIS-PUNITIVAS E AS DE FOMENTO AO EMPREENDEDORISMO

  • Rodrigo Gameiro Guimarães Professor e Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação da FEAC/UFAL.Pesquisador do Núcleo de Estudos Marcelo Milano Falcão Vieira (NeMaVi) e do Grupo de Estudo em Dinâmicas Organizacionais (GEDO). E-mail: rgameiro@gmail.com Cidade: Maceió-AL.
  • Rosimeri Carvalho da Silva Doutora em Administração. Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: rosimeri.carvalho@ufrgs.br Cidade: Jouy-en-Josas – França.

Resumo

Este ensaio propõe uma articulação de abordagens teórico-históricas de crítica ao neoliberalismo. Esta proposta está sintetizada no argumento de que no Estado neoliberal se produz uma simbiose de políticas, aparentemente contraditórias. De um lado, as políticas de fomento ao empreendedorismo e de verniz liberal que reduzem a legislação de proteção ao trabalho e de garantia a direitos sociais, preservando o direito à propriedade privada e promovendo empresas, mercados e as capacidades empreendedoras individuais (entrepreneurfare). De outro lado, as políticas disciplinares-punitivas direcionadas aos que dependem dos serviços e benefícios sociais, que passam a ser condicionados à aceitação de trabalhos precários ou à assiduidade em treinamentos para geração de renda (workfare e entrepreneurfare) e, que aplicam, com mais intensidade, medidas de contenção penal e encarceramento (prisonfare) aos insubmissos a esse disciplinamento. Esse argumento é explicado nas seções do texto. A partir de Wacquant, mostramos a configuração das políticas sociais em políticas de disciplinamento para o trabalho e como as consequências sociais disso são respondidas sistematicamente por políticas punitivo-penais. E, para compreender as mudanças nas concepções econômicas que estão associadas às mudanças indicadas por Wacquant e implicaram em políticas de fomento ao empreendedorismo, recorremos à análise de Puello-Socarrás sobre deslocamentos ideológicos e teóricos no projeto neoliberal. Por fim, discutimos os principais fundamentos e contribuições da aproximação dessas duas abordagens de crítica ao neoliberalismo.

Referências

ARIENTI, Wagner Leal. Uma análise regulacionista das reformas do estado capitalista: rumo ao estado pós-fordista?. Textos de Economia, Florianópolis, v. 8, n. 1, p. 1-36, jan. 2002.

BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.

______. Sobre o poder simbólico. In: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.07-16.

______. As estruturas sociais da economia. Lisboa: Instituto Piaget, 2006.

______. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. 1.ed. São Paulo: Boitempo, 2016.

DUMÉNIL, Gérard; LEVY, Dominique. A crise do neoliberalismo. São Paulo: Boitempo, 2014.

LAVAL, Christian; DADOT, Pierre. La Nueva Razón Del Mundo ensaio sobre la sociedad neoliberal. Barcelona: Editorial Gedisa, 2013.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005.

_____. O Neoliberalismo: história e implicações. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

LESSA, S. Capital e estado de bem estar: o caráter de classes das políticas públicas. São Paulo: Instituto Lukács, 2013.

MENEGHETTI, Francis Kanashiro. O que é um ensaio-teórico? Revista de Administração Contemporânea, v. 15, n. 2, p. 320-332, 2011.

MOTA, A.E; AMARAL, A.; PERRUZO, J. O novo-desenvolvimentismo e as políticas sociais na América Latina. In: MOTA, A.E. (Org.) Desenvolvimentismo e construção de hegemonia. São Paulo: Cortez, 2012, p. 153-178.

PUELLO-SOCARRÁS, JF. Nueva Gramática del Neo-liberalismo. Itinerarios teóricos, trayectorias intelectuales, claves ideológicas. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, Facultad de Derecho, Ciencias Políticas y Sociales, 2008a. 166p.

____. “¿Un Nuevo Neo-liberalismo? Emprendimiento y Nueva Administración de ‘lo público’”. Revista Administración & Desarrollo (Bogotá: Escuela Superior de Administración Pública) No. 49, Primer Semestre, 2008b, p. 7-39.

_____. “Del Homo Œconomicus al Homo Redemptoris. Emprendimiento y Nuevo Neo-liberalismo”. Otra Economía. Revista Latinoamericana de Economía Social y Solidaria (Polvorines: RILESS) Vol. 4, No. 6. I semestre. 2010, p. 181-206.

_____. “Breve historia del anti-neoliberalismo. Economía política sudamericana y paradigmas de desarrollo en el siglo XXI” en AA.VV., Anuario de Estudios Políticos Latinoamericanos, No. 1, Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, Maestría en Estudios Políticos Latinoamericanos, 2013a, p. 167-186.

_____. “Ocho tesis sobre el neoliberalismo (1973-2013)” In RAMÍREZ, Hernán, O neoliberalismo sul-americano em clave transnacional: enraizamento, apogeu e crise. São Leopoldo: Oikos - Unisinos., pp. 13-57. 2013b.

SOEDERBERG, S. Debtfare States and the Poverty Industry: Money, Discipline, and the Surplus Population. London and New York: Routledge/RIPE, 2014.

WACQUANT, L. As Prisões da Miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. (versão digitalizada em 2004)

_____. Os condenados da cidade: estudos sobre marginalidade avançada. 2.ed.Rio de Janeiro: Revan; FASE, 2005.

_____. Três etapas para uma antropologia histórica do neoliberalismo realmente existente. Caderno CRH, Salvador, v. 25, n. 66, p. 505-518, Set./Dez. 2012

_____. Punir os pobre: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos [A onda punitiva]. 3.ed. Rio de Janeiro: Revan, 2013.

_____. Marginalidade, etnicidade e penalidade na cidade neoliberal: uma cartografia analítica. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 26, n. 2, nov., 2014.

Publicado
2019-12-31
Seção
Dossiê: A generalização da ideia de empresa nas políticas sociais: características e implicações