Mídia, experts e neoliberalismo: economistas e outras vozes no Jornal Folha de São Paulo

Resumo

O artigo aborda o modo como o jornal Folha de S. Paulo, importante veículo da imprensa brasileira, concedeu espaços de vocalização para o desenvolvimento do debate público sobre o tema das políticas de proteção social, analisando o contexto das Reformas Trabalhista (2017) e da Previdência (2019). O artigo se insere na interseção entre três áreas de estudos: os debates sobre a remercadorização/desenraizamento das políticas sociais no contexto de hegemonia das ideias neoliberais; os estudos sobre mídia e economia; e os estudos sociológicos sobre os economistas. Metodologicamente optou-se por realizar análise de conteúdo, investigando os tipos de enquadramentos e vozes presentes no jornal por meio de abordagem quanti e quali, assim como os argumentos mobilizados para cada tipo de enquadramento. Apurou-se, entre outros resultados, que a grande maioria das vozes consultadas se manifestou favoravelmente às reformas, ainda que o desequilíbrio entre os posicionamentos tenha sido menor no caso da Reforma Trabalhista.  Os economistas foram as vozes mais frequentes, com predominância de agentes de mercado nas matérias e artigos sobre a Reforma da Previdência, e de economistas acadêmicos na Reforma Trabalhista, onde também tiveram destaque profissionais do direito. Entre as vozes críticas a ambas as reformas, ainda que minoritárias, se destacaram intelectuais ligados a outros campos do saber e pessoas ligadas a sindicatos, movimentos sociais e ONGs.

Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000.

BASU, L. Living within our means: The UK news construction of the austerity frame over time. Journalism, v. 20, n. 2, p. 313–330, 1 fev. 2019.

BIANCHI, A. O laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. New edição ed. [s.l.] Zouk, 2018.

CARVALHO, L. Valsa brasileira: do boom ao caos econômico. São Paulo, SP: Todavia, 2018.

CHAKRAVARTTY, P.; SCHILLER, D. Neoliberal Newspeak and Digital Capitalism in Crisis. p. 23, 2010.

CROUCH, C. The Strange Non-Death of Neoliberalism. Illustrated edição ed. Cambridge: Polity Press, 2011.

DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. 1a edição ed. [s.l.] Boitempo, 2016.

DE SOUZA, T. S. M.; PEDROSO NETO, A. J. O Jornalismo Econômico e as Vozes que falaram nos Jornais nos anos de debate das Reformas da Previdência. Revista Observatório, v. 5, n. 6, p. 634–667, 1 out. 2019.

ENTMAN, R. M. Framing: Toward Clarification of a Fractured Paradigm. Journal of Communication, v. 43, n. 4, p. 51–58, 1993.

ESPING-ANDERSEN, G. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 24, p. 85–116, set. 1991.

FISHER, M. Realismo Capitalista: É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo? 1a edição ed. [s.l.] Autonomia Literária, 2020.

Folha é o jornal mais nacional do país e o de maior audiência e circulação - 27/03/2021 - Poder - Folha. [s.d.].

FONSECA, F. O Consenso Forjado. A Grande Imprensa e a Formação da Agenda Ultraliberal no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2005.

FONSECA, F. Mídia, poder e democracia: teoria e práxis dos meios de comunicação. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 6, p. 41–69, dez. 2011.

FOURCADE, M.; OLLION, E.; ALGAN, Y. The Superiority of Economists. Journal of Economic Perspectives, v. 29, n. 1, p. 89–114, fev. 2015.

FOURCADE‐GOURINCHAS, M.; BABB, S. L. The Rebirth of the Liberal Creed: Paths to Neoliberalism in Four Countries. American Journal of Sociology, v. 108, n. 3, p. 533–579, 2002.

GALVÃO, A.; TEIXEIRA, M. O. Flexibilização na lei e na prática: o impacto da reforma trabalhista sobre o movimento sindical. In: Dimensões críticas da reforma trabalhista no Brasil. Campinas, SP: Curt Nimuendajú, 2018. p. 155–182.

GUILBERT, T. As Evidências do Discurso Neoliberal na Mídia. 1a edição ed. [s.l.] Editora da Unicamp, 2020.

HAAS, P. M. Introduction: Epistemic Communities and International Policy Coordination. International Organization, v. 46, n. 1, p. 1–35, 1992.

HARJUNIEMI, T. Reason Over Politics. Journalism Studies, v. 20, n. 6, p. 804–822, 26 abr. 2019a.

HARJUNIEMI, T. The Economist’s depoliticisation of European austerity and the constitution of a ‘euphemised’ neoliberal discourse. Critical Discourse Studies, v. 0, n. 0, p. 1–16, 29 jul. 2019b.

HEREDIA, M. Cuando los economistas alcanzaron el poder: o cómo se gestó la confianza en los expertos. Buenos Aires, Argentina: Siglo Veintiuno Editores, 2015.

JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A. C. Social Assistance in the Brazilian Social Protection System: Recent Transformations and Perspectives. Novos estudos CEBRAP, v. 36, n. 2, p. 37–53, out. 2017.

KLÜGER, E. Meritocracia de laços: gênese e reconfigurações do espaço dos economistas no Brasil. text—[s.l.] Universidade de São Paulo, 27 set. 2016.

LAVINAS, L.; CORDILHA, A. C. Reforma da Previdência: Qualificando o debate brasileiro à luz de experiências internacionais. Revista NECAT - Revista do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense, v. 8, n. 15, p. 35–43, 30 jun. 2019.

LAVINAS, L.; GENTIL, D. Brasil anos 2000: a política social sob regência da financeirização. Novos Estudos - CEBRAP, v. 37, n. 1, p. 191–211, ago. 2018.

LEBARON, F. A formação dos economistas e a ordem simbólica mercantil. REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, v. 4, n. 2, 2012.

LENE, H. Jornalismo de economia no Brasil. Cruz das Almas-Bahia: Editora UFRB, 2013.

LOUREIRO, M. R. Economistas e Elites Dirigentes no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 7, n. 20, p. 47–65, 1992.

LOUREIRO, M. R. A participação dos economistas no Governo. Análise – Revista de Administração da PUCRS, v. 17, n. 2, 2006.

MADARIAGA, A. The three pillars of neoliberalism: Chile’s economic policy trajectory in comparative perspective. Contemporary Politics, v. 26, n. 3, p. 308–329, 26 maio 2020.

MAESSE, J. Economic experts: a discursive political economy of economics. Journal of Multicultural Discourses, v. 10, n. 3, p. 279–305, 2 set. 2015.

MARINONI, B. Concentração dos meios de comunicação de massa e o desafi o da democratização da mídia no Brasi. Revista Análise, Fundação Friedrich-Ebert-Stiffung (FES), v. 13, p. 1–27, 2015.

MELO, J. M. D. A Opiniao No Jornalismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1994.

MONTEIRO, C.; LIMA, R. Embeddedness and disembeddedness in economic sociology in three time periods. Sociologia & Antropologia, v. 11, n. 1, p. 43–67, abr. 2021.

NEIBURG, F. Economistas e culturas econômicas no Brasil e na Argentina: notas para uma comparação a propósito das heterodoxias. Tempo Social, v. 16, p. 177–202, nov. 2004.

NETO, A. J. P. O espaço dos jornalistas da economia brasileiros: gerações, origem social e dinâmica profissional. Revista Pós Ciências Sociais, v. 12, n. 23, p. 133–152, 30 jun. 2015.

NETO, A. J. P.; UNDURRAGA, T. The Elective Affinity Between Elite Journalists and Mainstream Economists in Brazil. Journalism Studies, v. 19, n. 15, p. 2243–2263, 18 nov. 2018.

NORONHA, J. C. DE et al. Notas sobre o futuro do SUS: breve exame de caminhos e descaminhos trilhados em um horizonte de incertezas e desalentos. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, p. 2051–2059, jun. 2018.

PECK, J. Explaining (with) Neoliberalism. Territory, Politics, Governance, v. 1, n. 2, p. 132–157, nov. 2013.

PEDROSO NETO, A. J.; ROCHA DO NASCIMENTO, R. Fontes e vozes no jornalismo econômico. Palmas, TO: EDUFT, 2020.

PHELAN, S. The Discourses of Neoliberal Hegemony: The Case of the Irish Republic. Critical Discourse Studies, v. 4, n. 1, p. 29–48, 1 abr. 2007.

POLANYI, K. A grande transformação: As origens políticas e econômicas de nossa época. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto, 2021.

PORTELLI, H. Gramsci e o bloco histórico. 1a edição ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2007.

PORTO, M. P. Enquadramento da Mídia e Pólítica. In: Comunicação e política: conceitos e abordagens. São Paulo, SP: Editora UNESP, 2004. p. 73–104.

PULITI, P. O Juro da Notícia: Jornalismo Econômico Pautado Pelo Capital Financeiro. 1a edição ed. [s.l.] Insular, 2013.

RIBEIRO, A. O. Ideias econômicas e economistas no Brasil: notas para o entendimento de um regime de conhecimento anti-austeridade. Em Tese, v. 15, n. 1, p. 103–128, 12 jun. 2018.

RODRIGUES, P. H. DE A.; SANTOS, I. S. Os novos riscos sociais não são só europeus, também chegaram ao Brasil e exigem respostas das nossas políticas sociais. In: Políticas e riscos sociais no Brasil e na Europa: convergências e divergências. Rio de Janeiro : São Paulo: Hucitec, 2017. p. 111–141.

ROSSI, P. et al. (EDS.). AUSTERIDADE FISCAL E O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL. Educação & Sociedade, v. 40, 9 dez. 2019.

SAAD-FILHO, A.; MORAIS, L. Brasil: neoliberalismo versus democracia. 1a edição ed. São Paulo, SP: Boitempo, 2018.

SCHMIDT, V. A.; THATCHER, M. (EDS.). Resilient liberalism in Europe’s political economy. Cambridge ; New York: Cambridge University Press, 2013.

SHOEMAKER, P. J.; VOS, T. P.; REESE, S. D. Journalists as Gatekeepers. In: The handbook of journalism studies. New York, NY: Routledge, 2009. p. 73–87.

TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo. 3a edição ed. [s.l.] Insular, 2012.

UNDURRAGA, T. Making News, Making the Economy: Technological Changes and Financial Pressures in Brazil. Cultural Sociology, v. 11, n. 1, p. 77–96, 1 mar. 2017.

UNDURRAGA, T. Knowledge-production in journalism: Translation, mediation and authorship in Brazil. The Sociological Review, v. 66, n. 1, p. 58–74, 1 jan. 2018.

ZIZEK, S. Um Mapa da Ideologia. 1aa edição ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2007.

Publicado
2021-12-30
Seção
Dossiê: Sociologia das ortodoxias e heterodoxias na economia brasileira