Chamada para Dossiê: "Olhares sociológicos além das palavras: o uso das imagens na pesquisa e no ensino da sociologia."

2024-07-31
O objetivo deste dossiê é propiciar um espaço para a apresentação de trabalhos dos cientistas sociais sobre experiências de pesquisas e de ensino que utilizem imagens (fotografias, vídeos) como fonte, dado e objeto de análise e recurso de ensino da disciplina de sociologia.   O uso da fotografia e das imagens, na sociologia, ainda é insuficiente, o que é contraditório numa sociedade hegemonicamente imagética como a nossa. Estamos imersos num mundo repleto de imagens. O acesso às câmeras de celulares faz com que as imagens façam parte do cotidiano e do imaginário das pessoas. Em 2022, no Brasil havia 464 milhões de dispositivos digitais, entre computadores, notebook, tablet e smartphone. Calcula-se que há 1,2 smartphone por habitante, significando 249 milhões de smartphones sendo utilizados no país[1]. As imagens atravessam nossas vidas e invadem a sala de aula, então como aproveitar seu uso na prática pedagógica e de pesquisa?  Como usar as imagens produzidas pelos alunos ou aquelas que circulam no seu cotidiano para pensar sociologicamente, junto com eles? Com a sociologia os alunos podem ver sociológica e socialmente, indo além do simples olhar (Bodart, 2015), para decifrar os enigmas da vida cotidiana, no sentido de Lefebvre, problematizando o repetitivo e o inovador das relações sociais que permeiam o cotidiano. Essa insuficiência no uso das imagens dá sentido a esta proposta que visa a troca de experiências entre pesquisadores e educadores que se aventuram no uso de fotografias e imagens nas suas análises e experimentações sociológicas de pesquisa e ensino. Desta forma, nosso intuito é contribuir à reflexão sobre as potencialidades e limites da fotografia e das imagens na sala de aula e na pesquisa. No uso da fotografia (Martins, 2008) é possível notar a polaridade entre aqueles que pensam que o sociólogo pode fazer fotografias e imagens sociológicas, e outros que a utilizam como simples elemento ilustrativo de suas análises e descobertas. Talvez esta polarização, real ou imaginada, está sendo superada, a partir das experiências de pesquisadores e educadores brasileiros que incorporam a imagem como objeto e instrumento, ou seja, queremos mostrar que as possibilidades do uso das imagens não se situam em nenhum dos dois polos. Outros autores, como Becker (2015), revelam que a crítica que podemos fazer ao uso da fotografia na pesquisa social também alcançam às outras formas (técnicas) que utilizamos, incluindo o “depoimento verbal”. Este segue um roteiro elaborado pelo pesquisador, da mesma forma, a composição fotográfica revela a intenção do fotógrafo. A riqueza da fotografia para a sociologia se encontra precisamente nas suas insuficiências, o que Martins, denomina, “resíduos sociológicos”, na perspectiva de Henri Lefebvre (1967).  Bourdieu (2006), para reduzir a interferência do sujeito, buscou, nas fotografias guardadas pelos camponeses, o modo de fotografar, como ponto diferencial entre as classes. A contribuição de Martins é notar que a fotografia não é só uma ilustração, nem um dado que deve ser confirmado, e nem sequer uma técnica de pesquisa. Ela, segundo o autor, é constitutiva da realidade, e, portanto, objeto e sujeito. Por outro lado, na sociedade contemporânea, a difusão da imagem, provoca, segundo o autor, a desumanização, por causa da separação entre a pessoa e sua imagem. Por fim, consideramos que a sociologia da fotografia e da imagem, como resíduo e representação do cotidiano e do social, é um campo ainda a ser explorado; pretendemos, com este dossiê, “mapear”, ou fazer um diagnóstico das iniciativas de sociólogos, antropólogos, educadores e pesquisadores da área das humanidades que combinam imagens e a prática de pesquisa e pedagógica, indo além da simples ilustração e da banalização do olhar do senso comum.