COMO A ARTE (CONTEMPORÂNEA) SE APRESENTA? SOBRE A ATUALIDADE DE A MOLDURA DE GEORG SIMMEL

  • Gláucia Villas Bôas

Resumo

O artigo retoma o ensaio “A moldura” de Georg Simmel, publicado em 1902 no jornal berlinense Der Tag, com o propósito de examinar a noção de arte contemporânea a partir das categorias de todo e parte, heterodoxia e autonomia, distância e proximidade, enquadramento e ausência de limite inscritas no texto do autor. Diante das transformações do campo artístico, provocadas pelo desmantelamento dos cânones da arte, as ideias de Simmel parecem retrógradas, ultrapassadas e fadadas ao esquecimento. Em “A moldura”, ele ressalta a autonomia e o distanciamento da obra de arte, sua natureza desinteressada e sua entrega ao espectador como dádiva. Além disso, afirma que a moldura é um artefato indispensável à obra de arte tanto quanto um elemento constituinte de uma modalidade específica da visualidade, que fomenta um modo de ver contemplativo. Nada poderia ser mais avesso às atuais políticas de proximidade da arte com o seu entorno e de participação efetiva do espectador na obra ou processo artístico; tanto a moldura como a contemplação há muito foram questionadas, perdendo o seu sentido e valor. Argumenta-se, contudo, que as ideias centrais do escrito simmeliano são pertinentes, atuais e relevantes para se pensar questões sociológicas contemporâneas da arte, uma vez que é no jogo entre isolamento e distância do mundo, afastamento e proximidade, autonomia e heterodoxia que a arte – inclusive a contemporânea – se mantém, se apresenta e recria a si própria

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Publicado
2017-10-06
Seção
Dossiê - Simmel e as Formas de Vida