Do neuromorfismo à percepção cultural: uma teoria cultural da máquina

Resumo

A inteligência artificial e a computação digital são, hoje, temas de grande importância tanto do ponto de vista do “progresso tecnológico”, quanto dos estudos sociais sobre ciência e tecnologia. Sua dimensão experimental/operacional é normalmente pensada como pertencendo às ciências cognitivas e à engenharia da computação, ao passo que as ciências humanas abordam-nas a partir de críticas sociológicas da dominação, nas quais predominam chaves analíticas do poder e do controle social. Ao colocar o problema da simulação da mente diante do conceito antropológico de cultura, este artigo tem como objetivo constituir o campo de uma antropologia das inteligências artificiais, propondo um caminho alternativo para os estudos sobre a infraestrutura dessas tecnologias, de modo a fazer transbordar os paradigmas hegemônicos tanto das ciências naturais/exatas, a saber, o cognitivismo e o organicismo fisicalista, quanto a genealogia do poder das ciências sociais. Para tanto, usando o estruturalismo como fio condutor, retomo as raízes do problema filosófico do espírito, buscando a continuidade entre a antropologia, a filosofia, as ciências da linguagem e as ciências computacionais. Conclui-se que as concepções de inteligência que vêm respaldando os projetos de inteligência artificial estão acopladas a uma despolitização do espírito.

Biografia do Autor

Rafael Damasceno Ramalho Pereira, Université Toulouse Jean-Jaurès Erasmus Mundus EuroPhilosophie
Bacharel em Ciências Sociais pela UFRJ; Mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional (PPGAS-UFRJ); Mestrando em Filosofia pelo programa Erasmus Mundus EuroPhilosophie (Université de Toulouse Jean-Jaurès).
Publicado
2021-09-02
Seção
Dossiê: A sociologia como ontologia do presente: teoria, metateoria e análise crítica