O gatinho preto e as abelhas migrantes:

literatura e etologia para pensar não humanos na história das ciências

  • Caio Fabiano Lopes do Valle Souza
  • Márcia Regina Barros da Silva
  • Caio Dany Scarpitta

Resumo

O objetivo deste artigo é indicar modos que sirvam ao desordenamento e à desarticulação deentendimentos há muito tradicionais nos estudos acadêmicos de diversas áreas. Procuramos, pormeio da história das ciências, tanto quanto da história das transformações ambientais e dahistória dos animais, reconhecer as noções de “associações” e de “agências” em dois diferentescontextos. O primeiro, uma passagem na vida do escritor Machado de Assis a partir da qualforam investigados, por meio de um de seus escritos, o ambiente doméstico e as relações deafeto interespecíficas entre um gato e o autor, na virada do século XIX para o XX no Rio deJaneiro, momento de transformações sociais alimentadas por certo ideal cientificista. O segundorecorte aborda a história da introdução de abelhas africanas no Brasil em meados do século XX,bem como o seu involuntário espraiamento para outros países, apresentado a partir da etologia,ciência que se propõe a estudar o comportamento de animais; também avaliamos astransformações produzidas pelas abelhas nas pesquisas de cientistas daquele momento.Argumentamos que tais situações fornecem recursos capazes de desordenar uma estruturaantropocêntrica na produção historiográfica que tende a conceber somente o animal humanocomo possuidor de história. Desse modo, pretendemos mostrar caminhos pelos quais os nãohumanos tenham seu protagonismo reconhecido em um processo histórico co-produzido.

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Publicado
2024-11-20
Seção
Dossiê: Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia