A cor de Amanda: identificações familiares, mestiçagem e classificações raciais brasileiras

Lia Vainer Schucman; Felipe Luis Fachim

doi:10.15210/interfaces.v16i3.10001

Lia Vainer Schucman Pesquisadora associada do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, SC
Felipe Luis Fachim Mestrando no programa de Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

DOI: https://doi.org/10.15210/interfaces.v16i3.10001

Palavras-chave: Mestiçagem, Famílias inter-raciais, Classificações raciais

Resumo

Este artigo parte de uma pesquisa maior sobre famílias inter-raciais tem como propósito compreender como os processos de identificações no interior das dinâmicas familiares engendram formas complexas de auto e hétero-classificações raciais. Para esta compreensão foi feita uma revisão teórica do lugar do “mestiço” nas relações raciais brasileiras, bem como as formas de classificações raciais usadas por nossa população. Posteriormente usamos um estudo de caso, de uma das entrevistas feitas com famílias inter-raciais, em que durante o processo da entrevista a autoclassificação da filha “mestiça” modificou-se três vezes, dependendo dos processos relacionais a entrevistada se anunciava como branca, em outros momentos como negra e ao mesmo tempo sabia que socialmente era “lida” como morena demonstrando assim a radicalidade do processo relacional nas classificações raciais. Tudo isso revela a complexidade e a sutileza que a autoclassificação racial enseja e promove na realidade singular do Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lia Vainer Schucman, Pesquisadora associada do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, SC

Possui graduação (2003) e mestrado (2006) em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) (2012) com estágio de doutoramento como Pesquisadora visitante no Center for New Racial Studies Institute for Social, Behavioral and Economic Research (ISBER) da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. Atualmente é bolsista FAPESP e realiza pesquisa de pós doutorado em Psicologia Social pela USP no Projeto de Pesquisa "Famílias Interraciais: estudo psicossocial das hierarquias raciais em dinâmicas familiares". Tem experiência na área de Psicologia e relações raciais. Trabalha como consultora no Instituto Amma Psiqué e Negritude e é Pesquisadora associada do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

Felipe Luis Fachim, Mestrando no programa de Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Mestrando no programa de Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e estudante do curso de psicologia da Universidade de São Paulo - USP, com duas iniciações científicas fomentadas pela Reitoria USP e pela FAPESP, sobre famílias interraciais, tendo ingressado por meio de transferência externa (2013). Licenciado em arte-teatro no Instituto de Artes da UNESP (2009-2012), com iniciação científica fomentada pela FAPESP de título: Psicodrama Pedagógico: fronteiras entre teatro, psicologia e educação. Curso interrompido em psicologia pela PUC - São Paulo (2012). Possui curso técnico em artes dramáticas pelo SENAC. Tem interesse por pesquisar fenômenos relacionados às áreas do teatro, da educação e da psicologia e, atualmente, dedica esforços na pesquisa/intervenção sobre o tema dos direitos humanos, em especial sobre famílias, homoparentalidade, interracialidade, homofobia, racismo e hierarquias raciais. Possui formação em Teatro do Oprimido, ministrou oficinas para pessoas com necessidades especias junto ao grupo de extensão universitária ArtInclusiva. Apresentou trabalhos artísticos, na linguagem teatral, como ator, diretor, encenador, light designer e operador de iluminação e sonoplastia.

Referências

Azevedo, C. M. M. (1987). Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites – século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Ângela E. C. de B. (2003). Educação de Mestiços em Famílias Interraciais (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Educação e Ciências Humanas da Universidade de São Carlos, São Carlos. Recuperado de https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/2521/DissAECB.pdf?sequence=1&isAllowed=y.

Bastide, R. (1955). Introdução. ln: ; FERNANDES, Florestan. Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo: ensaio sociológico sobre as origens, as manifestações e os efeitos do preconceito de cor no município de São Paulo. São Paulo: Anhembi.

D’adesky, J. (2001). Pluralismo étnico e multi-culturalismo: racismo e anti-racismo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas.

Fernandes, F. (1955). Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo: ensaio sociológico sobre as origens, as manifestações e os efeitos do preconceito de cor no município de São Paulo. São Paulo: Anhembi.

___________. (1978). A integração do negro na sociedade de classes (Vol. 1). São Paulo: Ática.

___________. (1978). A integração do negro na sociedade de classes (Vol. 2). São Paulo: Ática.

Freyre, G. (1936). Casa-Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global.

Hordge-Freeman, E. (2015). The Color of Love: Racial Features, Stigma, and Socialization in Black Brazilian Families. Louann Atkins Temple Women & Culture Series. Austin: University of Texas Press.

Guimarães, A. S. A. (1999). Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo: Fundação de apoio à Universidade de São Paulo; Editora 34.

Grin, M. (2002). Modernidade, identidade e suicídio: o "judeu" Stefan Zweig e o "mulato" Eduardo de Oliveira e Oliveira. Topoi, 3(5), 201-220. Recuperado de http://www.revistatopoi.org/numeros_anteriores/topoi05/topoi5a8.pdf.

Ianni, O. (1988). As Metamorfoses do Escravo: apogeu e crise da escravatura no Brasil Meridional. São Paulo: Hucitec.

Lopes, J. S. (2014). Branco(a)-mestiço(a): problematizações sobre a construção de uma localização racial intermediária. Revista da ABPN, 6(13), 47-72. Recuperado de http://www.abpn.org.br/Revista/index.php/edicoes/article/viewArticle/464.

Mandelbaum, B. P. H. (2008). Psicanálise da família. São Paulo: Casa do Psicólogo.

_________________. (2014). Trabalhos com famílias em Psicologia Social. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Munanga, K. (2008). Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica.

Nogueira, O. (1979). Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais. São Paulo, T. A. Queiroz.

Oliveira e Oliverira, E. D. (1979). O Mulato: um obstáculo epistemológico. Argumento, 1(3), 65-73.

Puget, J.; Berenstein, I. (1993). A psicanálise do Casal. São Paulo: Artes Médicas.

Petruccelli, J. L. (2007). A cor denominada – Estudos sobre a classificação etnicoracial. Rio de Janeiro: DP&A.

Piza, E. & Rosemberg, F. (2003). Cor nos censos brasileiros. In: CARRONE, I. (org.) Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes.

Reis, E. A. (2002). Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco. São Paulo: Altana.

Seck, Nicole (2013) The hypersexualization and undesirability of black/african women” p.90-103 In: Wane, Njoki; JAGIRE, Jennifer; MURAD, Zahra. Ruptures: Anti-colonial & Anti-racist Feminist Theorizing. Toronto: sense publishers.

Schwarcz, L. M. (2013). Nem Preto Nem Branco, Muito Pelo Contrário: cor e raça na sociabilidade brasileira. Coleção Agenda Brasileira. São Paulo: Claro enigma.

Skidmore, T. E. (1976). Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Taylor, C. (1998). A política de reconhecimento. In C. Taylor (Org.), Multiculturalismo: examinando a política de reconhecimento. Lisboa: Instituto Piaget.

Telles, E. (2003). Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro: Relume Dumará.

Wane, Njoki.(2013) Uncovering the Well: Black Feminism in Canada, p. 3-22. In: Wane, Njoki; JAGIRE, Jennifer; MURAD, Zahra. Ruptures: Anti-colonial & Anti-racist Feminist Theorizing. Toronto: sense publishers,