Braconagem : um novo modo de apropriação do lugar?

  • Simon Harel

Resumo

O conceito de braconagem, que tomamos emprestado de Michel de Certeau, nos possibilita identificar as estratégias de resistência ou de sobrevivência empregadas pelo sujeito (tanto individual quanto coletivo) em seu meio. Essas estratégias são variadas em gênero e em número; declinam-se de acordo com os contextos: sobreviver em uma favela no Rio, pensar sob um regime totalitário, traduzir um texto sem a ele submeter-se ou sobreviver a um trauma psicológico. Essas estratégias têm por característica comum serem contra-produtivas aos olhos das autoridades política, econômica e estética. Atividade ao mesmo tempo ilícita e contingente, a braconagem é uma invasão, um transbordamento, uma camuflagem que permite a um sujeito de se imiscuir, sujeitando-se aos perigos, no território do outro (proprietário de terra, território nacional, propriedade intelectual). A noção de braconagem tem o mérito de situar tanto o indivíduo quanto a coletividade o mais próximo possível do seu espaço de ação (texto, corpo, espaço social). Sujeito e meio não são mais independentes: este constitui-se das opressões impostas por aquele. Assim, a prática da escritura como a da vida em sociedade não são mais vistas como naturais; elas procedem de estratégias de resistência dirigidas contra as autoridades locais, quer se trate de instituição literária dominante (língua standard, belo estilo) ou de conformismos sociais (gentileza, boa educação). Mais comumente a braconagem descreve um modo singular de enunciado estético, político ou histórico – muitas vezes dificilmente aprazível – engajado no espaço que é o seu. Referindo-se à questão da “diversidade” cultural, a braconagem permite reavaliar as relações sociopolíticas entre culturas. Longe da harmonia da mestiçagem ou da justaposição do comunitarismo, a braconagem apóia as relações interculturais nos termos camuflagem, mimetismo, tradução ou resistência, bem mais precisos e refinados.Résumé: Le concept de braconnage, que nous empruntons à Michel de Certeau, nous permet d’identifier les stratégies de résistance ou de survie mises en œuvre par le sujet (individuel comme collectif) dans son milieu. Ces stratégies sont variées en genre et en nombre; elles se déclinent selon les contextes: survivre dans une favela à Rio, penser en régime totalitaire, traduire un texte sans s’y soumettre ou survivre à un trauma psychologique. Ces stratégies ont pour caractéristique commune d’être contre-productives aux yeux des autorités politique, économique et esthétique. Activité à la fois illicite et contingente, le braconnage est un empiètement, un débordement, un camouflage qui permet à un sujet de s’immiscer, à ses risques et périls, sur le territoire de l’autre (propriétaire terrien, territoire national, propriété intellectuelle). La notion de braconnage a le mérite de situer l’individu comme la collectivité au plus près de son espace d’activité (texte, corps, espace social). Sujet et milieu ne sont plus indépendants: celui-ci se constitue des contraintes imposées par celui-là. Dès lors, la pratique de l’écriture comme celle de la vie en société ne sont plus envisageables comme allant de soi; elles procèdent de stratégies de résistance dirigées contre les autorités en place, qu’ils s’agissent de l’institution littéraire dominante (langue standard, beau style) ou des conformismes sociaux (politesse, bienséance). Plus généralement, le braconnage décrit un mode singulier d’énonciation esthétique, politique ou historique – souvent difficilement détectable –engagé dans l’espace qui est le sien. Rapporté à la question de la “diversité” culturelle, le braconnage permet de réévaluer les rapports socio-politiques entre cultures. Loin de l’harmonie du métissage ou de la juxtaposition du communautarisme, le braconnage repose les relations interculturelles dans les termes beaucoup plus précis et raffinés du camouflage, du mimétisme, de la traduction ou de la résistance.
Publicado
2015-11-12
Seção
Artigos