Caminhando com e além de Lygia Clark: cortes e proximidades entre arte, pedagogia e clínica

Palavras-chave: Caminhar. Arte. Pedagogia. Clínica. Lygia Clark.

Resumo

Caminhando (1963), proposição pioneira de Lygia Clark, da arte como um ato e não como um objeto, convidando-nos a simplesmente cortar/caminhar ao longo de uma fita de Möbius de papel, ainda propõe uma reviravolta radical no que consideramos arte, subvertendo ou pelo menos suspendendo a separação entre dentro/fora, sujeito/objeto e arte/vida, onde o ato de se fazer é no entre. Ancorada numa leitura tanto atenta quanto errante do Caminhando, este artigo propõe cortes e proximidades entre práticas experimentais da arte, pedagogia e clínica da época e paralelos contemporâneos pelo ato de caminhar investigando seu desejo de escapar o controle disciplinar do corpo dentro das instituições – museu, escola, clínica – e de cortar laços com suas normas. Em meio a esses cortes e proximidades, espero abrir um caminho gerador de afinidades, diferenças e emaranhamentos éticos. Um caminhar que seja ao mesmo tempo recuperação histórica e meditação crítica sobre práxis.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jessica Gogan, Instituto MESA
Jessica GoganDiretora do Instituto MESA (https://institutomesa.org/) e co-editora da Revista MESA.   

Referências

ADAMS, Telmo; MORETTI, Cheron Zanini; STRECK, Danilo R. Pensamento pedagógico em nossa América: uma introdução. In: STRECK, Danilo R (org.). Fontes da pedagogia latino-americana: uma antologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 19-35.
BASBAUM, Ricardo. Within the organic line and after. In: ALBERRO, Alexander; BUCHAMN, Sabeth (orgs.). Art after conceptual art. Vienna/Cambridge, MA/London: General Foundation/The MIT Press, 2006, p. 87-100.
BENITES, Sandra. Mediação Luiz Guilherme Vergara. Tembiapo: Arte e povos de cura. In: GOGAN, Jessica (org.). Eu não sei o que dizer mas desejo profundamente
que você me escute. Niterói: PPGCA-UFF/Instituto MESA, 2024, p. 84-103.
BRANDÃO, Carlos Rodriguez. Andarilhagem. In: STRECK, Danilo; REDE, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (orgs.). Dicionário de Paulo Freire, 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 41-42.
BRETT, Guy. Life strategies: overview and selection Buenos Aires/London/Rio de Janeiro/Santiago de Chile, 1960-1980. In: SCHIMMEL, Paul (org.). Out of actions: between performance and the object, 1949-1979. Los Angeles/London: Los Angeles Museum of Contemporary Art/Thames & Hudson, 1998, p. 196-207.
BUTLER, Cornelia H. Lygia Clark: A space open to time. In: BUTLER, Cornelia H.; ORAMAS, Luis Pérez (orgs.). Lygia Clark: the abandonment of art, 1948-1988. New York: MoMA, 2014, p. 12-29.
CABAÑAS, Kaira M. Immanent Vitalities: Meaning and Materiality in Modern and Contemporary Art. University of California Press, 2021.
CARNEIRO, Beatriz Scigliano. Relâmpagos com claror: Lygia Clark e Hélio Oiticica, vida como arte. São Paulo: Editora Imaginário/Fabesp, 2004.
CAMNITZER, Luiz. Thinking about art thinking. e-flux online journal #65, 2015. Disponível em: https://www.e-flux.com/journal/65/336660/thinking-about-artthinking/. Acesso em: 15 jun. 2024.
CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. Trad. Frederico Bonaldo. São Paulo: G Gili, 2013 (publicado originalmente em espanhol, em 2002).
CLARK, Lygia. Letter to Mário Pedrosa, Paris, June 2, 1972. Trad. Steve Berg. In: BUTLER, Cornelia H.; ORAMAS, Luis Pérez (orgs.). Lygia Clark: the abandonment of art, 1948-1988. New York: MoMA, 2014, 236-237.
CLARK, Lygia. Lygia Clark. Retrospective. Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 1998. Disponível em: https://portal.lygiaclark.org.br/acervo/1596/lygia-clarkretrospective Acesso em: 17 jun. 2024.
CLARK, Lygia. Encontro de Lygia Clark com psicoterapeutas: Clínica “Canto da Gávea”, Rio de Janeiro, 1982. In: ROLNIK (org.). Lygia Clark da obra ao acontecimento. Somos o molde. A você cabe o sopro. Nantes/São Paulo: Musée des beaux arts de Nantes/Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2005. p.59.
CLARK, Lygia. Lygia Clark. Textos de Ferreira Gullar, Mário Pedrosa, Lygia Clark. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. Disponível: http://portal.lygiaclark.org.br/acervo/1550/lygia-clark-livro-funarte. Acesso em: 9 jun. 2024 .
CLARK, Lygia. Conferência pronunciada na Escola Nacional de Arquitetura em Belo Horizonte, 1956. Disponível em: http://portal.lygiaclark.org.br/acervo/61699/conferencia-pronunciada-na-escola-nacional-de-arquitetura-embelo-horizonte-diario-4 Acesso em: 17 mar. 2024.
DEZEUZE, Anna. How to live precariously: Lygia Clark’s Caminhando and Tropicalism in 1960s Brazil. Women & Performance: a Journal of Feminist Theory, v. 13, n. 2, p. 226-247, 2013.
ESCÓSSIA, Liliana da; KASTRUP, Virgínia; PASSOS, Eduardo (orgs.). Pistas do método da cartografia. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.
FABIÃO, Eleonora. The making of a body: Lygia Clark’s anthropophagic slobber. In: BUTLER, Cornelia H.; ORAMAS, Luis Pérez (orgs.). Lygia Clark: the abandonment of art, 1948-1988. New York: MoMA, 2014, p. 294-299.
FABIÃO, Eleonora e LEPECKI, André. Ações Eleonora Fabião. Tamanduá Arte: Rio de Janeiro, 2015.
FERREIRA DA SILVA, Denise. Sobre diferença sem separabilidade. In: REBOUÇAS, Julia; VOLZ, Jochen (orgs.). Incerteza viva: 32a Bienal de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2016, p. 57-65.
FERREIRA, Gina (org.). Lygia Clark: Memórias do corpo: Glossário de casos clínicos. Manuscrito inédito,1996.
FIGUEIREDO, Luciano e SUZUKI, Jr., Matinas. Entrevista com Lygia Clark. PERLINGEIRO, Max (org) Lygia Clark: 100 Anos. Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 2021, 63–81.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra: 1994 [1970].
HANH, Thich Nhat. How to walk. Berkeley CA/Parallax Press, 2015.
HEMMENS, Alistar e ZACARIAS, Gabriel orgs. The Situationist International: A Critical Handbook, London: Pluto Press, 2020.
KAMENSZAIN, Tâmara. Bordado e costura do texto. In: Histórias de amor y otros ensayos sobre poesía. Trad. Clarisse Lyra. Buenos Aires: Paidós, 2000, 1-6.
Disponível em: https://dtllc.fflch.usp.br/sites/dtllc.fflch.usp.br/files/Kamenszain_Bordado%20e%20costura%20do%20texto.pdf Acesso em: 11 mar. 2024.
KELLEY, Jeff. Childsplay: The Art of Allan Kaprow. Los Angeles: University of California Press, 2004.
KLEE, Paul. Pedagogical sketchbook. New York/Washington: Praeger Publishers, 1972 (primeira edição em inglês em 1953 e em alemão em 1925).
INGOLD, Tim. Lines: a brief history. London/New York: Routledge 2007.
LAVERY, Carl. Rethinking the dérive: Drifting and theatricality in theatre and
performance studies. Performance Research, v. 23, issue 7, “On Drifting”, 2018,
1-15. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/13528165.2018.1557011. Acesso em: 9 jun. 2024 .
LEPECKI, André. Decolonizing the curatorial. Theater, 47, n. 1, p. 100-115, 2017.
LUZ, Celine. Lygia Clark na Sorbonne: Corpo-à-corpo no desbloqueio para a vivência. Vidas das artes 1, no. 3 (agosto 1975): 64. Disponível em: http://portal.lygiaclark.org.br/acervo/8853/lygia-clark-na-sorbonne. Acesso em: 10 jun. 2024.
MASSUMI, Brian. Of microperception and micropolitics. Interview with Joel McKim. In: MASSUMI, Brian. Politics of affect. Cambridge, UK/Malden, MA: Polity Press, 2015, p. 47-82.
MELITOPOULOS, Angela. Ways of meaning. Phd Visual Cultures, Goldsmith College London, 2016.
MIGUEL, Marlon. Fernand Deligny e as ecologias do humano. Rio de Janeiro: UFRJ, 2024.
MIGUEL, Marlon (org.). Camering: Fernand Deligny on cinema and the image. Leiden: Leiden University Press, 2022.
MIZOGUCHI, Danichi Hausen; PASSOS, Eduardo. Transversais da subjetividade: arte, clínica e política. Rio de Janeiro: UFRJ, 2021.
MOMBAÇA, Jota. A plantação cognitiva. In: CARNEIRO, Amanda (org.). Arte e descolonização. São Paulo/London: Museu de Arte de São Paulo (Masp)/Afterall,
2020, 2-11.
Publicado
2024-06-29
Como Citar
Gogan, J. (2024). Caminhando com e além de Lygia Clark: cortes e proximidades entre arte, pedagogia e clínica. Paralelo 31, 1(22), 194. https://doi.org/10.15210/p31.v1i22.28955
Seção
ARTIGOS Arte e Psicologia Social: Métodos inventivos, pesquisas híbridas e...