Raça e Gênero: contribuições para pesquisas nas ciências sociais e jurídicas

  • Gislene Aparecida dos Santos Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades; Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos da Faculdade de Direito e no Programa de Pós-graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo, SP, Brasil.
Palavras-chave: Raça, Gênero, Pesquisas, Multidimensões, Interseccionalidade, Interdisciplinaridade, Ciências humanas.

Resumo

Partindo de uma amostra 39 casos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo referentes à  discriminação por raça e cor praticadas por mulheres, esse artigo visa analisar elementos relevantes para a realização de pesquisas na área das ciências humanas e sociais cujo foco seja o de discutir as relações raciais. Os casos foram retirados da base de dados do GEPPIS, construída entre 2012-2014. Os dados informam que, quando se trata de ofensas racistas, mulheres da mesma classe social e faixa etária discriminam outras mulheres. Também foi possível observar que mulheres pardas discriminam mulheres negras. As discriminações objetivavam estabelecer uma diferenciação e uma hierarquia onde outros marcadores sociais (classe, idade, gênero) apontavam para a igualdade. Esses achados apontam para a importância de se considerar múltiplas formas de se mensurar e entender raça levando em conta cor da pele, gênero, classe, entre outros aspectos. Também revela a relevância de se considerar questões epistemológicas, horizontes de interpretação e lócus de enunciação para que se tenha uma compreensão aprofundada dos fenômenos complexos associados ao tema.

Biografia do Autor

Gislene Aparecida dos Santos, Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades; Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos da Faculdade de Direito e no Programa de Pós-graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo, SP, Brasil.
Livre docente pela Universidade de São Paulo. Possui mestrado em  Filosofia (USP), especialização em Epistemologia da Psicologia e da  Psicanálise (UNICAMP), Doutorado em Psicologia (USP), pós-doutorado pelo  Kings College London (área de Estudos Portugueses e Brasileiros) e York  University (Estudos sobre Brasil-Canadá). É professora da Universidade  de São Paulo lecionando no curso de graduação em Gestão de Políticas  Públicas na Escola de Artes, Ciências e Humanidades,  no Programa de  Pós-graduação em Direitos Humanos da Faculdade de Direito e no Programa  de Pós-graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da  Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Em suas publicações,  orientações acadêmicas,  projetos de pesquisa e extensão focaliza  discussões sobre ética e direitos humanos, estudos críticos do direito,  estudos pós-coloniais, fundamentos teóricos do multiculturalismo e das  políticas de reconhecimento, inclusão, discriminação e racismo.

Referências

ALCOFF, L. Uma epistemologia para a próxima revolução. Revista Sociedade e Estado, 31, 2016. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100007

ALCOFF, L. Visible identities. Race, gender and self. New York: Oxford University Press, 2006.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Censo do Poder Judiciário. VIDE. Valores iniciais e dados estatísticos. Conselho Nacional de Justiça. Brasília: CNJ, 2014.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago, La hybris del punto cero : ciencia, raza e ilustración en la Nueva Granada (1750-1816), 1a ed. -- Bogotá : Editorial Pontificia Universidad Javeriana, 2005.

COLLINS, P. H. The Social Construction of Black Feminist Thought. Signs, 14, 745–773, 1989. https://doi.org/10.2307/3174683

COSTA, S. A mestiçagem e seus contrários: etnicidade e nacionalidade no Brasil contemporâneo. Tempo Social; Revista de Sociologia, 13, 143–158, 2001. Retrieved from http://www.scielo.br/pdf/ts/v13n1/v13n1a10.pdf

CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialista em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Estudos feministas. (vol. 171), 2002. Retrieved from http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11636.pdf

CRENSHAW, K. (2011). Article Twenty Years of Critical Race Theory: Looking Back To Move Forward. Connecticut Law Review. (vol. 43). Retrieved from http://shain003.grads.digitalodu.com/blog/wp-content/uploads/2014/09/Twenty-Years-of-Critical-Race-Theory-Looking-Back-to-Move-Forward.pdf

DA COSTA, A. E. (2016). Confounding Anti-racism: Mixture, Racial Democracy, and Post-racial Politics in Brazil. Critical Sociology, 42(4–5), 495–513. https://doi.org/10.1177/0896920513508663

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016

DEEKE, L. P., BOING, A. F., OLIVEIRA, W. F. de, & COELHO, E. B. S. A dinâmica da violência doméstica: uma análise a partir dos discursos da mulher agredida e de seu parceiro. Saúde e Sociedade, 18(2), 248–258, 2009. https://doi.org/10.1590/S0104-12902009000200008

FEAGIN, J., & ELIAS, S. Rethinking racial formation theory: a systemic racism critique. Ethnic and Racial Studies, 36(6), 931–960, 2013. https://doi.org/10.1080/01419870.2012.669839

HONNETH, A. Luta por reconhecimento. São Paulo: Editora 34, 2003.

MATOS, Camila Tavares de Moura Brasil. A percepção da injúria racial e racismo entre os operadores do Direito. 200 f. Dissertação (Mestrado em Direitos Humanos) - Programa de Pós Graduação em Direitos Humanos, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

QUIJANO, A Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina. Estudos Avançados, 19(55), 9–31, 2005. https://doi.org/10.1590/S0103-40142005000300002

OMI, Michael & WINANT, Howard Racial formation in the United States. 3a ed. New YouK: Routledge, 2015

SAILLANT, F. Recognition and Reparations. Interfaces Brasil/Canadá, 16(2), 27–53, 2016 https://doi.org/10.15210/Interfaces.v16I2.7508

SANTOS, G. A. dos. Nem crime, nem castigo: o racismo na percepção do judiciário e das vítimas de atos de discriminação. Revista Do Instituto de Estudos Brasileiros, 2015 https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i62p184-207

SANTOS, G. A. dos. La Fluidez de la raza. Revista Todavia. Pensamiento y Cultura En América Latina, 51–57, 2018. Retrieved from https://issuu.com/fundacionosde/docs/todavia39_issuu/52

SANTOS, G. A. dos, NOGUTI, H. H., & MATOS, C. T. M. B. Racismo ou não? A percepção de estudiosos do direito sobre casos com conteúdos racistas. Revista de Estudos Empíricos Em Direito, 1(2), 2014. https://doi.org/10.19092/reed.v1i2.35

SAPERSTEIN, A., KIZER, J. M., & PENNER, A. M. Making the Most of Multiple Measures. American Behavioral Scientist, 60(4), 519–537, 2016. https://doi.org/10.1177/0002764215613399

SAPERSTEIN, A., & PENNER, A. M. Racial Fluidity and Inequality in the United States. American Journal of Sociology, 118(3), 676–727. 2012. https://doi.org/10.1086/667722

SCHUCMAN, L. V., & FACHIM, F. L. A cor de Amanda: identificações familiares, mestiçagem e classificações raciais brasileiras. Interfaces Brasil/Canadá, 16(3), 182–205, 2017. https://doi.org/10.15210/ Interfaces. V.16I3.10001

SCHWARTZMAN, L. F. The Integration of the White into the Community of Color, or How the Europeans Became Brazilian in the Twentieth Century. Transmodernity: Journal of Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World, (Special Issue), 2018. Retrieved from https://escholarship.org/uc/item/1071t043

TELLES, Edward. The Project on Ethnicity and Race in Latin America (PERLA). Pigmentocracies: ethnicity, race and color in Latin America. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2014.

WANE, N. N. Black Canadian feminist thought: perspectives on equity and diversity in the academy. Race Ethnicity and Education, 12(1), 65–77, 2009. https://doi.org/10.1080/13613320802650964

WINANT, H. Race and Race Theory. Annual Review of Sociology, 26(1), 169–185, 2000. https://doi.org/10.1146/annurev.soc.26.1.169

Publicado
2018-12-31
Seção
Estudos pós-coloniais e interseccionais. Abordagens e desafios multidimensionais para mulheres negras nas Américas