A língua inglesa no Ciência sem Fronteiras: paradoxos na política de internacionalização

  • Rovênia Amorim Borges Universidade de Brasília (UnB)
  • Renísia Cristina Garcia-Filice Universidade de Brasília (UnB)
Palavras-chave: Ciência sem Fronteiras. Língua inglesa. Políticas Educacionais. Educação superior. Desigualdade.

Resumo

O Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) marca o impulso desenvolvimentista do Estado brasileiro na busca por maior inserção na economia do conhecimento do século XXI. Porém, a mais recente onda da internacionalização da educação superior caracteriza-se pelo aumento do fluxo migratório de estudantes e pesquisadores em direção às universidades de língua inglesa. As instituições de ensino e pesquisa dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá responderam por quase 50% das bolsas implementadas pelo CsF. Porém, a hegemonia dos países anglófonos no programa de intercâmbio evidenciou paradoxos nas políticas estratégicas do Brasil para integrar o mais recente fenômeno da internacionalização universitária. A partir dessa problemática, que contribui para a exclusão de talentos frente à hegemonia da língua inglesa na nova dinâmica do capitalismo global, este artigo apresenta dados sobre as habilidades no idioma inglês de estudantes enviados, entre 2012 e 2015, para intercâmbio nos Estados Unidos, país que mais recebeu bolsistas do CsF. A metodologia consistiu na análise estatística, via Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), de cruzamento de dados obtidos a partir do envio de questionário virtual. Os resultados da pesquisa, com base em amostra de 1.283 participantes, considerando as variáveis de gênero, raça e classe, indicam que o Brasil precisa melhorar a qualidade do ensino de língua estrangeira nas escolas de educação básica como política estratégica para reduzir as históricas desigualdades sociais, raciais e econômicas que impedem oportunidades justas e igualitárias na internacionalização da educação superior.

Biografia do Autor

Rovênia Amorim Borges, Universidade de Brasília (UnB)
Jornalista do  Ministério da Educação (MEC), Brasília, Brasil. Mestre em Educação na área de Gestão de Políticas e Sistemas Educacionais pela Universidade de Brasília (UnB), Distrito Federal, Brasil. Pesquisadora desde 2014 do grupo de pesquisa “Programa Ciência sem Fronteiras: uma análise da parceria entre Brasil e Canadá na internacionalização da educação superior”, da Universidade Católica de Brasília (UCB), Distrito Federal, Brasília.
Renísia Cristina Garcia-Filice, Universidade de Brasília (UnB)
Atua no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil. Diretora Acadêmica da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN). Coordenadora do Grupo de estudos e pesquisas em Políticas Públicas, História, Educação as Relações Raciais e Gênero (Geppherg) e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), ambos da UnB. 

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Publicado
2016-06-18
Seção
Dossier Internacionalização da Educação Superior: Agendas, parcerias e conhecimentos