VOZES, CONCRETO E MEMÓRIAS: A ETNOGRAFIA NO EXTINTO TERREIRO DA GOMEIA (DUQUE DE CAXIAS/RJ)

  • Rodrigo Pereira Museu Nacional da Quinta da Boa Vista - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

A partir da elaboração da pesquisa de Tese de Doutorado em Arqueologia, fortemente marcada pela interseção entre a Etnoarqueologia, a História Oral e a Antropologia, o artigo explanará e debaterá os resultados do trabalho de campo realizado junto a afro-religiosos de um extinto terreiro de candomblé que situava-se em Duque de Caxias (RJ), o Terreiro da Gomeia. As tensões acerca da memória do dirigente falecido, Joãozinho da Gomeia ou Tata Londirá, colocaram à pesquisa articulações da ordem relativa a uma busca pelo “posicionamento” do pesquisador frente as diversas reminiscências sobre o religioso, ao mesmo tempo em que fazia-se necessário analisar os discursos e eventos rememorados, tendo em vista o conflito de lembranças recolhidas sobre o local. Em especial, versaremos sobre os eventos de fechamento e destruição do terreiro e como a Arqueologia foi fundamental para a elucidação das diversas “vozes” sobre o significado do extinto terreiro e do que denominamos de Processo de Arruinamento do local. 

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Biografia do Autor

Rodrigo Pereira, Museu Nacional da Quinta da Boa Vista - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Bacharel e Licenciado Pleno em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Mestre em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Arqueologia (Museu Nacional/UFRJ). Doutorando em Arqueologia (Museu Nacional/UFRJ) desde 2015. Pesquisador de religiões e religiosidades, em especial das religiões afro-brasileiras. Em Antropologia pesquisa o candomblé debatendo micro política em terreiros, eventos de sucessão e temas relacionados à liminaridade. Quanto a arqueologia pesquisa elementos da cultura material e espaços edificados, rituais e profanos em casas de candomblé, bem como a formação e expansão dessa religião no estado do Rio de Janeiro. Possui ainda experiência na pesquisa de elementos ligados a etnicidade, rituais de passagem, história da imigração pomerana e alemã para o estado do Espírito Santo e historiografia do luteranismo no Brasil e Espírito Santo. Coordenou projetos, tanto em Antropologia como em Arqueologia, em órgãos como: no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Secretaria de Obras do Estado do Rio de Janeiro (SEOBRAS), entre outros. Atualmente trabalha como arqueólogo e antropólogo em consultorias e projetos.

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Publicado
2018-08-31