Trabalho precarizado no Brasil pós-2016: diagnóstico e alternativas

Resumo

Há um patente processo de precarização do trabalho formal em curso no Brasil. Esse processo é resultado de um conjunto perverso de práticas orientadas à alcançar os anseios das elites político-econômicas do capitalismo global através do neoliberalismo. Nossa análise neste texto, de característica estrutural, lança luz à interação entre as dinâmicas macroestruturais do capitalismo global e a relação “capital x trabalho” no Brasil contemporâneo. Nosso objetivo é compreender as dinâmicas macroestruturais do sistema capitalista, analisando os acontecimentos políticos, suas consequências e alternativas no que toca a relação “capital x trabalho” no país. Para alcançar este objetivo realizamos pesquisa bibliográfica na literatura especializada, recorrendo também à pesquisa documental; trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa. Argumentamos que há um aprofundamento da internacionalização da economia brasileira imediatamente depois do impeachment da presidenta Dilma, em 2016, protagonizado pelo Governo Temer. Essa internacionalização se dá, pelo menos, através da retomada das privatizações no país e do corte de direitos trabalhistas e sociais. O desmonte da Petrobras, a Lei da Terceirização, a Reforma Trabalhista e a “PEC do Fim do Mundo” são táticas acionadas e essencialmente necessárias para o atingimento dos objetivos do capitalismo global com legitimação do Estado – através de ações do governo atual. O associativismo, mesmo com seus limites, merece atenção como uma alternativa à precarização do trabalho formal. Isso porque (i) proporciona uma outra subjetividade aos trabalhadores e (ii) se pauta em relações de trabalho dignas e sem exploração, como meio; e se trata de (iii) um projeto de superação do capitalismo, como fim.

Biografia do Autor

Gustavo Moura de Oliveira, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Mestre em Ciências Sociais pelo PPGCS-UNISINOS.
Samuel Nogueira Costa, Universidade de Brasília (UnB)
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPGSOL) da Universidade de Brasília (UnB). Mestre em Sociologia pelo PPGSOL-UnB.

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Publicado
2018-08-31