MÉDICOS E “NÃO-MÉDICOS” NA UNIDADE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA “MORRO DA ILHA”

  • Débora Previatti Doutoranda em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com estágio de doutoramento pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris.

Resumo

Esta pesquisa teve como objetivo analisar as tramas sociais interprofissionais que caracterizam uma Unidade de Atenção Primária (UAP). Para isso, foi realizada uma etnografia da UAP “Morro da Ilha”, de renome nacional, situada em Florianópolis-SC, pelo período de dois anos. O material etnográfico incluiu, além da observação participante, entrevistas semi-estruturadas e análise de documentos oficiais governamentais, manuais e tratados profissionais. O estudo permitiu identificar que, na medida em que uma série de novos grupos profissionais passou a integrar a Atenção Primária, uma cascata de movimentos, enquadramentos e posicionamentos específicos foi ativada por parte desses grupos, mas também por parte daqueles que já estavam bem estabelecidos. Nesse sentido, elementos como a fofoca, quadros de greve, uso e disposição dos espaços físicos, assim como práticas de escrita mostraram-se elementos eficazes para desvelar a demarcação de limites profissionais e a presença de disputas e hierarquias simbólicas. Nesse contexto, um perfil específico de trabalhador flexível é valorizado, com habilidades como a agilidade, a flexibilidade e a proatividade, com vistas a uma alta produtividade dos profissionais e uma maior “resolutividade” dos serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde. A atuação dos profissionais em tal modelo contribui para a reprodução de hierarquias nesse jogo social.

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Referências

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Publicado
2019-03-27