Ativismo de esquerda nas redes sociais: contradições das novas trincheiras da luta política

Resumo

Esse texto é resultado de pesquisa teórico-empírica, feita ao longo de quatro anos, sobre os novos repertórios do ativismo político de esquerda nas redes sociais. A pergunta que move a análise é: a resistência deste campo político, organizada nas mídias virtuais, tem sido eficiente para difundir visões de mundo progressistas e produzir uma reforma intelectual e moral num nível universal? Para a análise, partimos da perspectiva dialética que aponta para o movimento contraditório entre as formas de resistência à ordem capitalista por meio das novas tecnologias de comunicação versus a função dessas tecnologias no processo de ampliação constante do capital. Por meio da filosofia da práxis de Gramsci, concluímos que as lutas políticas à esquerda podem ser reprodutoras ou transformadoras da ordem, mas são sempre combates que fazem avançar a história.  

Biografia do Autor

Vanessa Tavares Dias, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)
Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). Professora Adjunta da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)

Referências

"[nas redes sociais] indivíduos constroem redes de contatos, de amigos e de relações, participam de clubes, instauram grupos de trabalho, trocam mensagens, compartilham suas paixões, tagarelam, negociam coletivamente suas reputações, gerenciam conhecimentos, realizam encontros amorosos ou profissionais, desenvolvem operações de marketing e entregam-se a todas as espécies de jogos coletivos" (LÉVY, Pierre. Cibercultura. Lisboa: Ed. Instituto Piaget, 1997).

"A incitação ao racismo, ao genocídio e a formas violentas de intersubjetividade é de muitos modos estimulada, ao lado da negação concreta do outro pela introjeção dos valores do individualismo agressivo, também pela velocidade de transmissão da rede e pelas possibilidades de anonimato dos interlocutores" (SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho. Uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis: Ed. Vozes, 2013).

"(...) transcorre sempre um longo período antes que os indivíduos possam se unir, sem contar que, para essa união – quando não for meramente local -, os meios necessários, as grandes cidades industriais e as comunicações acessíveis e rápidas, têm de primeiro ser produzidas pela grande indústria; e, por isso, todo poder organizado em face desses indivíduos que vivem isolados e em relações que diariamente reproduzem o isolamento só pode ser vencido após longas lutas" (MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010).

“Para a filosofia da práxis – afirma -, o ser não pode ser separado do pensar, o homem da natureza, a atividade da matéria, o sujeito do objeto; se se faz esta separação, cai-se numa das muitas formas de religião ou na abstração sem sentido” (GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Vol. 1, Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2004).

"Admite-se igualmente que as relações de produção ‘imprimem’ às forças produtivas uma certa ‘estrutura’, mas esta ‘estrutura’ não é senão uma ‘forma’, uma ‘marca’, um rasto deixado atrás de si’ pelas relações de produção, de modo que o desenvolvimento das forças produtivas não é por isso afectado [sic] na sua ‘essência’" (MAGALINE, A. D. Luta de classes e desvalorização do capital. Lisboa: Moraes Editores, 1977).

"É assim que a maquinaria informática possui uma peculiaridade essencial quando cotejada com as maquinarias anteriores: a transformação da cognição em insumo do processo produtivo. Desde tal mudança, a reificação do trabalhador deixa de ser expressa pelo intento de convertê-lo em “homem-máquina”, tal como no taylorismo-fordismo e se configura como uma tentativa de se humanizar a máquina desde o projeto de uma inteligência artificial que deve ser constantemente alimentada de dados por um “trabalho informacional” (WOLFF, Simone. O “trabalho informacional” e a reificação da informação sob os novos paradigmas organizacionais, in: ANTUNES, R.; BRAGA, R. (orgs.). Infoproletários. Degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo Editorial, 2009).

“Lia-se o jornal nas pensões dos artífices, e nas reuniões políticas gastava-se um tempo imenso com a leitura de discursos e a aprovação de longas séries de resoluções” (THOMPSON, Edward Palmer. A Formação da Classe Operária Inglesa. Vol. III. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2002).

"Nesse sentido, percebe-se claramente a importância da imprensa operária como “material ideológico”, nos termos de Gramsci, ou seja, como verdadeira correia de transmissão das ideologias internacionalistas do movimento operário por meio de intensa circulação e intercâmbio entre as lideranças anarquistas da Europa, América Latina e Brasil. Tal processo dava-se por meio da troca regular de periódicos, correspondência internacional, bibliotecas e notas bibliográficas, traduções de artigos e obras, viagens de lideranças etc". (FOOT HARDMAN, Francisco. Nem Pátria, Nem Patrão. São Paulo: Ed. Unesp, 2002).

Publicado
2020-08-09