Interseccionalidade ou consubstancialidade: faz diferença para pensar a diferença?

Resumo

O artigo propõe um estudo teórico-exploratório de duas perspectivas analíticas diferentes para a compreensão de gênero, raça e classe, além de outros marcadores sociais, como idade, sexualidade, nacionalidade, etnia, religião e deficiência: a interseccionalidade e a consubstancialidade. Busca-se desenvolver um exercício reflexivo sobre elas, apresentando seus fundamentos teóricos, assim como articulando possíveis pontos de encontro e divergência. Para tanto, parte-se da interseccionalidade, a perspectiva mais popularizada nos estudos sobre gênero atualmente, cuja origem remonta ao feminismo negro estadunidense, para seguir para a apresentação daquela menos destacada no debate, a consubstancialidade, ligada sobretudo ao feminismo materialista francês. A análise das divergências entre as duas perspectivas é organizada em quatro itens: primeiro, o uso de categorias descritivas de identidade ou relações sociais; segundo, a mobilização de metáforas de entrecruzamento de eixos ou de espiral; terceiro, as diferentes concepções acerca da relacionalidade; quarto, o favorecimento de determinadas dimensões de gênero, raça e classe. Sem argumentar pela primazia de uma perspectiva sobre a outra, objetiva-se contribuir para complexificar o debate sobre os marcadores sociais da diferença, acrescentando pluralidade às discussões teórico-analíticas. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Amanda Kovalczuk de Oliveira Garcia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestra em Sociologia do Direito pelo International Institute for the Sociology of Law, Espanha. Bacharelanda em Ciências Sociais e bacharela em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente integra o grupo de pesquisa Sociedade e Políticas Públicas (UFRGS) e o Grupo de Estudos em Teoria Social e Subjetividade (GETSS/UFPE).

Referências

ABREU, Maira. Feminismo materialista na França: sócio-história de uma reflexão. Revista Estudos Feministas, v. 26, n. 3, p. 1-17, 2018. http://dx.doi.org/10.1590/1806-9584-2018v26n354237

ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La Frontera: the new Mestiza. San Francisco: Aunt Lute Books, 1987.

BAIRROS, Luiza. Nossos Feminismos Revisitados. Revista Estudos Feministas, vol. 03, n. 2, p. 458–463, 1995. https://doi.org/10.1590/%25x

BLASS, Leia; HIRATA, Helena; SOARES, Vera. Prefácio à 2ª edição. In: SOUZA LOBO, Elizabeth. A classe operária tem dois sexos: Trabalho, dominação e resistência. 3ª Ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, Editora Expressão Popular, 2021.

BOHRER, Ashley J. Marxism and Intersectionality. Race, gender, class and sexuality under contemporary capitalism. Bielefeld, Alemanha: Transcript, 2019.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados, v. 17, n. 49, p. 117–132, 2003. https://doi.org/10.1590/S0103-40142003000300008

CHOO, Hae Yeon; FERREE, Myra Marx. Practicing Intersectionality in Sociological Research: A Critical Analysis of Inclusions, Interactions, and Institutions in the Study of Inequalities. Sociological Theory, v. 28, n. 02, p. 129–149, 2010. https://doi.org/10.1111/j.1467-9558.2010.01370.x

COLLINS, Patricia Hill. Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness, and the Politics of Empowerment. New York, London: Routledge, 2000.

COLLINS, Patricia Hill; CHEPP, Valerie. Intersectionality. In: WAYLEN, Georgina; CELIS, Karen; KANTOLA, Johanna; WELDON, Laurel (Org.). The Oxford Handbook of Gender and Politics. Oxford, New York: Oxford University Press, 2013.

COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Intersecionality. Cambridge: Polity Press, 2016.

COLLINS, Patricia Hill. Intersectionality as Critical Social Theory. Durham: Duke University Press, 2019.

COMBAHEE RIVER COLLECTIVE. The Combahee River Collective Statement. In: KEEANGA-YAMAHTTA, Taylor. How We Get Free: black feminism and the Combahee River Collective. Chicago, Illinois: Haymarket Books, 2017.

CRENSHAW, Kimberle. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. The University of Chicago Legal Forum, vol. 01, n. 08, p. 139–168, 1989. https://chicagounbound.uchicago.edu/uclf/vol1989/iss1/8/

CRENSHAW, Kimberle. Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence against Women of Color. Stanford Law Review, vol. 43, n. 06, p. 1241–1299, 1991. https://doi.org/10.2307/1229039

CRENSHAW, Kimberle. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, vol. 10, n. 01, p. 171–188, 2002. https://doi.org/10.1590/s0104-026x2002000100011

CUSICANQUI, Silvia Rivera. Un mundo ch’ixi es posible: ensayos desde un presente en crisis. Buenos Aires: Tinta Limón, 2018.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Editora Boitempo, 2016.

DAVIS, Angela. A Democracia da Abolição: para além do império, das prisões e da tortura. São Paulo: Editora Boitempo, 2019.

DAVIS, Kathy. Intersectionality as buzzword: A sociology of science perspective on what makes a feminist theory successful. Feminist Theory, vol. 09, n. 01, p. 67–85, 2008. https://doi.org/10.1177/1464700108086364

DELPHY, Christine. Close to home: a materialist analysis of women's oppression. London: Hutchinson, 1984.

DÉPELTEAU, François. What is the direction of the “Relational Turn”? In: DÉPELTEAU, François; POWELL, Christopher. Conceptualizing Relational Sociology. Ontological and theoretical issues. New York: Palgrave MacMillan, 2013.

DEVREUX, Anne-Marie. A teoria das relações sociais de sexo: um quadro de análise sobre a dominação masculina. Sociedade e Estado, vol. 20, n. 03, p. 561-584, 2005. https://doi.org/10.1590/S0102-69922005000300004

EMIRBEYER, Mustafa. Manifesto for a Relational Sociology. American Journal of Sociology, vol. 103, n. 2, p. 281-317, 1997. http://www.jstor.org/stable/10.1086/231209?origin=JSTOR-pdf.

GONZALEZ, Lelia. Por um feminismo afro-latino-americano. In: RIOS, Flavia; LIMA, Marcia (Org.). Lelia Gonzalez. Por um feminismo afro-latino-americano. São Paulo: Editora Schwarcz, 2020a.

GONZALEZ, Lelia. A mulher negra no Brasil. In: RIOS, Flavia; LIMA, Marcia (Org.). Lelia Gonzalez. Por um feminismo afro-latino-americano. São Paulo: Editora Schwarcz, 2020b.

GRECCO, Fabiana Sanches. ANÁLISES INTERSECCIONAIS E CONSUBSTANCIAIS SOBRE O TRABALHO NO BRASIL E NA FRANÇA. Caderno CRH, v. 30, n. 80, p. 389–392, 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792017000200011

HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, n. 26, vol. 1, p. 61–73, 2014. https://doi.org/10.1590/S0103-20702014000100005

HIRATA, Helena; KERGOAT, Danièle. A classe operária tem dois sexos. Revista Estudos Feministas, v. 01, p. 93–100, 1994. https://doi.org/10.1590/%25x

hooks, bell. Feminist theory from margin to center. Boston: South End Press, 1984.

KERGOAT, Danièle. De la relación social de sexo al sujeto sexuado. Revista Mexicana de Sociología, vol. 65, n. 04, p. 841–861, 2003. https://doi.org/10.22201/iis.01882503p.2003.004.5972

KERGOAT, Danièle. Dinâmica e consubstancialidade das relações sociais. Novos Estudos CEBRAP, vol. 86, p. 93–103, 2010. https://doi.org/10.1590/s0101-33002010000100005

KERGOAT, Danièle. O cuidado e a imbricação das relações sociais. In: ABREU, Alice; HIRATA, Helena; LOMBARDI, Maria Rosa (Org.). Gênero e trabalho no Brasil e na França: perspectivas interseccionais. São Paulo: Editora Boitempo, 2016.

LORDE, Audre. Sou sua irmã: escritos reunidos. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

MACHADO, Bárbara Araújo. Interseccionalidade, consubstancialidade e marxismo: debates teóricos e políticos. In: Colóquio Internacional Marx e o Marxismo, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, 2017. https://www.niepmarx.blog.br/MManteriores/MM2017/anais2017/MC18/mc181.pdf.

MACHADO, Bárbara Araújo. Articulando utopias: algumas possibilidades do encontro entre feminismo negro e o marxismo da reprodução social. Lutas Sociais, v. 22, n. 40, p. 23–35, 2018. https://doi.org/10.23925/ls.v22i40.46647

MCNALLY, David. Intersections and Dialetics: Critical Reconstructions in Social Reproduction Theory. In: BHATTACHARYA, Tithi (Org.). Social Reproduction Theory: Remapping Class, Recentering Oppresion. London: Pluto Press, 2017.

MOTTA, Daniele Cordeiro. Desvendando Heleieth Saffioti. Lutas Sociais, v. 22, n. 40, p. 149–160, 2018. https://doi.org/10.23925/ls.v22i40.46662

SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis: Vozes, 1979.

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, Patriarcado, Violência. 2a Ed. São Paulo: Expressão Popular, Fundação Perseu Abramo, 2015.

SOUZA LOBO, Elizabeth. Desventuras das mulheres em busca de emprego. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, v. 2, n. 1, p. 68–72, 1985. https://doi.org/10.1590/S0102-64451985000200017

SOUZA LOBO, Elizabeth. A classe operária tem dois sexos: Trabalho, dominação e resistência. 3ª Ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, Editora Expressão Popular, 2021.

TRUTH, Soujourner. Ain’t I A Woman. In: PERRY, Imani (Ed.). Narrative of Sojourner Truth. New York: Barnes & Noble Classics, 2005.

Publicado
2025-03-06