ONTOLOGIA, LINGUAGEM E HISTÓRIA EM AGOSTINHO: CONTRADIÇÃO E SEXUALIDADE N’A CIDADE DE DEUS
Resumo
Neste artigo, proponho-me investigar a sexualidade e a contradição a partir da análise do “início” da história n’A cidade de Deus, XIV, de Agostinho, onde a “vontade”, sob a figura privilegiada da “libido”, é disposta como princípio e fundamento da história por meio da elucidação de vários planos de contradições constitutivas da condição humana. Mais precisamente, se o pecado inaugura um regime de existência humana em ruptura com a essência, trata-se da passagem ou queda do ser humano da natureza para uma condição. A passagem de um estado a outro inaugural da história é examinada por Agostinho a partir do confronto mesmo entre natureza e condição ou entre identidade e contradição. No livro XIV, a análise da sexualidade é o expediente privilegiado por Agostinho para confrontar o que a realidade humana é por essência e o que ela é existencialmente, na medida em que a excitação dos órgãos sexuais é o primeiro efeito da ruptura do homem com a natureza, conforme relato bíblico, e é um dado da condição humana universal e incondicionado de contradição manifesta pela libido. Agostinho, desse modo, não pode por óbvio mobilizar nenhum dado histórico sobre a vida dos homens com a natureza íntegra, de modo que seu único recurso é a revelação, já em relação à condição, o autor mobiliza toda sorte de fatos históricos. Por consequente, o recurso à fé como condição de inteligência do histórico ampara-se numa consideração da contradição e do erro não exclusivamente como um problema de predicação, mas como problemas reais e constitutivos da história.(1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
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