CHAMADA PARA A QUINTA EDIÇÃO DA REVISTA PIXO

2018-03-02
Edição temática “ARQUITETURA (É) ÉTICA?,  reflexões sobre o papel do arquiteto em tempo de crise política social” é dirigida pelos professores Fernando Freitas Fuão (UFRGS) e Dirce Eleonora Nigro Solis (UERJ).A “PIXO 5 – revista de arquitetura, cidade e contemporaneidade” traz a chamada para uma reflexão da arquitetura e de seus arquitetos num período de desestabilidade política e social, onde a questão da democracia está novamente em risco, chamando-nos de alguma forma a conclamar a arquitetura viva. A temática “ARQUITETURA (É) ÉTICA?,  reflexões sobre o papel do arquiteto em tempo de crise política social” tem por público alvo professores, pesquisadores, mestrandos, doutorandos, sobretudo os Sindicatos, o  Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), entre outros; como também  a mídia, as revistas e periódicos de arquitetura.Consideramos que a temática possa abranger questões como: formação profissional, reflexões sobre para quem se pesquisa, Extensão, críticas às práticas pedagógicas ultrapassadas, novas práticas pedagógicas dentro da graduação e temas decorrentes como: ocupações, interferências urbanas ou participações performáticas. Relembrando a importância historiográfica dos arquitetos progressistas brasileiros dos anos 60-70, pensamos ainda em direito à moradia, políticas habitacionais, arquiteturas participativas com recicladores, catadores, moradores de rua e novas experiências de escritórios voltados para coletivos e associações. Temos em conta, além da prática arquitetônica construtiva, uma prática performática e participativa do próprio profissional fortemente atrelado a movimentos sociais como MST e MLB, movimentos identitários e de gênero, chamando todos ao momento político.Quando clamamos a ética, devemos atentar que, tal como tradicionalmente nos referimos a ela, a ética é produto de todos os centrismos e hierarquizações logocêntricas que a perspectiva desconstrucionista contemporânea quer criticar. Preferimos, então, falar de ‘domínio ético’, mas não da ética; no sentido de deslocar a perspectiva de nossa análise sobre a arquitetura para um caminho em que possamos ir além de toda estrutura metafísica ou logocêntrica que sempre sustentou o pensamento clássico ocidental hegemônico da formação do próprio arquiteto. Desviamos assim o pensamento sobre a arquitetura para o âmbito do ético, não mais preso à lógica identitária, mas àquela da recepção ao ‘Outro’ como pura alteridade. O ético surgirá, então, na arquitetura como hospitalidade incondicional, domínio do im-possível ou do in-decidível. Ao invés do impasse estagnador, atual, de um “sem saída”, consideramos o domínio aporético como ponto de partida para caminhar adiante carregando nosso legado e na companhia de todos os mestres que enfrentaram essa tempestade que volta a nos assolar, fazendo com que tenhamos que retroagir para nos orientarmos. Um começo, por assim dizer, um deslocamento para fora, para além dos limites do logocentrismo arquitetônico que tem enquadrado e obstaculizado nosso pensamento.Foi ao final dos anos 70  que realmente houve um tremor mais acentuado sobre essa figura arquitetural e demiúrgica logocêntrica do arquiteto, através de proposições de um novo modo de atuar profissionalmente. A perspectiva do pensamento arquitetônico foi então deslocada do logos predominante, elitizado e excludente dos menos privilegiados para uma preocupação mais inclusiva. O que aqui se pretende é também resgatar esses lampejos, nublados pela pós-modernidade e pela chamada globalização, por parte de alguns arquitetos, grupos e corporações que passam a clamar o sentido do direito à moradia como universal, um pensamento re-voltado para as classes menos privilegiadas, tanto como prática discursivo-construtiva quanto como modelo de formação educacional. Essas atitudes são, para nós, um primeiro passo para a desmontagem do que ‘está aí’ e montagem no rastro da ética da alteridade, do ético da hospitalidade, onde o arquiteto já ‘aterrissado’, coabita com o sentido de morar, construir desse ‘outro’.A partir dessas considerações iniciais, podemos afirmar que ninguém se torna arquiteto oficialmente passando por uma formação que vise apenas questões de ordem técnica do conhecimento, como prática de projeto ou teoria arquitetônica, mas a questão ética também se faz necessária em toda sua carreira e prática profissional. Pois, quando se fala no domínio do ético, deve-se tratar, antes de mais nada, de uma ética que aconteça em sua formação dentro da academia. Na realidade, não há uma disciplina intitulada ética que abra espaço em nossa formação para a discussão contemporânea dos deslocamentos ético-políticos imprescindíveis para a consecução da profissão. O que em geral aprendemos sobre ética não é propriamente do domínio ético, mas sim de uma prática comercial mercadológica na que se utiliza apenas o bom senso e que é sustentada na questão demiúrgica da criação. Esses ensinamentos são oferecidos em disciplinas que atendem ainda pelos nomes de: “Ética e Legislação Profissional”, ou “Prática profissional e legislação trabalhista”, situadas normalmente no final do curso, quase como disciplinas terciárias, muitas vezes dentro da grade de disciplinas optativas. Essa disciplinas possuem conteúdos que perambulam mais exatamente pela prática profissional, sempre associada subjetivamente à ideia de escritório comercial, e sua relação com a legislação do trabalho. De ética mesmo resta só a palavra; nela permeia, quase sempre, o discurso da questão da criação do arquiteto demiúrgico.O domínio do ético possibilita pensar na capacitação de arquitetos para trabalharem em prefeituras e em órgãos estaduais e federais, visando o bem público e o bem estar social. Acrescente-se a isso a necessidade de se voltar para questões relacionadas as políticas habitacionais. No entanto, o que temos observado a esse respeito é que nossa participação é quase nula. Nosso território, nosso campo de atuação profissional murchou, e agora nos colocamos, na maioria das vezes, sob a égide, o domínio do arquiteto caixa, da “Maison Dominó Caixa”, da Caixa Econômica Federal, que determina o modo de vida e de moradia das pessoas, sem que tenhamos algum poder sobre isso. Como profissionais, somos partícipes observadores desses modelos disciplinares, domesticadores, que fazem dos seres humanos massa amorfa. Essa tem sido a alienação da arquitetura proporcionada pela de ética em si, pela perda da dimensão da importância da nossa profissão. Como pode uma universidade pública, uma faculdade de arquitetura pública formar arquitetos para servir, sobretudo, às classes dominantes. Que ética está por trás disso tudo? Agora nossos currículos pleiteiam o ingresso de uma disciplina denominada “Arquitetura Social”, mas deveríamos nos perguntar: não seria toda a arquitetura, por natureza, social? O mesmo se passa com outras áreas de saber, tais como a medicina, a psicologia, e mesmo com áreas da medicina social ou da psicologia social. A formação é voltada para a prática do consultório e escritório particular, ou estratégias alternativas de coletivos, ateliers que também não passam de subterfúgios. Os Escritórios Modelos de Arquitetura, que não conseguem abandonar a palavra e o sentido de ‘escritório’ e ‘modelo’, mesmo fazendo arquitetura de caráter social, são exemplos dessa mazela.  A submissão de trabalhos, necessariamente inéditos, deverá ser feita pelo sistema (cadastro em https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/pixo/index), entre os dias 03/03/2018 e 11/05/2018. O autor deverá enviar o arquivo anexado ao sistema sem identificação, após aprovação será solicitada a versão final com a identificação dos autores. A extensão máxima do material enviado poderá ser o seguinte: artigos e ensaios, no mínimo 10 (dez) páginas e no máximo 25 (vinte e cinco) páginas; entrevistas e resenhas, no mínimo 5 (cinco) páginas e no máximo 10 (dez) páginas e; parede branca (ensaios visuais), até 10 (dez) páginas contendo de 5 (cinco) a 10 (dez) imagens e texto com no máximo 500 (quinhentas) palavras.