PRAZO AMPLIADO 37/38 EDIÇÃO: ALTERNATIVAS PARA A CIDADE E O URBANO NO CAPITALOCENO

2025-10-09

Embora o debate entre membros da União Internacional das Ciências Geológicas, em 2024, resultou em rejeitar a oficialização do Antropoceno enquanto unidade cronoestratigráfica, este conceito generalizou-se no século XXI entre os mais diversos campos do conhecimento científico e correntes teórico-metodológicas empenhados em analisar os impactos que as atividades humanas provocam no “sistema Terra”.

Paralelamente, outros conceitos surgiram a fim de complementar ou redirecionar a produção acadêmica, sobretudo a partir de uma abordagem crítica, estabelecendo razões mais específicas ou menos generalizantes para o atual quadro de crise socioambiental, a exemplo do termo “Capitaloceno”, que adquire maior precisão ao apontar o capitalismo como o seu principal responsável e ao considerar os processos que perpetuam as desigualdades socioambientais.

Reconhecendo-se a atualidade e a importância deste debate em suas diversas escalas – mundial, nacional, regional e local –, mas tomando-se a(s) cidade(s) e o urbano como centralidade analítica, é possível identificar um quadro generalizado de crises que dificilmente poderão ser superadas sem a tomada coletiva de consciência e de decisões que descoloniza práticas e discursos referentes à ideia de “natureza”.

A crise socioambiental está instalada no espaço urbano, compreendido enquanto produção social e base material onde podem ser constatados os desafios socioambientais decorrentes do Capitaloceno e, dialeticamente, identificadas as transformações socioestruturais que indicam alternativas à sua superação.

Neste escopo, despontam um conjunto de iniciativas preocupadas com a habitabilidade nas cidades de diferentes portes demográficos e de variados graus de influência na rede urbana a que pertencem. Mas quais seriam as insurgências frente ao Capitaloceno que podem ser capazes de transformar a lógica hegemônica de produção do espaço urbano?

Vislumbra-se, com este dossiê temático, reunir pesquisas que:

  •  analisam ativismos e coletivos que transformam o espaço urbano “de baixo para cima” (bottom-up), a partir de suas práticas ecológicas, feministas, anti-heteronormativas, antirracistas e/ou decoloniais, revelando-se agentes, práticas e proposições que conduzem à materialização de um planejamento alternativo.

Nesta perspectiva de ações que venham a reivindicar, contestar ou apresentar alternativas para as cidades e o urbano no Capitaloceno, incluem-se, ainda:

  • expressões artísticas e literárias que dialogam com a questão socioambiental urbana; 
  • experiências de urbanismo transitório e third places (tiers-lieux);
  • soluções baseadas na natureza (SbN); 
  • processos de participação comunitária; 
  • ações de enfrentamento ao racismo ambiental;
  • demais projetos, ideias, movimentos e materializações coletivas (e “comuns urbanos”).

Neste dossiê, serão bem-vindas diferentes abordagens teórico-metodológicas e temáticas, entre as quais se incluem, sem se restringirem a: estudos de caso; experiências de pesquisa-ação, pesquisa participante ou etnográfica; contribuições teóricas; análises qualiquantitativas e/ou cartográficas; apresentação de projetos ou contra-projetos; a emergência de ativismos urbanos; os comuns urbanos; a pluralidade de experiências, territórios e coletivos artísticos e literários nas cidades; as hortas comunitárias e a agroecologia urbana; os mais diversos movimentos sociais e suas pautas; ações para o aumento das áreas verdes urbanas e mitigação da crise climática atual; ações contra a LGBTfobia, o machismo, a discriminação de gênero e o racismo; ações pela mobilidade limpa, o cicloativismo e as alternativas ao urbanismo rodoviarista; ações e reações aos novos mecanismos de (re)produção do espaço urbano; novas leituras sobre o direito à cidade no século XXI; os saberes ancestrais no enfrentamento das crises urbanas atuais; as diversas formas de habitar a cidade e as lutas por moradia social; leituras decoloniais do espaço urbano; práticas urbanas insurgentes no(s) centro(s) e na(s) periferia(s); cidades e territórios em disputa.

A submissão de trabalhos inéditos deverá ser feita pelo sistema https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/pixo/index, com cadastro prévio como autor, entre 04 de agosto de 2025 a 30 de novembro de 2025. A edição temática 'ALTERNATIVAS PARA A CIDADE', coordenada pelos pesquisadores Gustavo Nagib (UNESP) e Katia Atsumi Nakayama (UFMT), aceitará artigos, ensaios, resenhas, processos e projetos, traduções e ensaios livres ('parede branca').

 

Gustavo Nagib

Geógrafo, Mestre e Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Foi doutorando visitante na Sciences Po Paris, França. Realizou pós-doutorado na Universidade de Lausanne (UNIL), Suíça, e pós-doutorado na Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Presidente Prudente.

guganagib@gmail.com

 

Katia Atsumi Nakayama

Arquiteta e urbanista, Mestra e Doutora em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Realizou pós-doutorado na Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Presidente Prudente. Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

nakayama.katia@gmail.com