UMA RETOMADA NA CIDADE
Territorialização kaingang e disputas urbanas no Morro Santana, Porto Alegre
Resumo
Este trabalho examina o processo de retomada de terra empreendido por indígenas kaingang no Morro Santana, zona leste de Porto Alegre. Por se tratar de uma “retomada na cidade”, o foco está nas relações de sociabilidade construídas neste processo, especialmente com os vizinhos do bairro Jardim Ypu, ora marcadas por momentos de conflito, ora de colaboração. Em contraposição ao projeto empresarial para a área – que visa expandir o modelo de cidade-mercado com duplicação de avenidas, construção de atacados, condomínios de luxo e privatização da natureza –, a retomada permite aos kaingang ressignificar a paisagem do Morro Santana, território ancestral habitado por seus antepassados. O terreno, sem função social por mais de 40 anos, era reivindicado por uma família de banqueiros. A partir dos anos 1960, no local funcionou um empreendimento extrativista mineral, mais tarde condenado por crimes ambientais, que faliu nos anos 1980. Após a hipoteca e aquisição pelo banco, foi construída ali uma casa de campo, hoje em ruínas. É entre esses escombros que os kaingang promovem a retomada, disputando um projeto de futuro para a cidade de Porto Alegre, reflorestando o morro com as fág (araucárias), símbolo de sua territorialidade, e protegendo os goj ror (nascentes), que, durante as enchentes de maio do Rio Grande do Sul, serviram como fonte vital de abastecimento de água para a região, inclusive para os vizinhos.
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