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Bruna dos Santos Leite
Universidade Federal de Pelotas
Palavras-chave:
Foucault, “O Conto da Aia”, corpo, biopolítica, biopoder
Resumo
A existência humana ocorre em um determinado período no tempo, possuindo determinadas características históricas, sociais, culturais, econômicas, políticas, etc, que circunscrevem os corpos dos indivíduos. Ou seja, cada época e sociedade produzem relações específicas entre indivíduos e os seus corpos, assim como determinadas formas de comportamento social desejáveis e aceitáveis (vestir, falar, alimentar-se, por exemplo). E este é um tema recorrente nas obras de Michel Foucault (1926-1984), ao definir o biopoder como o poder que é exercido sobre a vida, efetuando-se nas práticas sociais de dois modos: (i) como disciplina, visando à constituição de “corpos dóceis”, isto é, atuando individualmente sobre cada pessoa; e (ii) como biopolítica, conduzindo o comportamento e ordenando a vida das populações. Com base nesta perspectiva, o presente artigo analisa a obra literária “O conto da aia” (1985), de Margaret Atwood (1939-), identificando de que modo a biopolítica, enquanto dispositivo de poder que atua sobre o comportamento dos indivíduos, se efetiva na sociedade fictícia narrada. O objetivo não é o de realizar uma investigação sobre o discurso literário, mas: (1) aplicar ao cenário da narrativa o modo de análise proposto por Foucault, para (2) verificar as possibilidades e as limitações desse método em um determinado contexto político-social-econômico-histórico, ainda que ficcional. “O conto da aia” foi escolhido porque ele apresenta uma sociedade com lugares sociais definidos pelo corpo e sua “produtividade”, formando castas, elaborando rituais e modos de ser na sociedade, que visa a administração integral do comportamento social. O enredo da obra é complementado por discursivos descontínuos, mostrando as “brechas” e as “falhas” neste sistema de poder, que indicam os pontos de resistência, permitindo que ele possa ser utilizado como um exercício filosófico-reflexivo, que questiona as relações de poder e reflete acerca das práticas de liberdade.