CIÊNCIA E METAFÍSICA NA TEORIA DA MEMÓRIA DE BERGSON

  • Paulo César Rodrigues UNESP-Universidade Estadual Paulista
Palavras-chave: Ciência, experiência, intuição, memória, metafísica.

Resumo

Determinar a relação entre ciência e metafísica na teoria bergsoniana da memória parece ser bem mais problemático que expor, pura e simplesmente, o teor crítico com o qual o filósofo geralmente abordou tanto a ciência quanto a metafísica, em seu esforço de determinação do significado da lembrança e da natureza do reconhecimento. Sem dúvida, a relação que Bergson manteve, em toda sua obra, com as tradições científica e metafísica foi predominantemente polêmica. Contudo, a crítica não dissimula o uso positivo que ele fez da ciência para alimentar uma metafísica que vai de encontro às concepções tradicionais da atividade filosófica. Foi justamente a partir da apreciação crítica de ambas as atividades que o filósofo elaborou a ideia de uma metafísica regulada pelos fatos, isto é, de alguma maneira controlada pela experiência. Ao que tudo indica, Bergson quis liberar a metafísica do ‘campo cerrado da dialética pura’, tornando-a uma disciplina positiva, tal como as demais ciências. Com efeito, as hipóteses sustentadas no âmbito da teoria da memória não foram aventadas especulativamente e afirmadas dogmaticamente; foram, ao contrário, conclusões obtidas com base na crítica e na reinterpretação dos resultados da pesquisa científica, mais exatamente, da psicologia empírica. Neste sentido, a teoria de Bergson é, ao mesmo tempo, avanço teórico e correção das concepções anteriores, na medida em que tais hipóteses metafísicas passam a orientar a leitura dos dados empíricos. É desta perspectiva que se pretende analisar a teoria da memória, a fim de compreender a relação entre ciência e metafísica como uma simbiose epistêmica.

Biografia do Autor

Paulo César Rodrigues, UNESP-Universidade Estadual Paulista
Professor de História da Filosofia Contemporânea da UNESP-Campus de Marília.

Referências

BARBARAS. Renaud. 1997. Le tournant de l’expérience: Merleau-Ponty et Bergson. In: WORMS, Frédéric (org.). Philosophie: Henri Bergson. Paris, Les Édition de Minuit, p. 33-59.

BERGSON, Henri. 2001ª. Essai sur les données immédiates de la conscience. In: ____, Oeuvres (Édition du Centenaire). 6ª ed. Paris, PUF, p. 01-157.

_______. 2001b. La pensée et le mouvant. In: ____, Oeuvres (Édition du Centenaire). 6ª ed. Paris, PUF, p. 1249-1482.

_______. 2001c. L’energie spirituelle. In: ____, Oeuvres (Édition du Centenaire). 6ª ed. Paris, PUF, p. 811-977.

_______. 2001d. Matière et mémoire. In: ____, Oeuvres (Édition du Centenaire). 6ª ed. Paris, PUF, p. 159-379.

DELEUZE, Gilles. 1999. Bergsonismo. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo, Editora 34, 139 p.

HEIDSIECK, François. 1961. Henri Bergson et la notion d’espace. Paris, PUF, 191 p.

MARQUES, Silene Torres. 2003. Significação da vida e liberdade: ciência e metafísica na filosofia de Bergson. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, v. 13: p. 81-94.

PRADO JR., Bento. 1988. Presença e campo transcendental: consciência e negatividade na filosofia de Bergson. São Paulo, Edusp, 223 p.

_______. 2004. Erro, ilusão, loucura: ensaios. São Paulo, Editora 34, 272 p.

RODRIGUES, Paulo César. 2011. Henri Bergson e a crítica à psicologia científica. Princípios, v. 18: p. 231-243.

SARTRE, Jean-Paul. 2013. A imaginação. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre, L&PM, 143 p.

SILVA, Franklin Leopoldo e. 1994. Bergson: intuição e discurso filosófico. São Paulo, Loyola, 357 p.

WORMS, Frédéric. 2004. Bergson ou les deux sens de la vie. Paris, Quadrige/PUF, 361 p.

_______. 1997. Introduction à Matière et mémoire de Bergson. Paris, PUF, 330 p.

Publicado
2017-04-15
Seção
Volumes Suplementares