DA SABEDORIA PRÁTICA À TOLERÂNCIA COMO VIRTUDE HERMENÊUTICA
Resumo
Neste artigo, proponho uma análise do conceito de tolerância a partir de um diálogo entre ética e hermenêutica. Argumento que podemos encontrar um aspecto importante do homem tolerante através de um olhar hermenêutico para a sabedoria prática e seu processo deliberativo. Desde sua origem trágica, a sabedoria prática (to phronein) está relacionada a um determinado modo de deliberação que leva em conta tanto aspectos quanto possível de uma dada situação para decidir pela melhor alternativa prática. Para analisar esse processo deliberativo, gostaria de explorá-lo a partir de uma estrutura narrativa. A ideia de densidade narrativa captura a multiplicidade de fios narrativos de um discurso. Quanto maior o número de fios narrativos que compõem um discurso narrado, maior a densidade narrativa. Sugiro que um aspecto fundamental da boa deliberação é ter uma alta densidade narrativa, que é, como discutiremos neste texto, também um traço fundamental do discurso tolerante. Um discurso intolerante é fraco em seu aspecto deliberativo, pois carece de densidade narrativa. Ao ignorar os outros em um processo hermenêutico deficiente, o intolerante delibera a partir de sua única perspectiva e ignora outras prioridades, crenças, argumentos e desejos expressos. Uma deliberação narrativa mais densa é um aspecto linguístico relevante do homem tolerante, pois lhe permite superar seu medo do desconhecido e contrabalançar suas tendências egocêntricas. A deliberação phronética é, portanto, um passo essencial para a possibilidade de respeitar os outros. É um reflexo do reconhecimento mútuo e também o ponto de partida de decisões e ações tolerantes.(1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
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