A metafísica platônica como método das Formas

  • Nazareno Eduardo de Almeida Universidade Federal de Santa Catarina
Palavras-chave: metafísica platônica, método, Formas

Resumo

Este ensaio defende a hipótese segundo a qual a metafísica platônica não pode ser exclusivamente definida a partir de seu objeto, as Formas ou Ideias, mas também deveria ser tomada a partir de seu método, o qual se realiza lidando com as Formas como instrumentos metodológicos quer para definir as próprias Formas no nível inteligível, quer para definir as Formas instanciadas nos objetos sensíveis. Em um primeiro momento, argumento de modo geral que a metafísica platônica, por sua herança socrática e parmenídica, é um método que tanto opera com quanto visa conhecer as Formas. Em um segundo momento, apresento o pano de fundo a partir do qual essa interpretação se torna possível: a metafísica platônica como investigação das condições que tornam possíveis as relações dos seres humanos consigo mesmos, com os demais indivíduos e com o mundo natural e histórico em que vivem. Também defendo que tais condições são apenas pesquisáveis através do diálogo filosófico, como um “espaço” privilegiado onde essas mesmas relações podem ser explicitadas. Em um terceiro momento, apresento um percurso textual para corroborar esta interpretação. Nesta parte, analiso inicialmente o nascimento do método das Formas a partir do elenchos socrático nos diálogos da primeira fase, mas especialmente tomando em atenção o diálogo Mênon. Depois analiso a introdução da noção platônica de filosofia como método hipotético no Fédon. Em seguida, passo a uma análise da apresentação do método dialético em República VI. Depois disso, analiso o método das Formas no Parmênides. Por fim, abordo como este método se configura nos diálogos Sofista e Político. Dentre as conclusões gerais que se pode retirar desta interpretação, acredito que uma das mais importantes é apontar que há uma necessária circularidade epistêmica (manifestada em diversos sentidos) na metafísica platônica como método das Formas.

Referências

ACKRILL, J. L. (2001/1955). “Symplokê eidôn”. In ACKRILL, J. L. Essays on Plato and Aristotle. Oxford: Oxford UP, p. 72-79.

__________. (2001/1957). “Plato and the copula”. In ACKRILL, J. L. Essays on Plato and Aristotle. Oxford: Oxford UP, p. 80-92.

ALLEN, R. E. (1997). Plato’s Parmenides. New Haven/Londres: Yale UP.

AMBUEL, D. (2007). Image and paradigm in Plato’s Sophist. Las Vegas/Zurich/Athens: Parmenides Publishing.

ARISTÓTELES. (1996/1924). Metaphysics, 2 vols. Ed. David Ross. Oxford: Clarendon.

BOYLE, A. J. (1974) “Plato’s divided line: essay II: mathematics and dialectic”. Apeiron, v. 8, n. 1, p. 7-18.

BURGER, R. (1984). The Phaedo: a Platonic labyrinth. New Haven/Londres: Yale UP.

BURNET, J. (1911). Plato’s Phaedo. Oxford: Clarendon.

BYRD, M. N. (2007). “Dialectic and Plato’s method of hypothesis”. Apeiron, v. 40, n. 2, p. 141-158.

CASTORIADIS, C. (2004). Sobre o Político de Platão. Trad. Luciana M. Pudenzi. São Paulo: Loyola.

CORDERO, N. L. (2013). “The relativization of “separation” (khorismos) in the Sophist”. In BOZZI, B.; ROBINSON, T. M. (eds.) Plato’s ‘Sophist’ revisited. Berlim/Boston: De Gruyter, p. 187-201.

CORNFORD, F. (1939). Plato and Parmenides. Londres: Kegan Paul.

DORTER, K. (1982). Plato’s Phaedo: an interpretation. Toronto: University of Toronto Press.

ENGLER, M. R. (2018). “A errância do filósofo platônico: dogmatismo, ignorância e aporia”. Guairacá Revista de Filosofia, v. 34, n. 2, p. 85-109.

FINE, G. (2014). The possibility of inquiry: Meno’s paradox from Socrates to Sextus. Oxford: Oxford UP.

__________. (1980). “One over many”. The Philosophical Review, v. 89, n. 2, p. 197-240.

FRANCO, I.; MANNARINO FILHO, R. (2015). “Hipótese e verdade na dialética platônica da maturidade”. Prometheus, v. 8, n. 17, p. 109-121.

FRANCO, I. (2014). “Existe uma “teoria da ideias” stricto sensu nos diálogos de Platão?” Skepsis, v. 7, n. 10, p. 30-39.

GADAMER, H. G. (2000). Verità e metodo (italiano-alemão). Trad. Gianni Vattimo. Milão: Bompiani.

GALLOP, D. (2002/1975). Plato’s Phaedo. Oxford: Clarendon.

GEACH, P. (1972). “Plato’s Euthyphro: an analysis and commentary.” In GEACH, P. Logic matters. Oxford: Basil Blackwell, p. 31-44.

GIANNANTONI, G. (2005). Dialogo socratico e nascita della dialettica nella filosofia di Platone. Bruno Centrone (ed.). Nápoles: Bibliopolis.

HELMIG, C. (2012). Forms and concepts: concept formation in Platonic tradition. Berlim/Boston: De Gruyter.

IRWIN, T. (1995). Plato’s ethics. Nova Iorque/Oxford: Oxford UP.

JAEGER, W. (1995). Paideia: a formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira. São Paulo: Martins Fontes.

KAHN, C. (2004). Plato and the Socratic dialogue: the philosophical use of a literary form. Cambridge: Cambridge UP.

__________. (2013). Plato and the Post-Socratic dialogue: the return to the philosophy of nature. Cambridge: Cambridge UP.

__________. (2012). “The philosophical importance of the dialogue form for Plato”. In FINK, J. L. (ed.) The development of dialectic from Plato to Aristotle. Cambridge: Cambridge UP, p. 158-173.

MARQUES, M. P. (2010). Platão, pensador da diferença: uma leitura do Sofista. Belo Horizonte: UFMG editora.

MERLAN, P. (1975). From Platonism to Neoplatonism. The Hague: Martinus Nijhoff.

MORAVCSIK, J. (2006). Platão e platonismo: aparência e realidade na ontologia, na epistemologia e na ética. Trad. Cecília C. Bartalotti. São Paulo: Loyola.

NATORP, P. (1999). Dottrina platonica delle Idee: una introduzione all’Idealismo. Trad. Vincenzo Cicero; introd. Giovanni Reale. Milão: Vita e Pensiero.

NOTOMI, N. (2007). The unity of Plato’s Sophist: between the sophist and the philosopher. Cambridge: Cambridge UP.

OBERHAMMER, A. A. (2016). Buchstaben als Paradeigma in Platons Spätdialogen: Dialektik und Modell im Theaitetos, Sophistes, Politikos und Philebos. Belim/Boston: De Gruyter.

OWEN, G. E. L. (1978). “Particular and general”. Proceedings of Aristotelian Society, n. 79, p. 1-21.

PALMER, J. (1999). Plato’s reception of Parmenides. Oxford: Clarendon.

PAVIANI, J. (2001). Filosofia e método em Platão. Porto Alegre: Edipucrs.

PLATÃO. (1900-1907/2004). Platonis opera, 5 vols. Ed. John Burnet. Oxford: Clarendon.

__________. (1994). República. Trad. Maria H. R. Pereira. Lisboa: Calouste Gulbenkian.

__________. (2009). Parmênides. Trad. Maura Iglésias, Fernando Rodrigues. São Paulo/Rio: Loyola/PUCRIO.

__________. (2003). Mênon. Trad. Maura Iglésias. São Paulo/Rio de Janeiro: Loyola/PUCRIO.

RIBEIRO, L. F. B. (2013). “Sobre a noção de parádeigma em Platão”. Peri, v. 5, n. 2, p. 1-25.

__________. (2014). “Apologia do sofista”. O que nos faz pensar, v. 23, n. 35, p. 101-111.

ROBINSON, R. (1941). Plato’s earlier dialectic. Ithaca/Nova Iorque: Cornell UP.

ROSS, D. (1951). Plato’s theory of Ideas. Oxford: Clarendon.

SANDAY, E. C. (2009). “Eleatic metaphysics in Plato’s Parmenides: Zeno’s puzzle of plurality”. The Journal of Speculative Philosophy, v. 23, n. 3, p. 208-226.

SANTANA, A. (2011). “Reasons and the problem of the Socratic elenchos”. In ANAGNOSTOPOULOS, G. (ed.) Socratic, Platonic and Aristotelian studies: essays in honor to Gerasimos Santas. Dordrecht/Nova Iorque: Springer, p. 35-52.

SAYRE, K. (1993). “Why Plato never had a theory of Forms”. Proceedings of the Boston Area Colloquium in Ancient philosophy, v. 9, n. 1, p. 167-199.

__________. (2006). Metaphysics and method in Plato’s Statesman. Cambridge: Cambridge UP.

SCOLNICOV, S. (2003). Plato’s Parmenides. Berkeley/Los Angeles/Londres: University of California Press.

SILVERMAN, A. (2002). The dialectic of essence: a study in Plato’s metaphysics. Princeton/Oxford: Princeton UP.

SMITH, N. D. (1981). “The objects of dianoia in Plato’s divided line.” Apeiron, v. 15, n. 2, p. 129-137.

VLASTOS, G. (1994). “The Socratic elenchus: method is all”. In VLASTOS, G. Socratic studies. BURNYEAT, M. (ed.). Cambridge: Cambridge UP, p. 1-37.

__________. (1994a). “Is the “Socratic fallacy” Socratic?” In VLASTOS, G. Socratic studies. BURNYEAT, M. (ed.). Cambridge: Cambridge UP, p. 67-86.

Publicado
2019-10-07
Seção
Artigos