A arqueologia memorial no imaginário de Wajdi Mouawad

Palavras-chave: Quebec, Escrita migrante, Wajidi Mouawad, Memória, Catástrofe e representação

Resumo

A partir da perspectiva da arqueologia memorial, ligada ao exílio e à experiência traumática, propõe-se uma leitura do imaginário do escritor Wajdi Mouawad e, em particular, de seu romance Anima (2012). Marcada pela hibridação textual, esta obra evoca diversos subgêneros narrativos, como a tessitura policial, o roman de la route e a narrativa de filiação, apresentando-se como a escavação de vestígios memoriais. Nascido no Líbano, o autor pertence à chamada literatura migrante no interior da qual inscreve sua diferença e a representação do irrepresentável, vinculada à vivência da guerra.

Biografia do Autor

Maria Bernadette Porto, Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura. Niteroi, RJ,
Titular vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da UFF Pesquisas em Literaturas Francófonas e Literatura Comparada

Referências

A infância é uma faca plantada na garganta . (MOUAWAD, 2009, p. 130)

Nasci durante a guerra do Vietnã algumas semanas após os acontecimentos de Maio de 1968 e despertei deixando a primeira infância com a guerra do Líbano depois a do Irã contra o Iraque meu pensamento foi suplantado pela guerra das Malvinas e senti a necessidade de tomar a palavra com a guerra da ex-Iugoslávia as valas comuns de Ruanda foram a retransmissão da guerra do Golfo e precederam as hecatombes do Kosovo não entendi nada dos massacres da Argélia e ninguém nunca me falou ainda do Tibete e muito pouco da Somália tornei-me adulto com a segunda Intifada de setembro de 2000 e minha inocência explodiu contra o recife do 11 de setembro de 2001. (MOUAWAD, 2011, p. 45)

Ele falava sozinho. Falava consigo mesmo em francês. Falava para aquele que não sabia mais falar sua língua. Sonhava em francês pois ele era aquele que sonhava para aquele que não podia mais sonhar na sua língua. (MOUAWAD, 2011, p. 88)

Ele dizia. Minha memória é uma floresta cujas árvores são abatidas. Não me lembro mais de minha língua de criança, nem como se diz a palavra janela, nem a palavra carícia, nem a palavra profundidade, nem devastação, nem beringela ou espiga de milho. (MOUAWAD, 2011, p. 71)

Publicado
2021-11-20
Seção
Dossiê Interfaces Brasil-Canadá: 20 anos de estudos canadenses no Brasil