QUANDO A ESTIGMATIZAÇÃO ALCANÇA OS PRIVILEGIADOS: uma análise sociológica da chegada da pandemia da Covid-19 no Brasil e alguns de seus significados

Resumo

Importantes reflexões nas ciências sociais, sobre o fenômeno do estigma, têm analisado-o em um contexto amplo de relações de poder. Os grupos que sofrem de estigmas ocupam, também, posições desprivilegiadas na sociedade: são minorias étnicas, raciais e sexuais ou portadores de doenças majoritariamente endêmicas entre os mais pobres. A pandemia da Covid-19 trouxe uma novidade no Brasil: ela estigmatizou, no primeiro momento, grupos que não estão no rol dos alvos comumente afligidos. A partir de casos selecionados, de pessoas que foram atacadas nas redes sociais, buscou-se compreender e interpretar esse fenômeno transitório, lançando mão de alguns conceitos-chave como: estigma, humilhação pública e linchamento virtual. Tais acontecimentos podem ser uma janela reveladora de outros problemas estruturais latentes no país.

Biografia do Autor

Gamaliel Da Silva Carreiro, Universidade Federal do Maranhão
Dr. Em sociologia (UNB) Professor Associado II Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA. Prof. do programa de Pós Graduação em Sociologia - UFMA.
Pedro De Andrade Calil Jabur, Universidade de Brasília (UNB)
Dr em Sociologia. Professor Adjunto Universidade de Brasília/ Faculdade de Ceilândia. Brasília -DF

Referências

ALLPORT, W. Gordon. La naturaleza del prejuicio. Buenos Aires: Editorial Universidade de Buenos Aires. 1954

BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 8. ed. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Editora Hucitec. 2013.

BOURDIEU, Piere. Le sens pratique. Paris: Les Éditions de Minuit. 1980.

BAUMGARTNER, Mary Pat. The moral order of a suburb. Oxford: Oxford University Press. 1988.

CHILLING F, Miyashiro SG. Como incluir? O debate sobre o preconceito e o estigma na atualidade. Educação e Pesquisa, v. 34, n.2, p.243-54. 2008.

COHEN, S. Folk devils and moral panics: The creation of the Mods and the Rockers. London. 1972.

______.Moral panics as cultural politics: introduction to the third edition. In: Stanley Cohen. Folk devils and moral panics. London: Routledge. 2002.

______.Whose side were we on? The undeclared politics of moral panic theory. Crime, Media Culture, v.7, p. 237–243. 2011.

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história francesa. Rio de Janeiro: Graal. 1986.

DECCA, E. S. A humilhação: ação ou sentimento. In: I. Marson, & M. Naxara (Orgs.) Sobre a humilhação: sentimentos, gestos, palavras. Uberlândia, MG: EDUFU. p. 105-117. 2005.

DROTNER, K. Dangerous media? Panic discourses and dilemmas of modernity. International Journal of the History of Education v. 35, n. 3, p. 593–619. 1999.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador: Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1994

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora. 1989

GINZBURG, C. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Trad. Maria Betânia Amoroso. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras. 2002

GOFFMAN E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. 1988

______. Forms of talk. Philadeplhia: University of Pennsylvania Press. 1981

GONSALVES, G; STALEY P. Panic, paranoia, and public health--the AIDS epidemic's lessons for Ebola. New England Journal of Medicine, v. 371, n. 25, p. 2348‐2349. 2014.

GONÇALVES, Mateus F. Cultura da humilhação: O ressurgimento da vergonha em tempos digitais. Monografia (Graduação) - Faculdade de Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juíz de Fora. 2016

HIER, S.P. Conceptualizing moral panic through a moral economy of harm. Critical Sociology, v. 28, n. 3, p. 311–34. 2002

_____.Risk and panic in late modernity: Implications of the converging sites of social anxiety. British Journal of Sociology v. 54, n. 1, p. 3–20. 2003

HU, Z.; YANG et al. Infodemiological Study on COVID-19 Epidemic and COVID-19 Infodemic, Preprints. 2020.

JENKINS, P. Intimate Enemies: Moral Panics in Contemporary Great Britain. New York: Aldine de Gruyter. 1992.

KADAR, D.Z, NING, P. Ritual public humiliation: Using pragmatics to model language aggression. Acta Linguistica Academica, v. 66, n. 2, p. 189–208. 2019.

KOHLBERG, Lawrance; RICHARD. Hersh. Moral development: A review of the theory. Theory Into Practice, n. 16, p. 53–59. 1977.

McLUHAN, M. Galáxia de Gutemberg. São Paulo, Cia. Editora Nacional. 1997.

MARTINS, J. de S. As condições do estudo sociológico dos linchamentos no Brasil. Estudos Avançados, v. 9, n. 25, p. 295-310. 1995.

______.Linchamentos: a justiça popular no Brasil. São Paulo: Contexto. 2015.

MORONE, J. A. Enemies pf the people: The moral dimension to public health. Journal of Health politcs, policy and law, v. 22, p. 993-1.020. 1997.

OPAS. Entendendo a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19. Folheto informativo COVID-19, Saúde Digital, Página Informativa n.5. Disponível em: <https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52054/Factsheet-Infodemic_por.pdf?sequence=3>. Acesso em: 23 maio 2020.

PARKER, R.; AGGLETON, P. Estigma, Discriminação e Aids. In. Cidadania e Direitos, n. 1. Rio de Janeiro. Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS – ABIA. 2001.

______.HIV and Aids-related stigma and discrimination: a conceptual framework and implications for action. Social Science & Medicine, v. 57, n. 1, p. 13-24. 2003

PARKER R. Estigma, preconceito e discriminação na saúde pública global. Cad Saúde Pública, v. 28, n. 1, p. 9-164. 2012.

PARKER, Richard. Interseções Entre Estigma, Preconceito E Discriminação Na Saúde Pública Mundial. In: MONTEIRO, S; VILLELA, W (Org.), Estigma e Saúde. Rio de Janeiro. Ed. Fiocruz. p. 25-46. 2013

PHELAN, J. LINK, B.; DOVIDIO, J. Estigma e Preconceito: Um animal ou dois? In: MONTEIRO, S, VILLELA, W (Org.). Estigma e Saúde. Rio de Janeiro. Ed. Fiocruz. p. 183-207. 2013

ROHLOFF, A., WRIGHT, S. Moral-Panic and Social Theory Beyond the Heuristic. Current Sociology, v. 58, p. 403-419. 2010.

RONSON, Jon. Humilhado: como a era da internet mudou o julgamento público: Rio de Janeiro: Best Seller. 2015.

SEARSON, Maria Eduarda Hasselmann de Oliveira Lyrio. Uma leitura psicanalítica sobre a humilhação social na contemporaneidade. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. 2010.

THOMPSON, K. Moral panics. London: Routledge. 1998.

VRIES, Amy. The Use of Social Media for Shaming Strangers: Young People’s Views. In: Hawaii International Conference on System Sciences, 48. 2015. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2007/resumos/R0054-1.pdf> Acesso em: 23 maio 2020.

WODAK, R. The discourse-historical approach. In: WODAK, R.; MEYER, M. (Org.). Methods of critical discourse analysis. London: Sage, p. 63–94. 2001.

ZAROCOSTAS, J. How to fight an infodemic. Lancet. 2020;395(10225):676. Doi:10.1016/S0140-6736(20)30461-X

Publicado
2021-09-02