OS INDÍGENAS E A ANCESTRALIDADE DA FESTA DA PADROEIRA EM PARINTINS, AMAZONAS.

Resumo

Na cidade de Parintins, no Baixo Amazonas, é realizada uma festa em honra à padroeira Nossa Senhora do Carmo. Essa devoção remonta ao século XIX, tendo sido introduzida por um missionário da Ordem dos Carmelitas. A participação de devotos, romeiros e pagadores de promessas oriundos da região e de outros estados brasileiros transformam as homenagens à santa num grande evento esperado com alegria, fé e devoção. Este artigo visa discutir acerca da relação entre os indígenas e a ancestralidade da festa da padroeira em Parintins, no Amazonas, enfatizando ainda o processo de romanização conduzido pelos missionários do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (PIME) e o simbolismo do sino na relação entre a Mãe-Terra e a Mãe de Jesus. A pesquisa assumiu o aporte teórico-metodológico das Ciências Humanas e Sociais, em caráter dialógico e interdisciplinar, em especial entre Filosofia, Sociologia, Antropologia e História, tendo como suporte de campo minha tese de doutorado defendida em 2019. O lócus desta pesquisa compreende a paróquia de Nossa Senhora do Carmo pertencente à Diocese de Parintins, localizada nesse município. Ao final deste artigo, verificamos que a devoção a Maria, hibridizada a elementos da cultura indígena e ao arquétipo da Mãe-Terra, contribuiu para a forte devoção e crença na existência de um espírito feminino que rege a Amazônia e para a difusão do catolicismo nessa região.

Biografia do Autor

Rosimay Corrêa, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
Doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia-PPGSCA, da Universidade Federal do Amazonas, tem interesse nos temas sobre festas de padroeiro, pagamento de promessas e religiosidade popular. É professora de Filosofia, membro do Comitê Técnico-Científico de Pesquisa e membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas-NEABI, todos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas- IFAM, Campus Parintins.
Iraildes Caldas Torres, Professora Titular da Universidade Federal do Amazonas-UFAM
Pós-Doutora pela Universidade de Lyon2 (França). Doutora em AntropologiaSocial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-Professora Titular da Universidade Federal doAmazonas - UFAM. Possui experiência nas áreas de Sociologia, Antropologia, Etnologia Indígena e Serviço Social atuando principalmente nos temas de gênero e manifestações simbólicas; trabalho, movimentos e práticas sociais na Amazônia. Tem desenvolvido ao longo de sua trajetória várias pesquisas nos temas de gênero, política e poder, com o apoio do CNPq e da Fapeam. Exerceu o cargo de Diretora da Editora da Universidade Federal do Amazonas (EDUA) no período de 2009 a 2013. Exerceu a coordenação do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas, no período de 2016 a 2021. É Membro da Academia de Letras do Brasil. Atualmente é Vice- Presidente da ABEPPA - Associação Brasileira de Escritores e Poetas da Pan-Amazônia.

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Publicado
2022-08-31
Seção
Dossiê: Sociedade amazônica: processos, relações e singularidades