Fazendo gênero no candomblé: entre o feminismo internacional e a retórica salvacionista. Por um enunciado epistemológico desde os terreiros.

Resumo

Inspirado no conceito de ‘colonialidade do poder’, tal como proposto por Quijano, viso neste ensaio refletir sobre a relação entre o ‘feminismo’ e o universo candomblecista. Através de um resgate de fragmentos da história dos terreiros no Brasil, questiono o quanto poderá ser a leitura do candomblé enquanto um ‘matriarcado’ uma imposição da agenda feminista acadêmica. E, assim o sendo, uma relação regulatória entre a academia e o ‘mundo das práticas’ que, em última análise, acaba por suprimir uma alternativa ‘feminista negra candomblecista’ em detrimento de um modelo internacionalista de ‘ser-se feminista’. Abrindo mão do universo estritamente ritualístico desta religião de terreiro, apoio-me nos debates feministas e pós-coloniais contra o eurocentrismo para reforçar, claramente, a necessidade de promover-se uma reflexão epistemológica em prol de um feminismo negro situado: localizado e enunciado filosoficamente desde os terreiros. Palavras-chave: Candomblé; Descolonialidade; Pós-colonialismo; Feminismo; Subjetivação

Biografia do Autor

J. Flávio Ferreira, CES (Centro de Estudos Sociais) Universidade de Coimbra, Portugal.
Doutorando em 'Pós-colonialismos e Cidadania Global' pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.Nos últimos anos, tem trabalhado sobre psiquiatria transcultural; as políticas da cura nas religiões afro-brasileiras; pós-colonialismo e antropologia da saúde.

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Publicado
2016-07-26
Seção
Dossiê A dinâmica das relações raciais: dados, abordagens e intersecções